Depois de um “longo e tenebroso inverno”, volto a postar...
Peguei hoje (21/09), a esmo, uma página da Gazeta do Povo para analisar quantos erros poderiam ser encontrados em uma única página. Trata-se da página 4 (contracapa) do caderno de esportes.
A página tem quatro textos: “Técnico tricolor alcança marca histórica”, “Hora de definir a meta na Vila”, “Coritiba pega o Brasiliense após recuperação dupla no Couto” e “Mistério tático no Alviverde”, que tratarei de textos 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Os textos podem ser acessados no site da Gazeta do Povo, clicando-se sobre os títulos. Ressalto, entretanto, que utilizei a página impressa, que, ao contrário da virtual, não pode ser corrigida.
Reproduzo abaixo trechos de cada matéria e, em seguida, após o asterisco, indico a correção e/ou faço algum comentário. Lá vai...
TEXTO 1
• Se em campo a estabilidade * Se em campo a instabilidade
• (2001/02 e 2008) * (2001-02 e 2008)
• Tanto você, quanto os jogadores vêm enfatizando * Tanto você quanto os jogadores vêm enfatizando
TEXTO 2
• com 32 dois pontos * com 32 pontos
TEXTO 3
• inflamação no púbis - mesma lesão que forçou a aposentadoria precoce do tenista Gustavo Kuerten * Guga se aposentou devido a uma lesão no quadril e não no púbis.
• quatro cirurgias a que foi obrigado a fazer * quatro cirurgias que foi obrigado a fazer
• Ano passado ele retornou a jogar * No ano passado, ele voltou a jogar
• Campeonato Catarinense desse ano, com 8 gols * Campeonato Catarinense deste ano, com oito gols
• jogar bem veio agora, no Coritiba * jogar bem, veio agora, no Coritiba
• Para mim esse jogo * Para mim, esse jogo
• Primeiro porque fazia muito tempo * Primeiro, porque fazia muito tempo
• agradecer à diretoria do Coritiba, que mesmo depois de dois anos parados, enxergou em mim o perfil para o projeto do clube * agradecer à diretoria do Coritiba, que enxergou em mim, mesmo depois de dois anos parado, o perfil para o projeto do clube * Além da falta de uma vírgula e do “parados”, uma oração mal posicionada.
TEXTO 4
• não definiu que volta a usar * não definiu se volta a usar
• após 10 rodadas * após dez rodadas
Enfim, não quero apontar os erros como uma queixa, mas para constatar que a dinâmica de produção do jornalismo - ainda mais nos tempos de hoje, em que muitas vezes mais importa a velocidade com que a informação é transmitida do que a qualidade do seu conteúdo - torna frequentes esses erros.
As imprecisões ou falhas de redação, aliás, não são tão graves quanto as de informação, pois o “erro” de redação pode ser identificado facilmente pelo leitor (está “à disposição” dele), ao contrário do erro de informação: o jornalista goza de um contrato prévio de credibilidade, e o leitor raramente tem condições de conferir a informação. Aliás, pode ser que haja mais falhas de informação na página que me tenham passado despercebidas, pois é impossível conferir tudo que é publicado - mais uma razão para que se confie previamente no repórter, é esse o contrato tácito entre o leitor e o jornal.
Aliás, aproveito para reproduzir abaixo trechos uma interessante entrevista com Woody Allen publicada pelo New York Times e reproduzida em diversos veículos brasileiros (“Deus, velhice e fimar em Nova York”). Veja-se o comentário do cineasta sobre a mídia, destacado em itálico...
O senhor estava preparado para a tempestade midiática que causou ao escalar Carla Bruni-Sarkozy para seu próximo filme, Midnight in Paris?
Fiquei muito surpreso com o nível do jornalismo que se faz em relação a ela, que tem uma pequena participação no filme – um papel real, mas pequeno. Filmamos o primeiro dia e todos os jornais já diziam que ela tinha sido horrível, que tínhamos repetido a cena 32 vezes. Claro que não cheguei a fazer nem dez takes com ela. Aquele outro número mágico foi apenas invenção de alguém sentado na sua sala. Depois publicaram que o marido dela teria ido ao set e se zangado com ela. Ele apareceu lá uma vez, e ficou encantado. Sentiu que ela é uma atriz natural e não poderia ter ficado mais feliz.
Isso daria uma boa chamada para o cartaz do filme.
Por alguma razão, a imprensa queria dizer coisas ruins sobre ela. Não sei se tinham alguma coisa contra os Sarkozys, ou foi para vender mais jornais. Mas as invenções foram de uma selvageria, e tão completamente falsas, que eu perguntava a mim mesmo: “Será que é assim também com o Afeganistão, a economia e assuntos realmente importantes?” Essa é uma questão trivial. Mas estou enrolando pra responder à sua pergunta: não estava preparado para a repercussão que o filme teve na imprensa por causa de Madame Sarkozy.
Tuesday, September 21, 2010
Saturday, August 28, 2010
Entrevista na Rádio Tropical
Segue link para mais uma entrevista que concedi à Rádio Tropical, sobre leitura no Brasil.
Clique na palavra abaixo para acessar:
Entrevista
Clique na palavra abaixo para acessar:
Entrevista
Thursday, July 29, 2010
Um erro de doer
Rubem Alves é um autor importante, com muitas obras publicadas. A editora Nossa Cultura publicou recentemente um livro dele com o título “Ensinando política à crianças e adultos”.
Íncrível como um título com erro crasso possa passar por todo mundo, e a obra chegar às livrarias desse jeito. Erros acontecem, são comuns e até normais. Mas numa obra dessa natureza, e no título estampado na capa, é de doer!
Claro que enviei um e-mail para a editora alertando. E tentei fazer o mesmo com o autor, mas o site dele não indica nenhum meio de contato.
Íncrível como um título com erro crasso possa passar por todo mundo, e a obra chegar às livrarias desse jeito. Erros acontecem, são comuns e até normais. Mas numa obra dessa natureza, e no título estampado na capa, é de doer!
Claro que enviei um e-mail para a editora alertando. E tentei fazer o mesmo com o autor, mas o site dele não indica nenhum meio de contato.
Thursday, July 15, 2010
Mais uma lei imbecil...
O deputado federal Otávio Leite apresentou um projeto de lei para tornar obrigatória a inclusão de um local para pernoite de funcionários em todos os novos condomínios, residenciais ou comerciais.
É incrível a facilidade com que “nossos representantes” inventam leis estúpidas. Ora, se o “quarto para funcionários” fosse uma vantagem, o sr. deputado pode ter certeza de que os construtores seriam os primeiros a incluí-los nas construções, sem a necessidade de qualquer lei. Acontece que a realidade é bem outra: o “quartinho do funcionário” é cada vez mais inútil, e exigir sua construção vai em sentido oposto à tendência atual, aqui no mundo real do qual o deputado parece estar afastado.
No prédio onde moro, havia a “casinha do zelador”. Numa das primeiras assembléias do condomínio, logo se decidiu pela transformação do inútil lugar em sala de churrasco - e assim foi feito, com uma reforma do local e construção da churrasqueira.
De qualquer modo, propor uma lei federal para tratar de tal assunto indica falta de coisa melhor para fazer...
É incrível a facilidade com que “nossos representantes” inventam leis estúpidas. Ora, se o “quarto para funcionários” fosse uma vantagem, o sr. deputado pode ter certeza de que os construtores seriam os primeiros a incluí-los nas construções, sem a necessidade de qualquer lei. Acontece que a realidade é bem outra: o “quartinho do funcionário” é cada vez mais inútil, e exigir sua construção vai em sentido oposto à tendência atual, aqui no mundo real do qual o deputado parece estar afastado.
No prédio onde moro, havia a “casinha do zelador”. Numa das primeiras assembléias do condomínio, logo se decidiu pela transformação do inútil lugar em sala de churrasco - e assim foi feito, com uma reforma do local e construção da churrasqueira.
De qualquer modo, propor uma lei federal para tratar de tal assunto indica falta de coisa melhor para fazer...
Tuesday, July 13, 2010
O horrível logotipo da Copa 2014
Todo mundo já viu o horroroso desenhinho apresentado como logotipo da Copa de 2014 no Brasil. É de chorar de ruim.
Foi escolhido entre sete opções por uma comissão de “entendidos” que incluiu Gisele Bündchen, Paulo Coelho e Ivete Sangalo!!!
O UOL publicou matéria muito interessante sobre o trágico logotipo. Veja aqui.
Foi escolhido entre sete opções por uma comissão de “entendidos” que incluiu Gisele Bündchen, Paulo Coelho e Ivete Sangalo!!!
O UOL publicou matéria muito interessante sobre o trágico logotipo. Veja aqui.
Monday, July 12, 2010
Futebol...
Aos 47 minutos do segundo tempo, falta na entrada da área. O atacante se prepara para cobrar. Concentra-se. Chuta... Os jogadores da barreira saltam, mas a bola passa por eles. O goleiro salta, mas não consegue tocar na bola. A bola passa por todos e... beija o travessão, depois sai pela linha de fundo. O árbitro apita o final do jogo.
Se a bola tivesse entrado, o jogo, que então estava Alemanha 3 x 2 Uruguai, iria para a prorrogação, Forlán seria o artilheiro da Copa, e o Uruguai talvez conseguisse o terceiro lugar.
“Se”... Quanta coisa mudaria “se”... Assim é a vida, assim é o futebol - e por isso esse tal de futebol é tão emocionante!
Desejei muito que aquela bola entrasse - pelo Uruguai e pelo Forlán, que, para mim, foi “o homem da Copa”. Talvez tenha havido na Copa jogador melhor, com mais “categoria” e técnica. Mas ele foi o centro nevrálgico do seu time, lutou incansavelmente do início ao fim de todas as partidas, jogou como quem dá tudo que pode, fez gols decisivos, importantes, bonitos.
Fiquei feliz ao saber que a Fifa deu a ele o prêmio de melhor jogador do Mundial.
Terminada a Copa, cujo título ficou em boas mãos, continuo a me perguntar: afinal, por que gostamos tanto de futebol?
Se a bola tivesse entrado, o jogo, que então estava Alemanha 3 x 2 Uruguai, iria para a prorrogação, Forlán seria o artilheiro da Copa, e o Uruguai talvez conseguisse o terceiro lugar.
“Se”... Quanta coisa mudaria “se”... Assim é a vida, assim é o futebol - e por isso esse tal de futebol é tão emocionante!
Desejei muito que aquela bola entrasse - pelo Uruguai e pelo Forlán, que, para mim, foi “o homem da Copa”. Talvez tenha havido na Copa jogador melhor, com mais “categoria” e técnica. Mas ele foi o centro nevrálgico do seu time, lutou incansavelmente do início ao fim de todas as partidas, jogou como quem dá tudo que pode, fez gols decisivos, importantes, bonitos.
Fiquei feliz ao saber que a Fifa deu a ele o prêmio de melhor jogador do Mundial.
Terminada a Copa, cujo título ficou em boas mãos, continuo a me perguntar: afinal, por que gostamos tanto de futebol?
Sunday, July 11, 2010
“Clareza”
O texto jornalístico tem como regra básica ser claro. Leia o trecho a seguir (primeiro parágrafo de uma matéria da agência Reuters publicada na Gazeta do Povo) e veja se consegue entender:
Um tribunal de apelações dos EUA rejeitou ontem o pedido do governo de Barack Obama para suspender uma decisão que deixava sem efeito uma moratória temporária à perfuração petrolífera em águas profundas...
“... rejeitou ... o pedido ... para suspender a decisão que deixava sem efeito uma moratória”... É tanta negação da negação que se o leitor não está previamente informado sobre o caso fica difícil entender...
Claro que o título ajuda, mesmo dando uma informação imprecisa: “Justiça americana libera perfuração de petróleo no mar” (na verdade, a Justiça não “liberou”), mas que o lide ficou muito estranho, ficou!
Um tribunal de apelações dos EUA rejeitou ontem o pedido do governo de Barack Obama para suspender uma decisão que deixava sem efeito uma moratória temporária à perfuração petrolífera em águas profundas...
“... rejeitou ... o pedido ... para suspender a decisão que deixava sem efeito uma moratória”... É tanta negação da negação que se o leitor não está previamente informado sobre o caso fica difícil entender...
Claro que o título ajuda, mesmo dando uma informação imprecisa: “Justiça americana libera perfuração de petróleo no mar” (na verdade, a Justiça não “liberou”), mas que o lide ficou muito estranho, ficou!
Thursday, July 08, 2010
Etnocentrismo?
CORTES DE CABELO
O Ministério da Cultura do Irã divulgou um manual de cabeleireiros com os modelos de cortes masculinos autorizados pelo governo. O que dizer de um sistema em que as pessoas não têm liberdade sequer para optar pelo próprio corte de cabelo?
APEDREJAMENTO
A iraniana Sakineh Mohammadie Ashtiani foi condenada a ser apedrejada até a morte pelas autoridades do Irã. Cometeu o crime de adultério, confessado depois de receber 99 chibatadas. Detalhe importante: apenas as mulheres estão sujeitas a essa pena, não os homens que cometam o mesmo ato.
ETNOCENTRISMO?
O que pensar diante dessas notícias? Como não ceder à tentação do etnocentrismo?
O Ministério da Cultura do Irã divulgou um manual de cabeleireiros com os modelos de cortes masculinos autorizados pelo governo. O que dizer de um sistema em que as pessoas não têm liberdade sequer para optar pelo próprio corte de cabelo?
APEDREJAMENTO
A iraniana Sakineh Mohammadie Ashtiani foi condenada a ser apedrejada até a morte pelas autoridades do Irã. Cometeu o crime de adultério, confessado depois de receber 99 chibatadas. Detalhe importante: apenas as mulheres estão sujeitas a essa pena, não os homens que cometam o mesmo ato.
ETNOCENTRISMO?
O que pensar diante dessas notícias? Como não ceder à tentação do etnocentrismo?
Sobre a Copa do Mundo
ESPANHA!
Finalmente, a Espanha apresentou um futebol de campeã. Se jogar na final como jogou contra a Alemanha, vai esmagar a Holanda... Mas futebol não tem lógica! Vou torcer pela Espanha, honrando minha ascendência espanhola.
ARBITRAGEM
Considerando todos os interesses políticos, sociais e econômicos envolvidos em uma Copa, a Fifa precisa adotar o auxílio eletrônico para a arbitragem. Em princípio, sempre fui contra, pois isso criaria dois esportes diferentes: o futebol com auxílio eletrônico e o sem. Mas agora já acredito que na Copa do Mundo o recurso deve ser adotado. Foram muitos erros! Além dos casos mais escandalosos que prejudicaram Inglaterra e México, o Uruguai foi eliminado pelo trio de arbitragem. Quando estava 0x0, Forlán recebeu passe que o deixou sozinho na cara do goleiro adversário, e o auxiliar indicou impedimento - que não havia! Depois, no segundo gol da Holanda, houve impedimento não marcado. Enfim, na pura matemática (que também não existe no futebol...), o resultado deveria ser 3x2 para os heróicos uruguaios!
Finalmente, a Espanha apresentou um futebol de campeã. Se jogar na final como jogou contra a Alemanha, vai esmagar a Holanda... Mas futebol não tem lógica! Vou torcer pela Espanha, honrando minha ascendência espanhola.
ARBITRAGEM
Considerando todos os interesses políticos, sociais e econômicos envolvidos em uma Copa, a Fifa precisa adotar o auxílio eletrônico para a arbitragem. Em princípio, sempre fui contra, pois isso criaria dois esportes diferentes: o futebol com auxílio eletrônico e o sem. Mas agora já acredito que na Copa do Mundo o recurso deve ser adotado. Foram muitos erros! Além dos casos mais escandalosos que prejudicaram Inglaterra e México, o Uruguai foi eliminado pelo trio de arbitragem. Quando estava 0x0, Forlán recebeu passe que o deixou sozinho na cara do goleiro adversário, e o auxiliar indicou impedimento - que não havia! Depois, no segundo gol da Holanda, houve impedimento não marcado. Enfim, na pura matemática (que também não existe no futebol...), o resultado deveria ser 3x2 para os heróicos uruguaios!
Friday, July 02, 2010
O fim da Copa para a seleção brasileira
Apesar dos horrores do “dunguismo”, eu acreditava que o Brasil seria campeão sem grandes dificuldades, já que o nível geral desta Copa está muito baixo. Uma pena.
Mas há o lado bom da derrota: o fim da “era Dunga”. É muito melhor jogar bonito e perder do que jogar feio e perder! A obrigação do Brasil, nesta Copa como em todas as outras, é entrar com um time de craques, jogar bem e bonito e ganhar com alegria, pois tem jogadores de sobra para isso. Nada do que se viu da seleção brasileira na África do Sul...
Sobre o Felipe Melo: fez um gol contra, era o marcador do Snejder no segundo gol da Holanda e foi expulso, como todo mundo (menos o Dunga) sabia que ia acontecer.
Aqueles que seriam os grandes craques da Copa, até agora, estão devendo. Kaká quase não jogou, Robinho foi um pouco melhor, Cristiano Ronaldo e outros já estão fora. Falta o Messi desencatar. Será que vai?
Agora, pelo coração, torcerei por Argentina, Uruguai (afetivamente, meu time preferido entre os que restam) e Paraguai, embora tenha também simpatia por Gana, última esperança dos africanos. E não quero de jeito nenhum que a Alemanha seja tetracampeã!
Por fim, ironicamente: agora é o caso de perguntar ao Kaká se ele vai mudar de religião...
Mas há o lado bom da derrota: o fim da “era Dunga”. É muito melhor jogar bonito e perder do que jogar feio e perder! A obrigação do Brasil, nesta Copa como em todas as outras, é entrar com um time de craques, jogar bem e bonito e ganhar com alegria, pois tem jogadores de sobra para isso. Nada do que se viu da seleção brasileira na África do Sul...
Sobre o Felipe Melo: fez um gol contra, era o marcador do Snejder no segundo gol da Holanda e foi expulso, como todo mundo (menos o Dunga) sabia que ia acontecer.
Aqueles que seriam os grandes craques da Copa, até agora, estão devendo. Kaká quase não jogou, Robinho foi um pouco melhor, Cristiano Ronaldo e outros já estão fora. Falta o Messi desencatar. Será que vai?
Agora, pelo coração, torcerei por Argentina, Uruguai (afetivamente, meu time preferido entre os que restam) e Paraguai, embora tenha também simpatia por Gana, última esperança dos africanos. E não quero de jeito nenhum que a Alemanha seja tetracampeã!
Por fim, ironicamente: agora é o caso de perguntar ao Kaká se ele vai mudar de religião...
Wednesday, June 16, 2010
A Copa do Mundo em Curitiba está sob risco
Ante o impasse quanto à viabilidade de conclusão da Arena da Baixada, estádio do Atlético Paranaense, está em cheque a permanência de Curitiba como sede da Copa. A direção do CAP alega que o clube não pode aceitar as propostas feitas até agora (especialmente a que parece melhor de todas: troca de potencial construtivo pelo finacimento privado da Arena), sob pena de inviabilizar economicamente o clube. Diante disso, manifesto-me.
