Friday, December 23, 2011

Categorias de amor

Divido aquilo que comumente se chama de amor em quatro categorias:
1) O amor "comum", de quem ama alguém que lhe traz benefício, vantagem, prazer, alegria.
2) O amor da pessoa que ama alguém porque esse alguém é digno de amor, independentemente da relação entre os dois.
3) O amor incondicional motivado por uma relação consolidada: é o caso, muitas vezes, do amor paterno/materno, filial, conjugal, de pessoas que se amam independentemente do comportamento ou do caráter da pessoa amada.
4) Por fim, o amor dos santos, que amam a todos porque amam; amam porque veem no outro a luz divina, o semelhante, o "próximo"; um amor que não se condiciona a nada, a não ser à atitude de quem ama. É o amor de uma Madre Teresa de Calcutá, por exemplo.

Wednesday, December 21, 2011

Por que amo alguém?

Quando amo uma pessoa, não a amo por achá-la perfeita. Nem porque ela é agradável para mim ou porque gosta das mesmas coisas que eu, ou por se parecer comigo ou pensar igual a mim. Amo porque acho amável. Amo porque acredito que ela merece meu amor. E merece quer goste de mim ou não, aprecie as mesmas coisas que eu ou não, se pareça comigo ou não. É até possível que eu ame mais ainda quanto mais diferente for de mim, porque assim poderei admirar nela aquilo que não tenho, valorizar nela o que não sou e que a faz ser como é, diferente de mim. Se a pessoa tem bom caráter, se tem qualidades apreciáveis, será digna de meu amor, independentemente do que pense de mim. Meu amor não impõe condições relacionadas a vantagens ou benefícios que a pessoa amada me possa trazer. A única condição é que a pessoa seja digna e merecedora do meu amor. E há um caso até em que não há condição alguma: o amor paterno. Amo meu filho independentemente de qualquer coisa que ele faça, e creio que continuaria a amá-lo mesmo que ele fosse um criminoso (felizmente, ele é completamente merecedor do meu amor!). Também há na minha história quem terá sempre meu amor, por mais que um de nós mude, porque a história não se apaga, o passado não se transforma, e o papel importante que alguém teve na minha vida nunca será extinto ou esquecido.

Saturday, December 17, 2011

Cinema - 2

Não gosto muito do gênero terror. Entretanto, para ter a sensação do medo em situação controlada - objetivo dos filmes de terror, andei procurando um terror bom. Não achei, todos são mesmo é muito "trash". Vi "Atividade paranormal": um tédio, um roteiro ridículo.

Peguei então "A bruxa de Blair" - a que ainda não tinha assistido! - na esperança de encontrar algo bom. Santo Deus! É lastimável...

Em primeiro lugar, os personagens são patéticos. Gente muito muito burra. Pobre da faculdade de Cinema que os acolheu - um amostra de que nos EUA deve ter faculdadezinha furreba. Os coitados não sabem usar uma câmera, não são capazes de captar uma imagem decente - e olha que tinham uma filmadora de película! Não conseguem consultar uma bússola. Não sabem sequer que, quando alguém está perdido na mata e encontra um rio, deve seguir o curso do rio que inevitavelmente achará uma saída.

A única coisa de aterrorizante no filme é a burrice dos personagens. Realmente, um horror!

Cinema

Adoro cinema! Vejo de tudo, do blockbuster ao cult, quase todos no IMax 3D (uma experiência sensorial), filme romântico, de ação, suspense, animação.

Neste ano, vi alguns filmes ótimos: "Meia-noite em Paris", "A pele que habito", "O palhaço"... E hoje, outro muito bom: A chave de Sarah.

Quando quero um filme mais denso, eles geralmente estão no Cineplex Batel, onde os filmes, felizmente, ficam várias semanas em cartaz. Foi onde vi "A chave..." e também "Esses amores", outro filme muito bom.

Friday, September 30, 2011

Mundo atrasado

Realmente, o mundo continua um lugar muito, muito atrasado. No Irã, pastor (convertido do islamismo ao cristianismo) foi condenado à morte por não querer voltar à sua antiga religião. (Veja aqui). Na Arábia Saudita, mulher foi condenada à pena de dez chibatadas por... dirigir! (Veja aqui).

É difícil não ser etnocêntrico. Como aceitar esse tipo de coisa? A liberdade de crença deve ou não ser um valor universal? As mulheres devem ou não ter os mesmos direitos que os homens?

“Depende da cultura”, dirão alguns... Então, para que serve a Declaração Universal dos Direitos do Homem? Apenas para algumas culturas ocidentais? Deveria ser “Declaração Ocidental...”

E mais: como não relacionar a determinadas práticas religiosas certas atitudes que consideramos incrivelmente atrasadas?

Um dado preocupante: o islamismo tem crescido muito no Ocidente. Líderes muçulmanos há muito declaram que a Europa vai ser inexoravelmente conquistada pelo islamismo, por uma simples questão matemática: os europeus têm cada vez menos filhos, e os muçulmanos que vivem na Europa têm cada vez mais.

