Sunday, November 21, 2010

Notícia bombástica: o papa e o uso da camisinha!

O papa admitiu o uso “execpcional” do preservativo! Notícia bombástica que acabo de ver no UOL. A notícia informa que a afirmação de Bento XVI está num livro de entrevistas que será lançado em breve na Alemanha.

Se isso se confirmar, e se o papa ratificar que realmente pensa assim, o fato é importantíssimo. Embora a palavra do papa, de si, não possa ser tomada como a afirmação de uma posição oficial da Igreja, a aceitação do uso do preservativo abre uma imensa brecha no edifício da moral católica.

A Igreja Católica nunca admitiu o uso do preservativo porque contraria a essência doutrinária da moral católica. Defensora do Direito Natural, a Igreja sempre pregou que a finalidade precípua do sexo é a reprodução. Portanto, a prática sexual só é moralmente aceitável, na visão da doutrina católica, entre pessoas casadas e com a finalidade de reprodução.

Na visão católica, qualquer ato que fuja disso é contrário à natureza e, portanto, inaceitável. Daí a condenação, por exemplo, do sexo anal, da masturbação, da homossexualidade e do sexo oral, que têm por finalidade única o prazer, “desvirtuando-se” da finalidade natural do sexo. O catecismo católico, inclusive, classifica tais práticas como “pecados contra a natureza”, que, na definição do catecismo, “bradam aos céus e clamam a Deus por vingança”.

A palavra do papa, se confirmada, é um golpe como nunva visto na solidez desse edifício defendido com todas as forças pelo Vatiocano ao longo de muitos séculos. É esperar para ver!

* Em tempo: antes que eu terminasse este texto, voltei à notícia do UOL: ela já havia sido modificada, acrescida de declarações amenizadoras das palavras do papa. De qualquer modo, o que escrevi continua válido.

Por que não anular o Enem

Ante as acaloradas discussões em torno dos problemas surgidos durante a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), há alguns fatos que são incontestáveis. A partir dos fatos, entretanto, têm surgido opiniões muito diferentes que merecem análise. Vamos aos fatos: 1) alguns cadernos de prova do modelo amarelo apresentaram problemas; 2) o gabarito tinha os cabeçalhos das provas trocados; 3) em algumas salas, foi proibido o uso de lápis, borracha e relógio, enquanto em outras não; 4) apesar da proibição do uso de celulares, alguns candidatos comprovadamente conseguiram utilizar seus telefones móveis durante a aplicação da prova; 5) os cadernos de prova do segundo dia não tinham espaços suficientes para os cálculos necessários para a resolução de várias questões.

Com base nesses fatos, muitas vozes se levantaram pedindo a anulação do exame, o que inclusive levou a Justiça Federal do Ceará a ordenar liminarmente sua suspensão – liminar já derrubada. Não há, entretanto, razão para anulação do Enem. A juíza cearense considerou o Enem como um concurso público, mas, na verdade, o Exame Nacional do Ensino Médio tem outras características. Trata-se de um exame de avaliação do Ensino Médio que tem diversas finalidades. Os estudantes que fazem o Enem não são concorrentes diretos a determinado cargo ou vaga. São 3,5 milhões de pessoas que poderão fazer diferentes usos da nota do Enem. Essa nota tem o objetivo de dar a quem presta o exame um padrão nacional de avaliação quanto a seus conhecimentos relativos às disciplinas do Ensino Médio. Por isso, é um instrumento importantíssimo, e sua aplicação em nível nacional é um grande avanço na avaliação do ensino no Brasil.

Uma das funções do exame é conceder o certificado de conclusão do Ensino Médio a qualquer pessoa de mais de 18 anos que consiga uma nota mínima previamente definida – esse é o único caso em que se pode falar em “aprovação” de um candidato no Enem (a alegação da juíza que vetou a divulgação do gabarito era que isso poderia “acarretar acirrados ânimos entre os candidatos eventualmente aprovados”, embora a publicação do gabarito oficial não tenha grande efeito, pois inúmeros cursos fazer a correção da prova e divulgam os resultados esperados, havendo com poucas divergências entre esses diversos gabaritos não oficiais).

As características técnicas do exame o tornam confiável como avaliação de conhecimento. Com a nota obtida, o estudante que desejar poderá tentar ingresso em diversas instituições de ensino superior, públicas e privadas. Cada instituição define se e como vai utilizar a nota do Enem. Portanto, o exame em si não é uma competição de um candidato contra outro que busca a mesma vaga – o Enem apenas faz uma avaliação oficial dos conhecimentos do aluno em relação aos conteúdos do Ensino Médio. Essa avaliação é expressa numericamente por uma nota que poderá ser utilizada pelo estudante como comprovação de seu grau de conhecimento, para diversos efeitos.

Anular o Enem seria prejudicar os quase 3,5 milhões de estudantes que fizeram a prova sem enfrentar qualquer problema ou irregularidade. Aos que se sentiram prejudicados, deve ser garantido o direito de prestar um novo exame o quanto antes, assim como aos que fizeram o exame regularmente não pode ser negado o direito de receberem sua nota.

O Ministério da Educação estima em cerca de 2.000 o número de estudantes prejudicados pelos problemas no caderno de provas amarelo utilizado no sábado. Anular o exame acarretaria um prejuízo muito maior à quase totalidade dos candidatos que prestaram a prova sem problemas.
Quanto às falhas de orientação dos fiscais, cabe ao Ministério da Educação corrigi-las para os próximos exames, garantindo uma melhor preparação dos fiscais, o que é imprescindível ante a magnitude que tomou o Enem. Já os casos de violação às normas de segurança (como a proibição do uso de aparelhos eletrônicos) são caso de polícia – os fraudadores é que devem ser punidos e não os milhões de alunos que não cometeram qualquer irregularidade. Para isso, devem também os promotores do exame adotar normas mais rígidas de segurança na aplicação da prova.