1. O CAP NÃO PODE SER O “MÁRTIR” DA COPA
A direção do CAP tem razão em não querer endividar o clube apenas para receber de dois a quatro jogos da Copa e nada mais. O que o clube ganha com isso? A ÚNICA vantagem seria ter um estádio espetacular, em conformidade com todas as exigências atuais da Fifa. Mas realmente não se pode inviabilizar economicamente o clube para isso. O CAP não pode ser o mártir da Copa em Curitiba: gastar o que não tem, endividar-se para receber uns poucos jogos e depois ficar com um excelente estádio e uma dívida monstruosa e impagável.
2. É DIFÍCIL CRER QUE NÃO HAJA FINANCIADOR
Considerando-se tudo que envolve uma Copa do Mundo, é realmente difícil acreditar que não haja empresa interessada em financiar a Arena. Será que não há alguma grande empresa com desejo de dar seu nome à Arena por algumas décadas (“naming rights”) em troca da visibilidade que teria na Copa e depois, por muitos anos? Futebol é um negócio, e bastante lucrativo. Não parece incompetência que não consigam financiador para um projeto TÃO BARATO em relação aos outros estádios da Copa?
3. RENUNCIAR À COPA OBRIGA A INVESTIR NO TIME
Se acontecer (tristeza!) de a Copa não ser na Arena - e, portanto, a Arena não ficar tão boa e grandiosa quanto poderia -, passa a ser obrigação INARREDÁVEL da diretoria investir num time CAMPEÃO, que dispute seguidamente com chance real de sucesso títulos nacionais e internacionais. Se renunciaram à glória do superestádio, então precisam investir (inclusive os 30 milhões de que dizem poder dispor para concluir a Arena conforme o projeto original) num TIME CAMPEÃO. Senão, será duplo fracasso: sem Copa, sem superestádio e lutando para não cair à 2ª divisão!
4. AUTORIDADES PARECEM DESINTERESSADAS
A Copa em Curitiba era um sonho da cidade, especialmente por tudo que pode trazer em termos de infraestrutura e visibilidade. Se Curitiba for excluída, será uma tragédia. Mas, pelo visto, nosso governantes também não estão preocupados. Basta ver que até o momento não se fez quase nada e já se anunciaou que quase nada será feito com nosso aeroporto, apenas uma “maquiagem barata”. Qual então a vantagem da Copa para a cidade?
5. O ESTÁDIO COXA E OUTRAS DÚVIDAS
Há informações de que o Coritiba Foot Ball Club poderia apresentar um projeto alternativo de estádio. Se assim for, merece parabéns a diretoria coxa-branca, que conseguiria aquilo que o Atlético não conseguiu: financiamento para o estádio. Por que a fonte que financiaria o estádio coritibano (muito mais caro) não financiaria a Arena atleticana? Fica essa dúvida, junto com várias outras: Quais serão os reais investimentos na cidade para a Copa? Curitiba terá o “salto de qualidade” em infraestrutura que se alardeava quando a Copa era apenas uma possibilidade? Sem os investimentos prometidos inicialmente, como nosso aeroporto poderá receber visitantes em época de constantes fechamentos por mau tempo? E, por fim: por que o desinteresse das autoridades, que nada dizem e nada fazem? Será que após as eleições a atitude mudará? Não será tarde demais?
1. O CAP NÃO PODE SER O “MÁRTIR” DA COPA
A direção do CAP tem razão em não querer endividar o clube apenas para receber de dois a quatro jogos da Copa e nada mais. O que o clube ganha com isso? A ÚNICA vantagem seria ter um estádio espetacular, em conformidade com todas as exigências atuais da Fifa. Mas realmente não se pode inviabilizar economicamente o clube para isso. O CAP não pode ser o mártir da Copa em Curitiba: gastar o que não tem, endividar-se para receber uns poucos jogos e depois ficar com um excelente estádio e uma dívida monstruosa e impagável.
2. É DIFÍCIL CRER QUE NÃO HAJA FINANCIADOR
Considerando-se tudo que envolve uma Copa do Mundo, é realmente difícil acreditar que não haja empresa interessada em financiar a Arena. Será que não há alguma grande empresa com desejo de dar seu nome à Arena por algumas décadas (“naming rights”) em troca da visibilidade que teria na Copa e depois, por muitos anos? Futebol é um negócio, e bastante lucrativo. Não parece incompetência que não consigam financiador para um projeto TÃO BARATO em relação aos outros estádios da Copa?
3. RENUNCIAR À COPA OBRIGA A INVESTIR NO TIME
Se acontecer (tristeza!) de a Copa não ser na Arena - e, portanto, a Arena não ficar tão boa e grandiosa quanto poderia -, passa a ser obrigação INARREDÁVEL da diretoria investir num time CAMPEÃO, que dispute seguidamente com chance real de sucesso títulos nacionais e internacionais. Se renunciaram à glória do superestádio, então precisam investir (inclusive os 30 milhões de que dizem poder dispor para concluir a Arena conforme o projeto original) num TIME CAMPEÃO. Senão, será duplo fracasso: sem Copa, sem superestádio e lutando para não cair à 2ª divisão!
4. AUTORIDADES PARECEM DESINTERESSADAS
A Copa em Curitiba era um sonho da cidade, especialmente por tudo que pode trazer em termos de infraestrutura e visibilidade. Se Curitiba for excluída, será uma tragédia. Mas, pelo visto, nosso governantes também não estão preocupados. Basta ver que até o momento não se fez quase nada e já se anunciaou que quase nada será feito com nosso aeroporto, apenas uma “maquiagem barata”. Qual então a vantagem da Copa para a cidade?
5. O ESTÁDIO COXA E OUTRAS DÚVIDAS
Há informações de que o Coritiba Foot Ball Club poderia apresentar um projeto alternativo de estádio. Se assim for, merece parabéns a diretoria coxa-branca, que conseguiria aquilo que o Atlético não conseguiu: financiamento para o estádio. Por que a fonte que financiaria o estádio coritibano (muito mais caro) não financiaria a Arena atleticana? Fica essa dúvida, junto com várias outras: Quais serão os reais investimentos na cidade para a Copa? Curitiba terá o “salto de qualidade” em infraestrutura que se alardeava quando a Copa era apenas uma possibilidade? Sem os investimentos prometidos inicialmente, como nosso aeroporto poderá receber visitantes em época de constantes fechamentos por mau tempo? E, por fim: por que o desinteresse das autoridades, que nada dizem e nada fazem? Será que após as eleições a atitude mudará? Não será tarde demais?
Sunday, June 13, 2010
Copa horrorosa
Como previ, parece que esta Copa tem tudo para estar entre as mais “feias” da história. Que peladas horrorosas! Uruguai x França, Eslovênia x Argélia... Ui! Foram joguinhos horríveis!
Até agora - como também previ - apenas a Argentina apresentou um futebol a que vale a pena assistir. Mas o grande craque, até o momento, foi o goleiro da Nigéria, Enyeama. Que defesas!
E os dois “perus”? Terão sido culpa da Jabulani?
Até agora - como também previ - apenas a Argentina apresentou um futebol a que vale a pena assistir. Mas o grande craque, até o momento, foi o goleiro da Nigéria, Enyeama. Que defesas!
E os dois “perus”? Terão sido culpa da Jabulani?
Fracasso da manifestação
Mesmo com a campanha na Gazeta do Povo e na TV Paranaense convocando participantes para a manifestação “O Paraná que queremos” - que teve até apresentação de bandas locais para atrair público - pouquíssima gente apareceu. As avaliações mais otimistas falam em 6.000 pessoas - realmente, muito pouco mesmo.
O brasileiro é acomodado. O curitibano, mais ainda. Além disso, parece que a ideia de que dinheiro público é “de todos” - e, portanto, pode ser roubado sem problemas - é um tanto generalizada. No Brasil, grassa essa mentalidade terrível de que o que é público pode ser “apropriado”. Triste.
O brasileiro é acomodado. O curitibano, mais ainda. Além disso, parece que a ideia de que dinheiro público é “de todos” - e, portanto, pode ser roubado sem problemas - é um tanto generalizada. No Brasil, grassa essa mentalidade terrível de que o que é público pode ser “apropriado”. Triste.
Tuesday, June 08, 2010
Comentando o jogo do Brasil
Convidado pelo jornalista e amigão Eduardo Luiz Klisiewicz, comentei ontem ao vivo o jogo do Brasil na Gazeta do Povo on-line. Foi divertido.
Depois, fizemos uma mesa-redonda de 19 minutos (gravada em vídeo para o site) sobre África, Copa e seleção brasileira.
Veja o link do vídeo: http://www.gazetadopovo.com.br/copadomundo2010/selecaobrasileira/conteudo.phtml?tl=1&id=1011308&tit=Convidados-debatem-Brasil-x-Tanzania-e-impactos-do-futebol-na-frica.
Depois, fizemos uma mesa-redonda de 19 minutos (gravada em vídeo para o site) sobre África, Copa e seleção brasileira.
Veja o link do vídeo: http://www.gazetadopovo.com.br/copadomundo2010/selecaobrasileira/conteudo.phtml?tl=1&id=1011308&tit=Convidados-debatem-Brasil-x-Tanzania-e-impactos-do-futebol-na-frica.
Monday, May 10, 2010
“Cultura” é isso...
No dia 21 de abril, como muitos dos jornais, “supercriativos”, fazem todo ano, a Gazeta do Povo também foi às ruas perguntar a alguns passantes o que sabiam sobre Tiradentes. Pulando as possíveis críticas à eterna repetição de pautas, chama atenção que algumas pessoas mostrem a cara para assumir desabridamente sua ignorância.
Vejamos alguns depoimentos:
“Só lembro que ele foi enforcado e guardo a data porque dia 21 é aniversário da minha irmã” (advogada de 26 anos).
“Estudei sobre Tiradentes na terceira série, mas não me recordo de nada sobre a história dele” (professor de informática de 20 anos).
“Sei que ele era dentista e acho que tinha barba” (acadêmica de Direito de 31 anos).
“Lembro que ele foi espancado em praça pública, mas não lembro porquê. Ele era barbudo também, parecido com o Lula” (contador de 29 anos).
Um outro acerta ao dizer que ele “participou da Inconfidência Mineira e acabou esquartejado”, mas emenda: “Sua aparência era igual à de Jesus Cristo”.
Rir ou chorar?
Nem de longe quero afirmar que todo mundo deveria cultuar o herói pátrio - sou daqueles que têm simpatia pela célebre afirmação: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Mas é uma questão de cultura geral mínima.
Os depoimentos servem ainda para confirmar a suspeita de que a fabricação do herói republicano, mesmo passado tanto tempo e com a evidente e frequentemente alardeada criação forçada do mito republicano pelo regime então nascente calou fundo - até hoje, ainda há muita gente que tem na cabeça a imagem falsa e mitificada do alferes barbudo semelhante a Jesus Cristo (semelhança fajutamente criada pela propaganda republicana que buscava um herói).
Também não quero desmerecer a ação do alferes Joaquim José da Silva Xavier em prol da República. Apenas ressaltar o parco conhecimento que tantas pessoas (inclusive com curso superior) têm da história nacional.
Vejamos alguns depoimentos:
“Só lembro que ele foi enforcado e guardo a data porque dia 21 é aniversário da minha irmã” (advogada de 26 anos).
“Estudei sobre Tiradentes na terceira série, mas não me recordo de nada sobre a história dele” (professor de informática de 20 anos).
“Sei que ele era dentista e acho que tinha barba” (acadêmica de Direito de 31 anos).
“Lembro que ele foi espancado em praça pública, mas não lembro porquê. Ele era barbudo também, parecido com o Lula” (contador de 29 anos).
Um outro acerta ao dizer que ele “participou da Inconfidência Mineira e acabou esquartejado”, mas emenda: “Sua aparência era igual à de Jesus Cristo”.
Rir ou chorar?
Nem de longe quero afirmar que todo mundo deveria cultuar o herói pátrio - sou daqueles que têm simpatia pela célebre afirmação: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Mas é uma questão de cultura geral mínima.
Os depoimentos servem ainda para confirmar a suspeita de que a fabricação do herói republicano, mesmo passado tanto tempo e com a evidente e frequentemente alardeada criação forçada do mito republicano pelo regime então nascente calou fundo - até hoje, ainda há muita gente que tem na cabeça a imagem falsa e mitificada do alferes barbudo semelhante a Jesus Cristo (semelhança fajutamente criada pela propaganda republicana que buscava um herói).
Também não quero desmerecer a ação do alferes Joaquim José da Silva Xavier em prol da República. Apenas ressaltar o parco conhecimento que tantas pessoas (inclusive com curso superior) têm da história nacional.
Tuesday, May 04, 2010
Participação em programa da Rádio Tropical
Dia desses, participei de um programa da Rádio Tropical, apresentado por Carlos Simões. Um programa quase humorístico, sobre provérbios populares. Se quiser ouvir, acesse este link e baixe o áudio do programa.
Tuesday, April 27, 2010
Blog devagar... e nova Diretoria do FNPJ
O blog anda devagar... Explico-me: 40 horas-aulas semanais (18 delas em sala de aula) em três instituições de dois estados diferentes, mais 12 horas-aulas como aluno de Direito, mais uma tese de Doutorado para escrever. E ainda tem a família e atividades extras, como revisões de textos, cursos e participação em instituições diversas...
A propósito deste último “item”: estive em Recife, de 20 a 24/04, participando do 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, que foi muito bom. Fiz parte da diretoria anterior do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, entidade promotora do evento, e fui eleito também como Diretor Regional Sul na nova chapa, eleita e empossada no evento. Abaixo, a chapa completa.
Diretoria Executiva
Presidente: Sérgio Luiz Gadini (UEPG/PR)
Vice-presidente: Mirna Tonus (UFU/MG)
Secretário-geral: Ricardo Mello (Unicap/PE)
Segundo Secretário: Edson Spenthof (UFG/GO)
Tesoureiro: Sílvio Melatti (Ielusc/SC)
Segunda Tesoureira: Sandra Freitas (PUC/MG)
Diretora Científica: Socorro Veloso (UFRN/RN)
Vice-diretor Científico: Marcelo Bronosky (UEPG/PR)
Diretor Editorial e de Comunicação: Paulo Roberto Botão (Unimep/SP)
Vice-diretor Editorial e de Comunicação: Demétrio Soster (Unics/RS)
Diretor de Relações Institucionais: Gerson Martins (UFMS/MS)
Vice-diretor de Relações Institucionais: Juliano Carvalho (Unesp/SP)
Diretorias Regionais
Norte I: Cynthia Mara (TO)
Norte II: Lucas Milhomens (Ufam/AM)
Nordeste I: Mônica Celestino (FSBA/BA)
Nodeste II: Fernando Firmino da Silva (UEPB/PB)
Sudeste I: Erivam de Oliveira (UFV/MG)
Sudeste II: Wanderley Garcia (PUCCamp/Unimep/SP)
Sul I: Tomás Barreiros (Facinter/Opet/PR/Ielusc/SC)
Sul II: Jorge Arlan Pereira (UnoChapecó/SC)
Centro-Oeste I: Samuel Lima (UnB/DF)
Centro-Oeste II: Álvaro Fernando Ferreira Marinho (Fiavec/MT)
Conselho Consultivo
Antonio Francisco Magnoni (Unesp/SP)
Boanerges Lopes (UFJF/MG)
Franklin Valverde (UniRadial/SP)
Joaquim Lannes (UFV/MG)
Josenildo Guerra (UFS/SE)
Leonel Azevedo de Aguiar (PUC/RJ)
Valci Zuculoto (UFSC/SC)
Conselho Fiscal
Marcel Cheida (PUCCamp/SP)
Sandra de Deus (UFRGS/RS)
Victor Gentilli (Ufes/ES)
A propósito deste último “item”: estive em Recife, de 20 a 24/04, participando do 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, que foi muito bom. Fiz parte da diretoria anterior do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, entidade promotora do evento, e fui eleito também como Diretor Regional Sul na nova chapa, eleita e empossada no evento. Abaixo, a chapa completa.
Diretoria Executiva
Presidente: Sérgio Luiz Gadini (UEPG/PR)
Vice-presidente: Mirna Tonus (UFU/MG)
Secretário-geral: Ricardo Mello (Unicap/PE)
Segundo Secretário: Edson Spenthof (UFG/GO)
Tesoureiro: Sílvio Melatti (Ielusc/SC)
Segunda Tesoureira: Sandra Freitas (PUC/MG)
Diretora Científica: Socorro Veloso (UFRN/RN)
Vice-diretor Científico: Marcelo Bronosky (UEPG/PR)
Diretor Editorial e de Comunicação: Paulo Roberto Botão (Unimep/SP)
Vice-diretor Editorial e de Comunicação: Demétrio Soster (Unics/RS)
Diretor de Relações Institucionais: Gerson Martins (UFMS/MS)
Vice-diretor de Relações Institucionais: Juliano Carvalho (Unesp/SP)
Diretorias Regionais
Norte I: Cynthia Mara (TO)
Norte II: Lucas Milhomens (Ufam/AM)
Nordeste I: Mônica Celestino (FSBA/BA)
Nodeste II: Fernando Firmino da Silva (UEPB/PB)
Sudeste I: Erivam de Oliveira (UFV/MG)
Sudeste II: Wanderley Garcia (PUCCamp/Unimep/SP)
Sul I: Tomás Barreiros (Facinter/Opet/PR/Ielusc/SC)
Sul II: Jorge Arlan Pereira (UnoChapecó/SC)
Centro-Oeste I: Samuel Lima (UnB/DF)
Centro-Oeste II: Álvaro Fernando Ferreira Marinho (Fiavec/MT)
Conselho Consultivo
Antonio Francisco Magnoni (Unesp/SP)
Boanerges Lopes (UFJF/MG)
Franklin Valverde (UniRadial/SP)
Joaquim Lannes (UFV/MG)
Josenildo Guerra (UFS/SE)
Leonel Azevedo de Aguiar (PUC/RJ)
Valci Zuculoto (UFSC/SC)
Conselho Fiscal
Marcel Cheida (PUCCamp/SP)
Sandra de Deus (UFRGS/RS)
Victor Gentilli (Ufes/ES)
Wednesday, March 31, 2010
Coisas que dão nojo
Há coisas que dão nojo neste país...
A corrupção, que, aliás, grassa em todo lugar, é uma delas. Viram a denúncia do CQC sobre o metrô de Salvador? Gastos de 500 milhões de reais para a construção de 6 km (!!!) de linhas de metrô com problemas técnicos e sem previsão de funcionamento, numa obra que se arrasta por mais de dez anos...
Outra é a mídia sensacionalista. Senti vontade de vomitar ao ler a capa da Veja: “Condenados! Agora, Isabela pode descansar em paz”. Será possível???!!! Chamam “isso” de jornalismo? Qualquer jornalista com mínimas noções do que seja jornalismo deve ter vontade de cuspir num título desses.
Outra coisa de dar ânsia é a reação pública em torno do julgamento dos Nardoni. E o promotor que vai à missa pela vítima - atitude absolutamente inapropriada, de gente sem noção de ética profissional (aliás, o dito cujo deu declarações na TV que afrontam as normas éticas do seu cargo, criticando e tentando ridicularizar o advogado de defesa). E o público que aplaude o promotor na missa e vaia o advogado de defesa na entrada do tribunal. Atitudes patéticas.
Como, aliás, foi patética a fundamentação da sentença condenatória redigida pelo juiz (ainda que a condenação tenha sido justa, como tudo parece indicar). Outra peça de gente sem noção. Acho que os holofotes da mídia torraram alguns neurônios do pobre magistrado, que pelo visto ficou deslumbrado.