Você viveria num país regido pela sharia, o código dos muçulmanos? No futuro, o seu país pode estar assim - ao menos, é o desejo declarado por muitos líderes islâmicos.

Sunday, September 11, 2011

Cuidado com a informação

Página de esportes da Gazeta do Povo de hoje. Matéria:
"Invicto às avessas, Lopes encara desafio pessoal no Rio" (o título da versão on-line é um pouco diferente).

Legenda da foto enorme, em quatro colunas, que abre a matéria:
"Antônio Lopes orienta o lateral-esquerdo Marcelo Oliveira: por falta de opções, jogador será deslocado para o meio de campo, no lugar do suspenso Cléber Santana".

Trecho da matéria:
"O volante Renan será o substituto do capitão Cléber Santana, expulso diante do Palmeiras".

Será que o Cléber Santana é tão bom que precisa de dois substitutos?

Coisas de TV...

Achei este antigo post nos rascunhos... Por que será que não publiquei na época? Não me lembro, mas aqui vai...

Algumas coisas que se podem ver na TV são no mínimo... curiosas.


FAUSTÃO


Não consigo entender como a Globo mantém no ar por 20 anos o apresentador Fausto Silva. Uma pessoa sem qualquer carisma, estúpida, mal-educada, péssimo apresentador. Imagino que os companheiros de trabalho devem odiá-lo, já que ele não poupa críticas aos colegas, ao vivo, no seu programa. Qualquer errinho, e lá vai paulada, como se ele fosse o sabe-tudo. Mas isso é problema interno da Globo. Problema dos espectadores é ter esse “mala” na telinha. Problema, aliás, facilmente solucionável com o uso do controle remoto...


Talvez a explicação seja a falta de melhor. Qualquer um está bom, já que até chuvisco pode dar boa audiência na Globo. Ainda bem que os tempos do monopólio estão ficando cada vez mais para trás.


NOVELA


Outra coisa intrigante é como as telenovelas, geralmente muito bem produzidas na Globo, podem ter boa audiência ainda quando não dêem a mínima para a verosimilhança, mesmo aquelas com proposta de serem realistas. Caminho das Índias era um bom exemplo. A época da trama era a atual, o mundo era o mesmo em que vivemos. Ou pelo menos era a proposta da novela.


Entretanto, nesse mundo da novela, todo mundo (jovens e adultos, crianças e idosos, de todas as classes sociais, empregados ou patrões) falam fluentemente indi, inglês e português - seja no Rio de Janeiro, em qualquer cidade da Índia ou em Dubai. As companhias aéreas são perfeitas, têm voos que nunca se atrasam para qualquer parte do mundo, todo dia, sempre com vagas disponíveis. Os computadores e telefones celulares funcionam maravilhosamente, sempre com conexão perfeita, imagem e sons fantásticos. No entanto, nesse mundo espetacular, as pessoas não se lembram que o número do aparelho que chama fica gravado no celular que recebe a ligação.

Sunday, August 28, 2011

Piada pronta

Mais uma no país da piada pronta: preocupada com as derrotas de Mano, a CBF marcou jogo da seleção contra Gana.

CBF, em Gana que eu gosto!

Wednesday, August 24, 2011

Caça-erros

Vamos fazer um joguinho de "caça-erros"?
O texto abaixo foi publicado em um dos blogs do UOL. Contém pelo menos meia dúzia de "erros de português" ou de digitação. Você consegue indicar quantos e quais são? É esse o jornalismo em que mais vale escrever antes do que escrever bem...

Carlos Alberto e Ricardinho tiveram influência decisiva na saída de Jóbson do Bahia.

Líderes do time baiano, os dois jogadores exigiram que o técnico Rene Simões e a diretoria do clube tomassem providências em relação aos casos de indisciplina de Jóbson.

Até mesmo Fahel, antigo companheiro de Jóbson no Botafogo, teria sido contrário à permanência do jogador no Bahia. Fahel chegou a dar conselhos ao atacante pedido que ele se afastasse de festas e evitasse as noitadas em Salvador.

Jóbson, segundo o blog apurou, já estava sendo alertado pelos jogadores mais experientes do time, de que seu comportamento não estava sendo adequado e que privilégios não seriam abertos para nenhum atleta do elenco.

A decisão da diretoria de afastar Jóbson do jogo contra o Santos no último dia 20, não foi por causa da discussão do jogador com o meia Carlos Alberto e muito menos, como foi divulgado, porque Jóbson estaria dividindo o grupo.

Na véspera da partida contra o Santos, dia 21, Jóbson foi flagrado numa festa na praia de Ipitanga, no Vilage Bahia Tropical. O jogador chegou a concentração atrasado, muito além do horário combinado, cheirando a bebida e deixou os líderes do time, Carlos Alberto e Ricardinho, chateados.

Imediatamente, apoiados pela maioria do elenco, os dois pediram que Rene Simões usasse o bom senso e afastasse o jogador do jogo diante do Santos.

‘Eu quero ver deixarem o menino jogar, mas, para isso, o menino terá que virar homem’.

