Vejam só a capa da Folha de S. Paulo de hoje, 28/11. A manchete é: "Índia ataca terroristas e solta reféns", com grande destaque, subtítulo e foto. Na metade de baixo da página, um texto sobre as enchentes em Santa Catarina: "SC não tem mapeamento de áreas de risco".
Será que o caso da Índia é mais importante que a situação em SC? Qualquer jornalista decentemente formado sabe da importância do valor-notícia proximidade. Mas não, pelo visto, os da "gloriosa" Folha (jornal, aliás, que - não por acaso - faz campanha pelo fim da obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão e que está entre os mais tendenciosos e parciais veículos da grande mídia brasileira. Não é "coincidência"...).
Por que casos como os de Eloá e Nardonis são tão aproveitados no sensacionalismo da grande mídia e a tragédia catarinense, que atinge milhares de pessoas de todas as classes sociais e é uma grande, grande desgraça, tão perto de nós, é tratada como tema secundário? Por quê?
Friday, November 28, 2008
Sunday, November 16, 2008
Mais
Gazeta do Povo de domingo, 16/11:
"Aumento da pena em um terço se a pessoa estiver no exercício de cargo ou função pública, tiver relações domésticas ou ter parentesco até o terceiro grau com a vítima."
"Em seguida, decidiu que o estado não teria competência para autorizar a oferta de um programa na modalidade semi-presencial, invalidando os diplomas, o que deu origem à toda a polêmica."
"Aumento da pena em um terço se a pessoa estiver no exercício de cargo ou função pública, tiver relações domésticas ou ter parentesco até o terceiro grau com a vítima."
"Em seguida, decidiu que o estado não teria competência para autorizar a oferta de um programa na modalidade semi-presencial, invalidando os diplomas, o que deu origem à toda a polêmica."
Saturday, November 08, 2008
Erros
1) "Marta é barrada em obra, e chora"
2) "ASSESSÓRIOS"
3) "Tributo à Alice Yamamura"
4) "Em todos os pedidos o TJ cassou a determinação da Justiça, concedendo o habeas corpus à concessionária de telefonia"
Todos os trechos acima foram extraídos do jornal Gazeta do Povo.
Que tal?
2) "ASSESSÓRIOS"
3) "Tributo à Alice Yamamura"
4) "Em todos os pedidos o TJ cassou a determinação da Justiça, concedendo o habeas corpus à concessionária de telefonia"
Todos os trechos acima foram extraídos do jornal Gazeta do Povo.
Que tal?
Tuesday, October 14, 2008
A morte do cujo
O cujo está morrendo. Para os apreciadores da Língua Portuguesa, um motivo de tristeza. Está caminhando gradativamente rumo à extinção o uso dessa palavrinha cuja aplicação é tão útil e específica. Todo mundo já deve ter lido ou ouvido frases mais ou menos assim: "... uma pessoa de quem ela não sabia o nome..." no lugar de "... uma pessoa cujo nome ela não sabia ...".
No dia-a-dia da mídia, o assassinato do cujo é evidente. Um exemplo extraído das páginas de um diário: "... a eficiência do panfleteiro é medida pelo número de ligações para o telefone do qual é responsável pela divulgação." Não ficaria bem melhor com o uso do pronome moribundo? Vejamos: "... a eficiência do panfleteiro é medida pelo número de ligações para o telefone por cuja divulgação é responsável." É outra sonoridade!
No dia-a-dia da mídia, o assassinato do cujo é evidente. Um exemplo extraído das páginas de um diário: "... a eficiência do panfleteiro é medida pelo número de ligações para o telefone do qual é responsável pela divulgação." Não ficaria bem melhor com o uso do pronome moribundo? Vejamos: "... a eficiência do panfleteiro é medida pelo número de ligações para o telefone por cuja divulgação é responsável." É outra sonoridade!
Sunday, October 12, 2008
Rádio ao vivo
De todas as muitas coisas que fiz como jornalista (trabalhei em jornais diários e emissoras de televisão, criei veículos impressos, fiz assessoria de comunicação e atuei em rádio), o que mais me deu prazer até hoje foi aventurar-me no rádio. Tive a alegria de trabalhar na gloriosa Rádio Clube Paranaense (mais antiga rádio brasileira em funcionamento), produzindo, criando e apresentando programas informativos.
Fazer rádio ao vivo é uma delícia. Permite o contato imediato com o ouvinte, mantém um "pique" que faz circular a adrenalina no sangue e exige capacidade de improvisação. Por isso mesmo, a atividade está sujeita a escorregões. Não dá para voltar atrás em um erro. Isso é o que faz o profissional de rádio estar sempre "na ponta dos cascos".
Tive um exemplo disso recentemente. Quando morreu o ator Paul Newman, o boletim da BBC Brasil na CBN tratou do assunto. A apresentadora fez uma entrevista não-editada com um crítico de cinema sobre a carreira do ator. O crítico, comentando os prêmios de Newman, disse que sua indicação mais recente ao Oscar havia sido por sua atuação como ator coadjuvante no filme "Estrada para Perdição", de 2002.
A entrevistadora sai-se com esta: "Nossa! Mesmo atuando como coadjuvante ele foi indicado ao Oscar!" Educadamente, o crítico fez de conta que não percebeu. Mas os ouvintes provavelmente deram risada ou se admiraram do "enorme" conhecimento da moça sobre o assunto...
De passagem, um comentário: o serviço da BBC é disponibilizado gratuitamente para rádios brasileiras. Há outras emissoras, no Brasil e no exterior, que também oferecem serviços gratuitos para rádios espalhadas pelo país. Com isso, vão desaparecendo os correspondentes nacionais e internacionais. A visão de mundo que os ouvintes recebem passa sempre pelos mesmos filtros. Não há mais a visão particular de cada veículo, de acordo com os interesses e a cultura dos seus ouvintes. Tudo vem pronto - inclusive a ideologia embutida no noticiário...
Fazer rádio ao vivo é uma delícia. Permite o contato imediato com o ouvinte, mantém um "pique" que faz circular a adrenalina no sangue e exige capacidade de improvisação. Por isso mesmo, a atividade está sujeita a escorregões. Não dá para voltar atrás em um erro. Isso é o que faz o profissional de rádio estar sempre "na ponta dos cascos".
Tive um exemplo disso recentemente. Quando morreu o ator Paul Newman, o boletim da BBC Brasil na CBN tratou do assunto. A apresentadora fez uma entrevista não-editada com um crítico de cinema sobre a carreira do ator. O crítico, comentando os prêmios de Newman, disse que sua indicação mais recente ao Oscar havia sido por sua atuação como ator coadjuvante no filme "Estrada para Perdição", de 2002.
A entrevistadora sai-se com esta: "Nossa! Mesmo atuando como coadjuvante ele foi indicado ao Oscar!" Educadamente, o crítico fez de conta que não percebeu. Mas os ouvintes provavelmente deram risada ou se admiraram do "enorme" conhecimento da moça sobre o assunto...
De passagem, um comentário: o serviço da BBC é disponibilizado gratuitamente para rádios brasileiras. Há outras emissoras, no Brasil e no exterior, que também oferecem serviços gratuitos para rádios espalhadas pelo país. Com isso, vão desaparecendo os correspondentes nacionais e internacionais. A visão de mundo que os ouvintes recebem passa sempre pelos mesmos filtros. Não há mais a visão particular de cada veículo, de acordo com os interesses e a cultura dos seus ouvintes. Tudo vem pronto - inclusive a ideologia embutida no noticiário...
Wednesday, October 01, 2008
Como afundar um time
A triste situação do Atlético Paranaense se deve a uma série de erros. Nada melhor que analisar os erros passados para não os cometer de novo... Vamos à lista:
1) Dispensar Ney Franco. Este foi o primeiríssimo erro: demitir um ótimo técnico, honesto, franco (sem trocadilho) e de bom caráter. Se ele tivesse ficado, a situação do time não estaria tão ruim.
2) Não segurar bons jogadores. A diretoria alega que não tem condições financeiras para isso. A desculpa não cola - a mídia informa que o CAP é o clube mais superavitário do futebol brasileiro. Portanto, poderia ter segurado Alex Mineiro e Claiton, por exemplo - o que fatalmente teria garantido pelo menos o título paranaense.