Enfim, que triste país este...
A corrupção, que, aliás, grassa em todo lugar, é uma delas. Viram a denúncia do CQC sobre o metrô de Salvador? Gastos de 500 milhões de reais para a construção de 6 km (!!!) de linhas de metrô com problemas técnicos e sem previsão de funcionamento, numa obra que se arrasta por mais de dez anos...
Outra é a mídia sensacionalista. Senti vontade de vomitar ao ler a capa da Veja: “Condenados! Agora, Isabela pode descansar em paz”. Será possível???!!! Chamam “isso” de jornalismo? Qualquer jornalista com mínimas noções do que seja jornalismo deve ter vontade de cuspir num título desses.
Outra coisa de dar ânsia é a reação pública em torno do julgamento dos Nardoni. E o promotor que vai à missa pela vítima - atitude absolutamente inapropriada, de gente sem noção de ética profissional (aliás, o dito cujo deu declarações na TV que afrontam as normas éticas do seu cargo, criticando e tentando ridicularizar o advogado de defesa). E o público que aplaude o promotor na missa e vaia o advogado de defesa na entrada do tribunal. Atitudes patéticas.
Como, aliás, foi patética a fundamentação da sentença condenatória redigida pelo juiz (ainda que a condenação tenha sido justa, como tudo parece indicar). Outra peça de gente sem noção. Acho que os holofotes da mídia torraram alguns neurônios do pobre magistrado, que pelo visto ficou deslumbrado.
Enfim, que triste país este...
Pobre língua... [2]
A turma da Gazeta do Povo, principal jornal do Paraná, está precisando de uma revisão sobre crase. Aliás, nunca entendi a dificuldade que tantas pessoas têm em relação ao uso da crase, que é tão tão tão simples: indica o encontro de duas letras “a” (a primeira, preposição; a segunda, quase sempre, artigo). E pronto, simples assim! Será que o problema está em identificar preposição e artigo? Enfim, não entendo...
Lá vão dois deslizes, ambos em títulos:
• “Button compara 1ª corrida à procissão” (23/03)
• “Empresário de Curitiba pede perdão à Cuba pela fala de Lula” (20/03)
Outra questão que me dói nos ouvidos são os neologismos que, em vez de contribuírem com o enriquecimento da língua, apresentando vocábulos novos que não tinham equivalentes, são, ao contrário, um empobrecimento, por substituírem palavras já existentes por outras de gosto duvidoso ou simplesmente trocarem uma palavra específica por uma genérica. Os exemplos:
• “Listagem” no lugar de lista.
• “Poeta” no lugar de poetisa.
Isso sem falar na abolição quase completa da palavra presidenta, justo quando tem havido mais mulheres na presidência de países importantes. Pelo andar da carruagem, logo será aceito o uso de “maestra” no lugar de maestrina e “música” no de musicista...
Alguém poderia alegar, nos exemplos que envolvem definição de gênero, que se trata de uma evolução ideológica, graças à boa e necessária igualdade entre os sexos. Se fosse isso, por que então o vocábulo genérico adotado é sempre o masculino? A meu ver, parece, bem ao contrário, uma concessão ao machismo.
Lá vão dois deslizes, ambos em títulos:
• “Button compara 1ª corrida à procissão” (23/03)
• “Empresário de Curitiba pede perdão à Cuba pela fala de Lula” (20/03)
Outra questão que me dói nos ouvidos são os neologismos que, em vez de contribuírem com o enriquecimento da língua, apresentando vocábulos novos que não tinham equivalentes, são, ao contrário, um empobrecimento, por substituírem palavras já existentes por outras de gosto duvidoso ou simplesmente trocarem uma palavra específica por uma genérica. Os exemplos:
• “Listagem” no lugar de lista.
• “Poeta” no lugar de poetisa.
Isso sem falar na abolição quase completa da palavra presidenta, justo quando tem havido mais mulheres na presidência de países importantes. Pelo andar da carruagem, logo será aceito o uso de “maestra” no lugar de maestrina e “música” no de musicista...
Alguém poderia alegar, nos exemplos que envolvem definição de gênero, que se trata de uma evolução ideológica, graças à boa e necessária igualdade entre os sexos. Se fosse isso, por que então o vocábulo genérico adotado é sempre o masculino? A meu ver, parece, bem ao contrário, uma concessão ao machismo.
Thursday, March 25, 2010
Mais uma da Globo...
O Jornal Hoje de anteontem levou ao ar uma matéria curiosa. A pretexto do julgamento dos Nardoni, a matéria tentava investigar por que tanta gente se interessava além da conta pelo caso. Mostrava pessoas de outras cidades que tinham viajado para acompanhar o julgamento na porta do Fórum etc. etc.
Então, tá. A Globo transforma o caso num caso "sensacional", fica martelando sensacionalisticamente o caso em todos os telejornais por dias e dias a fio... e depois se admira com o "interesse desmedido" do público!
É piadinha, né? Então, está aí uma dica para TV sem pauta: pegue um caso qualquer entre os milhões de acontecimentos diários que possam tornar-se notícia, faça dele um "grande caso" apelando para o sensacionalismo mais escandaloso: o tema poderá render dias e dias de matéria... e depois ainda se pode fazer uma pata sobre (oh! surpresa!) por que o público se interessa tanto por esses casos...
Então, tá. A Globo transforma o caso num caso "sensacional", fica martelando sensacionalisticamente o caso em todos os telejornais por dias e dias a fio... e depois se admira com o "interesse desmedido" do público!
É piadinha, né? Então, está aí uma dica para TV sem pauta: pegue um caso qualquer entre os milhões de acontecimentos diários que possam tornar-se notícia, faça dele um "grande caso" apelando para o sensacionalismo mais escandaloso: o tema poderá render dias e dias de matéria... e depois ainda se pode fazer uma pata sobre (oh! surpresa!) por que o público se interessa tanto por esses casos...
O que você observa primeiro numa mulher?
Falando em "tiradas" interessantes, lembrei-me de outra muito boa. O autor é o escritor, advogado, agricultor etc. (e meu irmão, o mais importante) Eriel Barreiros. À clássica pergunta "Que parte do corpo de uma mulher voce olha primeiro", sua resposta: "A mão esquerda"...
Tuesday, March 16, 2010
Pobre língua...
Os veículos de comunicação de massa têm hoje a função, antes reservada à literatura, de fixar a linguagem. Por isso, fico triste com a constatação de que a quase totalidade de nossos diários (inclusive os bons) tem descuidado muito do bom trato com nossa língua. Apenas a título de exemplo, ponho abaixo trechos retirados do caderno Gazeta Esportiva, da Gazeta do Povo de 15/03/2010. Todos os trechos são reproduzidos tais quais foram publicados. Divirta-se achando os erros.
• Logo na saída de bola, Toscano recebeu o lançamento e avançou para ampliar, encerrando um jejum que lhe atormentava desde janeiro.
• O mote é o jogo de quarta-feira contra o Sport, pela Copa do Brasil, mas a intensão é refletir no acanhado quadro de sócios.
• Com essa mudança, a equipe interiorana passou a ter mais ritmo e mais posse de bola, principalmente, quando esta chegava aos pés do Ceará, o qual além de articular as jogadas no meio de campo, ainda se aproximava do ataque, com muita habilidade.
• No lance seguinte ao gol, Neymar deu uma entrada forte, em Pierre e foi expulso.
• O Coritiba deve intensificar nos próximos dias a campanha de publicidade para recuperar a alto-estima dos torcedores.
• Teme-se represálias por parte da CBF.
Outros trechos, extraídos de edições e cadernos variados da Gazeta do Povo (aliás, diga-se, um bom jornal):
• O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) baixou novas metas para ser cumpridas atéo o fim deste ano [...]. (Vida Pública, 10/03).
• Em meio aos novos e velhos processos que lhes chegam, a cada dia há relatos a ser preenchidos, burocracias administrativas a ser cumpridas, dificuldades até com computadores e material de expediente a ser enfrentadas. (Vida Pública, 10/03).
• A diretoria do tricolor, nem assim se manifestou. (Esportes, 16/03).
• Poxa, é o sonho de todo o paulistano [...]. (Esportes, 16/03).
• Estão todos de parabéns por ter conseguido construir uma pista em quatro meses. (Esportes, 16/03).
• A pista era tão rápida que não conseguíamos correr sem ficar tonto, foi a pior condição que já pegamos. (Esportes, 16/03).
• Sempre que algo ou alguém lhe tirar do sério, respire fundo e conte mentalmente até 10 [...]. (Talento em pauta, 16/03).
• Respostas bem dadas, desestabilizam um desaforado. (Talento em pauta, 16/03).
• Se alguém lhe intimar para uma discussão, evite-a. (Talento em pauta, 16/03).
• Você acredita que uma boa estratégia para ser bem-sucedido na empresa é eliminando as ameaças pelo caminmho, inclusive pessoas que possam lhe prejudicar. (Talento em pauta, 16/03).
• Se algum colega lhe faz algo que não lhe agrada você se vinga na primeira oportunidade. (Talento em pauta, 16/03).
• Por isso, as pessoas devem lhe evitar e torcer para se verem livres de você muito rápido. (Talento em pauta, 16/03).
• Logo na saída de bola, Toscano recebeu o lançamento e avançou para ampliar, encerrando um jejum que lhe atormentava desde janeiro.
• O mote é o jogo de quarta-feira contra o Sport, pela Copa do Brasil, mas a intensão é refletir no acanhado quadro de sócios.
• Com essa mudança, a equipe interiorana passou a ter mais ritmo e mais posse de bola, principalmente, quando esta chegava aos pés do Ceará, o qual além de articular as jogadas no meio de campo, ainda se aproximava do ataque, com muita habilidade.
• No lance seguinte ao gol, Neymar deu uma entrada forte, em Pierre e foi expulso.
• O Coritiba deve intensificar nos próximos dias a campanha de publicidade para recuperar a alto-estima dos torcedores.
• Teme-se represálias por parte da CBF.
Outros trechos, extraídos de edições e cadernos variados da Gazeta do Povo (aliás, diga-se, um bom jornal):
• O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) baixou novas metas para ser cumpridas atéo o fim deste ano [...]. (Vida Pública, 10/03).
• Em meio aos novos e velhos processos que lhes chegam, a cada dia há relatos a ser preenchidos, burocracias administrativas a ser cumpridas, dificuldades até com computadores e material de expediente a ser enfrentadas. (Vida Pública, 10/03).
• A diretoria do tricolor, nem assim se manifestou. (Esportes, 16/03).
• Poxa, é o sonho de todo o paulistano [...]. (Esportes, 16/03).
• Estão todos de parabéns por ter conseguido construir uma pista em quatro meses. (Esportes, 16/03).
• A pista era tão rápida que não conseguíamos correr sem ficar tonto, foi a pior condição que já pegamos. (Esportes, 16/03).
• Sempre que algo ou alguém lhe tirar do sério, respire fundo e conte mentalmente até 10 [...]. (Talento em pauta, 16/03).
• Respostas bem dadas, desestabilizam um desaforado. (Talento em pauta, 16/03).
• Se alguém lhe intimar para uma discussão, evite-a. (Talento em pauta, 16/03).
• Você acredita que uma boa estratégia para ser bem-sucedido na empresa é eliminando as ameaças pelo caminmho, inclusive pessoas que possam lhe prejudicar. (Talento em pauta, 16/03).
• Se algum colega lhe faz algo que não lhe agrada você se vinga na primeira oportunidade. (Talento em pauta, 16/03).
• Por isso, as pessoas devem lhe evitar e torcer para se verem livres de você muito rápido. (Talento em pauta, 16/03).
Sunday, March 14, 2010
Os erros mais comuns em um texto
Depois de anos revisando monografias, teses de doutorado, dissertação de mestrado, artigos científicos e livros, quando me perguntam quais os erros encontrados com mais frequência nesses textos, tenho dificuldade de responder.
Na verdade, a gama de erros é variada. Em termos de quantidade, sem dúvida, levam o “prêmio” a pontuação e a acentuação. Mas estes são, geralmente, erros menos relevantes, muitas vezes resultantes de distração ou de problemas de digitação. Dentre os deslizes mais graves, são comuns as falhas de concordância nominal e verbal. A impropriedade vocabular não é evento dos mais numerosos, mas aparece sempre – todo texto tem um ou outro vocábulo empregado impropriamente. Por fim, há os erros na estrutura da frase, que muitas vezes acabam por gerar sentenças ininteligíveis.
Nos textos técnicos que exigem conhecimento específico distante do repertório do revisor, obviamente, a revisão é focada especificamente no aspecto formal – entretanto, uma frase mal estruturada, ainda que trate de tema que fuja ao domínio do revisor, não passará despercebida. Nesse caso, o revisor apontará o problema e solicitará ao autor que deixe claro o sentido da frase.
Deve-se ressaltar que cada texto tem seu público e sua intenção. O revisor precisa levar isso em conta na “calibragem” do seu trabalho. Afinal, o texto é uma peça de comunicação, e sua eficácia como tal está ligada ao público-alvo e ao objetivo comunicacional. A língua é viva, e muitas de suas regras não são rigidamente delimitadas. Um maior ou menor rigor formal depende do tipo de texto. Há muitos usos da língua que há pouco poderiam ser qualificados como “erro” e hoje são perfeitamente aceitas.
Nos meus trabalhos, em princípio, tendo a fazer uma revisão mais “purista”, salvo se houver tratativa em contrário com quem encomenda o trabalho. De qualquer modo, convém ter presente que nenhuma revisão é absolutamente “perfeita” – não apenas porque é feita por um ser humano, sujeito, portanto, a erros, mas porque uma visão excessivamente “rigorista” sempre encontrará algo a melhorar. Aliás, isso se aplica tanto à forma quanto ao conteúdo. Lembro-me de uma experiência muito curiosa: eu fazia a revisão dos textos de um escritor que publicava livros especializados sobre temas de religião e sociologia. Cada vez que eu entregava os originais revisados, ele acrescentava algo ao texto, que depois me devolvia para nova revisão – e assim sucessivamente, várias vezes, até que ele decidia não mexer mais no trabalho, vencido pelo cansaço. “Revise e não me devolva mais, passe direto ao editor”, dizia ele.
Conta-se que o célebre escritor francês Edmond Rostand era absolutamente obcecado na busca da perfeição de seus escritos. Ele revia e revia e aperfeiçoava seu texto até o limite do absurdo. Seu fantástico “Cyrano de Bergerac” – texto para teatro encenado incontáveis vezes, filmado por vários diretores e parodiado infinitamente – é um exemplo dessa obsessão: de construção magnífica, tornou-se uma das obras-primas da literatura ocidental (de passagem: está entre meus livros preferidos, bem como o filme, baseado nele, dirigido por Jean-Paul Rappeneau e estrelado por Gerard Depardieu). Não é preciso, evidentemente, essa obsessão. Mas um texto bem escrito, em português correto, é condição necessária para que o escritor consiga portar altivamente seu panache.
Na verdade, a gama de erros é variada. Em termos de quantidade, sem dúvida, levam o “prêmio” a pontuação e a acentuação. Mas estes são, geralmente, erros menos relevantes, muitas vezes resultantes de distração ou de problemas de digitação. Dentre os deslizes mais graves, são comuns as falhas de concordância nominal e verbal. A impropriedade vocabular não é evento dos mais numerosos, mas aparece sempre – todo texto tem um ou outro vocábulo empregado impropriamente. Por fim, há os erros na estrutura da frase, que muitas vezes acabam por gerar sentenças ininteligíveis.
Nos textos técnicos que exigem conhecimento específico distante do repertório do revisor, obviamente, a revisão é focada especificamente no aspecto formal – entretanto, uma frase mal estruturada, ainda que trate de tema que fuja ao domínio do revisor, não passará despercebida. Nesse caso, o revisor apontará o problema e solicitará ao autor que deixe claro o sentido da frase.
Deve-se ressaltar que cada texto tem seu público e sua intenção. O revisor precisa levar isso em conta na “calibragem” do seu trabalho. Afinal, o texto é uma peça de comunicação, e sua eficácia como tal está ligada ao público-alvo e ao objetivo comunicacional. A língua é viva, e muitas de suas regras não são rigidamente delimitadas. Um maior ou menor rigor formal depende do tipo de texto. Há muitos usos da língua que há pouco poderiam ser qualificados como “erro” e hoje são perfeitamente aceitas.
Nos meus trabalhos, em princípio, tendo a fazer uma revisão mais “purista”, salvo se houver tratativa em contrário com quem encomenda o trabalho. De qualquer modo, convém ter presente que nenhuma revisão é absolutamente “perfeita” – não apenas porque é feita por um ser humano, sujeito, portanto, a erros, mas porque uma visão excessivamente “rigorista” sempre encontrará algo a melhorar. Aliás, isso se aplica tanto à forma quanto ao conteúdo. Lembro-me de uma experiência muito curiosa: eu fazia a revisão dos textos de um escritor que publicava livros especializados sobre temas de religião e sociologia. Cada vez que eu entregava os originais revisados, ele acrescentava algo ao texto, que depois me devolvia para nova revisão – e assim sucessivamente, várias vezes, até que ele decidia não mexer mais no trabalho, vencido pelo cansaço. “Revise e não me devolva mais, passe direto ao editor”, dizia ele.
Conta-se que o célebre escritor francês Edmond Rostand era absolutamente obcecado na busca da perfeição de seus escritos. Ele revia e revia e aperfeiçoava seu texto até o limite do absurdo. Seu fantástico “Cyrano de Bergerac” – texto para teatro encenado incontáveis vezes, filmado por vários diretores e parodiado infinitamente – é um exemplo dessa obsessão: de construção magnífica, tornou-se uma das obras-primas da literatura ocidental (de passagem: está entre meus livros preferidos, bem como o filme, baseado nele, dirigido por Jean-Paul Rappeneau e estrelado por Gerard Depardieu). Não é preciso, evidentemente, essa obsessão. Mas um texto bem escrito, em português correto, é condição necessária para que o escritor consiga portar altivamente seu panache.
Saturday, March 13, 2010
“Tiradas” do meu filho
Meu filho de 13 anos às vezes me surpreende com suas “tiradas”. Dia desses, estávamos voltando para casa à noite e passamos perto da praça Ouvidor Pardinho, onde muitos travestis fazem ponto. Comentávamos como havia alguns muito femininos e realmente bonitos. Minha mulher perguntou-lhe se os achava bonitos. Ele saiu-se com esta: “Sim. São como frutas de plástico - bonitas, mas não dão vontade de comer”.
Em outra ocasião, ele se queixava da necessidade de decorar a tabuada, alegando que era muito mais cômodo usar uma calculadora. E argumentou: “Num mundo em que as pessoas não puderem usar calculadoras, será mais útil a escola ensinar os alunos a pescar e caçar”.
Em outra ocasião, ele se queixava da necessidade de decorar a tabuada, alegando que era muito mais cômodo usar uma calculadora. E argumentou: “Num mundo em que as pessoas não puderem usar calculadoras, será mais útil a escola ensinar os alunos a pescar e caçar”.
Friday, March 05, 2010
O ridículo moralismo estadunidense
Uma família de New Jersey achou uma atividade interessante para fazer no gelado inverno estadunidense: esculpiu em gelo uma réplica da Vênus de Milo.