A frase teria sido dita dentro da concentração do Bahia por um dos jogadores envolvidos e irritados com os constantes atos de indisciplina de Jóbson.



Monday, August 15, 2011

SER PAI

Neste domingo, admirava meu filho. Vi seus dedos ágeis e rápidos tocando ao piano uma música difícil que nunca ousei tentar. Contemplei seu desenho mais recente, que eu jamais seria capaz de fazer. Lembrei-me de suas frases de efeito, tão bem humoradas. De sua incrível habilidade no computador, digitando em inglês com os dez dedos sem nunca ter feito um “curso de datilografia”....

Comovi-me ao rememorar tantas atitudes suas que revelaram um coração bondoso e solidário. Pensei nas noites que ele passou em claro para terminar um livro pelo qual se apaixonara. Recordei tantas outras coisas... Pensei inclusive em suas fraquezas, lacunas e falhas, que me dão a oportunidade de ajudá-lo.

E concluí que, ainda que eu nada possuísse, nada tivesse feito e não fosse ninguém, minha vida já teria valido a pena.

(Acima, o desenho, feito em nanquim)


Friday, March 18, 2011

Foto trocada

Troquei de foto. Pus uma atual. Entre a antiga e esta, vários anos a mais, algumas rugas, menos cabelos (e agora com duas cores), muitos desejos alcançados, sonhos realizados, grandes alegrias, algumas tristezas, enormes mudanças. Continua a mesma sede de fazer muito mais, experimentar sempre e nunca morrer enquanto estiver vivo - sim, pois há gente que morre antes de fechar os olhos pela última vez.

Sunday, February 06, 2011

O “mistério” de Berlusconi

Se você é homem, responda sinceramente:

1) Gostaria de ser muito rico?

2) Gostaria de ser poderoso - por exemplo, mandatário máximo de um país importante?

3) Gostaria de ser dono de um dos melhores times de futebol do mundo?

4) Gostaria de ser dono de uma influente rede de comunicação?

5) Gostaria de ter as mulheres que desejasse?

Uma pesquisa recente de intenção de votos realizada na Itália indicou fácil reeleição de Silvio Berlusconi como primeiro-ministro. A Gazeta do Povo publicou nota a respeito, concluída com a frase: “Difícil é explicar a preferência italiana ao resto do mundo”.

Será mesmo “difícil” explicar? Será que os homens italianos vêem no primeiro-ministro alguém desprezível ou um modelo de tudo que desejam para si?

Não estou fazendo um julgamento ético, apenas especulando sobre o que não parece nada difícil de esclarecer.

Thursday, February 03, 2011

Foto da tribo “isolada”

Diversos veículos reproduziram uma fotografia da AFP (clique aqui para vê-la), divulgada como sendo de uma tribo de índios isolados na fronteira do Brasil com o Peru. Aparecem na foto cinco índios olhando para o alto, um deles apontando o avião de onde foi tirada a foto.

Olhando-se a fotografia, percebe-se que a criança no centro tem em mãos um enorme facão. Bem, talvez uma tribo “isolada” não seja exatamente aquela que nunca teve contato com o homem branco. Mas não é o que o leitor não especializado em questões indígenas vai pensar, obviamente. Todo o significado da divulgação da foto como algo inusitado deve-se à ideia de que a tribo não teve contato com o homem branco.

Provavelmente, trata-se de um erro jornalístico na divulgação da imagem: o leitor é levado a pensar que se trata de uma tribo sem contato com os brancos, embora essa não seja a verdade. Ou então o objeto tão parecido com o facão é outra coisa, o que também demanda esclarecimento.

Wednesday, February 02, 2011

Escorregões na língua...

Título de abertura da p. 13 da Gazeta do Povo, caderno Vida Pública, ontem, 1º/02/2011:

Mesmo após escândalos, 47,8%
não lembram em quem votou

Trechos do texto “Um rosto na multidão”, de Carlos Heitor Cony, ótimo cronista, escritor consagrado e membro da Academia Brasileira de Letras (Gazeta do Povo, p. 10, caderno Vida e Cidadania, 1º/02/2011):

“...ele dava a impressão de buscar câmeras e holofotes onde houvessem câmeras e holofotes.”

“...Lula dava a impressão de estar dizendo para todos: ‘Veja aonde cheguei!’”

Trecho da matéria “Atlético encara ‘panela de pressão’ na Arena” (Gazeta do Povo, 30/01/2011, p. 4 do caderno de Esportes):

“O volante Fransérgio [...] começou o ano renegado ao ‘time C’ do Atlético...”

Tuesday, February 01, 2011

“Dossiê Battisti”: o erro fatal

A Gazeta do Povo encerrou a série de reportagens do “Dossiê Battisti” escritas na Itália. E na edição de 23 de janeiro ficam desvelados os erros da publicação no ponto de partida. O texto “A ‘culpa’ dos franceses” indica o que está na cabeça da repórter: existe um “lado certo” e um “lado errado”, e Battisti está do lado errado. Quem define qual o lado “certo” e qual o “errado”? A divisão maniqueísta é dada pela visão prévia do jornal, que já no ponto de partida da série de reportagens trata Battisti como criminoso comum, antes de qualquer apuração - posição prévia que influencia toda a cobertura.