3) Não contratar bons jogadores. Se olharmos a tabela dos artilheiros do Brasileirão, veremos na ponta Kleber Pereira, Alex Mineiro e Washington, todos consagrados na vitrine do CAP. Por que o Atlético não poderia contratá-los? Por que o Washington e o Kleber não voltaram para a Arena? Fluminense e Santos certamente não têm condições financeiras melhores que as do CAP.
4) Contratar errado. É incrível a quantidade de jogadores mal-contratados, a começar pelos jogadores em fim de carreira ou sempre machucados. Alberto, Gustavo, Júlio César e Joãzinho estão aí para comprovar: se recebessem por partida jogada, já estariam falidos.
5) Privilegiar aumento de patrimônio em detrimento da qualidade do time. De nada adianta uma maravilhosa arena sem um time à altura. O Atlético já tem o mais moderno estádio do Brasil. Conta com 20.000 sócios-torcedores que garantem uma boa renda. Se tiver um time campeão, terá retorno financeiro para terminar o estádio. Com um time pífio, de segunda divisão, verá o número de sócios e a renda dos jogos diminuir.
6) Falando em renda, outro erro craso: recusar a cota de R$ 1 milhão pelos direitos de transmissão do Campeonato Paranaense. Atitude antipática, ridícula, que fez o clube perder a oportunidade de mostrar a todo o estado a série vitoriosa recorde no Paranaense, o que poderia ter rendido mais torcedores e simpatizantes.
7) Hostilizar a mídia, em episódios patéticos como a frustrada tentativa de cobrança pelos direitos de transmissão radiofônica das partidas e a proibição de ingresso da equipe da Transamérica.
Alguém se lembra de algum outro erro?
1) Dispensar Ney Franco. Este foi o primeiríssimo erro: demitir um ótimo técnico, honesto, franco (sem trocadilho) e de bom caráter. Se ele tivesse ficado, a situação do time não estaria tão ruim.
2) Não segurar bons jogadores. A diretoria alega que não tem condições financeiras para isso. A desculpa não cola - a mídia informa que o CAP é o clube mais superavitário do futebol brasileiro. Portanto, poderia ter segurado Alex Mineiro e Claiton, por exemplo - o que fatalmente teria garantido pelo menos o título paranaense.
3) Não contratar bons jogadores. Se olharmos a tabela dos artilheiros do Brasileirão, veremos na ponta Kleber Pereira, Alex Mineiro e Washington, todos consagrados na vitrine do CAP. Por que o Atlético não poderia contratá-los? Por que o Washington e o Kleber não voltaram para a Arena? Fluminense e Santos certamente não têm condições financeiras melhores que as do CAP.
4) Contratar errado. É incrível a quantidade de jogadores mal-contratados, a começar pelos jogadores em fim de carreira ou sempre machucados. Alberto, Gustavo, Júlio César e Joãzinho estão aí para comprovar: se recebessem por partida jogada, já estariam falidos.
5) Privilegiar aumento de patrimônio em detrimento da qualidade do time. De nada adianta uma maravilhosa arena sem um time à altura. O Atlético já tem o mais moderno estádio do Brasil. Conta com 20.000 sócios-torcedores que garantem uma boa renda. Se tiver um time campeão, terá retorno financeiro para terminar o estádio. Com um time pífio, de segunda divisão, verá o número de sócios e a renda dos jogos diminuir.
6) Falando em renda, outro erro craso: recusar a cota de R$ 1 milhão pelos direitos de transmissão do Campeonato Paranaense. Atitude antipática, ridícula, que fez o clube perder a oportunidade de mostrar a todo o estado a série vitoriosa recorde no Paranaense, o que poderia ter rendido mais torcedores e simpatizantes.
7) Hostilizar a mídia, em episódios patéticos como a frustrada tentativa de cobrança pelos direitos de transmissão radiofônica das partidas e a proibição de ingresso da equipe da Transamérica.
Alguém se lembra de algum outro erro?
Friday, September 26, 2008
Ditadura instalada
Embora a notícia já seja da semana passada, não resisto a comentar, ainda que de passagem, o texto "Carta aberta aos defensores de democracia brasileira", assinado por Daniela Bueno e publicado na Gazeta do Povo de 17/09/2008. A autora conta que seu perfil e todos os comentários por ela postados no Orkut foram excluídos do site de relacionamento por ordem da Justiça Eleitoral, sob o pretexto de ela estar fazendo propaganda eleitoral ilegal.
Leia o texto. Dou todo apoio a Daniela Bueno. Indigno-me com a atitude ditatorial e anticonstitucional ordenada pela "Justiça".
Leia o texto. Dou todo apoio a Daniela Bueno. Indigno-me com a atitude ditatorial e anticonstitucional ordenada pela "Justiça".
Ditadura à vista?
Responda rápido: você gostaria de viver num país cujo governo seguisse uma linda religiosa fundamentalista? Responda mais rápido ainda: o que você faria se isso acontecesse no Brasil? Pois é. Informações publicadas recentemente na imprensa dão conta de que Edir Macedo, o milionário todo-poderoso da Igreja Universal do Reino de Deus, lançou um livro intitulado "Plano de Poder", no qual estimularia os fiéis da igreja a participarem da política.
O título da matéria publicada na Gazeta do Povo (Curitiba-PR), a partir de despacho da Agência O Globo, é: "Edir Macedo revela plano político em livro". O subtítulo: "Líder da Igreja Universal incita os evangélicos a tomar o poder. Objetivo seria construir o projeto de nação que Deus teria sonhado para os hebreus". Você é capaz de imaginar como seria esse "projeto de nação"?
Vale lembrar que o ex-bispo da Iurd Marcelo Crivella é candidato à prefeitura do Rio de Janeiro e já esteve à frente nas pesquisas de intenção de voto. Felizmente, deixou o primeiro lugar, especialmente depois de constatadas as obras eleitoreiras que promovia numa favela, como foi amplamente noticiado.
É sabido que uma eleição se ganha quase sempre de acordo com a quantia de dinheiro investida. Até onde os milhões da Iurd poderão ir numa eleição?
O título da matéria publicada na Gazeta do Povo (Curitiba-PR), a partir de despacho da Agência O Globo, é: "Edir Macedo revela plano político em livro". O subtítulo: "Líder da Igreja Universal incita os evangélicos a tomar o poder. Objetivo seria construir o projeto de nação que Deus teria sonhado para os hebreus". Você é capaz de imaginar como seria esse "projeto de nação"?
Vale lembrar que o ex-bispo da Iurd Marcelo Crivella é candidato à prefeitura do Rio de Janeiro e já esteve à frente nas pesquisas de intenção de voto. Felizmente, deixou o primeiro lugar, especialmente depois de constatadas as obras eleitoreiras que promovia numa favela, como foi amplamente noticiado.
É sabido que uma eleição se ganha quase sempre de acordo com a quantia de dinheiro investida. Até onde os milhões da Iurd poderão ir numa eleição?
"Bric-a-braque"
A sigla Bric indica um grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China - nações emergentes de grande extensão territorial, populosas e com grande potencial econômico. Pois a Gazeta do Povo (Curitiba-PR) publicou um texto (créditado à Agência Estado) com o título "Brics querem influir em políticas globais". Huuummm.... Não existe "Brics". Ou se diz "Bric querem...", concordando o verbo com os nomes dos países abreviados, ou, melhor ainda, "Bric quer...", ficando subentendido "O grupo Bric".
Tem sido notável na grande imprensa os erros de grafia, ortografia, concordância, regência. Sem querer entrar em discussões acadêmicas sobre o uso da língua, o fato é que a mídia tem hoje um papel mais importante na definição desse uso do que a literatura. Neologismos criados e/ou encampados pela mídia (como "lideranças" no lugar de "líderes" e "listagem" no lugar de "lista", por exemplo) têm entrado no uso cotidiano e nos dicionários. Tudo bem. Mas que nossos caríssimos colegas jornalistas fariam bem em escrever corretinho, segundo as atuais normas da língua escrita padrão, ah, fariam sim.
