Friday, September 24, 2010

Matemática e política na 7ª série

Aula de Matemática na 7ª série. A professora pedira aos alunos que levassem canudos e barbantes para montarem triângulos, tema de estudo do dia. Percebendo, no início da aula, que alguns alunos não havim levado o material, logo dá ordem para que esses ponham as agendas sobre a carteira - sinal de que levariam o ameaçador carimbo de “tarefa não cumprida”.

Um aluno interfere. “Professora,” diz ele, “esta não é apenas uma aula de Matemática, mas também de Política. Veja só: quem não tem o material será fichado. É o que acontece com o pobre, aquele que não tem algo. É considerado culpado e punido.” Observando que alguns alunos tinham muitos canudos (um colega chegara a levar um pacote com 200 unidades), questiona: “Por que não podemos dividir os canudos? Por que aqueles que têm canudos sobrando não podem dar alguns para os que não têm? Isso não é uma imagem perfeita do capitalismo?” E termina o discurso ironicamente, com uma frase de efeito: “E contra burguês, vote 16!”

Atônita, a professora não carimba as agendas. Permite que uns dêem seus canudos excedentes aos outros. E todos puderam montar e estudar triângulos, aprendendo nesse dia mais do que Matemática.

O fato realmente aconteceu. E o autor do discurso, para meu orgulho de pai coruja, foi meu filho de 13 anos...

Tuesday, September 21, 2010

Erros em um página

Depois de um “longo e tenebroso inverno”, volto a postar...

Peguei hoje (21/09), a esmo, uma página da Gazeta do Povo para analisar quantos erros poderiam ser encontrados em uma única página. Trata-se da página 4 (contracapa) do caderno de esportes.

A página tem quatro textos: “Técnico tricolor alcança marca histórica”, “Hora de definir a meta na Vila”, “Coritiba pega o Brasiliense após recuperação dupla no Couto” e “Mistério tático no Alviverde”, que tratarei de textos 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Os textos podem ser acessados no site da Gazeta do Povo, clicando-se sobre os títulos. Ressalto, entretanto, que utilizei a página impressa, que, ao contrário da virtual, não pode ser corrigida.

Reproduzo abaixo trechos de cada matéria e, em seguida, após o asterisco, indico a correção e/ou faço algum comentário. Lá vai...

TEXTO 1
• Se em campo a estabilidade * Se em campo a instabilidade
• (2001/02 e 2008) * (2001-02 e 2008)
• Tanto você, quanto os jogadores vêm enfatizando * Tanto você quanto os jogadores vêm enfatizando

TEXTO 2
• com 32 dois pontos * com 32 pontos

TEXTO 3
• inflamação no púbis - mesma lesão que forçou a aposentadoria precoce do tenista Gustavo Kuerten * Guga se aposentou devido a uma lesão no quadril e não no púbis.
• quatro cirurgias a que foi obrigado a fazer * quatro cirurgias que foi obrigado a fazer
• Ano passado ele retornou a jogar * No ano passado, ele voltou a jogar
• Campeonato Catarinense desse ano, com 8 gols * Campeonato Catarinense deste ano, com oito gols
• jogar bem veio agora, no Coritiba * jogar bem, veio agora, no Coritiba
• Para mim esse jogo * Para mim, esse jogo
Primeiro porque fazia muito tempo * Primeiro, porque fazia muito tempo
• agradecer à diretoria do Coritiba, que mesmo depois de dois anos parados, enxergou em mim o perfil para o projeto do clube * agradecer à diretoria do Coritiba, que enxergou em mim, mesmo depois de dois anos parado, o perfil para o projeto do clube * Além da falta de uma vírgula e do “parados”, uma oração mal posicionada.

TEXTO 4
• não definiu que volta a usar * não definiu se volta a usar
• após 10 rodadas * após dez rodadas

Enfim, não quero apontar os erros como uma queixa, mas para constatar que a dinâmica de produção do jornalismo - ainda mais nos tempos de hoje, em que muitas vezes mais importa a velocidade com que a informação é transmitida do que a qualidade do seu conteúdo - torna frequentes esses erros.

As imprecisões ou falhas de redação, aliás, não são tão graves quanto as de informação, pois o “erro” de redação pode ser identificado facilmente pelo leitor (está “à disposição” dele), ao contrário do erro de informação: o jornalista goza de um contrato prévio de credibilidade, e o leitor raramente tem condições de conferir a informação. Aliás, pode ser que haja mais falhas de informação na página que me tenham passado despercebidas, pois é impossível conferir tudo que é publicado - mais uma razão para que se confie previamente no repórter, é esse o contrato tácito entre o leitor e o jornal.

Aliás, aproveito para reproduzir abaixo trechos uma interessante entrevista com Woody Allen publicada pelo New York Times e reproduzida em diversos veículos brasileiros (“Deus, velhice e fimar em Nova York”). Veja-se o comentário do cineasta sobre a mídia, destacado em itálico...

O senhor estava preparado para a tempestade midiática que causou ao escalar Carla Bruni-Sarkozy para seu próximo filme, Midnight in Paris?
Fiquei muito surpreso com o nível do jornalismo que se faz em relação a ela, que tem uma pequena participação no filme – um papel real, mas pequeno. Filmamos o primeiro dia e todos os jornais já diziam que ela tinha sido horrível, que tínhamos repetido a cena 32 vezes. Claro que não cheguei a fazer nem dez takes com ela. Aquele outro número mágico foi apenas invenção de alguém sentado na sua sala. Depois publicaram que o marido dela teria ido ao set e se zangado com ela. Ele apareceu lá uma vez, e ficou encantado. Sentiu que ela é uma atriz natural e não poderia ter ficado mais feliz.

Isso daria uma boa chamada para o cartaz do filme.
Por alguma razão, a imprensa queria dizer coisas ruins sobre ela. Não sei se tinham alguma coisa contra os Sarkozys, ou foi para vender mais jornais. Mas as invenções foram de uma selvageria, e tão completamente falsas, que eu perguntava a mim mesmo: “Será que é assim também com o Afeganistão, a economia e assuntos realmente importantes?” Essa é uma questão trivial. Mas estou enrolando pra responder à sua pergunta: não estava preparado para a repercussão que o filme teve na imprensa por causa de Madame Sarkozy.