Erros de impressão são praticamente inevitáveis em se tratando de tal quantidade de impressos. Para corrigir o problema, é preciso que, antes da prova, os fiscais orientem os alunos a conferirem os cadernos, providenciando a troca antes do início do exame. É assim que geralmente acontece nos exames vestibulares, havendo cadernos excedentes em todas as salas para a eventual necessidade de uma troca.

Portanto, houve, sim, falhas na aplicação do Enem, mas a pior solução seria punir a esmagadora maioria dos estudantes que não foram afetados por elas e empenharam-se para fazer uma boa prova durante as dez horas de esforço intelectual intenso e concentrado que o exame exige. Anular a prova seria penalizar quem não fez nada de errado. A solução justa dever ser possibilitar a quem foi prejudicado a participação numa nova prova. E aperfeiçoar o sistema de aplicação do exame, para que as falhas não se repitam, de modo que a lisura e a perfeição do Enem estejam em consonância com a enorme importância que ele tem hoje na avaliação do ensino no Brasil. O Enem é um instrumento democrático de avaliação, muito bem estruturado, que não pode ser descartado. Ao contrário, deve ser aperfeiçoado e valorizado cada vez mais.

Sunday, November 14, 2010

“Um erro emocional”

No dia em que o novo livro de Cristóvão Tezza chegou às livrarias, fui comprá-lo. E li-o imediatamente.

Como era de se esperar, um livro que mostra a maestria de Tezza.

Trata de um diálogo, um simples diálogo. As palavras trocadas caberiam em poucas páginas. Mas as frases são entremeadas de pensamentos, lembranças, temores, decisões e indecisões das duas pessoas que dialogam.

Não é um livro fácil de ler. Exige esforço do leitor. Mais uma vantagem da obra, portanto.

Ainda coloco “O filho eterno” no topo das produções de Tezza. Mas quem gosta da boa literatura brasileira não pode deixar de ler “Um erro emocional”.

Para rir... (?)

Gazeta do Povo de hoje: "Curitibano tenta façanha sob uma roda".

A matéria trata de um ciclista que pretende bater o recorde mundial de equilíbrio sobre uma roda só da biciclta. Quer entrar para o Guiness Book.

Dica para o pessoal da Gazeta: “sob” é “embaixo”; “sobre” é “em cima”.

Espero que a Gazeta não esmage o pobre ciclista debaixo de uma roda...

Thursday, November 04, 2010

Cinema no feriadão

Tomei um "porre" de cinema no feriadão. Vi seis filmes. Só um merece referência: o belo "Suprema felicidade", de Arnaldo Jabor.

Merecia melhor elenco e melhores atuações de vários atores (que contrastam com algumas participações ótimas). Mas é bonito, pela nostalgia. Deixa alguma coisa a povoar a alma, aquela espécie de tristeza agradável de quando se olha para o passado.

De passagem: já que a Sousa Cruz está entre os principais patrocinadores, é claro que os personagens fumam desbragadamente. É o mal disfarçado merchandising contemporâneo.

Monday, November 01, 2010

Ambiguidade

A Gazeta do Povo estimulou seus leitores a comentarem o pronunciamento do papa incentivando os sacerdotes a se pronunciarem nas eleições sobre os temas de interesse da Igreja. Na edição de domingo, 31/10, o jornal selecionou, para destacar, a seguinte mensagem de uma leitora identificada como Sandra Porto:

“Tenho muito carinho pelos padres e bispos, pois sou católica com muito orgulho. Mas é bom que eles falem, pois temos pessoas com pouca cultura que se deixam levar.”


Provavelmente, o trecho foi tirado de uma mensagem maior, pois ficou totalmente ambíguo. A não ser que a leitora tenha mesmo tanta dificuldade de se expressar.

Ela tem carinho pelos religiosos e acha que eles devem falar. Por que então o “mas”? Não há ideia de oposição que justifique o uso da conjunção adversativa.

Segue-se então o “pois”, introduzindo a razão pela qual ela acredita que os religiosos devem se pronunciar: há gente com pouca cultura que se deixa levar.

Duas possíveis interpretações: as pessoas de pouca cultura são facilmente influenciadas pelas vozes opostas à da Igreja, e por isso os padres e bispos precisam alertá-las. Outra: há pessoas de pouca cultura que dão ouvidos aos religiosos, deixam-se levar por eles, e os sacerdotes devem se aproveitar disso para influenciá-las.

Esta última, obviamente, não condiz com a primeira oração, na qual a leitora se afirma católica orgulhosa. Mesmo assim, o discurso revela o que a leitora não disse, mas que se depreende do discurso: os religiosos se aproveitam do poder que têm sobre as pessoas de pouca cultura para influenciar suas ideias.

De qualquer modo, a análise do discurso dessa mensagem desvela uma ideia que está na cabeça de muitas pessoas: o “povinho” não sabe votar, é facilmente influenciável, e é preciso que os “sábios” o orientem.

Por trás dessa noção, está a de que o “povo”, os pobres, não sabem votar e precisam ser levados pelo cabresto. Tema de um lapidar artigo publicado pela psicanalista Maria Rita Kehl no “Estadão” e que lhe custou a demissão (leia o artigo clicando aqui).

Até que enfim!

Finalmente, eleições terminadas! Foi difícil aguentar tanta baixaria, mentira e candidatos-sabonetes (produtos criados pelos marketeiros).
E a vida continua, com algumas coisas certamente melhorando, outras piorando, e as principais e mais importantes empurradas com a barriga, jogadas para debaixo do tapete, qualquer que seja o/a presidente/a...