De vez em quando, vou apontar aqui alguns errinhos e errões. Que não são tão graves, aliás, quanto os inúmeros erros de conteúdo que constumam aparecer na mídia.
Tem sido notável na grande imprensa os erros de grafia, ortografia, concordância, regência. Sem querer entrar em discussões acadêmicas sobre o uso da língua, o fato é que a mídia tem hoje um papel mais importante na definição desse uso do que a literatura. Neologismos criados e/ou encampados pela mídia (como "lideranças" no lugar de "líderes" e "listagem" no lugar de "lista", por exemplo) têm entrado no uso cotidiano e nos dicionários. Tudo bem. Mas que nossos caríssimos colegas jornalistas fariam bem em escrever corretinho, segundo as atuais normas da língua escrita padrão, ah, fariam sim.
De vez em quando, vou apontar aqui alguns errinhos e errões. Que não são tão graves, aliás, quanto os inúmeros erros de conteúdo que constumam aparecer na mídia.
Wednesday, September 17, 2008
Morreu Diaféria
Morreu hoje o jornalista Lourenço Diaféria, que foi cronista da Folha de S. Paulo. Fiquei triste. Diaféria possibilitou-me o primeiro contato com as arbitrariedades da ditadura. Explico...
Minha cidadezinha natal, Cambará, na década de 60, tinha um sistema de vida muito ligado à vida rural e uma predominante mentalidade conservadora típica dos proprietários de terras. Meu pai era eleitor da Arena e assinante do Estadão. Eu vivia na alienação típica desse ambiente e de uma infância e pré-adolescência despreocupadas. O horror da ditadura não chegava àquela família classe média bem "encaixada" no sistema.
Quando nos mudamos para Curitiba, em 1976, Papai tentou assinar o Estadão, mas o serviço de entrega do jornal não chegava em nosso novo endereço (no "distante" Ahu, a seis quilômetros do Centro...). Papai resolveu então assinar a Folha de S. Paulo, o que, naqueles tempos, representava uma grande mudança!
Passei a ler a Folha. E minha leitura predileta eram as crônicas de Diaféria. No dia 1º de setembro de 1977, a Folha publicou uma crônica sua intitulada "Herói. Morto. Nós." Gostei muito do texto, que ficou marcado na minha memória. Foi a última crônica do autor que li na Folha.
O texto provocou a ira dos militares, que levaram Diaféria à prisão e ameaçaram fechar o jornal. Em protesto, a Folha publicou, na edição em que deveria sair a crônica seguinte de Diaféria, uma coluna em branco (veja aqui o relato do acontecimento no site da Folha).
Fiquei indignado. Diaféria desapareceu das páginas da Folha. Mas aquela sua crônica nunca se apagou das minhas lembranças.
Hoje, dia em que ele morreu, reli a crônica, no site da Folha. O texto me tocou, não só pelo seu conteúdo, mas pela carga emocional ligada a meu passado. Segue abaixo o texto, extraído do site da Folha.
HERÓI. MORTO. NÓS.
[Crônica publicada em 1º de setembro de 1977]
Neste texto foi mantida a grafia original da época
Lourenço Diaféria
Não me venham com besteiras de dizer que herói não existe. Passei metade do dia imaginando uma palavra menos desgastada para definir o gesto desse sargento Sílvio, que pulou no poço das ariranhas, para salvar o garoto de catorze anos, que estava sendo dilacerado pelos bichos.
O garoto está salvo. O sargento morreu e está sendo enterrado em sua terra.
Que nome devo dar a esse homem?
Escrevo com todas as letras: o sargento Silvio é um herói. Se não morreu na guerra, se não disparou nenhum tiro, se não foi enforcado, tanto melhor.
Podem me explicar que esse tipo de heroísmo é resultado de uma total inconsciência do perigo. Pois quero que se lixem as explicações. Para mim, o herói - como o santo - é aquele que vive sua vida até as últimas consequências.
O herói redime a humanidade à deriva.
Esse sargento Silvio podia estar vivo da silva com seus quatro filhos e sua mulher. Acabaria capitão, major.
Está morto.
Um belíssimo sargento morto.
E todavia.
Todavia eu digo, com todas as letras: prefiro esse sargento herói ao duque de Caxias.
O duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua. Aquela espada que o duque ergue ao ar aqui na Praça Princesa Isabel - onde se reúnem os ciganos e as pombas do entardecer - oxidou-se no coração do povo. O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal. Ao povo desgosta o herói de bronze, irretocável e irretorquível, como as enfadonhas lições repetidas por cansadas professoras que não acreditam no que mandam decorar.
O povo quer o herói sargento que seja como ele: povo. Um sargento que dê as mãos aos filhos e à mulher, e passeie incógnito e desfardado, sem divisas, entre seus irmãos.
No instante em que o sargento - apesar do grito de perigo e de alerta de sua mulher - salta no fosso das simpáticas e ferozes ariranhas, para salvar da morte o garoto que não era seu, ele está ensinando a este país, de heróis estáticos e fundidos em metal, que todos somos responsáveis pelos espinhos que machucam o couro de todos.
Esse sargento não é do grupo do cambalacho.
Esse sargento não pensou se, para ser honesto para consigo mesmo, um cidadão deve ser civil ou militar. Duvido, e faço pouco, que esse pobre sargento morto fez revoluções de bar, na base do uísque e da farolagem, e duvido que em algum instante ele imaginou que apareceria na primeira página dos jornais.
É apenas um homem que - como disse quando pressentiu as suas últimas quarenta e oito horas, quando pressentiu o roteiro de sua última viagem - não podia permanecer insensível diante de uma criança sem defesa.
O povo prefere esses heróis: de carne e sangue.
Mas, como sempre, o herói é reconhecido depois, muito depois. Tarde demais.
É isso, sargento: nestes tempos cruéis e embotados, a gente não teve o instante de te reconhecer entre o povo. A gente não distinguiu teu rosto na multidão. Éramos irmãos, e só descobrimos isso agora, quando o sangue verte, e quanto te enterramos. O herói e o santo é o que derrama seu sangue. Esse é o preço que deles cobramos.
Podíamos ter estendido nossas mãos e te arrancando do fosso das ariranhas - como você tirou o menino de catorze anos - mas queríamos que alguém fizesse o gesto de solidariedade em nosso lugar.
Sempre é assim: o herói e o santo é o que estende as mãos.
E este é o nosso grande remorso: o de fazer as coisas urgentes e inadiáveis -tarde demais.
Minha cidadezinha natal, Cambará, na década de 60, tinha um sistema de vida muito ligado à vida rural e uma predominante mentalidade conservadora típica dos proprietários de terras. Meu pai era eleitor da Arena e assinante do Estadão. Eu vivia na alienação típica desse ambiente e de uma infância e pré-adolescência despreocupadas. O horror da ditadura não chegava àquela família classe média bem "encaixada" no sistema.
Quando nos mudamos para Curitiba, em 1976, Papai tentou assinar o Estadão, mas o serviço de entrega do jornal não chegava em nosso novo endereço (no "distante" Ahu, a seis quilômetros do Centro...). Papai resolveu então assinar a Folha de S. Paulo, o que, naqueles tempos, representava uma grande mudança!
Passei a ler a Folha. E minha leitura predileta eram as crônicas de Diaféria. No dia 1º de setembro de 1977, a Folha publicou uma crônica sua intitulada "Herói. Morto. Nós." Gostei muito do texto, que ficou marcado na minha memória. Foi a última crônica do autor que li na Folha.
O texto provocou a ira dos militares, que levaram Diaféria à prisão e ameaçaram fechar o jornal. Em protesto, a Folha publicou, na edição em que deveria sair a crônica seguinte de Diaféria, uma coluna em branco (veja aqui o relato do acontecimento no site da Folha).
Fiquei indignado. Diaféria desapareceu das páginas da Folha. Mas aquela sua crônica nunca se apagou das minhas lembranças.
Hoje, dia em que ele morreu, reli a crônica, no site da Folha. O texto me tocou, não só pelo seu conteúdo, mas pela carga emocional ligada a meu passado. Segue abaixo o texto, extraído do site da Folha.
