“Tenho muito carinho pelos padres e bispos, pois sou católica com muito orgulho. Mas é bom que eles falem, pois temos pessoas com pouca cultura que se deixam levar.”
Provavelmente, o trecho foi tirado de uma mensagem maior, pois ficou totalmente ambíguo. A não ser que a leitora tenha mesmo tanta dificuldade de se expressar.
Ela tem carinho pelos religiosos e acha que eles devem falar. Por que então o “mas”? Não há ideia de oposição que justifique o uso da conjunção adversativa.
Segue-se então o “pois”, introduzindo a razão pela qual ela acredita que os religiosos devem se pronunciar: há gente com pouca cultura que se deixa levar.
Duas possíveis interpretações: as pessoas de pouca cultura são facilmente influenciadas pelas vozes opostas à da Igreja, e por isso os padres e bispos precisam alertá-las. Outra: há pessoas de pouca cultura que dão ouvidos aos religiosos, deixam-se levar por eles, e os sacerdotes devem se aproveitar disso para influenciá-las.
Esta última, obviamente, não condiz com a primeira oração, na qual a leitora se afirma católica orgulhosa. Mesmo assim, o discurso revela o que a leitora não disse, mas que se depreende do discurso: os religiosos se aproveitam do poder que têm sobre as pessoas de pouca cultura para influenciar suas ideias.
De qualquer modo, a análise do discurso dessa mensagem desvela uma ideia que está na cabeça de muitas pessoas: o “povinho” não sabe votar, é facilmente influenciável, e é preciso que os “sábios” o orientem.
Por trás dessa noção, está a de que o “povo”, os pobres, não sabem votar e precisam ser levados pelo cabresto. Tema de um lapidar artigo publicado pela psicanalista Maria Rita Kehl no “Estadão” e que lhe custou a demissão (leia o artigo clicando aqui).
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