Pois um vizinho denunciou a “escandalosa” nudez da estátua, e a polícia obrigou a família a cobrir as partes pudendas da escultura.
Absolutamente ridículo. A “moralidade” de muitos estadunidenses (extremamente “conservadores”) parece doença mental - mas é pior, é uma doença moral...
A notícia foi distribuída pela AFP e publicada pelo UOL. Clique no link para ver a foto, vale a pena.
Pois um vizinho denunciou a “escandalosa” nudez da estátua, e a polícia obrigou a família a cobrir as partes pudendas da escultura.
Absolutamente ridículo. A “moralidade” de muitos estadunidenses (extremamente “conservadores”) parece doença mental - mas é pior, é uma doença moral...
A notícia foi distribuída pela AFP e publicada pelo UOL. Clique no link para ver a foto, vale a pena.
Thursday, March 04, 2010
Razões para revisar um texto
Imagine alguém que goste (e entenda) muito de risoto. Nosso gourmand vai a um restaurante de grande prestígio, cuja cozinha é dirigida por um chef de renome internacional, e pede seu prato predileto: risoto de camarão. Ao recebê-lo na mesa, tudo parece perfeito: o aroma, a textura do camarão, os condimentos, o gosto delicioso... Entretanto, enquanto refestela o paladar, mastigando o arroz cozido no ponto perfeito, nosso personagem encontra, cá e lá, de vez em quando, uma pedrinha. As incômodas mordidas nos pedacinhos duros certamente o irritariam a ponto de ele desqualificar o cozinheiro e nunca mais voltar ao restaurante, por mais refinado que fosse o sabor da iguaria, por maiores que fossem as qualidades dos ingredientes.
É isso que pode acontecer quando um leitor qualificado se depara com um texto agradável, fluente, saboroso... mas que, cá e lá, de vez em quando, deixa escapar “errinhos de português”. Esses erros são pedrinhas no risoto, e dificilmente o leitor que seja bom conhecedor da língua deixará de considerá-los um ponto bastante negativo ao avaliar o texto.
Um bom escritor é sempre um bom manipulador da língua. Ainda que não conheça de cor e salteado as regras gramaticais, ele sabe empregar adequadamente o idioma, mesmo que intuitivamente. E os grandes literatos que “torceram” as regras do português (imediatamente me vem à ideia Guimarães Rosa) sabiam exatamente o que estavam fazendo.
Claro que mesmo bons escritores estão sujeitos a pequenos deslizes na escritura de um texto. É por isso que, sábios e humildes, recorrem aos revisores – funcionários da palavra que, ainda quando não tenham o estro literário, sabem identificar pequenas ervas daninhas insinuando-se no trigal do texto.
Há um bem sucedido escritor brasileiro que, segundo consta, não admitia (ao que parece, por razões místicas) que seus escritos fossem revisados. Graças a isso, são facilmente encontráveis erros evidentes em seus primeiros livros. Repetindo no exterior o sucesso nacional, tal autor alcançou celebridade muito maior do que seus escritos lhe haviam dado, a princípio, em solo pátrio: os textos bem vertidos para línguas estrangeiras certamente não continham erros. Deu então a mão à palmatória o escritor, passando a permitir a “intromissão” de revisores no seu texto, o que melhorou a qualidade de seus livros.
Já o autor brasileiro mais premiado em anos recentes, Cristóvão Tezza, tem um impecável domínio do idioma. Tal qualidade faz com que suas obras possam dar ao leitor um grande prazer apenas na consideração da perfeição da escrita, independentemente da história. Certamente consciente disso, Tezza já incluiu em algumas histórias páginas que parecem estar nelas apenas para dar ao leitor o deleite do texto primoroso.
Quaisquer que sejam o objetivo e o estilo do texto (literário, técnico, científico, burocrático...), é legítimo que o leitor espere, pelo menos, um uso correto do idioma. E também é certo que a ausência de erros já eleva a qualificação daquilo que se escreve. Portanto, senhores autores, façam boamente uso do trabalho do revisor, que colocará seu esforço e seu conhecimento a serviço da boa qualidade do texto, ajudando o leitor a sorvê-lo na autenticidade de seu sabor, sem incômodos de forma que possam aviltar o estilo.
É isso que pode acontecer quando um leitor qualificado se depara com um texto agradável, fluente, saboroso... mas que, cá e lá, de vez em quando, deixa escapar “errinhos de português”. Esses erros são pedrinhas no risoto, e dificilmente o leitor que seja bom conhecedor da língua deixará de considerá-los um ponto bastante negativo ao avaliar o texto.
Um bom escritor é sempre um bom manipulador da língua. Ainda que não conheça de cor e salteado as regras gramaticais, ele sabe empregar adequadamente o idioma, mesmo que intuitivamente. E os grandes literatos que “torceram” as regras do português (imediatamente me vem à ideia Guimarães Rosa) sabiam exatamente o que estavam fazendo.
Claro que mesmo bons escritores estão sujeitos a pequenos deslizes na escritura de um texto. É por isso que, sábios e humildes, recorrem aos revisores – funcionários da palavra que, ainda quando não tenham o estro literário, sabem identificar pequenas ervas daninhas insinuando-se no trigal do texto.
Há um bem sucedido escritor brasileiro que, segundo consta, não admitia (ao que parece, por razões místicas) que seus escritos fossem revisados. Graças a isso, são facilmente encontráveis erros evidentes em seus primeiros livros. Repetindo no exterior o sucesso nacional, tal autor alcançou celebridade muito maior do que seus escritos lhe haviam dado, a princípio, em solo pátrio: os textos bem vertidos para línguas estrangeiras certamente não continham erros. Deu então a mão à palmatória o escritor, passando a permitir a “intromissão” de revisores no seu texto, o que melhorou a qualidade de seus livros.
Já o autor brasileiro mais premiado em anos recentes, Cristóvão Tezza, tem um impecável domínio do idioma. Tal qualidade faz com que suas obras possam dar ao leitor um grande prazer apenas na consideração da perfeição da escrita, independentemente da história. Certamente consciente disso, Tezza já incluiu em algumas histórias páginas que parecem estar nelas apenas para dar ao leitor o deleite do texto primoroso.
Quaisquer que sejam o objetivo e o estilo do texto (literário, técnico, científico, burocrático...), é legítimo que o leitor espere, pelo menos, um uso correto do idioma. E também é certo que a ausência de erros já eleva a qualificação daquilo que se escreve. Portanto, senhores autores, façam boamente uso do trabalho do revisor, que colocará seu esforço e seu conhecimento a serviço da boa qualidade do texto, ajudando o leitor a sorvê-lo na autenticidade de seu sabor, sem incômodos de forma que possam aviltar o estilo.
Monday, February 15, 2010
Os crimes da escola - 2
Continuando a tratar do tema “os crimes da escola”, reproduzo a seguir mais um texto que circula pela internet, atribuído ao professor Waldemar Setzer, da USP, e também muito interessante para levantar reflexões sobre o assunto.
Revoltado ou criativo?
Por Waldemar Setzer, professor aposentando da USP
Há algum tempo, recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma “conspiração do sistema” contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.
Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: “Mostre como se pode determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro.” A resposta do estudante foi a seguinte: “Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante-o, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício.”
Sem dúvida, era uma resposta interessante e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes, vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de Física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse outra tentativa para responder a questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei que lhe seria um bom desafio.
Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de Física.
Passados cinco minutos, ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade, tinha muitas respostas e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.
No momento seguinte, ele escreveu esta resposta: “Vá ao alto do edifício, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h=(1/2)gt2, calcule a altura do edifício.”
Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta e se concordava com minha disposição de conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora eu sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.
Ao sair da sala, lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.
“Ah, sim!” – disse ele – “Há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro.”
Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações: “Por exemplo, num belo dia de sol, pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício. Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se a altura do edifício. Outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando-se o número de marcas, ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas. Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois valores de g, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença.
“Finalmente” – concluiu –, “se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer, diz-se: Caro senhor síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.”
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta “esperada” para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.
Revoltado ou criativo?
Por Waldemar Setzer, professor aposentando da USP
Há algum tempo, recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma “conspiração do sistema” contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.
Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: “Mostre como se pode determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro.” A resposta do estudante foi a seguinte: “Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante-o, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício.”
Sem dúvida, era uma resposta interessante e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes, vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de Física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse outra tentativa para responder a questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei que lhe seria um bom desafio.
Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de Física.
Passados cinco minutos, ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade, tinha muitas respostas e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.
No momento seguinte, ele escreveu esta resposta: “Vá ao alto do edifício, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h=(1/2)gt2, calcule a altura do edifício.”
Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta e se concordava com minha disposição de conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora eu sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.
Ao sair da sala, lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.
“Ah, sim!” – disse ele – “Há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro.”
Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações: “Por exemplo, num belo dia de sol, pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício. Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se a altura do edifício. Outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando-se o número de marcas, ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas. Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois valores de g, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença.
“Finalmente” – concluiu –, “se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer, diz-se: Caro senhor síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.”
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta “esperada” para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.
Tuesday, February 09, 2010
Os crimes da escola
Estou de volta! Depois das férias, espero atualizar mais frequentemente o blog.
Para recomeçar, um tema de minha preocupação permanente: o papel da escola como elemento de controle social (uma “aparelho ideológico do Estado”, no dizer de Althusser).
A escola, como geralmente tem sido, é uma instituição criminosa, feita para embotar as mentes. Mais adiante, colocarei outras reflexões sobre o tema. Por ora, reproduzo abaixo um texto bem difundido, de cuja origem não estou certo, mas que conheço há muito tempo e que sempre revejo publicado aqui e acolá. É um texto magnífico que revela a pior face da escola...
O menininho
Helen E. Buckley
Era uma vez um menininho que contrastava com sua escola, bastante grande. Uma manhã, a professora disse que os alunos iriam fazer um desenho.
– Que bom! – pensou o menininho. Ele gostava de fazer desenhos.
Ele pegou sua caixa de lápis de cor e começou a desenhar. Mas a professora disse para esperar, que ainda não era hora de começar. E ela esperou até que todos estivessem prontos.
– Agora – disse a professora –, nós iremos desenhar flores.
– Que bom! – pensou o menininho. Ele gostava de desenhar flores e começou a desenhar flores com lápis rosa, azul e laranja. Mas a professora disse que ia mostrar como fazer.
E a flor da professora era vermelha com caule verde.
– Assim – disse a professora –, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isso. Ele virou o papel e desenhou uma flor igual à da professora.
Num outro dia, quando o menininho estava numa aula ao ar livre, a professora disse que os alunos iriam fazer alguma coisa com o barro.
– Que bom! – pensou. Ele gostava de trabalhar com o barro. Ele pensou que podia fazer com o barro todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro. Mas a professora disse para esperar.
E ela esperou até que todos estivessem prontos.
– Agora – disse a professora –, nós iremos fazer um prato.
– Que bom! – pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
Mas a professora disse que era para esperar, que iria mostrar como fazer.
E ela mostrou a todos como fazer um prato fundo.
– Assim – disse a professora –, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato fundo igualzinho ao da professora.
E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio.
Então, aconteceu que o menininho e a sua família se mudaram para outra cidade, e o menininho teve que ir para outra escola.
Essa escola era ainda maior que a primeira.
No primeiro dia, a professora disse que os alunos fariam um desenho.
– Que bom! – pensou o menininho. E esperou que a professora dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala. Quando chegou perto do menininho, perguntou:
– Você não quer desenhar?
– Sim, mas o que vamos desenhar?
– Eu não sei, até que você desenhe.
– Como posso fazer meu desenho?
– Da maneira que você gostar.
– E de que cor?
– Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu posso saber qual o desenho de cada um?
– Eu não sei... – disse o menininho.
E começou a desenhar uma flor vermelha com caule verde.
Para recomeçar, um tema de minha preocupação permanente: o papel da escola como elemento de controle social (uma “aparelho ideológico do Estado”, no dizer de Althusser).
A escola, como geralmente tem sido, é uma instituição criminosa, feita para embotar as mentes. Mais adiante, colocarei outras reflexões sobre o tema. Por ora, reproduzo abaixo um texto bem difundido, de cuja origem não estou certo, mas que conheço há muito tempo e que sempre revejo publicado aqui e acolá. É um texto magnífico que revela a pior face da escola...
O menininho
Helen E. Buckley
Era uma vez um menininho que contrastava com sua escola, bastante grande. Uma manhã, a professora disse que os alunos iriam fazer um desenho.
– Que bom! – pensou o menininho. Ele gostava de fazer desenhos.
Ele pegou sua caixa de lápis de cor e começou a desenhar. Mas a professora disse para esperar, que ainda não era hora de começar. E ela esperou até que todos estivessem prontos.
– Agora – disse a professora –, nós iremos desenhar flores.
– Que bom! – pensou o menininho. Ele gostava de desenhar flores e começou a desenhar flores com lápis rosa, azul e laranja. Mas a professora disse que ia mostrar como fazer.
E a flor da professora era vermelha com caule verde.
– Assim – disse a professora –, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isso. Ele virou o papel e desenhou uma flor igual à da professora.
Num outro dia, quando o menininho estava numa aula ao ar livre, a professora disse que os alunos iriam fazer alguma coisa com o barro.
– Que bom! – pensou. Ele gostava de trabalhar com o barro. Ele pensou que podia fazer com o barro todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro. Mas a professora disse para esperar.
E ela esperou até que todos estivessem prontos.
– Agora – disse a professora –, nós iremos fazer um prato.
– Que bom! – pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
Mas a professora disse que era para esperar, que iria mostrar como fazer.
E ela mostrou a todos como fazer um prato fundo.
– Assim – disse a professora –, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato fundo igualzinho ao da professora.
E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio.
Então, aconteceu que o menininho e a sua família se mudaram para outra cidade, e o menininho teve que ir para outra escola.
Essa escola era ainda maior que a primeira.
No primeiro dia, a professora disse que os alunos fariam um desenho.
– Que bom! – pensou o menininho. E esperou que a professora dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala. Quando chegou perto do menininho, perguntou:
– Você não quer desenhar?
– Sim, mas o que vamos desenhar?
– Eu não sei, até que você desenhe.
– Como posso fazer meu desenho?
– Da maneira que você gostar.
– E de que cor?
– Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu posso saber qual o desenho de cada um?
– Eu não sei... – disse o menininho.
E começou a desenhar uma flor vermelha com caule verde.
Wednesday, January 13, 2010
Luto por Zilda Arns
Interrompo minhas férias “blogais” para lamentar profundamente a morte de uma das maiores personalidades que o Brasil já teve, Zilda Arns, criadora da Pastoral da Criança.
Indicada merecidamente ao Prêmio Nobel da Paz por três vezes (e mais justo seria que ela tivesse recebido o prêmio, e não o presidente que faz guerra), sua atuação foi responsável por salvar a vida de milhões de crianças em diversos países.
Zilda foi vítima do terrível terremoto que flagelou o Haiti, onde ela estava em mais uma de suas missões humanitárias. Perda irreparável. Mas se existe o céu no qual ela acreditava, com certeza ela já tinha lá seu lugar garantido.
A lamentar também a tristíssima situação do Haiti, país mais pobre do continente e que já sofria com muitíssimos problemas de difícil solução. Tomara que ao menos a tragédia faça o mundo olhar para esse país que tanto precisa de ajuda.
Indicada merecidamente ao Prêmio Nobel da Paz por três vezes (e mais justo seria que ela tivesse recebido o prêmio, e não o presidente que faz guerra), sua atuação foi responsável por salvar a vida de milhões de crianças em diversos países.
Zilda foi vítima do terrível terremoto que flagelou o Haiti, onde ela estava em mais uma de suas missões humanitárias. Perda irreparável. Mas se existe o céu no qual ela acreditava, com certeza ela já tinha lá seu lugar garantido.
A lamentar também a tristíssima situação do Haiti, país mais pobre do continente e que já sofria com muitíssimos problemas de difícil solução. Tomara que ao menos a tragédia faça o mundo olhar para esse país que tanto precisa de ajuda.
Monday, December 28, 2009
Avatar
Fui ver “Avatar” no IMax. Personagens “planos”, roteiro bem fraquinho, previsível, cheio de lugares-comuns. Visualmente deslumbrante.
A sétima arte pode fazer, basicamente, duas coisas: 1) contar uma boa história; 2) encantar a visão. Avatar cumpre maravilhosamente o segundo item, embora deixe muito a desejar no primeiro.
Mal comparando, é como num quadro: uma pintura abstrata pode ser linda e arrebatadora, mesmo sem “contar uma história”, assim como uma cena histórica importante, por exemplo, pode ser retratada com maior ou menor habilidade pelo pintor e ficar mais ou menos bonita.
Avatar é assim: uma história óbvia e sem graça que serve para apresentações visuais fantásticas. Resumindo: é um filme que merece ser assistido por quem gosta de ver coisas belas.
A sétima arte pode fazer, basicamente, duas coisas: 1) contar uma boa história; 2) encantar a visão. Avatar cumpre maravilhosamente o segundo item, embora deixe muito a desejar no primeiro.
Mal comparando, é como num quadro: uma pintura abstrata pode ser linda e arrebatadora, mesmo sem “contar uma história”, assim como uma cena histórica importante, por exemplo, pode ser retratada com maior ou menor habilidade pelo pintor e ficar mais ou menos bonita.
Avatar é assim: uma história óbvia e sem graça que serve para apresentações visuais fantásticas. Resumindo: é um filme que merece ser assistido por quem gosta de ver coisas belas.
Friday, December 25, 2009
Segurança nos estádios: o normal, o excepcional e o paranoico

O caso da violência no estádio Couto Pereira após a partida Coritiba x Fluminense tem dominado o noticiário esportivo. Independentemente das consequências que o fato possa ter para o clube, a questão possibilita algumas reflexões importantes. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que a violência não é “privilégio” dos estádios de futebol. Ela existe na sociedade e se potencializa em aglomerações, ainda mais as que envolvem paixão, como é o caso das partidas de futebol. Ademais, é curioso, ante a ameaça de violência, atestar a ideia um tanto generalizada de que a lei pode resolver tudo, inclusive os problemas sociais. Há uma fantasia difusa de que basta criar uma lei para que um problema se resolva, como se a lei tivesse um poder mágico de transformação social, o que é absolutamente irreal.
No caso específico da invasão do campo do Coritiba, a legislação indica as atitudes esperadas de uma agremiação esportiva. O artigo 211 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva penaliza a instituição que “Deixar de manter o local que tenha indicado para realização do evento com infraestrutura necessária a assegurar plena garantia e segurança de para sua realização”. Já o artigo 213 prevê sanções à entidade que “Deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto” – e seu parágrafo primeiro completa: “Incide nas mesmas penas a entidade que, dentro de sua praça de desporto, não prevenir e reprimir a sua invasão bem assim o lançamento de objeto no campo ou local da disputa do evento desportivo”. Alegar que o Couto Pereira não tem a infraestrutura necessária para um jogo de futebol é afrontar a realidade. O estádio tem condições semelhantes à da grandíssima maioria dos estádios brasileiros. Dizem os críticos que a estrutura não impede a invasão dos torcedores. Mas qual estrutura faria isso? Um fosso de seis metros de largura e cinco de profundidade, guarnecido por grades de ferro pontiagudas? Ridículo.