HERÓI. MORTO. NÓS.
[Crônica publicada em 1º de setembro de 1977]
Neste texto foi mantida a grafia original da época
Lourenço Diaféria
Não me venham com besteiras de dizer que herói não existe. Passei metade do dia imaginando uma palavra menos desgastada para definir o gesto desse sargento Sílvio, que pulou no poço das ariranhas, para salvar o garoto de catorze anos, que estava sendo dilacerado pelos bichos.
O garoto está salvo. O sargento morreu e está sendo enterrado em sua terra.
Que nome devo dar a esse homem?
Escrevo com todas as letras: o sargento Silvio é um herói. Se não morreu na guerra, se não disparou nenhum tiro, se não foi enforcado, tanto melhor.
Podem me explicar que esse tipo de heroísmo é resultado de uma total inconsciência do perigo. Pois quero que se lixem as explicações. Para mim, o herói - como o santo - é aquele que vive sua vida até as últimas consequências.
O herói redime a humanidade à deriva.
Esse sargento Silvio podia estar vivo da silva com seus quatro filhos e sua mulher. Acabaria capitão, major.
Está morto.
Um belíssimo sargento morto.
E todavia.
Todavia eu digo, com todas as letras: prefiro esse sargento herói ao duque de Caxias.
O duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua. Aquela espada que o duque ergue ao ar aqui na Praça Princesa Isabel - onde se reúnem os ciganos e as pombas do entardecer - oxidou-se no coração do povo. O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal. Ao povo desgosta o herói de bronze, irretocável e irretorquível, como as enfadonhas lições repetidas por cansadas professoras que não acreditam no que mandam decorar.
O povo quer o herói sargento que seja como ele: povo. Um sargento que dê as mãos aos filhos e à mulher, e passeie incógnito e desfardado, sem divisas, entre seus irmãos.
No instante em que o sargento - apesar do grito de perigo e de alerta de sua mulher - salta no fosso das simpáticas e ferozes ariranhas, para salvar da morte o garoto que não era seu, ele está ensinando a este país, de heróis estáticos e fundidos em metal, que todos somos responsáveis pelos espinhos que machucam o couro de todos.
Esse sargento não é do grupo do cambalacho.
Esse sargento não pensou se, para ser honesto para consigo mesmo, um cidadão deve ser civil ou militar. Duvido, e faço pouco, que esse pobre sargento morto fez revoluções de bar, na base do uísque e da farolagem, e duvido que em algum instante ele imaginou que apareceria na primeira página dos jornais.
É apenas um homem que - como disse quando pressentiu as suas últimas quarenta e oito horas, quando pressentiu o roteiro de sua última viagem - não podia permanecer insensível diante de uma criança sem defesa.
O povo prefere esses heróis: de carne e sangue.
Mas, como sempre, o herói é reconhecido depois, muito depois. Tarde demais.
É isso, sargento: nestes tempos cruéis e embotados, a gente não teve o instante de te reconhecer entre o povo. A gente não distinguiu teu rosto na multidão. Éramos irmãos, e só descobrimos isso agora, quando o sangue verte, e quanto te enterramos. O herói e o santo é o que derrama seu sangue. Esse é o preço que deles cobramos.
Podíamos ter estendido nossas mãos e te arrancando do fosso das ariranhas - como você tirou o menino de catorze anos - mas queríamos que alguém fizesse o gesto de solidariedade em nosso lugar.
Sempre é assim: o herói e o santo é o que estende as mãos.
E este é o nosso grande remorso: o de fazer as coisas urgentes e inadiáveis -tarde demais.
Friday, September 12, 2008
Por que gostamos tanto de futebol?
Sempre me pergunto por que gostamos tanto de futebol. Eu mesmo, grande apreciador desse incomparável esporte, não consigo entender meu próprio gosto. Tento forçar a memória para me lembrar como me surgiu este apego tão inexplicável. Vejo-me com 14 anos em Cambará, no interior do Paraná, minha cidade natal.
Quando nasci, Cambará vivia as últimas glórias (moderadas, é verdade...) do CAC – Cambará Atlético Clube, campeão do Norte Paranaense em 1963 e 1964, um ano antes de se retirar do futebol profissional. Foi só anos depois, em 1974, que surgiu a Sociedade Esportiva Matsubara. Transformou-se logo no time de todos nós, cambaraenses.
Com meus 14 anos, eu era, modéstia à parte, um excelente goleiro. Jogava sobretudo no campinho de areia do Clube Norte, onde era convidado pelos “mais velhos” (os jovens de 18 a 20 anos...) para jogar com eles, que chegavam a brincar dizendo que o vencedor da partida era quem ganhava no par ou ímpar para começar a escolher o time – eu, que tinha então o apelido futebolístico de “Aranha”, era sempre o primeiro escolhido, garantia de que o time não levaria gols.
Quando me mudei para Curitiba, em 1976, minha família estabeleceu-se no Ahu. Logo procurei onde assistir a bons jogos de futebol, diversão rara na cidadezinha-sede do Matsubara. Pela proximidade, comecei a freqüentar o Belfort Duarte. Lá, assisti jogos como Brasil 1 x 1 Seleção Paranaense, naqueles esquisitos tempos em que a seleção brasileira treinava jogando contra seleções estaduais (enfrentando, naturalmente, sempre uma torcida contrária!). Um dia, tive o prazer de poder assistir ao “meu” Matsubara jogar no Couto Pereira. Era em 1977, numa rodada dupla (outra coisa rara hoje!). Lembro-me de outros dois times envolvidos nos confrontos: Atlético e Coritiba. Não me lembro do quarto, provavelmente Pinheiros ou Colorado. Mas me lembro bem que o Matsubara jogaria contra o Coritiba, enquanto o Atlético enfrentaria o outro time. Fiquei, naturalmente, junto à torcida do Atlético.
Quando chegou o ônibus com os torcedores da TOM (a Torcida Organizada do Matsubara – diga-se aqui de passagem, único caso de torcida dona de estádio, pois foi a TOM quem construiu o Estádio Regional de Cambará, que leva este nome por ser capaz de abrigar toda a população urbana do município!), fui recepcioná-los na entrada para conduzi-los junto à torcida do Atlético, com todo o cuidado, esclarecendo que aquele verde-e-branco não era do rival coxa.
Foi meu primeiro contato com o calor da torcida rubro-negra. Torcemos juntos, pelo Matsubara e contra o coxa. Quando tive que escolher um time na capital paranaense, não havia como escolher outro: tornei-me atleticano.
Bem, toda essa história não responde à pergunta do título. Afinal, por que tanto gosto? Depois de muito pensar e procurar teorias explicativas, tanto na Sociologia quanto na Psicologia, elaborei minha própria resposta: é um traço da nossa ancestralidade troglodita. Não precisamos mais caçar para comer, não temos mais que disputar as fêmeas a tacape e arrastá-las pelos cabelos para nossas cavernas. Ficamos órfãos da disputa física por território, comida e garantia de perpetuação da raça. Mas milênios de “civilização” não foram suficientes para que muitos de nós nos livrássemos do gene que nos impulsiona para a luta física da sobrevivência (louvo aqueles que o conseguiram e não gostam de futebol!).
Nós, então, trogloditas mal-civilizados, transferimos para aquele retângulo de grama toda nossa energia ancestral. É lá, dentro ou em torno dele, que fazemos a catarse da nossa ancestralidade bruta. É lá que descarregamos tudo que o instinto quase-animal reclama do nosso íntimo. Enxergamos no rival aquele que nos disputa o território, o tigre-de-dentes-de-sabre a abater, o alimento a conquistar. Esse é o grande e importantíssimo papel do futebol em nossas vidas!
Portanto, senhoras esposas, namoradas, noivas e amantes: não nos censurem o gosto pelo futebol. É para o bem de todos, pela segurança das mulheres brasileiras...
Quando nasci, Cambará vivia as últimas glórias (moderadas, é verdade...) do CAC – Cambará Atlético Clube, campeão do Norte Paranaense em 1963 e 1964, um ano antes de se retirar do futebol profissional. Foi só anos depois, em 1974, que surgiu a Sociedade Esportiva Matsubara. Transformou-se logo no time de todos nós, cambaraenses.