Ao menos, desta vez, aparece algum contrapeso. A matéria cita intelectuais franceses que defendem a inocência de Battisti e uma historiadora que alega que as assinaturas de Battisti nas procurações ao advogado que o defendeu ante a justiça italiana eram falsificadas.

A edição dá voz também a uma das advogadas de defesa de Battisti no Brasil, sob o título “Reação da Itália mostra que Lula estava certo, diz defesa”. E também ouve Arrigo Cavallina, identificado como “um dos idealizadores do PAC [o movimento Proletários Armados pelo Comunismo, do qual Battisti fazia parte] e espécie de ‘mentor’ de Cesare Battisti”. Um trecho: “Cavallina diz que a mídia e o governo italiano exageram ao falar do caso, já que há outros italianos condenados que também não foram extraditados pela França.”

Entretanto, o mais curioso, o indicador do erro fatal, é o “Depoimento” da repórter enviada à Itália. A jornalista acredita que Battisti é criminoso porque, na Itália, o vulgo assim pensa. “Será que um país inteiro está errado e a decisão de um presidente - que já virou ex - é que está certa?” - pergunta ela, encerrando o texto. Incrível. Antes de tudo, porque ela ficou uma semana em algumas poucas cidades da Itália - algo absolutamente insuficiente para ter um panorama do pensamento dominante no país todo. Mas, pior, por tomar como verdade absoluta a opinião da maioria.

Se a mesma jornalista fosse enviada ao Irã, certamente voltaria qualificando Sakineh Ashtiani de adúltera, criminosa, assassina. Afinal, a quase unanimidade das autoridades e do povo iraniano assim pensa. E se fosse à China ou à Coreia do Norte, voltaria tecendo loas às ditaduras que lá imperam, pois nada ouviria contra. Ou não, nesse caso, já que, dada a linha editorial do periódico, provavelmente já partisse de uma posição previamente tomada...

Este é o erro: não se faz bom jornalismo a partir de uma posição prévia que se busca apenas confirmar, nem com base na opinião do vulgo. B0m jornalismo é feito com apuração e apresentação de fatos e dados, bem como da palavra de fontes qualificadas, como especialistas tanto quanto possível neutros em relação ao caso que se apura. Se em março de 1994 a Gazeta tivesse feito um “Dossiê Escola Base” com o mesmo espírito, teria condenado previamente os proprietários da escola - naquela época, “o país todo” tinha certeza de que eles eram culpados... Na deontologia jornalística, não cabe o jornalista pautar-se pela opinião da maioria. Por vezes, é preciso ir contra um país inteiro. Não é a visão da maioria que indica o que é “verdade” ou “certo”.

Repito: não defendo Battisti, nem tenho posição formada quanto à extradição (tema tão complexo que dividiu o STF). Mas defendo, sim, um jornalismo de qualidade (o que, diga-se, não é raridade na Gazeta do Povo, um jornal realmente bom no panorama do jornalismo brasileiro).

Monday, January 24, 2011

Tudo é novidade?

Nas escolas de Jornalismo, os estudantes aprendem que uma matéria ou reportagem precisa ter um “gancho”. No jargão jornalístico, “gancho” é aquilo que justifica a publicação de uma matéria, a oportunidade de publicá-la. Fala-se em “gancho” no jornalismo diário. Qual o sentido, por exemplo, de se publicar num diário uma matéria sobre a história da cerveja? Pode ser uma matéria interessante, bem escrita, mas para o leitor de um jornal que quer saber as notícias do dia, ela não tem sentido.

Claro que isso não é regra geral para cadernos especiais ou publicações semanais. Um caderno de gastronomia poderia tratar da história da cerveja em qualquer tempo - o gancho, nesse caso, é temático, ligado à proposta do caderno. Uma revista mensal sobre automóveis antigos poderia fazer uma reportagem especial sobre os carros mais raros em mãos de colecionadores brasileiros - em qualquer edição, sem necessidade de outro “gancho” que o tema da revista.

Faço esses comentários prévios para manifestar minha surpresa ante uma matéria de página inteira publicada no caderno Vida e Cidadania da Gazeta do Povo de 22 de janeiro de 2011 sob o título “Um novo olhar sobre a Idade Média”. O que justifica a publicação desse texto? Não consegui perceber. Pensei que tratasse do lançamento de um livro sobre o tema, mas não, não havia nada disso na matéria.

Bem, isso também não é assim tão grave. Os jornais estão, com o perdão do neologismo, se “revistizando”. As edições dominicais dos grandes diários de há muito se assemelham, em grande parte de suas páginas, a uma revista semanal. Mais recentemente, com a concorrência da internet e seu imediatismo, os diários passaram a publicar mais textos com “estilo de revista”. De qualquer maneira, caberia ao autor indicar ao leitor a razão da publicação do texto.