Muitos dos fantásticos estádios europeus não têm qualquer barreira física entre a torcida e o campo. Um bom exemplo é o magnífico Estádio do Dragão, do Futebol Clube do Porto, em Portugal. A primeira fila de cadeiras está a cerca de cinco metros da linha lateral do campo, e não há qualquer barreira física que impeça a invasão – apenas uma mureta baixa de menos de um metro de altura (ver foto nest post). A segurança dos 40 mil torcedores em dia de grandes jogos é feita por 200 guardas desarmados.
No caso específico da invasão do campo do Coritiba, a legislação indica as atitudes esperadas de uma agremiação esportiva. O artigo 211 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva penaliza a instituição que “Deixar de manter o local que tenha indicado para realização do evento com infraestrutura necessária a assegurar plena garantia e segurança de para sua realização”. Já o artigo 213 prevê sanções à entidade que “Deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto” – e seu parágrafo primeiro completa: “Incide nas mesmas penas a entidade que, dentro de sua praça de desporto, não prevenir e reprimir a sua invasão bem assim o lançamento de objeto no campo ou local da disputa do evento desportivo”. Alegar que o Couto Pereira não tem a infraestrutura necessária para um jogo de futebol é afrontar a realidade. O estádio tem condições semelhantes à da grandíssima maioria dos estádios brasileiros. Dizem os críticos que a estrutura não impede a invasão dos torcedores. Mas qual estrutura faria isso? Um fosso de seis metros de largura e cinco de profundidade, guarnecido por grades de ferro pontiagudas? Ridículo.
Muitos dos fantásticos estádios europeus não têm qualquer barreira física entre a torcida e o campo. Um bom exemplo é o magnífico Estádio do Dragão, do Futebol Clube do Porto, em Portugal. A primeira fila de cadeiras está a cerca de cinco metros da linha lateral do campo, e não há qualquer barreira física que impeça a invasão – apenas uma mureta baixa de menos de um metro de altura (ver foto nest post). A segurança dos 40 mil torcedores em dia de grandes jogos é feita por 200 guardas desarmados.
Qual seria o efetivo necessário para impedir a invasão do campo no Couto Pereira numa partida com 35 mil torcedores? Provavelmente, 300 soldados armados de metralhadores e granadas! Sim, pois se os 35 mil resolvessem invadir o campo para massacrar os jogadores, o trio de arbitragem, os dirigentes e os policiais, ninguém poderia impedir – a não ser muitos soldados fortemente armados. E como “prevenir e reprimir” o “lançamento de objeto no campo”? Como evitar que cada um dos 35 mil presentes jogue qualquer coisa no gramado? As atitudes possíveis são aquelas tomadas por todos os clubes: encher o estádio de avisos, repeti-los no sistema de som do estádio, pedir aos próprios torcedores que denunciem os infratores para que sejam detidos. O único modo de cumprir à risca o que manda a letra da lei seria não ter torcedores no estádio, ou cercar o campo com o célebre “escudo magnético de segurança” da nave espacial da antiga série “Perdidos no Espaço” – coisa de ficção, portanto.
Como a lei não tem o poder mágico de fazer com que os problemas se resolvam, o julgador, em geral, tem o bom senso de avaliar as atitudes possíveis, e não aquelas imaginadas pelo regulamento, muitas vezes idealizadas e impossíveis. Portanto, no caso concreto do Coritiba, pode-se dizer que o clube tomou as providências cabíveis. A infraestrutura do estádio é adequada, o efetivo era o necessário. Afora isso, não há como impedir um bando de arruaceiros de invadir o campo – salvo dos modos excepcionais já mencionados, que não se justificam em situações ordinárias, como é uma partida de futebol como todas as outras milhares realizadas ao longo do ano em centenas de estádios Brasil afora. Numa situação extraordinária como a que ocorreu, a polícia agiu conforme deveria. Após o fato, o que se pode fazer é punir os vândalos – e para isso o clube tem colaborado ativamente.
O Coritiba provavelmente receberá uma punição dura, a pretexto de servir de exemplo. Mas de nada adiantará, pois não há mais o que fazer nos estádios além daquilo que fez o clube, igual ao que todos fazem. A vida em sociedade pressupõe um determinado padrão de comportamento das pessoas, sem o qual o convício social seria impossível. Não deixo de andar na rua XV com medo de que os passantes me assaltem – embora fosse impossível eu me safar se os pedestres da XV de repente resolvessem deixar-me nu na rua, levando todos meus pertences – independentemente da existência de câmeras de vigilância, policiais ou qualquer outra coisa. Isso não acontece, pois vivemos numa situação de normalidade, baseada num pacto social que possibilita o convívio coletivo. Quem rompe essas regras de normalidade é o criminoso.
Já se tornou lugar comum afirmar que se os favelados do Rio de Janeiro resolvessem descer o morro para saquear o comércio não haveria como impedir. E não haveria mesmo, salvo em condições de guerra assumida. Mas todos sabem que isso não vai acontecer – não apenas porque a quase totalidade dos moradores das favelas cariocas é composta por gente trabalhadora e honesta, mas porque, em condições normais, as pessoas respeitam o pacto de convívio social. Em lugares onde há conflito declarado, as coisas mudam. Se aqui os shoppings centers não têm qualquer esquema de segurança que impeça alguém de entrar com uma bomba, o mesmo não acontece, por exemplo, em Bogotá, na Colômbia, onde em alguns shoppings os carros que entram são revistados com o auxílio de cães farejadores de explosivos. Lá, a normalidade foi rompida pela atuação da guerrilha – embora os atentados na capital colombiana não aconteçam há tempos, o que inclusive tem levado ao afrouxamento das medidas extraordinárias de segurança.
O que houve no Couto Pereira, portanto, foi uma situação de excepcionalidade que não há como prevenir senão com ações excepcionais – e não seria o caso de preparar essas ações, porque seria inviável haver em cada estádio de futebol um aparato de segurança comparável ao que se usa num país em guerra. Se havia uma ameaça prévia, o clube providenciou um número bem maior do que o habitual de seguranças particulares, assim como a Polícia Militar designou um efetivo maior de policiais para a garantia da ordem no estádio.
Aqueles que rompem o pacto de convívio social devem ser punidos. De resto, não há por que viver uma paranoia de segurança como se todos os eventos com grande número de pessoas pudessem transformar-se no Armagedon. Em condições normais, a segurança dos estádios de futebol tem sido adequada, e uma punição excessivamente rigorosa a um único clube, por um caso excepcional, em nada mudará o panorama.
Como a lei não tem o poder mágico de fazer com que os problemas se resolvam, o julgador, em geral, tem o bom senso de avaliar as atitudes possíveis, e não aquelas imaginadas pelo regulamento, muitas vezes idealizadas e impossíveis. Portanto, no caso concreto do Coritiba, pode-se dizer que o clube tomou as providências cabíveis. A infraestrutura do estádio é adequada, o efetivo era o necessário. Afora isso, não há como impedir um bando de arruaceiros de invadir o campo – salvo dos modos excepcionais já mencionados, que não se justificam em situações ordinárias, como é uma partida de futebol como todas as outras milhares realizadas ao longo do ano em centenas de estádios Brasil afora. Numa situação extraordinária como a que ocorreu, a polícia agiu conforme deveria. Após o fato, o que se pode fazer é punir os vândalos – e para isso o clube tem colaborado ativamente.
O Coritiba provavelmente receberá uma punição dura, a pretexto de servir de exemplo. Mas de nada adiantará, pois não há mais o que fazer nos estádios além daquilo que fez o clube, igual ao que todos fazem. A vida em sociedade pressupõe um determinado padrão de comportamento das pessoas, sem o qual o convício social seria impossível. Não deixo de andar na rua XV com medo de que os passantes me assaltem – embora fosse impossível eu me safar se os pedestres da XV de repente resolvessem deixar-me nu na rua, levando todos meus pertences – independentemente da existência de câmeras de vigilância, policiais ou qualquer outra coisa. Isso não acontece, pois vivemos numa situação de normalidade, baseada num pacto social que possibilita o convívio coletivo. Quem rompe essas regras de normalidade é o criminoso.
Já se tornou lugar comum afirmar que se os favelados do Rio de Janeiro resolvessem descer o morro para saquear o comércio não haveria como impedir. E não haveria mesmo, salvo em condições de guerra assumida. Mas todos sabem que isso não vai acontecer – não apenas porque a quase totalidade dos moradores das favelas cariocas é composta por gente trabalhadora e honesta, mas porque, em condições normais, as pessoas respeitam o pacto de convívio social. Em lugares onde há conflito declarado, as coisas mudam. Se aqui os shoppings centers não têm qualquer esquema de segurança que impeça alguém de entrar com uma bomba, o mesmo não acontece, por exemplo, em Bogotá, na Colômbia, onde em alguns shoppings os carros que entram são revistados com o auxílio de cães farejadores de explosivos. Lá, a normalidade foi rompida pela atuação da guerrilha – embora os atentados na capital colombiana não aconteçam há tempos, o que inclusive tem levado ao afrouxamento das medidas extraordinárias de segurança.
O que houve no Couto Pereira, portanto, foi uma situação de excepcionalidade que não há como prevenir senão com ações excepcionais – e não seria o caso de preparar essas ações, porque seria inviável haver em cada estádio de futebol um aparato de segurança comparável ao que se usa num país em guerra. Se havia uma ameaça prévia, o clube providenciou um número bem maior do que o habitual de seguranças particulares, assim como a Polícia Militar designou um efetivo maior de policiais para a garantia da ordem no estádio.
Aqueles que rompem o pacto de convívio social devem ser punidos. De resto, não há por que viver uma paranoia de segurança como se todos os eventos com grande número de pessoas pudessem transformar-se no Armagedon. Em condições normais, a segurança dos estádios de futebol tem sido adequada, e uma punição excessivamente rigorosa a um único clube, por um caso excepcional, em nada mudará o panorama.
Wednesday, December 23, 2009
Sobre viver e morrer
No mês passado, recebi a inesperada notícia de uma morte precoce na família. A morte de uma prima que esteve muito presente na minha infância. Nossas famílias eram muito próximas e parecidas: pai, mãe e quatro filhos. No caso dela, quatro filhas; na minha família, três meninos e uma menina. Nos encontrávamos todo final de semana, brincávamos juntos.
Foi de repente, um câncer fulminante, que a levou em menos de dois meses depois de descoberto. Há décadas, desde que me mudei com a família de Cambará para Curitiba, não tínhamos contato constante. Mas as lembranças são marcantes.
Tudo que sei de seus últimos dias é edificante. Ao contrário da ideia talvez generalizada, sua morte parece-me – com exceção, obviamente, da precocidade – o tipo de morte ideal, a morte de antigamente: aquela na qual há tempo para pensar, refletir, preparar-se, despedir-se. Contaram-me que foi exatamente assim com ela, que pôde falar com cada uma das filhas, com o marido, com as irmãs, com aqueles que a assistiam nos últimos instantes. Não, nada da morte repentina e imediata, tão desejada por muitos hoje, mas a “morte bem morrida”...
Lívia, leve, nívea, neve... As palavras que me vinham quando pensava no seu nome não correspondem exatamente à imagem que sempre tive dela, muito mais cheia de cores: uma mulher sempre jovem, sempre muito bonita, animada, forte, corajosa, independente. Tão corajosa a ponto de criar três filhas no mundo de hoje!
Sua cerimônia fúnebre foi de forte emoção. Eu, que já fui muito religioso e hoje sou um tanto cético, admirei-me da força de sua família. Para mim, a morte é incompreensível – as explicações da religião parecem-me construções consoladoras diante do inexorável. Mas vi nas minhas primas uma força que certamente vem de suas convicções religiosas.
Na cerimônia fúnebre que poderia ser qualificada de “pós-moderna” – tão adequada aos tempos de hoje, sem perder nada da dignidade e da emoção próprias de um momento como esse – foi exibido um filme com uma mensagem muito bonita. Falava de um veleiro que se distanciava da costa: aqueles que o viam partir o perdiam de vista e poderiam acreditar que ele desaparecera na linha distante onde o céu toca as ondas. Entretanto, além-mar, os que esperavam do outro lado a chegada do veleiro viam-no crescer pouco a pouco até se aproximar. Apesar das diferentes visões, o barco que atravessou o oceano era sempre o mesmo, igual a si próprio, íntegro, em qualquer dos lados da passagem. Uma bela mensagem, talvez enfim um consolo para minha visão inconsolável da morte.
Ao final, as tocantes palavras de despedida dos familiares, para as quais não há comentário possível senão as lágrimas... Felizes dos que têm a certeza do reencontro!
Foi de repente, um câncer fulminante, que a levou em menos de dois meses depois de descoberto. Há décadas, desde que me mudei com a família de Cambará para Curitiba, não tínhamos contato constante. Mas as lembranças são marcantes.
Tudo que sei de seus últimos dias é edificante. Ao contrário da ideia talvez generalizada, sua morte parece-me – com exceção, obviamente, da precocidade – o tipo de morte ideal, a morte de antigamente: aquela na qual há tempo para pensar, refletir, preparar-se, despedir-se. Contaram-me que foi exatamente assim com ela, que pôde falar com cada uma das filhas, com o marido, com as irmãs, com aqueles que a assistiam nos últimos instantes. Não, nada da morte repentina e imediata, tão desejada por muitos hoje, mas a “morte bem morrida”...
Lívia, leve, nívea, neve... As palavras que me vinham quando pensava no seu nome não correspondem exatamente à imagem que sempre tive dela, muito mais cheia de cores: uma mulher sempre jovem, sempre muito bonita, animada, forte, corajosa, independente. Tão corajosa a ponto de criar três filhas no mundo de hoje!
Sua cerimônia fúnebre foi de forte emoção. Eu, que já fui muito religioso e hoje sou um tanto cético, admirei-me da força de sua família. Para mim, a morte é incompreensível – as explicações da religião parecem-me construções consoladoras diante do inexorável. Mas vi nas minhas primas uma força que certamente vem de suas convicções religiosas.
Na cerimônia fúnebre que poderia ser qualificada de “pós-moderna” – tão adequada aos tempos de hoje, sem perder nada da dignidade e da emoção próprias de um momento como esse – foi exibido um filme com uma mensagem muito bonita. Falava de um veleiro que se distanciava da costa: aqueles que o viam partir o perdiam de vista e poderiam acreditar que ele desaparecera na linha distante onde o céu toca as ondas. Entretanto, além-mar, os que esperavam do outro lado a chegada do veleiro viam-no crescer pouco a pouco até se aproximar. Apesar das diferentes visões, o barco que atravessou o oceano era sempre o mesmo, igual a si próprio, íntegro, em qualquer dos lados da passagem. Uma bela mensagem, talvez enfim um consolo para minha visão inconsolável da morte.
Ao final, as tocantes palavras de despedida dos familiares, para as quais não há comentário possível senão as lágrimas... Felizes dos que têm a certeza do reencontro!
Monday, December 21, 2009
Um bom livro!

A Editora Pós-Escrito acaba de lançar seu 21º livro, o segundo de literatura. Trata-se de “Contos e outras coisas de Eribar”. A obra é uma coletânea de contos, crônicas, poemas, textos para teatro e “outras coisas” do advogado e escritor Eriel Barreiros.
O livro é muito interessante. Os contos são bastante divertidos e criativos. As crônicas, em geral, tratam da vida rural ou miserável, das mazelas do homem, que está sempre colocado diante da escolha entre fazer o bem ou o mal. Não é difícil chegar às lágrimas lendo algumas delas.
Para quem quer uma leitura prazerosa, que levará ora ao riso, ora à reflexão, recomendo vivamente. No início do ano que vem, a obra deverá estar nas livrarias. Por ora, pode ser encomendado pelo e-mail posescrito@hotmail.com.
Além do ótimo conteúdo, o livro tem uma apresentação gráfica muito bonita. Com 224 páginas, está com preço de lançamento de R$ 30,00.
Sunday, December 20, 2009
Sim, eu gosto de televisão!
Sou da geração que viu a TV difundir-se e tornar-se o entretenimento número 1 do brasileiro. Adoro TV. Gosto de sentar-me na poltrona e “zapear” pelos diferentes canais - e sempre encontro coisa boa para ver. Na TV a cabo, há pilhas de programas muito atraentes.
Mas na semana passada, chegando em casa às 22h30min, depois do trabalho (horários de professor...), relaxei diante da telinha, após o banho e o jantar. Tive o prazer de assistir a um pedaço do jogo da seleção brasileira feminina de futebol contra a China. Dá gosto de ver as meninas. Elas lembram a seleção masculina de 1970: muita técnica, lances belíssimos, a genialidade da Marta (que merece o quarto título de melhor do mundo, ou então ser declarada hors concours). E menos organização tática, menos força física. Enfim, um presente para os apreciadores do “futebol arte”.
Vi também a final do Ídolos 2009. Gosto do programa. Não posso assistir a todos, mas torci pelo Diego Morais, que acabou em segundo lugar. Diego é um dos melhores cantores brasileiros que já ouvi cantar. O rapaz é realmente muito bom e vai fazer sucesso de qualquer jeito - nem precisava mesmo ganhar o Ídolos. Mais ou menos como aconteceu com Susan Boyle, que ficou em segundo no Britain’s Got Talent (o similar britânico do Ídolos). O grupo de dança que venceu precisava muito mais da vitória do que Susan, que já era uma celebridade com certeza de sucesso bem antes da finalíssima do programa.
Mas na semana passada, chegando em casa às 22h30min, depois do trabalho (horários de professor...), relaxei diante da telinha, após o banho e o jantar. Tive o prazer de assistir a um pedaço do jogo da seleção brasileira feminina de futebol contra a China. Dá gosto de ver as meninas. Elas lembram a seleção masculina de 1970: muita técnica, lances belíssimos, a genialidade da Marta (que merece o quarto título de melhor do mundo, ou então ser declarada hors concours). E menos organização tática, menos força física. Enfim, um presente para os apreciadores do “futebol arte”.
Vi também a final do Ídolos 2009. Gosto do programa. Não posso assistir a todos, mas torci pelo Diego Morais, que acabou em segundo lugar. Diego é um dos melhores cantores brasileiros que já ouvi cantar. O rapaz é realmente muito bom e vai fazer sucesso de qualquer jeito - nem precisava mesmo ganhar o Ídolos. Mais ou menos como aconteceu com Susan Boyle, que ficou em segundo no Britain’s Got Talent (o similar britânico do Ídolos). O grupo de dança que venceu precisava muito mais da vitória do que Susan, que já era uma celebridade com certeza de sucesso bem antes da finalíssima do programa.
Sunday, December 13, 2009
Sampa
Estive em São Paulo para fazer um curso de três dias. Fiquei hospedado na Av. Brigadeiro Luís Antônio – o curso era na Av. Paulista, de modo que eu podia ir e voltar caminhando.
Morei alguns anos em São Paulo. Conheço os pontos positivos dessa cidade incrível: se os limites do município fossem transformados nas fronteiras de um novo país, esse país teria tudo.
Mas esses três dias de experiência mostraram-me uma São Paulo horrível. Cheguei de manhã e peguei o metrô. Tive que esperar dois trens para conseguir entrar num vagão superlotado, carregando minha bagagem. A vantagem foi não precisar segurar em nada: não havia como cair de tão espremido que eu estava.