Com meus 14 anos, eu era, modéstia à parte, um excelente goleiro. Jogava sobretudo no campinho de areia do Clube Norte, onde era convidado pelos “mais velhos” (os jovens de 18 a 20 anos...) para jogar com eles, que chegavam a brincar dizendo que o vencedor da partida era quem ganhava no par ou ímpar para começar a escolher o time – eu, que tinha então o apelido futebolístico de “Aranha”, era sempre o primeiro escolhido, garantia de que o time não levaria gols.
Quando me mudei para Curitiba, em 1976, minha família estabeleceu-se no Ahu. Logo procurei onde assistir a bons jogos de futebol, diversão rara na cidadezinha-sede do Matsubara. Pela proximidade, comecei a freqüentar o Belfort Duarte. Lá, assisti jogos como Brasil 1 x 1 Seleção Paranaense, naqueles esquisitos tempos em que a seleção brasileira treinava jogando contra seleções estaduais (enfrentando, naturalmente, sempre uma torcida contrária!). Um dia, tive o prazer de poder assistir ao “meu” Matsubara jogar no Couto Pereira. Era em 1977, numa rodada dupla (outra coisa rara hoje!). Lembro-me de outros dois times envolvidos nos confrontos: Atlético e Coritiba. Não me lembro do quarto, provavelmente Pinheiros ou Colorado. Mas me lembro bem que o Matsubara jogaria contra o Coritiba, enquanto o Atlético enfrentaria o outro time. Fiquei, naturalmente, junto à torcida do Atlético.
Quando chegou o ônibus com os torcedores da TOM (a Torcida Organizada do Matsubara – diga-se aqui de passagem, único caso de torcida dona de estádio, pois foi a TOM quem construiu o Estádio Regional de Cambará, que leva este nome por ser capaz de abrigar toda a população urbana do município!), fui recepcioná-los na entrada para conduzi-los junto à torcida do Atlético, com todo o cuidado, esclarecendo que aquele verde-e-branco não era do rival coxa.
Foi meu primeiro contato com o calor da torcida rubro-negra. Torcemos juntos, pelo Matsubara e contra o coxa. Quando tive que escolher um time na capital paranaense, não havia como escolher outro: tornei-me atleticano.
Bem, toda essa história não responde à pergunta do título. Afinal, por que tanto gosto? Depois de muito pensar e procurar teorias explicativas, tanto na Sociologia quanto na Psicologia, elaborei minha própria resposta: é um traço da nossa ancestralidade troglodita. Não precisamos mais caçar para comer, não temos mais que disputar as fêmeas a tacape e arrastá-las pelos cabelos para nossas cavernas. Ficamos órfãos da disputa física por território, comida e garantia de perpetuação da raça. Mas milênios de “civilização” não foram suficientes para que muitos de nós nos livrássemos do gene que nos impulsiona para a luta física da sobrevivência (louvo aqueles que o conseguiram e não gostam de futebol!).
Nós, então, trogloditas mal-civilizados, transferimos para aquele retângulo de grama toda nossa energia ancestral. É lá, dentro ou em torno dele, que fazemos a catarse da nossa ancestralidade bruta. É lá que descarregamos tudo que o instinto quase-animal reclama do nosso íntimo. Enxergamos no rival aquele que nos disputa o território, o tigre-de-dentes-de-sabre a abater, o alimento a conquistar. Esse é o grande e importantíssimo papel do futebol em nossas vidas!
Portanto, senhoras esposas, namoradas, noivas e amantes: não nos censurem o gosto pelo futebol. É para o bem de todos, pela segurança das mulheres brasileiras...
Um troglodita!
Passei seis dias sem internet. Seis dias! Senti-me um troglodita, um Robinson Crusoé perdido numa ilha deserta, um homem fora do mundo. Que horror! Como é possível viver sem estar ligado ao universo, a tudo, a qualquer coisa que se queira? Afinal, consegui restabelecer contato e posso, entre outras coisas, postar no meu blog. Bendita sejas, internet!
Friday, August 29, 2008
A régua
Um dos prazeres da vida adulta é poder realizar alguns desejos de criança – mesmo que, em geral, a realização seja um tanto frustrante, pois o sonho alcançado invariavelmente fica longe do sabor do sonho sonhado em tenra idade.
Lembro-me, por exemplo, do meu gosto infantil por camarão. Morávamos longe do mar, e camarão era iguaria fina e cara, ao menos para minha família. Uma vez por ano, nas férias de verão, viajávamos para a praia. Geralmente, as refeições eram em casa, com peixe fresco comprado dos pescadores à beira mar. Ou então, quando as condições do clima ajudavam, caçávamos rãs à noite para saboreá-las no almoço do dia seguinte. Sim, era uma caça, e bem primitiva: cada um com sua lanterna e seu bornal, capinhas plásticas de chuva, botas sete-léguas. Tínhamos que andar por um banhado procurando as rãs, lançar sobre seus olhos a luz da lanterna, que as hipnotizava, e simplesmente pegá-las com a mão e colocá-las no bornal.
Durante a temporada, vez ou outra, íamos a um restaurante. Meu pai não era pobre, mas tinha sido – por isso, embora não fosse nem de longe mesquinho, era econômico, o que fazia com que as poucas idas ao restaurante fossem valorizadas. Para mim, o máximo do máximo era comer camarão à grega no restaurante Baleia, em Santos. Até hoje tenho recordações daquele gosto, jamais reencontrado. Nem sei se o restaurante ainda existe – e na época devia ser meio “cafona” aquela casa com formato de baleia, parente de um congênere curitibano em forma de avião, há anos devidamente demolido...
Hoje, posso comer camarão à vontade. Não é tão caro e raro como na minha infância. E, é claro, nem tão saboroso como naqueles tempos, infelizmente...
Dia desses, lembrei-me de um desejo infantil que repousava escondido num cantinho qualquer da memória. Precisei recortar alguns jornais. Usei um estilete e uma régua, lamentavelmente torta. Fui então a uma papelaria em busca de uma régua retilineamente perfeita como devem ser as réguas. E lá encontrei, de uma só vez, a lembrança infantil e o objeto dela: penduradas em meio a incontáveis esquadros, compassos e réguas de plástico, as réguas de metal.
Meus olhos brilharam: as réguas de metal! Aquelas inacessíveis réguas com as quais sonhei em criança! Réguas caras, vinte vezes mais caras que as que meu pai comprava a cada ano quando renovávamos o material escolar. Nunca tive uma delas, sequer ousei pedir, pois eram caras, muito caras.
Emocionado, peguei uma delas. Conferi os preços: as menores, pouco mais de sete reais. As grandes, o dobro. Esse era o preço do sonho infantil! Tirei-as reverente das embalagens, medi com olhos e mãos suas silhuetas irreprochavelmente retas, retas, retas. Suspirei. Comprei duas, uma de cada tamanho.
Foi com imenso prazer que pus aquela grande régua de metal sobre os jornais. Passei religiosamente a lâmina do estilete sobre o papel, encostando-a bem na aresta dura, sem o receio de que acontecesse o acidente comum com as réguas plásticas nessas operações: o estilete afiado cortá-las junto com o papel.
Peguei todos os recortes de jornal que já tinha feito. Fui aparando-os um a um com o estilete e a régua de metal. Perfeito. Perfeito.
Minhas duas réguas estão guardadas com carinho. Sempre que posso, uso-as – uma ou outra, conforme o tamanho do papel a cortar. Mantenho-as com cuidado nas embalagens originais. Acaricio-as antes e depois do uso. Já aconteceu de alguém me surpreender pensativo tentando ver o próprio reflexo na superfície fosca do metal. Consigo ver uma imagem turva, de um garotinho quase quarenta anos mais novo que eu...
