Esta foi para mim a semana da nostalgia, das lembranças profundas... Três fatos:
1) Passei algumas vezes pela rua onde fica o terreno da “minha Branca de Neve”. Virou um prosaico estacionamento. Sempre que vejo aquele espaço vazio, sinto uma tristezinha nostálgica, aquela sensação de saudade de um mundo que se foi, de coisas que não existem mais...
2) Uma velha e grande casa onde morei por alguns anos está sendo demolida – na Rua Padre Agostinho, 274. Estava para alugar e, de repente, começou a ser posta abaixo. Apesar de fazer parte de um passado que me traz sensações totalmente contraditórias, tive um choque quando a vi despedaçada. Senti como se um pedaço da minha história estivesse sendo apagado. Passo diariamente diante dela e nunca deixei, um dia sequer, de desviar o olhar em sua direção. Ela estava lá, sempre, permanentemente de pé, como eu, minha vida, minha história.
Vieram-me lembranças... Foi-se a cozinha onde fiz pela primeira vez a carne assada ao molho de cerveja recheada com bacon, que ainda hoje faz sucesso quando repito a façanha culinária. Não existe mais o quarto onde eu demorava a dormir, ouvindo “Porto solidão” enquanto sonhava com uma vida diferente, temendo antecipadamente pelas incógnitas que ela me traria. Desapareceu a sala de paredes vermelhas onde eu me aquecia em frente à lareira, em longas horas de conversas noturnas animadas por um Benédictine ou um Chartreux. Um tapume substitui o muro que eu pulava à noite para ir encontrar, escondido, minha namorada (hoje esposa). E na derrubada daquelas paredes que me traziam tantas recordações, parece que eu vou também enfraquecendo.
“E eu era feliz? Não sei;/Fui-o outrora agora” (Fernando Pessoa).
3) Ao final de uma aula, sem pensar nem procurar palavras, despedi-me de uma aluna com uma expressão típica de meu falecido pai. Assim, sem mais... Imediatamente, tomou-me um sentimento profundo, profundíssimo de saudade extrema, a ponte de ser-me preciso segurar as lágrimas. Calei-me por alguns instantes, porque a voz não sairia. Nesses segundos densamente eternos, vieram-me em turbilhão lembranças impregnadas de doída saudade das duas pessoas falecidas cuja falta mais sinto: meu pai e meu irmão. Senti a dor pesada do fato sem solução, da situação perpetuamente resolvida, sem volta. A perda daquilo que tive pouco e devia ter tido mais...
Enfim, lembranças... O que é o passado que já se foi? Que temos a ver com o passado? Anos atrás, pensando nisso, fiz o poema que segue – e conclui esta mensagem.
SOMAMOS
Não somos mais
o que fomos,
mas somos só
o que fomos
(passado – matéria-prima indelével –
não desgruda de nós).
Somos mais:
somamos.
Friday, October 23, 2009
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3 comments:
é...
por esses passados às vezes não completados como queríamos é que preparo hoje o meu ontem de amanhã. Assim, não vou me recriminar por não ter vivido, feito, construído, doado o tanto que deveria, poderia ou gostaria.
Então o senhor pulava o muro pra ver a Yvana, que bonitinho! Deixa o Monsieur Antoine saber!
Amor, que lindo!!!
Adorei esse post!
Te amo.
Também sempre que passava por aquele número da Pe. Agostinho, olhava para aquela casa. Apesar de ter entrando só uma vez, fiquei espantada de não vê-la mais alí. Era uma casa grande, bonita, antiga.
Quanto ao terceiro ponto, são várias as vezes que ainda choro. O importante nesta vida é não ter remorsos. Chorar apenas pela saudade, pelo amor.
Noara
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