A Brigadeiro é feia – calçadas irregulares, prédios velhos, casas aos pedaços. E revela uma face dolorosa de Sampa: uma quantidade inacreditável de moradores de rua. Famílias inteiras, de cinco, seis, oito pessoas dormindo ao lado de seus carrinhos de papel. Triste.
Certa tarde, caiu uma tempestade. A cidade tornou-se um caos ainda maior. Na volta para casa, vi de longe, na calçada, umas 200 pessoas aglomeradas. “Será uma manifestação?” – perguntei-me. Não, não parecia, estavam todos parados, olhando na mesma direção. Alguém que foi atropelado? Ou caiu de um prédio? Não, nada disso – todos estavam relativamente calmos. Tive que desviar meu caminho pela rua, e então percebi: eram pessoas esperando seus ônibus! Realmente, São Paulo é algo inacreditável...
Mas vi também um lado bom: num raio de algumas quadras de onde me hospedei havia oito teatros! - um deles, o Jofre Soares, onde meu primo Renato Papa é protagonista da comédia “A sogra que eu pedi a Deus”, com todas as sessões já lotadas até o final da temporada.
Morei alguns anos em São Paulo. Conheço os pontos positivos dessa cidade incrível: se os limites do município fossem transformados nas fronteiras de um novo país, esse país teria tudo.
Mas esses três dias de experiência mostraram-me uma São Paulo horrível. Cheguei de manhã e peguei o metrô. Tive que esperar dois trens para conseguir entrar num vagão superlotado, carregando minha bagagem. A vantagem foi não precisar segurar em nada: não havia como cair de tão espremido que eu estava.
A Brigadeiro é feia – calçadas irregulares, prédios velhos, casas aos pedaços. E revela uma face dolorosa de Sampa: uma quantidade inacreditável de moradores de rua. Famílias inteiras, de cinco, seis, oito pessoas dormindo ao lado de seus carrinhos de papel. Triste.
Certa tarde, caiu uma tempestade. A cidade tornou-se um caos ainda maior. Na volta para casa, vi de longe, na calçada, umas 200 pessoas aglomeradas. “Será uma manifestação?” – perguntei-me. Não, não parecia, estavam todos parados, olhando na mesma direção. Alguém que foi atropelado? Ou caiu de um prédio? Não, nada disso – todos estavam relativamente calmos. Tive que desviar meu caminho pela rua, e então percebi: eram pessoas esperando seus ônibus! Realmente, São Paulo é algo inacreditável...
Mas vi também um lado bom: num raio de algumas quadras de onde me hospedei havia oito teatros! - um deles, o Jofre Soares, onde meu primo Renato Papa é protagonista da comédia “A sogra que eu pedi a Deus”, com todas as sessões já lotadas até o final da temporada.
Friday, December 11, 2009
Cinema
Estou de volta, depois de um longo tempo... Final de ano é fogo: muitas provas e trabalhos para fazer (como aluno) e corrigir (como professor). É difícil manter a “identidade dupla”... E ainda tive viagem, morte inesperada na família, muita coisa acontecendo...
Estive em São Paulo e aproveitei para assistir ao filme “É proibido fumar”. Bonzinho. O mais interessante do filme é a ótima atuação do Paulo Miklos.
Em Curitiba, fui finalmente conhecer a sala IMAX. Paguei R$ 15,00 (meio ingresso) para ver “Os fantasmas de Scrooge”. Foi barato. Simplesmente espetacular, uma das experiências estéticas mais fantásticas que já tive. Bem, a história do filme é tão conhecida como a Paixão de Cristo (um aluno meu, gozador, reclamava que um dia foi ao cinema ver a Paixão de Cristo e “um estraga-prazeres contou antes que o cara morre no final”), mas o filme em 3D IMAX é de uma beleza estonteante. Inesquecível. Saí do cinema com vontade de voltar no dia seguinte. Talvez volte, para ver de novo o mesmo filme. E já estou esperando ansiosamente por “Alice no País das Maravilhas” e o novíssimo “Avatar” (que, segundo noticiou hoje o UOL, “arrebatou a crítica”) - ambos estarão disponíveis na tecnologia 3D IMAX.
Estive em São Paulo e aproveitei para assistir ao filme “É proibido fumar”. Bonzinho. O mais interessante do filme é a ótima atuação do Paulo Miklos.
Em Curitiba, fui finalmente conhecer a sala IMAX. Paguei R$ 15,00 (meio ingresso) para ver “Os fantasmas de Scrooge”. Foi barato. Simplesmente espetacular, uma das experiências estéticas mais fantásticas que já tive. Bem, a história do filme é tão conhecida como a Paixão de Cristo (um aluno meu, gozador, reclamava que um dia foi ao cinema ver a Paixão de Cristo e “um estraga-prazeres contou antes que o cara morre no final”), mas o filme em 3D IMAX é de uma beleza estonteante. Inesquecível. Saí do cinema com vontade de voltar no dia seguinte. Talvez volte, para ver de novo o mesmo filme. E já estou esperando ansiosamente por “Alice no País das Maravilhas” e o novíssimo “Avatar” (que, segundo noticiou hoje o UOL, “arrebatou a crítica”) - ambos estarão disponíveis na tecnologia 3D IMAX.
Monday, November 16, 2009
“Unitaliban” é “reincidente”!
Muito boa a piada do Casseta & Planeta sobre o caso da Uniban: “Diretor da Unitaliban passeia pelo pátio da universidade com ideias curtas”!
A propósito, matéria de agências noticiosas indica que não foi o primeiro caso de histeria coletiva na instituição. Um grupo de estudantes havia tentado linchar uma aluna de Educação Física, não pelo mesmo motivo que a universitária de minissaia.
Fontes entrevistadas na matéria dizem que “o ambiente do câmpus é muito hostil”.
Qual será o problema da Unitaliban?
A propósito, matéria de agências noticiosas indica que não foi o primeiro caso de histeria coletiva na instituição. Um grupo de estudantes havia tentado linchar uma aluna de Educação Física, não pelo mesmo motivo que a universitária de minissaia.
Fontes entrevistadas na matéria dizem que “o ambiente do câmpus é muito hostil”.
Qual será o problema da Unitaliban?
Sunday, November 08, 2009
A “puta” e os “filhos da puta”
Estou indignado com o fato ocorrido na Uniban - universidade paulista onde uma aluna (Geisy Villa Nova Arruda) foi humilhada por estar supostamente vestida de modo inadequado. Vi no Youtube o chocante vídeo do alunos gritando “puta! puta!” quando a aluna saía escoltada por policiais.
Tentei escrever um artigo sobre o tema, mas o sangue me sobe à cabeça. Sou professor universitário há 11 anos e já vi muitas alunas vestidas igual à aluna da Uniban, ou mesmo com roupas menores e mais insinuantes. E elas nunca foram tratadas como a aluna da Uniban.
Pergunto-me o que levaram os estudantes daquela universidade a agirem do modo como agiram. Será aquela universidade um reduto de evangélicos radicais? De seguidores do taleban? De muçulmanos fundamentalistas? De fanáticos católicos medievalistas?
Será que os jovens da Uniban não fazem parte do universo de alunos de instituições particulares com os quais convivo há mais de dez anos? Gente que inicia sua vida sexual em torno dos 15 anos, que costuma “ficar” nas “baladas”, que tem uma liberdade sexual impensável há poucas décadas?
Vejo muitos jovens na praia, admirando belos corpos de mulheres seminuas, ao lado de suas irmãs e até mães, também elas com muito menos roupa do que a aluna rechaçada. Mas lá a hipocrisia social admite tais trajes como normais. Para mim, são tão normais quanto o são o vestido da aluna da Uniban.
Nada justifica a atitude dos alunos da Uniban. Nada. A não ser uma exacerbada hipocrisia social. Sinto-me enojado até em ter que discutir o tema. E mais indignado ainda fico ao saber que a direção da instituição resolveu expulsar a aluna! Espero que a estudante humilhada entre na Justiça contra a universidade e consiga um gorda indenização.
Tenho vontade de chamar os alunos da Unibam que humilharam a estudante de “filhos da puta”, mesmo qualificativo que gostaria de dirigir à direção da instituição. Mas não o faço, primeiro, porque as putas também têm sua dignidade, como todos os seres humanos, e merecem respeito. Em segundo lugar, porque as mães não podem pagar pelos pecados dos filhos.
O que mais me espanta é a terrível possibilidade que se pode vislumbrar a partir de um fato como esse: será que corremos o risco de caminhar para uma sociedade repressora dirigida por fanáticos, como acontece hoje em vários países do Oriente? Será que o Brasil pode tornar-se uma república fudamentalista por obra e (des)graça de grupos religiosos e/ou moralistas fanáticos?
Tentei escrever um artigo sobre o tema, mas o sangue me sobe à cabeça. Sou professor universitário há 11 anos e já vi muitas alunas vestidas igual à aluna da Uniban, ou mesmo com roupas menores e mais insinuantes. E elas nunca foram tratadas como a aluna da Uniban.
Pergunto-me o que levaram os estudantes daquela universidade a agirem do modo como agiram. Será aquela universidade um reduto de evangélicos radicais? De seguidores do taleban? De muçulmanos fundamentalistas? De fanáticos católicos medievalistas?
Será que os jovens da Uniban não fazem parte do universo de alunos de instituições particulares com os quais convivo há mais de dez anos? Gente que inicia sua vida sexual em torno dos 15 anos, que costuma “ficar” nas “baladas”, que tem uma liberdade sexual impensável há poucas décadas?
Vejo muitos jovens na praia, admirando belos corpos de mulheres seminuas, ao lado de suas irmãs e até mães, também elas com muito menos roupa do que a aluna rechaçada. Mas lá a hipocrisia social admite tais trajes como normais. Para mim, são tão normais quanto o são o vestido da aluna da Uniban.
Nada justifica a atitude dos alunos da Uniban. Nada. A não ser uma exacerbada hipocrisia social. Sinto-me enojado até em ter que discutir o tema. E mais indignado ainda fico ao saber que a direção da instituição resolveu expulsar a aluna! Espero que a estudante humilhada entre na Justiça contra a universidade e consiga um gorda indenização.
Tenho vontade de chamar os alunos da Unibam que humilharam a estudante de “filhos da puta”, mesmo qualificativo que gostaria de dirigir à direção da instituição. Mas não o faço, primeiro, porque as putas também têm sua dignidade, como todos os seres humanos, e merecem respeito. Em segundo lugar, porque as mães não podem pagar pelos pecados dos filhos.
O que mais me espanta é a terrível possibilidade que se pode vislumbrar a partir de um fato como esse: será que corremos o risco de caminhar para uma sociedade repressora dirigida por fanáticos, como acontece hoje em vários países do Oriente? Será que o Brasil pode tornar-se uma república fudamentalista por obra e (des)graça de grupos religiosos e/ou moralistas fanáticos?
Enade: prova muito mal elaborada
Perdi boa parte de minha tarde de domingo fazendo a prova do Enade - e saí com raiva. Não pela existência da prova, que acho boa e necessária - acredito que o atual Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes) é bem pensado e interessante, embora mereça alguns aperfeiçoamentos importantes.
O motivo de minha raiva foi a baixíssima qualidade da prova. A quantidade de erros de português nas questões era incrível. A escolha dos textos de apoio, em alguns casos, era completamente infeliz. Vários enunciados eram mal elaborados e confusos.
Um exemplo de cabeça, pois não esperei o tempo mínimo para sair com o caderno de prova: o enunciado de uma questão criava um país hipotético (“um determinado país”) onde um empresário denunciara seu sócio estrangeiro, com base em inverdades, na esperança de que com isso o sócio perdesse “o visto brasileiro” e ele pudesse então apoderar-se da empresa. Quem elaborou a questão, pelo jeito, não a releu, ninguém revisou. Se o fato se dá num “determinado país” que não é o Brasil, de que interessa o visto brasileiro?
O motivo de minha raiva foi a baixíssima qualidade da prova. A quantidade de erros de português nas questões era incrível. A escolha dos textos de apoio, em alguns casos, era completamente infeliz. Vários enunciados eram mal elaborados e confusos.
Um exemplo de cabeça, pois não esperei o tempo mínimo para sair com o caderno de prova: o enunciado de uma questão criava um país hipotético (“um determinado país”) onde um empresário denunciara seu sócio estrangeiro, com base em inverdades, na esperança de que com isso o sócio perdesse “o visto brasileiro” e ele pudesse então apoderar-se da empresa. Quem elaborou a questão, pelo jeito, não a releu, ninguém revisou. Se o fato se dá num “determinado país” que não é o Brasil, de que interessa o visto brasileiro?
“Pontos corridos”
Está novamente em discussão se o Campeonato Brasileiro de Futebol deve continuar a ser disputado no sistema de “pontos corridos”, em dois turnos, ou se deveria voltar a ter uma fase classificatória para uma segunda fase, com disputa eliminatória.
Para mim, parece claro que o sistema atual é muito melhor. Os adversários dos “pontos corridos” alegam sobretudo uma suposta “falta de emoção”, pela possível definição antecipada do campeão. A realidade tem mostrado que isso não acontece. Veja-se o atual campeonato, que tem tido uma disputa emocionante pelo título, pelas vagas para a Copa Libertadores e pela fuga do rebaixamento. As últimas rodadas têm tido jogos fantásticos, como o recente Cruzeiro e Fluminense, por exemplo.
Outra alegação dos defensores do sistema de finais eliminatórias é que ele aumenta a chance dos times menores. Bem, aí, “o buraco é mais embaixo”. Não consigo entender como os clubes, donos do espetáculo, aceitam as regras absurdas de divisão de verbas no campeonato. Claro que a TV tem interesse na maior audiência e, por isso, tende a pagar mais para os clubes que têm maior torcida. Entretanto, eles não jogam sozinhos... Os adversários também fazem o espetáculo e precisam receber uma justa divisão.
A TV alega que a audiência do futebol vem caindo. Acredito que isso se deva a dois fatores: o excesso de oferta - já que todos os jogos são transmitidos atualmente em pay-per-view, TV fechada ou TV aberta - e a má escolha dos jogos a serem transmitidos pela TV aberta - embora, quanto a este ponto, eu não tenha dados concretos, apenas uma intuição. Um exemplo: no dia em que houve um eletrizante São Paulo x Internacional, jogo de times que lutavam pelo título, a TV resolveu transmitir Vitória x Corinthians, jogo de times que nada mais tinham a esperar do campeonato. Será que a torcida corintiana é assim tão grande que atrai mais audiência do que todos os interessados em futebol? Não sei...
Para mim, parece claro que o sistema atual é muito melhor. Os adversários dos “pontos corridos” alegam sobretudo uma suposta “falta de emoção”, pela possível definição antecipada do campeão. A realidade tem mostrado que isso não acontece. Veja-se o atual campeonato, que tem tido uma disputa emocionante pelo título, pelas vagas para a Copa Libertadores e pela fuga do rebaixamento. As últimas rodadas têm tido jogos fantásticos, como o recente Cruzeiro e Fluminense, por exemplo.
Outra alegação dos defensores do sistema de finais eliminatórias é que ele aumenta a chance dos times menores. Bem, aí, “o buraco é mais embaixo”. Não consigo entender como os clubes, donos do espetáculo, aceitam as regras absurdas de divisão de verbas no campeonato. Claro que a TV tem interesse na maior audiência e, por isso, tende a pagar mais para os clubes que têm maior torcida. Entretanto, eles não jogam sozinhos... Os adversários também fazem o espetáculo e precisam receber uma justa divisão.
A TV alega que a audiência do futebol vem caindo. Acredito que isso se deva a dois fatores: o excesso de oferta - já que todos os jogos são transmitidos atualmente em pay-per-view, TV fechada ou TV aberta - e a má escolha dos jogos a serem transmitidos pela TV aberta - embora, quanto a este ponto, eu não tenha dados concretos, apenas uma intuição. Um exemplo: no dia em que houve um eletrizante São Paulo x Internacional, jogo de times que lutavam pelo título, a TV resolveu transmitir Vitória x Corinthians, jogo de times que nada mais tinham a esperar do campeonato. Será que a torcida corintiana é assim tão grande que atrai mais audiência do que todos os interessados em futebol? Não sei...
Sunday, November 01, 2009
Jornal cada vez mais velho
Não estou entre aqueles que acreditam no fim do impresso. Nenhum veículo novo acabou com seus antecessores, sempre houve uma adaptação. Os jornais impressos diários terão que encontrar o caminho para sobreviverem, e encontrarão. Precisam adaptar-se, porque vêm perdendo terreno para os veículos eletrônicos. Um sintoma é a sensação cada vez maior de que o jornal já nasce velho.
Na tarde de ontem, sábado, a Gazeta do Povo de domingo estava à venda nas ruas. Sempre que um jornaleiro me oferece numa esquina o jornal do dia seguinte, tenho vontade de perguntar se a edição já tem o resultado do jogo do Atlético (ontem, o jogo seria às 18h30min, e o jornal estava nas ruas bem antes). Claro que não faço isso, porque o pobre do jornaleiro não tem nada a ver com o problema do jornal.
Bem, hoje de manhã (domingo), peguei o jornal e, na página de esportes, fui conferir qual tinha sido o resultado do jogo do Paraná contra o ABC. A capa do caderno de esportes tinha uma chamada: “Na internet - Veja como foi ABC x Paraná, a partida em que Roberto Cavalo defendia sua invencibilidade como visitante”. O jornal pressupõe que o leitor seja internauta - então, por que ler o jornal?
Fico insatisfeito, mas compreendo. Noutros tempos, um jornalista ficava de plantão apenas para preencher o espaço previamente destinado ao relato do jogo noturno. Claro que isso atrasa a impressão, exigindo funcionários na gráfica até mais tarde, e provavelmente a equação financeira resulta na conveniência maior de não colocar a matéria. Antigamente, como o jornal impresso era a principal fonte de informação do leitor, valia a pena. Hoje, provavelmente não, e o jornal remete o leitor à versão eletrônica. Enfim, são as condições dos novos tempos...
Na tarde de ontem, sábado, a Gazeta do Povo de domingo estava à venda nas ruas. Sempre que um jornaleiro me oferece numa esquina o jornal do dia seguinte, tenho vontade de perguntar se a edição já tem o resultado do jogo do Atlético (ontem, o jogo seria às 18h30min, e o jornal estava nas ruas bem antes). Claro que não faço isso, porque o pobre do jornaleiro não tem nada a ver com o problema do jornal.
Bem, hoje de manhã (domingo), peguei o jornal e, na página de esportes, fui conferir qual tinha sido o resultado do jogo do Paraná contra o ABC. A capa do caderno de esportes tinha uma chamada: “Na internet - Veja como foi ABC x Paraná, a partida em que Roberto Cavalo defendia sua invencibilidade como visitante”. O jornal pressupõe que o leitor seja internauta - então, por que ler o jornal?
Fico insatisfeito, mas compreendo. Noutros tempos, um jornalista ficava de plantão apenas para preencher o espaço previamente destinado ao relato do jogo noturno. Claro que isso atrasa a impressão, exigindo funcionários na gráfica até mais tarde, e provavelmente a equação financeira resulta na conveniência maior de não colocar a matéria. Antigamente, como o jornal impresso era a principal fonte de informação do leitor, valia a pena. Hoje, provavelmente não, e o jornal remete o leitor à versão eletrônica. Enfim, são as condições dos novos tempos...