Lembro-me, por exemplo, do meu gosto infantil por camarão. Morávamos longe do mar, e camarão era iguaria fina e cara, ao menos para minha família. Uma vez por ano, nas férias de verão, viajávamos para a praia. Geralmente, as refeições eram em casa, com peixe fresco comprado dos pescadores à beira mar. Ou então, quando as condições do clima ajudavam, caçávamos rãs à noite para saboreá-las no almoço do dia seguinte. Sim, era uma caça, e bem primitiva: cada um com sua lanterna e seu bornal, capinhas plásticas de chuva, botas sete-léguas. Tínhamos que andar por um banhado procurando as rãs, lançar sobre seus olhos a luz da lanterna, que as hipnotizava, e simplesmente pegá-las com a mão e colocá-las no bornal.
Durante a temporada, vez ou outra, íamos a um restaurante. Meu pai não era pobre, mas tinha sido – por isso, embora não fosse nem de longe mesquinho, era econômico, o que fazia com que as poucas idas ao restaurante fossem valorizadas. Para mim, o máximo do máximo era comer camarão à grega no restaurante Baleia, em Santos. Até hoje tenho recordações daquele gosto, jamais reencontrado. Nem sei se o restaurante ainda existe – e na época devia ser meio “cafona” aquela casa com formato de baleia, parente de um congênere curitibano em forma de avião, há anos devidamente demolido...
Hoje, posso comer camarão à vontade. Não é tão caro e raro como na minha infância. E, é claro, nem tão saboroso como naqueles tempos, infelizmente...
Dia desses, lembrei-me de um desejo infantil que repousava escondido num cantinho qualquer da memória. Precisei recortar alguns jornais. Usei um estilete e uma régua, lamentavelmente torta. Fui então a uma papelaria em busca de uma régua retilineamente perfeita como devem ser as réguas. E lá encontrei, de uma só vez, a lembrança infantil e o objeto dela: penduradas em meio a incontáveis esquadros, compassos e réguas de plástico, as réguas de metal.
Meus olhos brilharam: as réguas de metal! Aquelas inacessíveis réguas com as quais sonhei em criança! Réguas caras, vinte vezes mais caras que as que meu pai comprava a cada ano quando renovávamos o material escolar. Nunca tive uma delas, sequer ousei pedir, pois eram caras, muito caras.
Emocionado, peguei uma delas. Conferi os preços: as menores, pouco mais de sete reais. As grandes, o dobro. Esse era o preço do sonho infantil! Tirei-as reverente das embalagens, medi com olhos e mãos suas silhuetas irreprochavelmente retas, retas, retas. Suspirei. Comprei duas, uma de cada tamanho.
Foi com imenso prazer que pus aquela grande régua de metal sobre os jornais. Passei religiosamente a lâmina do estilete sobre o papel, encostando-a bem na aresta dura, sem o receio de que acontecesse o acidente comum com as réguas plásticas nessas operações: o estilete afiado cortá-las junto com o papel.
Peguei todos os recortes de jornal que já tinha feito. Fui aparando-os um a um com o estilete e a régua de metal. Perfeito. Perfeito.
Minhas duas réguas estão guardadas com carinho. Sempre que posso, uso-as – uma ou outra, conforme o tamanho do papel a cortar. Mantenho-as com cuidado nas embalagens originais. Acaricio-as antes e depois do uso. Já aconteceu de alguém me surpreender pensativo tentando ver o próprio reflexo na superfície fosca do metal. Consigo ver uma imagem turva, de um garotinho quase quarenta anos mais novo que eu...
Piadinhas eleitorais...
Como já disse, o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV oferece diversão garantida... Em meio aos candidatos a vereador com nomes sugestivos como "Maria do Facão" e "Gogó de Ouro", algumas "pérolas"...
A candidata "Camila cantora" propõe aposentadoria para dona-de-casa. Outra promete lutar pela aposentaria para profissionais da saúde aos 25 anos de serviço. Então, descobrimos que vereadores podem legislar sobre aposentadoria...
Infelizmente, creio não ser temerário dizer que é bem provável que boa parte dos eleitores não saiba o que faz um vereador. Se um candidato diz uma coisa dessas, das duas uma: ou também não sabe e, portanto, não merece (aliás, não poderia!) ser eleito, ou quer enganar os eleitores (mais uma razão para receber o repúdio do eleitorado).
A candidata "Camila cantora" propõe aposentadoria para dona-de-casa. Outra promete lutar pela aposentaria para profissionais da saúde aos 25 anos de serviço. Então, descobrimos que vereadores podem legislar sobre aposentadoria...
Infelizmente, creio não ser temerário dizer que é bem provável que boa parte dos eleitores não saiba o que faz um vereador. Se um candidato diz uma coisa dessas, das duas uma: ou também não sabe e, portanto, não merece (aliás, não poderia!) ser eleito, ou quer enganar os eleitores (mais uma razão para receber o repúdio do eleitorado).
Wednesday, August 27, 2008
"Como é mesmo o MEU nome?"
Na Língua Portuguesa, o "s" entre duas vogais tem som de "z", como, por exemplo, em "casa", "fase", "atraso" etc. O nome da candidata do PT à prefeitura de Curitiba, Gleisi Hoffmann, é invariavelmente pronunciado nas propagandas do partido como se tivesse dois "s" ou um "c" ("Gleissi" ou "Gleici"). Será que a menina cresceu ouvindo seu nome errado e se acostumou?
Antes que alguém pergunte: não, as regras não mudam para nomes próprios, salvo quando são nomes estrangeiros pronunciados conforme a língua de origem. Nome escrito em português segue as regras da Língua Portuguesa. Se o nome Gleisi for pronunciado em alemão, por causa da ascendência da candidata, ficará algo mais ou menos como "Glaizi".
Antes que alguém pergunte: não, as regras não mudam para nomes próprios, salvo quando são nomes estrangeiros pronunciados conforme a língua de origem. Nome escrito em português segue as regras da Língua Portuguesa. Se o nome Gleisi for pronunciado em alemão, por causa da ascendência da candidata, ficará algo mais ou menos como "Glaizi".
Tuesday, August 26, 2008
Rescaldo olímpico
Algumas considerações a propósito das Olimpíadas...
1) O desempenho do Brasil na Olimpíada de Pequim, conforme esperado, foi pífio, ridículo. O Brasil está entre os dez maiores países do mundo em termos econômicos, territoriais e de população. Seria de se esperar, portanto, que estivesse entre os dez maiores medalhistas olímpicos. Mas fica longe, muito longe disso.
2) As Olimpíadas são, muito mais que qualquer coisa, um evento político-comercial a anos-luz do chamado “espírito olímpico”, que, afinal, quase não existe. Olimpíadas são a exibição de um chauvinismo exacerbado, com sua exaltação de bandeiras e hinos nacionais e um espírito de competição que muitas vezes parece beirar o belicismo.
3) Ainda sobre o “espírito olímpico”: quem compete hoje “pelo seu país”? Quase todos os atletas que lá estão buscam honra, fama, glória e dinheiro. Prova inconteste disso é a recusa de muitos atletas de ponta em participar dos Jogos, pois já lhes sobram fama e dinheiro. Ademais, há os “nacionais” fajutos, que se “naturalizam” por um país qualquer apenas para poderem competir. A lista deles na Olimpíada de Pequim é grande. Se o Comitê Olímpico Internacional quisesse coibir essa atitude, deveria estabelecer que atletas naturalizados só pudessem participar das Olimpíadas depois de pelo menos cinco anos de naturalização.
4) O esporte de alto rendimento hoje, ao contrário do que a mídia alardeia, é prejudicial à saúde, pois exige do corpo humano que vá além dos limites naturais (daí o uso tão comum de doping). Por isso, é falácia querer associar esse tipo de competição à idéia de saúde.
5) Os competidores sabem que uma medalha olímpica pode representar a redenção financeira. É a “coisificação” do homem, transformado em “máquina de ganhar”. Aos vencedores, tudo (especialmente fama e dinheiro); aos derrotados, vergonha e lágrimas.
6) Todas as críticas que possam ser feitas às Olimpíadas, entretanto, não tiram do esporte em si sua importância. A prática esportiva regular, como entretenimento e – aí sim – elemento de uma vida saudável, é importante. Mais ainda: o esporte, hoje ligado à indústria do entretenimento, é um meio de inclusão e ascensão social. Nesse sentido, o resultado de um país nos Jogos Olímpicos é um índice da importância que ele dá ao esporte.