Entretanto, isso não é o que mais chama a atenção na página em questão, mas o seu conteúdo. Esse “novo olhar”, na verdade, é muito, muito velho. Há pelo menos 30 anos leio livros com conteúdo revisionista em relação à Idade Média. Na Europa, a “revisão” é muito anterior. Realmente, não há como apresentar o fato como algo novo. Se fosse mesmo novo, teria um “gancho” na atualidade, que a reportagem não apresenta.

A impressão que tenho lendo certos textos nos jornais de hoje, cheios de gente jovem, é que para essa juventude (como é natural) tudo é novidade, como o caso do cinema fechado há “distantes” 16 anos (veja o post anterior “Coisa de inexperiência”). Parecem adolescentes escrevendo para adolescentes. Será mesmo esse o público dos jornais impressos de hoje?

Jornalistas precisam escrever corretamente

Não sou um “purista” da língua, nem um “caçador de erros”. Mas acredito que os jornalistas precisam, por dever de ofício, conhecer bem as regras do português formal. E escrever dentro dessas regras, o que indica domínio do idioma pátrio, qualidade essencial para um bom jornalista.

Por isso, não me agrada encontrar “erros” nas matérias jornalísticas, especialmente aqueles que se repetem e os que indicam o empobrecimento da língua. Já comentei aqui a triste morte do “cujo”, pronome que quase não se utiliza mais, embora ele seja insubstituível em determinadas construções textuais.

Tenho reparado também uma confusão reiterada quanto às palavras “sobre” e “sob”: parece que “sob” está sendo sufocado pelo “sobre”, que o vem substituindo irregularmente. É o caso, por exemplo, da frase: “A CBF cobra cerca de R$ 22 por árbitro em cada partida disputada sobre sua tutela.” (Gazeta do Povo, 23 jan. 2011, Esportes, p. 2, coluna “Intervalo”).

Também me incomodam os frequentes deslizes na concordância verbal, como neste exemplo: “Daí, bastou mais cinco minutos para o camisa 9 pegar a bola...” (mesmas edição e página, matéria “Lucas comanda virada em reestréia na Arena”.

Outra confusão comum diz respeito ao uso da vírgula em orações explicativas ou restritivas. Veja-se este caso: “De acordo com o estudante do curso de Gravura, Rodolfo Lucchin, 23 anos, a intenção dos estudantes não era prejudicar a instituição...” (Gazeta do Povo, 23 jan. 2011, Caderno G, p. 1, “Quase abaixo de zero”). Como está, a frase indica que o curso de Gravura tem um único estudante, Rodolfo Lucchin. O correto seria: “...o estudante do curso de Gravura Rodolfo Lucchin, de 23 anos...” (o “de” antes de “23 anos” é outro detalhe: estava faltando, embora essa construção seja comum em jornais de hoje).

Quanto ao emprego do acento grave indicativo de crase, já cansei de comentar. Não entendo qual a dificuldade de tantos jornalistas com essa questão básica da língua portuguesa. Crase é o encontro de dois “as”, e pronto – o que foge disso é exceção e raridade. Como podem fazer tanta confusão? É só bater o olho numa página de jornal para encontrar os frequentes erros de crase – como fiz agora, vendo a expressão “à reboque” (sic) numa página da Gazeta do Povo (22 jan. 2011, Vida e Cidadania, p. 10, Box “Saiba mais” da matéria “Um novo olhar sobre a Idade Média” – matéria, aliás, que merecerá comentário em outro post).

Se há ou não deficiência no ensino e/ou no aprendizado da língua portuguesa, não importa: os jornais deveriam estar atentos ao correto uso do idioma escrito e alertar e corrigir seus jornalistas para que deslizes desse tipo tornem-se cada vez mais raros.

Thursday, January 20, 2011

Jornal endossa intenção da Prefeitura como fato

De novo, a Gazeta do Povo apresentou um título em que a intenção dos governantes é tomada como fato. Foi ontem, na matéria: “Em Curitiba, ocupações cairão 86% em 5 anos”. O título é palavra do jornal e afirma taxativamente que as ocupações cairão drástica e rapidamente.

O texto da matéria, entretanto, informa: “Em cinco anos, o número de pessoas vivendo em áreas de risco em Curitiba deverá ter uma redução de 86%, segundo a prefeitura”. Ou seja, o jornal toma como verdade (no título) o plano da prefeitura, dando todo crédito às informações do governo municipal.

Erro jornalístico ou posição política?

Wednesday, January 19, 2011

Charge de Benett



Em que pesem minhas críticas (sempre construtivas) à Gazeta do Povo, repito que a considero um ótimo jornal. É o que leio diariamente, com assinatura paga, tendo o prazer de encontrar matérias excelentes (muitas delas, para meu orgulho, de ex-alunos).

Uma das coisas de que mais gosto na Gazeta é o espetacular time de cartunistas, que está sem dúvida entre os melhores do Brasil, com destaque para Tiago Recchia e Benett, meus favoritos.

A edição desta quarta-feira, 19/01, traz uma charge simplesmente genial de Benett. Ela ilustra um texto traduzido de The New York Times, “EUA retomam debate atômico”. É incrível como Benett consegue resumir em um simples desenho (com o humor característico de uma charge) todo o drama em torno do assunto da reportagem, indicado no subtítulo: “Região com 2 mil habitantes discute o impacto econômico positivo de uma nova usina, mas teme possíveis danos ambientais”.