Sunday, October 25, 2009
A “paradinha” na cobrança de pênaltis
O presidente da Fifa fala em proibir a “paradinha” na cobrança de pênaltis. Ideia ridícula e sem qualquer base lógica. Se o jogador não pode usar a “paradinha”, então, por que ao cobrar falta fora da área o time pode usar de artimanhas como as jogadas ensaiadas em que um jogador finge cobrar, salta a bola, e outro chuta? É exatamente a mesma situação: uma simulação com o objetivo de iludir o adversário. Que, afinal, foi quem fez a falta e recebeu a devida punição. Proibir a “paradinha” (ou, na mesma lógica, as simulações nas cobranças de falta) é beneficiar o infrator.
Na verdade, a “paradinha” acabará no dia em que os goleiros começarem a se portar adequadamente. Explico: do ponto de vista da Física, o pênalti é indefensável. Se forem considerados os fatores em jogo – tamanho do gol, envergadura do goleiro, velocidade e direção da bola no chute do cobrador –, basta que o cobrador chute corretamente que não há possibilidade física de o goleiro defender. O pênalti cobrado com perfeição é aquele em que a bola toca a parte lateral da rede, por dentro – quando a bola vai com rapidez e força, bem perto da trave. Não há possibilidade física de o goleiro, saindo do centro do gol, pegar a bola quando o pênalti é bem cobrado – e digo isso baseado em cálculos feitos por um professor de Física que certa vez publicou um artigo sobre o tema. É por isso que os goleiros não esperam pelo chute, mas se antecipam a ele, escolhendo um canto e pulando antes que a bola seja lançada para aumentarem a possibilidade de alcançá-la.
Aí é que está o grande erro dos goleiros. São raros os jogadores que cobram o pênalti com perfeição. A grande maioria chuta mais perto do centro do gol do que deveriam, e com menos força. Por isso, os goleiros teriam muito mais chance de defender se ficassem imóveis no centro do gol, olhando fixamente para a bola e saltando para pegá-la apenas depois do chute. Na adolescência, fui um ótimo goleiro e defendi muitos pênaltis, para espanto dos adversários, porque fazia exatamente isso. A possibilidade de um chute perfeito do cobrador é muito menor do que a possibilidade de o goleiro acertar na previsão do destino da bola.
No dia em que os goleiros começarem a fazer isso, as “paradinhas” acabarão. Lembro-me de um jogo do Atlético Paranaense em que o atacante Rafael Moura foi cobrar um pênalti, ameaçou chutar, esperando o pulo do goleiro, mas este não se moveu. Fez então uma segunda ameaça, o goleiro pulou, e ele rolou a bola vagarosamente em direção ao canto oposto. Foi a única cobrança de pênalti com duas “paradinhas” de que tive notícia. Se o goleiro tivesse se mantido firme na sua atitude de esperar o chute, a cobrança seria um fiasco.
Na verdade, a “paradinha” acabará no dia em que os goleiros começarem a se portar adequadamente. Explico: do ponto de vista da Física, o pênalti é indefensável. Se forem considerados os fatores em jogo – tamanho do gol, envergadura do goleiro, velocidade e direção da bola no chute do cobrador –, basta que o cobrador chute corretamente que não há possibilidade física de o goleiro defender. O pênalti cobrado com perfeição é aquele em que a bola toca a parte lateral da rede, por dentro – quando a bola vai com rapidez e força, bem perto da trave. Não há possibilidade física de o goleiro, saindo do centro do gol, pegar a bola quando o pênalti é bem cobrado – e digo isso baseado em cálculos feitos por um professor de Física que certa vez publicou um artigo sobre o tema. É por isso que os goleiros não esperam pelo chute, mas se antecipam a ele, escolhendo um canto e pulando antes que a bola seja lançada para aumentarem a possibilidade de alcançá-la.
Aí é que está o grande erro dos goleiros. São raros os jogadores que cobram o pênalti com perfeição. A grande maioria chuta mais perto do centro do gol do que deveriam, e com menos força. Por isso, os goleiros teriam muito mais chance de defender se ficassem imóveis no centro do gol, olhando fixamente para a bola e saltando para pegá-la apenas depois do chute. Na adolescência, fui um ótimo goleiro e defendi muitos pênaltis, para espanto dos adversários, porque fazia exatamente isso. A possibilidade de um chute perfeito do cobrador é muito menor do que a possibilidade de o goleiro acertar na previsão do destino da bola.
No dia em que os goleiros começarem a fazer isso, as “paradinhas” acabarão. Lembro-me de um jogo do Atlético Paranaense em que o atacante Rafael Moura foi cobrar um pênalti, ameaçou chutar, esperando o pulo do goleiro, mas este não se moveu. Fez então uma segunda ameaça, o goleiro pulou, e ele rolou a bola vagarosamente em direção ao canto oposto. Foi a única cobrança de pênalti com duas “paradinhas” de que tive notícia. Se o goleiro tivesse se mantido firme na sua atitude de esperar o chute, a cobrança seria um fiasco.
Friday, October 23, 2009
Lembranças...
Esta foi para mim a semana da nostalgia, das lembranças profundas... Três fatos:
1) Passei algumas vezes pela rua onde fica o terreno da “minha Branca de Neve”. Virou um prosaico estacionamento. Sempre que vejo aquele espaço vazio, sinto uma tristezinha nostálgica, aquela sensação de saudade de um mundo que se foi, de coisas que não existem mais...
2) Uma velha e grande casa onde morei por alguns anos está sendo demolida – na Rua Padre Agostinho, 274. Estava para alugar e, de repente, começou a ser posta abaixo. Apesar de fazer parte de um passado que me traz sensações totalmente contraditórias, tive um choque quando a vi despedaçada. Senti como se um pedaço da minha história estivesse sendo apagado. Passo diariamente diante dela e nunca deixei, um dia sequer, de desviar o olhar em sua direção. Ela estava lá, sempre, permanentemente de pé, como eu, minha vida, minha história.
Vieram-me lembranças... Foi-se a cozinha onde fiz pela primeira vez a carne assada ao molho de cerveja recheada com bacon, que ainda hoje faz sucesso quando repito a façanha culinária. Não existe mais o quarto onde eu demorava a dormir, ouvindo “Porto solidão” enquanto sonhava com uma vida diferente, temendo antecipadamente pelas incógnitas que ela me traria. Desapareceu a sala de paredes vermelhas onde eu me aquecia em frente à lareira, em longas horas de conversas noturnas animadas por um Benédictine ou um Chartreux. Um tapume substitui o muro que eu pulava à noite para ir encontrar, escondido, minha namorada (hoje esposa). E na derrubada daquelas paredes que me traziam tantas recordações, parece que eu vou também enfraquecendo.
“E eu era feliz? Não sei;/Fui-o outrora agora” (Fernando Pessoa).
3) Ao final de uma aula, sem pensar nem procurar palavras, despedi-me de uma aluna com uma expressão típica de meu falecido pai. Assim, sem mais... Imediatamente, tomou-me um sentimento profundo, profundíssimo de saudade extrema, a ponte de ser-me preciso segurar as lágrimas. Calei-me por alguns instantes, porque a voz não sairia. Nesses segundos densamente eternos, vieram-me em turbilhão lembranças impregnadas de doída saudade das duas pessoas falecidas cuja falta mais sinto: meu pai e meu irmão. Senti a dor pesada do fato sem solução, da situação perpetuamente resolvida, sem volta. A perda daquilo que tive pouco e devia ter tido mais...
Enfim, lembranças... O que é o passado que já se foi? Que temos a ver com o passado? Anos atrás, pensando nisso, fiz o poema que segue – e conclui esta mensagem.
SOMAMOS
Não somos mais
o que fomos,
mas somos só
o que fomos
(passado – matéria-prima indelével –
não desgruda de nós).
Somos mais:
somamos.
1) Passei algumas vezes pela rua onde fica o terreno da “minha Branca de Neve”. Virou um prosaico estacionamento. Sempre que vejo aquele espaço vazio, sinto uma tristezinha nostálgica, aquela sensação de saudade de um mundo que se foi, de coisas que não existem mais...
2) Uma velha e grande casa onde morei por alguns anos está sendo demolida – na Rua Padre Agostinho, 274. Estava para alugar e, de repente, começou a ser posta abaixo. Apesar de fazer parte de um passado que me traz sensações totalmente contraditórias, tive um choque quando a vi despedaçada. Senti como se um pedaço da minha história estivesse sendo apagado. Passo diariamente diante dela e nunca deixei, um dia sequer, de desviar o olhar em sua direção. Ela estava lá, sempre, permanentemente de pé, como eu, minha vida, minha história.
Vieram-me lembranças... Foi-se a cozinha onde fiz pela primeira vez a carne assada ao molho de cerveja recheada com bacon, que ainda hoje faz sucesso quando repito a façanha culinária. Não existe mais o quarto onde eu demorava a dormir, ouvindo “Porto solidão” enquanto sonhava com uma vida diferente, temendo antecipadamente pelas incógnitas que ela me traria. Desapareceu a sala de paredes vermelhas onde eu me aquecia em frente à lareira, em longas horas de conversas noturnas animadas por um Benédictine ou um Chartreux. Um tapume substitui o muro que eu pulava à noite para ir encontrar, escondido, minha namorada (hoje esposa). E na derrubada daquelas paredes que me traziam tantas recordações, parece que eu vou também enfraquecendo.
“E eu era feliz? Não sei;/Fui-o outrora agora” (Fernando Pessoa).
3) Ao final de uma aula, sem pensar nem procurar palavras, despedi-me de uma aluna com uma expressão típica de meu falecido pai. Assim, sem mais... Imediatamente, tomou-me um sentimento profundo, profundíssimo de saudade extrema, a ponte de ser-me preciso segurar as lágrimas. Calei-me por alguns instantes, porque a voz não sairia. Nesses segundos densamente eternos, vieram-me em turbilhão lembranças impregnadas de doída saudade das duas pessoas falecidas cuja falta mais sinto: meu pai e meu irmão. Senti a dor pesada do fato sem solução, da situação perpetuamente resolvida, sem volta. A perda daquilo que tive pouco e devia ter tido mais...
Enfim, lembranças... O que é o passado que já se foi? Que temos a ver com o passado? Anos atrás, pensando nisso, fiz o poema que segue – e conclui esta mensagem.
SOMAMOS
Não somos mais
o que fomos,
mas somos só
o que fomos
(passado – matéria-prima indelével –
não desgruda de nós).
Somos mais:
somamos.
Thursday, October 22, 2009
Homenagem a Renato Bzuneck Jardim
Em 2004, eu era professor de Editoração no curso de Jornalismo da Universidade Positivo quando recebemos o aluno Renato Bzuneck Jardim. Renato era deficiente visual – creio que tinha no máximo 10% da capacidade visual normal. Editoração é uma disciplina eminentemente prática e... visual, cujas aulas são ministradas no laboratório de informática do curso. Os alunos aprendem noções de planejamento gráfico e diagramação de veículos jornalísticos impressos. Nas aulas práticas, aprendem a utilizar programas de editoração eletrônica.
O sistema de avaliação adotado naquele ano contemplava testes teóricos e práticos. No primeiro bimestre, a avaliação era divida em 80% teórica e 20% prática, enquanto nos três outros bimestres a divisão era de 50% para cada tipo de prova. No início das aulas, expliquei ao Renato que ele teria todo apoio, mas nenhum privilégio. Disse-lhe que deveria compensar a impossibilidade de fazer os exercícios práticos com boas notas na parte teórica, explicando-lhe que, se tivesse sucesso, iria para a prova final e poderia ser aprovado mesmo que tivesse nota zero nos exercícios práticos (no exame final, também havia avaliação prática, valendo metade da nota).
O fato é que Renato conseguiu nota suficiente para ir a exame final sem nunca ter feito os exercícios práticos (nos quais recebia sempre nota zero). No exame final, também garantiu aprovação apenas com a parte teórica. Sempre apliquei, obviamente, as mesmas provas da turma, mas em consulta oral: eu lia as perguntas, e ele ditava as respostas.
Em algumas provas das quais constavam perguntas teóricas baseadas em figuras, reproduzi as figuras em tamanho bastante grande (para isso, o próprio Renato carregava sempre um “pincel atômico”), que ele conseguia ver aproximando o papel até quase encostá-lo no olho, num processo muito cansativo, mas a que ele se submetia sempre que necessário.
Renato evoluiu bastante ao longo do curso. Depois do primeiro ano, embora não lhe tenha dado mais aula, percebi que ele tornou-se bem mais “desembaraçado” e ativo. Ele sempre pareceu bastante integrado junto aos colegas. É de se ressaltar que ele jamais usou a deficiência visual como pretexto para pedir qualquer atitude condescendente do professor. Pelo contrário, sempre fez questão de afirmar-se como estudante capaz de fazer o necessário para aprender e ser aprovado, independentemente de sua deficiência, o que me parecia o lado mais admirável de sua atitude diante do mundo. Longe de usar a deficiência como “muleta”, ele superava todas as dificuldades com esforço e dedicação, além de contar com sua boa capacidade intelectual.
Uma das melhores recompensas de ser professor é aprender continuamente, já que temos dezenas de alunos que são também nossos “professores”, sempre com coisas novas para nos ensinar. Para mim, ser professor do Renato acrescentou muito. Foi uma oportunidade de aprender sobre temas como a infinita capacidade humana, o respeito às diferenças, a riqueza do ser humano. Renato deu-me muito mais do que de mim recebeu.
Soube com muita tristeza do falecimento recente do já então colega Renato. Apesar de sua passagem curta entre nós, estou certo de que, se as pessoas têm uma missão a cumprir na Terra (este “vale de lágrimas”, diz a oração católica), Renato deve ter cumprido a sua, e muito bem cumprida.
O sistema de avaliação adotado naquele ano contemplava testes teóricos e práticos. No primeiro bimestre, a avaliação era divida em 80% teórica e 20% prática, enquanto nos três outros bimestres a divisão era de 50% para cada tipo de prova. No início das aulas, expliquei ao Renato que ele teria todo apoio, mas nenhum privilégio. Disse-lhe que deveria compensar a impossibilidade de fazer os exercícios práticos com boas notas na parte teórica, explicando-lhe que, se tivesse sucesso, iria para a prova final e poderia ser aprovado mesmo que tivesse nota zero nos exercícios práticos (no exame final, também havia avaliação prática, valendo metade da nota).
O fato é que Renato conseguiu nota suficiente para ir a exame final sem nunca ter feito os exercícios práticos (nos quais recebia sempre nota zero). No exame final, também garantiu aprovação apenas com a parte teórica. Sempre apliquei, obviamente, as mesmas provas da turma, mas em consulta oral: eu lia as perguntas, e ele ditava as respostas.
Em algumas provas das quais constavam perguntas teóricas baseadas em figuras, reproduzi as figuras em tamanho bastante grande (para isso, o próprio Renato carregava sempre um “pincel atômico”), que ele conseguia ver aproximando o papel até quase encostá-lo no olho, num processo muito cansativo, mas a que ele se submetia sempre que necessário.
Renato evoluiu bastante ao longo do curso. Depois do primeiro ano, embora não lhe tenha dado mais aula, percebi que ele tornou-se bem mais “desembaraçado” e ativo. Ele sempre pareceu bastante integrado junto aos colegas. É de se ressaltar que ele jamais usou a deficiência visual como pretexto para pedir qualquer atitude condescendente do professor. Pelo contrário, sempre fez questão de afirmar-se como estudante capaz de fazer o necessário para aprender e ser aprovado, independentemente de sua deficiência, o que me parecia o lado mais admirável de sua atitude diante do mundo. Longe de usar a deficiência como “muleta”, ele superava todas as dificuldades com esforço e dedicação, além de contar com sua boa capacidade intelectual.
Uma das melhores recompensas de ser professor é aprender continuamente, já que temos dezenas de alunos que são também nossos “professores”, sempre com coisas novas para nos ensinar. Para mim, ser professor do Renato acrescentou muito. Foi uma oportunidade de aprender sobre temas como a infinita capacidade humana, o respeito às diferenças, a riqueza do ser humano. Renato deu-me muito mais do que de mim recebeu.
Soube com muita tristeza do falecimento recente do já então colega Renato. Apesar de sua passagem curta entre nós, estou certo de que, se as pessoas têm uma missão a cumprir na Terra (este “vale de lágrimas”, diz a oração católica), Renato deve ter cumprido a sua, e muito bem cumprida.
Wednesday, October 21, 2009
Títulos curiosos
Diversão garantida na leitura de jornal. Vejam só que títulos curiosos. Quem quiser decifrá-los clique sobre eles.
“Suínos boicotam feira para não pegar gripe”
Coitados, acho que eles têm razão. Nestes temos de gripe mortal, eles precisam se prevenir.
“Brasil estuda financiar exportações de vizinhos”
Oba! Achou que vou procurar esse financiamento. Tenho alguns vizinhos que gostaria muito de exportar para bem longe!
“Maranhão assume a Paraíba”
Que bom, nesta época de separatismos, ver dois estados irmãos unindo-se, mesmo não tendo fronteiras comuns. Mas será que o povo paraibano foi consultado?
“Suínos boicotam feira para não pegar gripe”
Coitados, acho que eles têm razão. Nestes temos de gripe mortal, eles precisam se prevenir.
“Brasil estuda financiar exportações de vizinhos”
Oba! Achou que vou procurar esse financiamento. Tenho alguns vizinhos que gostaria muito de exportar para bem longe!
“Maranhão assume a Paraíba”
Que bom, nesta época de separatismos, ver dois estados irmãos unindo-se, mesmo não tendo fronteiras comuns. Mas será que o povo paraibano foi consultado?
Tuesday, October 20, 2009
Títulos inadequados
Os manuais de redação e a prática jornalística indicam que um título de matéria factual deve ser uma frase com sujeito, verbo (no presente, sempre que possível) e complemento que indique o assunto principal do texto. Portanto, deve ser não apenas facilmente inteligível, mas revelar do que a matéria trata, para que o leitor possa decidir-se a lê-la ou não. Pressupõe-se que, em geral, o leitor não leia o jornal “de cabo a rabo”, mas selecione – principalmente pelo título – quais os textos de seu interesse. Por isso, o título é uma espécie de “propaganda” da matéria. Títulos ininteligíveis tendem a fazer com que o leitor não se interesse pelo texto. Entretanto, eles são frequentadores habituais das páginas dos jornais. Seguem dois exemplos...
IPOS atraem US$ 17 bilhões
Provavelmente, o jornalista pensa que o público habitual do caderno de Economia seja capaz de decifrar o título. Mas... quem é o público habitual do caderno? Eu leio as matérias de Economia e gostaria de entendê-las – afinal, faço parte do público leitor do jornal. Li a nota para tentar decifrar o título, mas não há nada no texto que indique o que significa a sigla IPOs.
Maior VBP do estado em destaque na Expotoledo
VBP? O que será que é isso? Quem consegue dizer sem ler a matéria?
IPOS atraem US$ 17 bilhões
Provavelmente, o jornalista pensa que o público habitual do caderno de Economia seja capaz de decifrar o título. Mas... quem é o público habitual do caderno? Eu leio as matérias de Economia e gostaria de entendê-las – afinal, faço parte do público leitor do jornal. Li a nota para tentar decifrar o título, mas não há nada no texto que indique o que significa a sigla IPOs.