7) Para o Brasil, mais importante que melhorar o rendimento olímpico, é estabelecer uma política séria de inclusão pelo esporte. Se o esporte for bem utilizado como elemento de inclusão e ascensão social, sobretudo a partir da prática nas escolas (incluindo universidades, “segredo” do sucesso de alguns países nas competições internacionais), um dos reflexos (insisto: dos menos importantes) será uma participação melhor do país nas Olimpíadas.
1) O desempenho do Brasil na Olimpíada de Pequim, conforme esperado, foi pífio, ridículo. O Brasil está entre os dez maiores países do mundo em termos econômicos, territoriais e de população. Seria de se esperar, portanto, que estivesse entre os dez maiores medalhistas olímpicos. Mas fica longe, muito longe disso.
2) As Olimpíadas são, muito mais que qualquer coisa, um evento político-comercial a anos-luz do chamado “espírito olímpico”, que, afinal, quase não existe. Olimpíadas são a exibição de um chauvinismo exacerbado, com sua exaltação de bandeiras e hinos nacionais e um espírito de competição que muitas vezes parece beirar o belicismo.
3) Ainda sobre o “espírito olímpico”: quem compete hoje “pelo seu país”? Quase todos os atletas que lá estão buscam honra, fama, glória e dinheiro. Prova inconteste disso é a recusa de muitos atletas de ponta em participar dos Jogos, pois já lhes sobram fama e dinheiro. Ademais, há os “nacionais” fajutos, que se “naturalizam” por um país qualquer apenas para poderem competir. A lista deles na Olimpíada de Pequim é grande. Se o Comitê Olímpico Internacional quisesse coibir essa atitude, deveria estabelecer que atletas naturalizados só pudessem participar das Olimpíadas depois de pelo menos cinco anos de naturalização.
4) O esporte de alto rendimento hoje, ao contrário do que a mídia alardeia, é prejudicial à saúde, pois exige do corpo humano que vá além dos limites naturais (daí o uso tão comum de doping). Por isso, é falácia querer associar esse tipo de competição à idéia de saúde.
5) Os competidores sabem que uma medalha olímpica pode representar a redenção financeira. É a “coisificação” do homem, transformado em “máquina de ganhar”. Aos vencedores, tudo (especialmente fama e dinheiro); aos derrotados, vergonha e lágrimas.
6) Todas as críticas que possam ser feitas às Olimpíadas, entretanto, não tiram do esporte em si sua importância. A prática esportiva regular, como entretenimento e – aí sim – elemento de uma vida saudável, é importante. Mais ainda: o esporte, hoje ligado à indústria do entretenimento, é um meio de inclusão e ascensão social. Nesse sentido, o resultado de um país nos Jogos Olímpicos é um índice da importância que ele dá ao esporte.
7) Para o Brasil, mais importante que melhorar o rendimento olímpico, é estabelecer uma política séria de inclusão pelo esporte. Se o esporte for bem utilizado como elemento de inclusão e ascensão social, sobretudo a partir da prática nas escolas (incluindo universidades, “segredo” do sucesso de alguns países nas competições internacionais), um dos reflexos (insisto: dos menos importantes) será uma participação melhor do país nas Olimpíadas.
Tuesday, August 19, 2008
"Eu como você"
TV e rádio passam hoje a ficar mais divertidos com os programas eleitorais obrigatórios. Assistir a um pouquinho desses programas é ter algum riso garantido. Hoje, diverti-me com o Pastor Oliveira, candidato a vereador pelo PMDB. Enquanto ele falava, a legenda anunciava: "Eu como você cidadão curitibano..." E a propaganda anunciava Moreira como "fazedor" e "resolvedor de problemas". Ui! Não seria mal os partidos contarem com assessoria de gente que saiba tratar bem a língua portuguesa...
Sunday, August 10, 2008
Não assista a este vídeo
Tenho alguma consciência ecológica. Como carne de vez em quando (embora possa passar um bom período sem ela, o que faço de tempos em tempos). Achava radicalismo exacerbado e um tanto ridículo o movimento contra o uso de roupas de peles de animais - afinal, se o homem é um animal carnívoro (como tantos outros) e abate animais para comer, por que não aproveitar suas peles e couro?
Entretanto, recebi recentemente pela internet o link para um vídeo da organização People for the Etichal Treatment of Animals (Peta) que mostra a extração de peles na China. A Peta é a organização que fez um cartaz contra o uso de peles com a foto (nua) da nadadora Amanda Beard, da equipe olímpica dos Estados Unidos. O vídeo é extremamente chocante e pode ser um ponto de partida para que o ser humano pense melhor sobre o modo como tem tratado os animais.
Não veja o filme se você não tem estômago forte - ele pode provocar reações orgânicas indesejadas. Aprendi algo que não sabia: para a pele ter boa qualidade, precisa ser extraída do animal ainda vivo.
Ah! Em tempo: com a crise dos alimentos, tem sido divulgada a informação de que para cada quilo de carne produzido gastam-se quatro quilos de grãos. Ou seja, muito mais que qualquer biocombustível, a produção de carne contribui para diminuir os alimentos disponíveis.
Entretanto, recebi recentemente pela internet o link para um vídeo da organização People for the Etichal Treatment of Animals (Peta) que mostra a extração de peles na China. A Peta é a organização que fez um cartaz contra o uso de peles com a foto (nua) da nadadora Amanda Beard, da equipe olímpica dos Estados Unidos. O vídeo é extremamente chocante e pode ser um ponto de partida para que o ser humano pense melhor sobre o modo como tem tratado os animais.
Não veja o filme se você não tem estômago forte - ele pode provocar reações orgânicas indesejadas. Aprendi algo que não sabia: para a pele ter boa qualidade, precisa ser extraída do animal ainda vivo.
Ah! Em tempo: com a crise dos alimentos, tem sido divulgada a informação de que para cada quilo de carne produzido gastam-se quatro quilos de grãos. Ou seja, muito mais que qualquer biocombustível, a produção de carne contribui para diminuir os alimentos disponíveis.
Monday, August 04, 2008
Fórmula "mágica"
Em entrevista coletiva após a derrota do Atlético Paranaense para o Botafogo (3x0), o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mário Celso Petraglia, disse que não tinha a "fórmula mágica" para fazer o time ganhar - e pediu a quem a conhecesse que lha informasse.
Pois bem, sr. presidente: a fórmula não é "mágica", e eu a conheço! Vou "revelá-la".
Para um time ser vencedor, são necessárias algumas coisas... São elas (não estão em ordem de importância):
1) Uma boa estrutura - o Atlético tem uma das melhores do Brasil.
2) Uma torcida numerosa e entusiasmada - também nesse quesito, o CAP está muito bem servido.
3) O principal: bons jogadores. Não se faz um time campeão sem bons jogadores. Esse é o "segredo de Polichinelo".
4) Secundariamente, um bom técnico.
5) Por fim a estabilidade que vem de bom patrimônico, sustentabilidade financeira (que evite negociações que desmontem o time apenas com o fim de lucro), um corpo diretivo sério, honrado, que garanta boas condições de trabalho: salários bons, pagamentos em dia, segurança, contratos convenientes para os atletas e vantajosos para o clube.
Nenhum time de futebol progride sem títulos. Títulos se ganham dentro de campo. Nas quatro linhas, o que vale é um bom time, formado por jogadores de qualidade.
E pode ter certeza de que os quase 20 mil sócios que pagam mensalidade prefeririam ter um bom time em campo a ver a Arena terminada.
Portanto, sr. presidente, nada "desconhecido", "mágico" ou mirabolante. Com as condições que o Clube Atlético Paranaense tem hoje, pode ter um time campeão. É só fazer o óbvio...
Para terminar, um pedido: não tragam o Geninho. Não agora. Quando o CAP tiver um time decente, com bons jogadores, aí sim será a hora de trazer Geninho de volta, com um longo contrato, com estabilidade, quando o clube tiver capacidade para manter bons jogadores. E então o Atlético poderá ocupar o lugar que merece, entre os melhores dos melhores do país.