Reproduzo aqui a imagem, com os devidos créditos e elogios.




Anida o “Dossiê Battisti” na Gazeta do Povo

Ontem (terça-feira, 18/01), a Gazeta do Povo deu continuidade à série de reportagens que intituou “Dossiê Battisti”. Continuou na mesma linha: uma matéria de página inteira tendo como fontes principais parentes de supostas vítimas de Battisti, reforçada por um editorial que não deixa margem de dúvida quanto à posição prévia do jornal contra Battisti. O título da matéria já indica que o jornal tomo como fato comprovado que Battisti matou civis: “Vítimas civis de Battisti foram mortas por reagir a roubos”. O curioso é que a própria reportagem relata que os processos contra Battisti parecem não ter sido tão corretos: ele foi condendo por dois assassinatos simultâneos ocorridos em cidades diferentes, distantes 260 quilômetros.

Hoje, afinal, apareceu uma matéria em que foi ouvido o outro lado: parentes de Battisti, que, logicamente, o defenderam. Obviamente, a palavra de parentes do acusado tem tanto valor quanto à dos parentes das vítimas, já que a repórter não recorre a outras fontes (por exemplo, documentos e especialistas neutros). Mas o jornal cuida para que elas não tenham o mesmo peso.
Uma das técnicas jornalística empregadas para dar mais peso a um lado ou outro é a edição - recurso que os jornais utilizam para favorecer o lado que escolheram. Isso fica muito claro nos títulos das matérias. Se a primeira matéria tinha como título, entre aspas, a declaração de um familiar de uma das vítimas (“Um delinquente da pior espécie”), a matéria com a versão dos parentes de Battisti tem por título: “Uma família contra um país”. O contraste dos títulos já revela a parcialidade do veículo.

Ademais, embora ouça “o outro lado”, o texto da matéria procura desqualificar os depoimentos pró-Battisti. Além do título, isso está em alguns trechos do texto, como este: “Eles estão contra um país inteiro. A família de Cesare Battisti, com o apoio de um círculo restrito de amigos e conhecidos, defende-o há 30 anos. E continua fazendo o mesmo agora.”

A matéria usa outro recurso pouco recomendável jornalisticamente para desqualificar os depoimentos favoráveis a Battisti: as generalizações, feitas sem qualquer dado comprobatório. Por exemplo: “...o clamor da opinião pública italiana, amplamente favorável à extradição de Battisti...” e “Para a maioria dos italianos de hoje, esses grupos apenas impunham o terror e queriam derrubar um governo eleito democraticamente”.

Como um jornalista pode saber exatamente o que pensa “a maioria dos italianos de hoje”? Será que a repórter é vidente? Nenhuma pesquisa de opinião é citada. Do mesmo modo, poder-se-ia afirmar que a grande maioria dos brasileiros de hoje é contrária à extradição de Battisti. Isso não é jornalismo - e estou certo de que os professores de jornalismo (eu entre eles) alertam os alunos quanto a isso. Não se pode generalizar sem dados comprobatórios.

Numa segunda retranca (matéria conexa, na mesma página), assinada pela agência Estado, informa-se que o Senado italiano aprovou por unanimidade moção pedindo que Berlusconi não meça esforços pela extradição de Battisti. Uma pérola do texto: “O ato, de caráter simbólico, mostra o grau de unidade da opinião pública italiana em torno do tema”. É para rir? Então, se os nossos 81 senadores brasileiros aprovarem uma moção por unanimidade, sobre qualquer tema, poderíamos deduzir que eles estariam assim indicando a unidade da opinião pública brasileira? Só rindo, mesmo.

Os senadores italianos também cometem o erro da generalização, explicitamente, ao afirmarem, na moção aprovada, que a opinião pública italiana “sem exceção, está surpresa e indignada com a recusa da extradição”. A opinião pública, sem exceção! Talvez os defensores de Battisti não façam parte da “opinião pública”... Parece que os políticos italianos são tão oportunistas quanto os de outros lugares que bem conhecemos...

Repito: talvez Battisti seja mesmo um assassino comum. Mas não é isso que está em jogo. É a qualidade do jornalismo que escolhe previamente um lado. Se não houvesse controvérsias fortes quanto ao caso, por que o STF teria recomendado a extradição por uma margem tão apertada? O resultado da votação foi 4x3, o que indica que a questão não é assim tão simples.

Mas a mídia precisa de culpados. O filme é antigo. Os donos da Escola Base, a família Nardoni e tantos outros são exemplos claros de que não importa apurar dados concretos e informar com honestidade, isenção e imparcialidade, dando igual destaque a todos os lados envolvidos. O importante é achar um culpado e saciar a sede de sangue de leitores e telespectadores. Assim, a mídia cumpre uma função simbólica de pacificação social, na medida em que a opinião pública pode sentir que, havendo um crime, o “culpado” logo será encontrado e condenado.