Maior VBP do estado em destaque na Expotoledo
VBP? O que será que é isso? Quem consegue dizer sem ler a matéria?
Monday, October 19, 2009
As diferenças que as vírgulas fazem
Todo mundo sabe que colocar vírgulas erradamente pode mudar o sentido da frase. Portanto, os jornalistas devem tomar muito cuidado com elas. Matéria da Gazeta do Povo sobre o Vale-Cultura traz duas frases com vírgulas colocadas indevidamente. Vejamos:
“A meta do MinC, com a implementação do Vale Cultura, é que os brasileiros, de baixa renda, passem a consumir cultura.”
Com certeza, o autor queria dizer: “... que os brasileiros de baixa renda passem a consumir ...”
Do modo como está, a frase afirma que todos os brasileiros são de baixa renda – e, portanto, o MinC quer, com o vale, que os brasileiros passem a consumir cultura (visto que todos os brasileiros têm baixa renda).
Sem as vírgulas, a frase indicaria que, dentre os brasileiros, há alguns de baixa renda, que o MinC deseja que consumam cultura.
A outra:
“O trabalhador, que ganha até cinco salários mínimos, pode optar por não ser beneficiado pelo Vale Cultura” [...].
De novo: com certeza, o jornalista queria dizer que “o trabalhador que ganha até cinco salários mínimos pode optar ...”.
As orações analisadas podem ser explicativas (caso das que estão entre vírgulas nos exemplos) ou restritivas (sem as vírgulas). Para determinar, portanto, uma categoria específica (restrita) de brasileiros (os de baixa renda) ou de trabalhadores (os que ganham até cinco salários mínimos), o texto deveria usar a oração restritiva, sem vírgulas.
“A meta do MinC, com a implementação do Vale Cultura, é que os brasileiros, de baixa renda, passem a consumir cultura.”
Com certeza, o autor queria dizer: “... que os brasileiros de baixa renda passem a consumir ...”
Do modo como está, a frase afirma que todos os brasileiros são de baixa renda – e, portanto, o MinC quer, com o vale, que os brasileiros passem a consumir cultura (visto que todos os brasileiros têm baixa renda).
Sem as vírgulas, a frase indicaria que, dentre os brasileiros, há alguns de baixa renda, que o MinC deseja que consumam cultura.
A outra:
“O trabalhador, que ganha até cinco salários mínimos, pode optar por não ser beneficiado pelo Vale Cultura” [...].
De novo: com certeza, o jornalista queria dizer que “o trabalhador que ganha até cinco salários mínimos pode optar ...”.
As orações analisadas podem ser explicativas (caso das que estão entre vírgulas nos exemplos) ou restritivas (sem as vírgulas). Para determinar, portanto, uma categoria específica (restrita) de brasileiros (os de baixa renda) ou de trabalhadores (os que ganham até cinco salários mínimos), o texto deveria usar a oração restritiva, sem vírgulas.
Sunday, October 18, 2009
Título versus texto e muro "tucanado"
Uma curiosa matéria da Gazeta do Povo traz duas “pérolas” de naturezas diferentes.
Primeiro, um título que diz o contrário do texto. Depois, as incríveis definições ministeriais sobre o que seja um muro.
O título: “Ministro da Justiça critica muro em favela carioca”.
Na verdade, o ministro da Justiça, Tarso Genro, estava defendendo a construção do muro que separa o morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, da mata vizinha, para evitar que os barracos a invadam.
Além do título que contradiz o texto, o mais engraçado é o discurso de Genro, em sua tentativa de defender a obra alegando que o muro não é um muro. José Simão diria que o ministro “tucanou” o muro.
As palavras do ministro: “Pelo que estou informado, não são mais muros, né? São divisões que vão ter espaço delimitador. Mas não se adotou aquela tese de fazer um muro de separação física, alto, que separa a comunidade do outro espaço.”
Então , quando “não se adota aquela tese”, o muro deixa de ser muro... Isso é que é “teoricismo” acadêmico!
Primeiro, um título que diz o contrário do texto. Depois, as incríveis definições ministeriais sobre o que seja um muro.
O título: “Ministro da Justiça critica muro em favela carioca”.
Na verdade, o ministro da Justiça, Tarso Genro, estava defendendo a construção do muro que separa o morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, da mata vizinha, para evitar que os barracos a invadam.
Além do título que contradiz o texto, o mais engraçado é o discurso de Genro, em sua tentativa de defender a obra alegando que o muro não é um muro. José Simão diria que o ministro “tucanou” o muro.
As palavras do ministro: “Pelo que estou informado, não são mais muros, né? São divisões que vão ter espaço delimitador. Mas não se adotou aquela tese de fazer um muro de separação física, alto, que separa a comunidade do outro espaço.”
Então , quando “não se adota aquela tese”, o muro deixa de ser muro... Isso é que é “teoricismo” acadêmico!
Monday, September 28, 2009
Livros
De passagem por aqui, quero recomendar os cinco melhores livros dentre os que li neste ano (cerca de 25). Estão na ordem em que os li e não em ordem de preferência. Lá vai:
1) “O filho eterno”, de Cristóvão Tezza. Muito bom mesmo, merecedor de todos os inúmeros prêmios que ganhou. Tezza está hoje entre os principais escritores brasileiros. Seu texto é absolutamente impecável - e saboroso. E neste livro conta a melhor de suas histórias.
2) “Olhe nos meus olhos”, de John Elder Robison. História de um portador da Síndrome de Asperger (espécie de autismo leve), contada pelo próprio. Obra sem pretensões literárias, mas muito interessante e até divertida. Ajuda o leitor a colocar-se no lugar do “outro”, refletir sobre as diferenças e entendê-las.
3) “A viagem do elefante”, de José Saramago. Tem a maestria do Saramago, sempre bom de ler.
4) “A distância entre nós”, de Thrity Umrigar. A escritora de origem indiana (participante da Bienal do Livro do Rio deste ano) tem um texto atraente. Nesta obra, conta a história da relação entre uma empregada e sua patroa na sociedade indiana. Leitura ainda mais interessante para quem acompanhou “Caminho das Índias”.
5) “A menina que roubava livros”, de Marcus Zusak. Excelente tradução de um texto de qualidade maravilhosa para uma história comovente.
1) “O filho eterno”, de Cristóvão Tezza. Muito bom mesmo, merecedor de todos os inúmeros prêmios que ganhou. Tezza está hoje entre os principais escritores brasileiros. Seu texto é absolutamente impecável - e saboroso. E neste livro conta a melhor de suas histórias.
2) “Olhe nos meus olhos”, de John Elder Robison. História de um portador da Síndrome de Asperger (espécie de autismo leve), contada pelo próprio. Obra sem pretensões literárias, mas muito interessante e até divertida. Ajuda o leitor a colocar-se no lugar do “outro”, refletir sobre as diferenças e entendê-las.
3) “A viagem do elefante”, de José Saramago. Tem a maestria do Saramago, sempre bom de ler.
4) “A distância entre nós”, de Thrity Umrigar. A escritora de origem indiana (participante da Bienal do Livro do Rio deste ano) tem um texto atraente. Nesta obra, conta a história da relação entre uma empregada e sua patroa na sociedade indiana. Leitura ainda mais interessante para quem acompanhou “Caminho das Índias”.
5) “A menina que roubava livros”, de Marcus Zusak. Excelente tradução de um texto de qualidade maravilhosa para uma história comovente.
Sunday, September 20, 2009
Foto "sem-vergonha"
A foto de um evento esportivo pode assumir ares de jornalismo sensacionalista. Uma foto de Michael Fiala (Agência Reuters) retratando duas tenistas que se cumprimentam após uma partida tem esse ar: a foto foi tirada de modo tal que insinua mais do que diz. Veja a foto inteira clicando aqui.

Quero deixar claro que não teria nada contra o fato de as tenistas serem lésbicas e estarem ensaiando um beijo. Nem me escandalizaria com tal foto. Mas é que não é este o caso aqui: a foto quer insinuar algo que não é a realidade, daí o sensacionalismo.

Quero deixar claro que não teria nada contra o fato de as tenistas serem lésbicas e estarem ensaiando um beijo. Nem me escandalizaria com tal foto. Mas é que não é este o caso aqui: a foto quer insinuar algo que não é a realidade, daí o sensacionalismo.
Tuesday, August 11, 2009
Homossexualidade e união civil
Na discussão sobre o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo do ponto de vista constitucional, há juristas de peso em ambos os lados. A Gazeta do Povo, principal diário de Curitiba-PR, publicou em 11/08 artigo do professor Ives Gandra Martins no qual ele defende que, por força constitucional, só pode ser considerada família “aquela decorrente ou do casamento ou da união estável entre um homem e uma mulher”. Sob o enfoque jurídico, sua posição é bem fundamentada, mas pode ser contestada, e efetivamente tem sido, pois se trata de uma discussão bastante complexa.
Entretanto, há no artigo do ilustre jurista afirmações descabidas quando ele foge da discussão estritamente jurídica. Afirma ele que “a criança deve ser educada segundo a ‘opção natural’, de atração entre pessoas de sexo diferente, uma vez que a denominada ‘opção sexual’ dos homossexuais só ocorre na adolescência ou quando adultos”. Tal ideia é hoje completamente descartada pelos especialistas que estudam a homossexualidade. Em primeiro lugar, porque não existe uma “opção”. Ninguém é homossexual porque escolhe ser. Para que isso fique claro, basta que um heterossexual se pergunte quando fez a “opção” por ser heterossexual – obviamente, essa opção nunca foi feita, pois não se trata de uma questão de escolha.
Estatisticamente falando, cerca de 10% das pessoas são homossexuais: trata-se de uma constatação prática, para além de ideologias e preconceitos. As “opções” do homossexual são aceitar ou não sua sexualidade (muitos não a aceitam por causa do preconceito social) e assumi-la ou não perante a sociedade (como se costuma dizer popularmente: “sair do armário” ou não). Essas sim, opções exercidas na adolescência ou na idade adulta.
Portanto, também não se pode dizer que a heterossexualidade seja “natural” e a homossexualidade, “antinatural”: a homossexualidade está presente na natureza – e, entre os seres humanos, atinge aproximadamente 10% das pessoas.
Espanta encontrar na argumentação de Ives Gandra Martins a alegação de que a adoção de crianças por homossexuais “levaria a ser imposto à criança um tipo de comportamento que a tiraria do caminho seguido pela esmagadora maioria das pessoas, de atração pelo sexo oposto”. Também esse argumento está fundado numa ideia completamente equivocada sobre supostas origens da homossexualidade. Filhos de homossexuais não são necessariamente homossexuais, assim como muitíssimos homossexuais são filhos de casais heterossexuais. Ser educado por homossexuais ou por heterossexuais não é fator determinante da sexualidade do indivíduo – caso contrário, nunca se veria um homossexual filho de um casal heterossexual e por ele educado.
Ademais, o célebre jurista ignora o direito das minorias. Por que aqueles que não têm o comportamento “da esmagadora maioria” não podem ser sujeitos de direitos? E por que um cidadão não pode legitimamente ter um comportamento diferente daquele da maioria?
No âmbito jurídico, há muito que se discutir sobre o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo, o que provavelmente só será resolvido perfeitamente com uma mudança na legislação – seja por força de uma emenda constitucional ou de um pronunciamento jurisprudencial. Já no âmbito social, é fácil perceber que a discussão é eivada de equívocos e, quase sempre, de preconceitos.
Entretanto, há no artigo do ilustre jurista afirmações descabidas quando ele foge da discussão estritamente jurídica. Afirma ele que “a criança deve ser educada segundo a ‘opção natural’, de atração entre pessoas de sexo diferente, uma vez que a denominada ‘opção sexual’ dos homossexuais só ocorre na adolescência ou quando adultos”. Tal ideia é hoje completamente descartada pelos especialistas que estudam a homossexualidade. Em primeiro lugar, porque não existe uma “opção”. Ninguém é homossexual porque escolhe ser. Para que isso fique claro, basta que um heterossexual se pergunte quando fez a “opção” por ser heterossexual – obviamente, essa opção nunca foi feita, pois não se trata de uma questão de escolha.
Estatisticamente falando, cerca de 10% das pessoas são homossexuais: trata-se de uma constatação prática, para além de ideologias e preconceitos. As “opções” do homossexual são aceitar ou não sua sexualidade (muitos não a aceitam por causa do preconceito social) e assumi-la ou não perante a sociedade (como se costuma dizer popularmente: “sair do armário” ou não). Essas sim, opções exercidas na adolescência ou na idade adulta.
Portanto, também não se pode dizer que a heterossexualidade seja “natural” e a homossexualidade, “antinatural”: a homossexualidade está presente na natureza – e, entre os seres humanos, atinge aproximadamente 10% das pessoas.
Espanta encontrar na argumentação de Ives Gandra Martins a alegação de que a adoção de crianças por homossexuais “levaria a ser imposto à criança um tipo de comportamento que a tiraria do caminho seguido pela esmagadora maioria das pessoas, de atração pelo sexo oposto”. Também esse argumento está fundado numa ideia completamente equivocada sobre supostas origens da homossexualidade. Filhos de homossexuais não são necessariamente homossexuais, assim como muitíssimos homossexuais são filhos de casais heterossexuais. Ser educado por homossexuais ou por heterossexuais não é fator determinante da sexualidade do indivíduo – caso contrário, nunca se veria um homossexual filho de um casal heterossexual e por ele educado.
Ademais, o célebre jurista ignora o direito das minorias. Por que aqueles que não têm o comportamento “da esmagadora maioria” não podem ser sujeitos de direitos? E por que um cidadão não pode legitimamente ter um comportamento diferente daquele da maioria?
No âmbito jurídico, há muito que se discutir sobre o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo, o que provavelmente só será resolvido perfeitamente com uma mudança na legislação – seja por força de uma emenda constitucional ou de um pronunciamento jurisprudencial. Já no âmbito social, é fácil perceber que a discussão é eivada de equívocos e, quase sempre, de preconceitos.
Tuesday, August 04, 2009
“Jornalismo” (?) esportivo
Tenho uma opinião particular sobre o jornalismo esportivo feito hoje no Brasil: é muito pouco de jornalismo e quase tudo de entretenimento. Jornalismo é novidade – máxima que parece não valer no “jornalismo” esportivo.
Em Curitiba, o programa esportivo de maior audiência no rádio apresenta-se como jornalístico, mas é muito mais um humorístico. No time que faz o programa já apareceu de tudo: um office-boy, um mendigo, um ET, um mosquito e até o fantasma do Michael Jackson. As transmissões de jogos na emissora são divertidas, tão divertidas que às vezes o narrador e seu séquito de personagens se esquecem do jogo...
Outra rádio de grande audiência, com aparência muito mais séria, tem dois horários dedicados a programas esportivos locais. Que quase nunca apresentam nada, mas nada mesmo de novo. Só aquele blá-blá-blá de opiniões sobre o jogo que passou ou sobre aquele que virá. Um jornalista informa, relata fatos. Já nesses programas, os radialistas (não vou chamá-los de jornalistas, porque não o são) usam muito o “eu acho”, “me parece que”... e muito frequentemente não sabem passar informações básicas para o ouvinte.
Nessa pobreza informativa, um repórter (ex-jogador que virou profissional do rádio) chegou a anunciar como notícia de “primeiríssima mão” a informação de que o Atlético Paranaense contrataria o auxiliar técnico Leandro Niehues (que estava no Corinthians-PR). Uma rádio concorrente já tinha dado a notícia na véspera... O mesmo repórter, falando ao vivo, inventou dois novos participantes do Campeonato Brasileiro: anunciou que o Coritiba jogaria “contra o Cascavel” (o jogo, na verdade, seria contra o Santos, na cidade de Cascavel, pois o Coritiba perdera o mando do jogo) e trocou o Paraná Clube pelo Paranavaí.
Fazer jornalismo é difícil. Fazer bom jornalismo, mais ainda. Fazer bom jornalismo ao vivo, então, é tarefa árdua, que deveria ser deixada para jornalistas de verdade. Talvez (eu disse “talvez”) a pobreza do jornalismo esportivo se deva a ele não ser feito majoritariamente por jornalistas, mas por “radialistas”. Não quero insinuar com isso que não haja ótimos radialistas, longe disso. Há, inclusive no jornalismo esportivo, mas são exceção.
Em Curitiba, o programa esportivo de maior audiência no rádio apresenta-se como jornalístico, mas é muito mais um humorístico. No time que faz o programa já apareceu de tudo: um office-boy, um mendigo, um ET, um mosquito e até o fantasma do Michael Jackson. As transmissões de jogos na emissora são divertidas, tão divertidas que às vezes o narrador e seu séquito de personagens se esquecem do jogo...
Outra rádio de grande audiência, com aparência muito mais séria, tem dois horários dedicados a programas esportivos locais. Que quase nunca apresentam nada, mas nada mesmo de novo. Só aquele blá-blá-blá de opiniões sobre o jogo que passou ou sobre aquele que virá. Um jornalista informa, relata fatos. Já nesses programas, os radialistas (não vou chamá-los de jornalistas, porque não o são) usam muito o “eu acho”, “me parece que”... e muito frequentemente não sabem passar informações básicas para o ouvinte.
Nessa pobreza informativa, um repórter (ex-jogador que virou profissional do rádio) chegou a anunciar como notícia de “primeiríssima mão” a informação de que o Atlético Paranaense contrataria o auxiliar técnico Leandro Niehues (que estava no Corinthians-PR). Uma rádio concorrente já tinha dado a notícia na véspera... O mesmo repórter, falando ao vivo, inventou dois novos participantes do Campeonato Brasileiro: anunciou que o Coritiba jogaria “contra o Cascavel” (o jogo, na verdade, seria contra o Santos, na cidade de Cascavel, pois o Coritiba perdera o mando do jogo) e trocou o Paraná Clube pelo Paranavaí.
Fazer jornalismo é difícil. Fazer bom jornalismo, mais ainda. Fazer bom jornalismo ao vivo, então, é tarefa árdua, que deveria ser deixada para jornalistas de verdade. Talvez (eu disse “talvez”) a pobreza do jornalismo esportivo se deva a ele não ser feito majoritariamente por jornalistas, mas por “radialistas”. Não quero insinuar com isso que não haja ótimos radialistas, longe disso. Há, inclusive no jornalismo esportivo, mas são exceção.
Adiamento das aulas é “disparate”
Na linha do que comentei aqui e defendi em artigo publicado na Gazeta do Povo, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, classificou o adiamento do reinício das aulas de “disparate”. Veja trecho da notícia publicada na Folha Online:
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ontem (3) considerar um “disparate” alunos sadios terem o início das aulas adiado por conta da gripe suína. Segundo ele, a recomendação do ministério é que devem ficar em casa apenas as crianças e funcionários com sintomas como febre e tosse. “Quem não tem sintoma não tem que ficar em casa. Seria um disparate total”, disse ontem em evento no Rio. Os governos de São Paulo, Rio, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas prorrogaram as férias escolares.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse ontem (3) considerar um “disparate” alunos sadios terem o início das aulas adiado por conta da gripe suína. Segundo ele, a recomendação do ministério é que devem ficar em casa apenas as crianças e funcionários com sintomas como febre e tosse. “Quem não tem sintoma não tem que ficar em casa. Seria um disparate total”, disse ontem em evento no Rio. Os governos de São Paulo, Rio, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas prorrogaram as férias escolares.
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