Monday, January 17, 2011

Crítica de mídia

Minhas críticas à edição de hoje da Gazeta do Povo serão voltadas mais ao conteúdo do que à forma. Antes, devo louvar a atitude do principal jornal paranaense de enviar jornalistas a locais distantes para fazer coberturas especiais, como é o caso do Haiti (para onde foi a repórter Helena Carnieri), da região serrana do Rio de Janeiro afetada pelas chuvas (Bruna Maestri Walter e Daniel Castellano - este, fotógrafo) e Itália (Rosana Félix, em busca de informações sobre o caso Battisti).

A primeira crítica vai para a máteria “Um delinquente da pior espécie”, sobre o caso Battisti. A jornalista que foi à Itália usou como fontes, basicamente, parentes das vítimas supostamente assassinadas por Battisti. É óbvio que essas fontes tem toda pré-disposição para condená-lo. Qualquer estudante de Jornalismo - e provavelmente mesmo a grande maioria dos leitores de jornal - sabe que um princípio basilar do bom jornalismo é ouvir sempre todas as partes envolvidas. Não foi o que fez a repórter da Gazeta. A matéria é totalmente tendenciosa, pois ouve apenas fontes obviamente contrárias a Battisti. O próprio título, uma frase entre aspas, já indica a parcialidade editorial (aliás, previsível no caso de um jornal conservador como a Gazeta, cujos proprietários são ligados ao movimento Opus Dei).

Se a repórter quisesse fazer uma matéria parcial, mas puxando a brasa para outra sardinha, poderia ter ouvido apenas próceres da esquerda e conseguiria facilmente um título como: “Ele foi um herói da luta contra a opressão”.

Note-se que os próprios entrevistados contam que os nomes das vítimas frequentaram os noticiários como acusados de torturarem prisioneiros de esquerda. Mas, é claro, os parentes dizem que era mentira. Uma das “provas” é o relato do irmão de uma das vítimas, que conta que a família perguntou se as acusações tinham fundamento, e o acusado respondeu que não. Bela “prova”, não?

Não tenho opinião formada quanto ao caso Battisti, pois não conheço seus detalhes. Mas tenho opinião muito bem estabelecida quanto ao mau jornalismo, aquele que não busca relatar honestamente um fato, mas parte de uma posição pré-estabelecida para procurar fontes que confirmem essa posição. A honestidade jornalística exigiria que a repórter ouvisse o outro lado, o que ela não fez. Tomara que ela se redima e publique em seguida uma matéria com a versão omitida.

O mesmo erro, com gravidade bem menor, é cometido na matéria “3 paranaenses estão entre os 10 deputados com mais faltas” (de passagem: o título desrespeita duas vezes a convenção de redação jornalística - e também norma da ABNT - que estabelece a redação por extenso de números até dez).

Os três deputados mais faltosos não foram ouvidos. Tudo bem, trata-se de um fato: a relação de faltas é algo objetivo, matemático, que não exige explicações. Mas, uma vez que se trata de uma denúncia envolvendo os políticos, seria de bom tom dar-lhes a palavra e ouvir deles uma explicação.

Fugindo do assunto: a matéria cita o site Congresso em Foco, segundo o qual “as justificativas mais frequentes para as faltas são as viagens em missão oficial, licenças por questões médicas ou para tratar de interesses pessoais”. Só num país pouco sério mesmo uma justificativa aceitável para faltar ao trabalho é “tratar de interesses pessoais”. Dá para imaginar se fosse assim na iniciativa privada?

Friday, January 14, 2011

Mais da Gazeta...

Já que sou mesmo um “chato”, para não perder o hábito, vou fazer mais críticas a um texto da Gazeta do Povo. Desta vez é a matéria “Tricolor versão 2011 convence em amistoso”, publicada no Caderno de Esportes de 13 de janeiro de 2011. Trata da vitória do Paraná (2x0) contra o Cerro Porteño em amistoso disputado em Curitiba.

Primeiro trecho: “Após o segundo gol, a partida esfriou e ficou centralizada no meio de campo”. Centralizada no meio é bom, né? Por que eles não “centralizaram” nas laterais?

Segundo trecho: “...Maicon puxou contra-ataque pelo meio e abriu na esquerda para Cristian arrematar a gol, mas Valinoti desviou para tiro de fundo”. Valinoti é o goleiro do Cerro. O que será “tiro de fundo”? Conheço o “tiro de meta”, quando a bola chutada pelo time que ataca sai pela linha de fundo, e “tiro de canto”, o escanteio, quando alguém do time defensor coloca a bola para fora pela linha de fundo da defesa. Se o goleiro desviou pela linha de fundo, deve ter sido escanteio (ou tiro de canto) - e não “tiro de fundo”. Se alguém sabe o que é isso, explique, por favor!

“Bombas” cinematográficas

Na semana passada, fui traído por duas “bombas” cinematográficas. Na TV a cabo, assisti ao filme “Os esquecidos”, atraído pela sinopse (mãe acredita que teve um filho que morreu aos nove anos, mas seu marido e seu analista dizem que foi tudo imaginação dela) e pelo bom elenco (Juliane Moore era a protagonista). Um filme horroroso! Vai muito bem até que se descobre a razão do sumiço do filho: abdução por alienígenas para fins de pesquisa...

Na Cinemateca, fui ver “Tônica dominante”, filme nacional, exibido dentro da programação da Oficina de Música. O filme tem 80 minutos, cheguei uns três minutos atrasado e aguentei assistir a menos de 45 minutos, dos quais devo ter cochilado uns 15. Outra “bomba”...

Wednesday, January 12, 2011

Coisa de inexperiência...

Não consigo resistir a comentar um texto publicado na capa do Caderno G da Gazeta do Povo de terça-feira, 11 de janeiro de 2011, sob o título “Coisa de filme”. Trata-se de um texto curto sobre a única sala de cinema de Paranaguá, recentemente reinaugurada - a sala havia sido destruída por um incêndio no ano passado.

O texto está cheio de informações absolutamente irrelevantes ou óbvias. Vejamos alguns trechos...

“Faixas e uma televisão enorme anunciam os filmes em cartaz”. Ou seja, é mesmo um cinema, igualzinho a todos os outros.

“Uma moça simpática no caixa descreve os filmes disponíveis e pontua os horários de exibição”. Nossa! Que bom saber que a funcionária cumpre suas funções básicas!

“A sala tem um clima confortável e dá para perceber a expectativa de parte do público para o filme que vai começar”. Ainda bem que a sala tem um clima confortável. Deve ter condicionador de ar, como todos os cinemas atuais. Mas por que será que apenas parte do público tem expectativa em relação ao filme que vai começar? Será que a outra parte vai ao cinema sem nenhuma expectativa? Ou esconde bem sua expectativa, de modo a que a repórter não perceba?

“As poltronas reclináveis são confortáveis...” (a autora gosta dessa palavra) e o cinema tem pipoca! Que bom, né? Tão diferente! “...e parecem ideais para se encarar produções longas, que parecem estar na moda hoje em dia.” E parece que ela parece gostar da palavra parece... Parece também que ela não sabe bem exatamente o que está na moda.

A jornalista esclarece que o incêndio que destruiu o cinema “marcou a população da cidade” (hum... que generalização...) e que “Os jovens enfrentaram uma espécie de luto por alguns meses.” Que jovens? Todos os jovens da cidade? Uma espécie de luto? Como é possível apurar essa informação generalizante?

Depois, o texto trata da história do cinema em Paranaguá, lembrando que o Cine Teatro Santa Helena foi inaugurado em 1927 e funcionou até 1994. E arremata dizendo que “as lembranças da época ficaram somente na memória dos moradores mais velhos”! Para se lembrar de um cinema que fechou em 1994 é preciso ser um “morador mais velho”? Mais velho do que quem, cara-pálida? Uns 26 anos, talvez? Qual a idade da autora do texto? Dezesseis, para considerar gente de 26 anos “moradores mais velhos”?

A matéria traz também a fala de um “diretor” do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, identicado apenas como “José Maria”. É regra básica de jornalismo informar o sobrenome da pessoa e o cargo. A internet esclarece facilmente o que a repórter sonegou: José Maria Farias de Freitas é 1º tesoureiro e diretor setorial do Departamento de História do IHGP.

Thursday, January 06, 2011

O jornal que acredita nos governantes!

Um problema recorrente nos jornais é a elaboração inadequada dos títulos. O título de uma matéria deve ser a síntese perfeita do conteúdo principal da notícia. Embora pareça muito simples, não é raro haver deslizes, mesmo em grandes jornais.

Na edição de domingo, 2 de janeiro de 2011, da Gazeta do Povo, o mesmo erro é cometido duas vezes. Vejamos a manchete da capa, relativa à posse de Dilma Rousseff: “Combate à miséria será prioridade de Dilma”. E o título principal da página 12 do caderno Vida Pública, tratando da posse de Beto Richa como governador do Paraná: “Educação será maior prioridade no Paraná”.

O leitor é capaz de identificar o problema? Bem, a dica está no título deste post. O jornal afirma nos títulos quais serão as prioridades dos governos federal e estadual do Paraná. Ou seja, assume como verdade o que foi dito nos discursos de posse.

O título é redigido pelo jornal, é palavra do jornal. Portanto, é a Gazeta do Povo quem está afirmando taxativamente quais serão as prioridades dos governos. Ou seja, o jornal deu total crédito aos discursos de posse, em vez de indicar ao leitor que os políticos em foco é que disseram isso.

A solução é o jornal afirmar que as prioridades foram indicadas nos discursos - e não tomar os discursos como verdade. Os títulos poderiam ser, por exemplo: “Richa define educação como prioridade” e “Dilma afirma que combaterá a miséria”. Desse modo, o jornal apenas relata o que os empossados disseram, sem endossar o discurso deles.

O problema é grave, mas, infelizmente, repito: não é incomum. Pode ser “apenas” um erro jornalístico, como pode ser, também, a indicação de uma linha ideológica do jornal. Que cada leitor analise e tire suas conclusões...