Pois bem, sr. presidente: a fórmula não é "mágica", e eu a conheço! Vou "revelá-la".
Para um time ser vencedor, são necessárias algumas coisas... São elas (não estão em ordem de importância):
1) Uma boa estrutura - o Atlético tem uma das melhores do Brasil.
2) Uma torcida numerosa e entusiasmada - também nesse quesito, o CAP está muito bem servido.
3) O principal: bons jogadores. Não se faz um time campeão sem bons jogadores. Esse é o "segredo de Polichinelo".
4) Secundariamente, um bom técnico.
5) Por fim a estabilidade que vem de bom patrimônico, sustentabilidade financeira (que evite negociações que desmontem o time apenas com o fim de lucro), um corpo diretivo sério, honrado, que garanta boas condições de trabalho: salários bons, pagamentos em dia, segurança, contratos convenientes para os atletas e vantajosos para o clube.
Nenhum time de futebol progride sem títulos. Títulos se ganham dentro de campo. Nas quatro linhas, o que vale é um bom time, formado por jogadores de qualidade.
E pode ter certeza de que os quase 20 mil sócios que pagam mensalidade prefeririam ter um bom time em campo a ver a Arena terminada.
Portanto, sr. presidente, nada "desconhecido", "mágico" ou mirabolante. Com as condições que o Clube Atlético Paranaense tem hoje, pode ter um time campeão. É só fazer o óbvio...
Para terminar, um pedido: não tragam o Geninho. Não agora. Quando o CAP tiver um time decente, com bons jogadores, aí sim será a hora de trazer Geninho de volta, com um longo contrato, com estabilidade, quando o clube tiver capacidade para manter bons jogadores. E então o Atlético poderá ocupar o lugar que merece, entre os melhores dos melhores do país.
Thursday, July 31, 2008
A inviabilidade da raça humana
Visitei a exposição “Destaques do Fotojornalismo Internacional”, que reúne cerca de 100 de fotografias premiadas ao longo de 20 anos do Festival Scoop d’Angers (que acontece na França). Merece ser vista, não apenas pela qualidade técnica e informativa das fotos, mas também para uma reflexão sobre o ser humano. Muitas fotos são de tragédias humanas. Para mim, uma boa imagem da inviabilidade da nossa raça. Claro que há bolsões da fartura e tranqüilidade no planeta. Mas esse é mais um sintoma do problema do que um consolo, pois a fartura de uns se apóia na miséria de outros. Triste, esse bicho homem.
Visite a exposição (até 31/07) na Universidade Positivo (Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, Campo Comprido, Curitiba – prédio da Pós-Graduação e Extensão). Vale a pena. Veja mais informações aqui.
Visite a exposição (até 31/07) na Universidade Positivo (Rua Professor Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, Campo Comprido, Curitiba – prédio da Pós-Graduação e Extensão). Vale a pena. Veja mais informações aqui.
Monday, July 28, 2008
Um livro que precisa ser lido
“Narrativas de um correspondente de rua”: quando li esse ótimo livro do jornalista Mauri König, repórter especial da Gazeta do Povo, de Curitiba, confesso que senti justificado o pessimismo de quem olha o ser humano com um sentimento de descrença, como é o meu caso. Mas há verdades que precisam ser ditas, publicadas e proclamadas. E há verdades que só podem ser ditas por homens corajosos. E só podem ser adequadamente ditas por quem tem talento. No livro, Mauri mostra que tem a coragem e o talento necessários para dizê-las.
Por outro lado, e um tanto contraditoriamente, a obra (uma coletânea de reportagens, a maior parte premiadas, todas sobre tragédias humanas) pode dar alento e trazer um certo otimismo na consideração de que há gente capaz de olhar essa triste realidade e denunciá-la – o que já pode ser um começo de mudança. No mínimo, certamente várias dessas reportagens mudaram as vidas de seus personagens. Se não podemos devolver ao oceano – como naquela conhecida historieta – todas as estrelas do mar que secam na praia sob o sol forte, poderemos fazer toda a diferença para aquelas poucas que conseguirmos lançar ao mar.
O livro é um tapa na cara dos indiferentes, um soco na nossa indiferença. A própria capa – tão terrivelmente chocante e creio que por isso mesmo escolhida pelo próprio Mauri – é uma bofetada na indiferença. Faço votos de que o livro seja muito lido e sirva para combater o tão difundido crime da indiferença.
Por outro lado, e um tanto contraditoriamente, a obra (uma coletânea de reportagens, a maior parte premiadas, todas sobre tragédias humanas) pode dar alento e trazer um certo otimismo na consideração de que há gente capaz de olhar essa triste realidade e denunciá-la – o que já pode ser um começo de mudança. No mínimo, certamente várias dessas reportagens mudaram as vidas de seus personagens. Se não podemos devolver ao oceano – como naquela conhecida historieta – todas as estrelas do mar que secam na praia sob o sol forte, poderemos fazer toda a diferença para aquelas poucas que conseguirmos lançar ao mar.
O livro é um tapa na cara dos indiferentes, um soco na nossa indiferença. A própria capa – tão terrivelmente chocante e creio que por isso mesmo escolhida pelo próprio Mauri – é uma bofetada na indiferença. Faço votos de que o livro seja muito lido e sirva para combater o tão difundido crime da indiferença.
Narrativas de um correspondente de rua
Mauri König
Editora Pós-Escrito
Instituto Cultural de Jornalistas do Paraná
Universidade Positivo
Gazeta do Povo
336 páginas
R$ 30,00
Friday, July 25, 2008
Burrocracia
Um amigo foi aprovado no famigerado Exame de Ordem. Juntou os documentos necessários e foi à OAB pedir sua inscrição na entidade como advogado. A atendente alegou que estava faltando um documento: o certificado de aprovação no Exame de Ordem! Disse que "não tinha no sistema" a relação dos aprovados (que estava afixada num edital a três metros do balcão...) e que só poderia aceitar a solicitação de inscrição com a apresentação do certificado.
É como se alguém quisesse se associar a um clube e a atendente alegasse:
"Para isso, o senhor precisa apresentar um certificado de que pode ser nosso associado."
"E quem fornece o certificado?" - perguntaria o interessado.
"Nós mesmos. Seu nome está publicado nos jornais como aprovado - nós próprios mandamos a relação para os jornais, está também no nosso site. Mas enquanto o senhor não nos pedir um documento que ateste que sua associação pode ser solicitada, não podemos associá-lo."
Dá para entender?
É como se alguém quisesse se associar a um clube e a atendente alegasse:
"Para isso, o senhor precisa apresentar um certificado de que pode ser nosso associado."
"E quem fornece o certificado?" - perguntaria o interessado.
"Nós mesmos. Seu nome está publicado nos jornais como aprovado - nós próprios mandamos a relação para os jornais, está também no nosso site. Mas enquanto o senhor não nos pedir um documento que ateste que sua associação pode ser solicitada, não podemos associá-lo."
Dá para entender?
Thursday, July 17, 2008
Foto pirata?
Um jornal italiano (La Stampa) publicou foto do ator Daniel Dantas em matéria sobre o banqueiro homônimo. Vai ser processado. Isso cheira a jornalismo Control C + Control V, do tipo "pegar a foto na internet". Pode não ser o caso concreto (não pude identificar o crédito da foto pela internet), mas que isso acontece, não há dúvida. Tem "jornalista" que virou copiador. Gente que está cavando a cova da própria profissão...
Paraguai
Meu longo período de silêncio blogueiro se deve a mais uma viagem, desta vez ao Paraguai, de onde escrevo. Paraguai que já foi potência. Um país que tinha tudo para dar certo, mas que emperrou (depois da guerra que lhe deixou uma população reduzidíssima) em décadas de corrupção e desgovernos. País vítima do nosso preconceito - quem nunca ouvi (ou mesmo usou) expressões como "cavalo paraguaio", "produto paraguaio" e outras?
Ciudad del Este é um resumo do país. Tenho passeado por um bairro onde se vêem belas mansões cercadas por altos muros com cercas elétricas. Faz-me lembrar uma frase lapidar de Confúcio: "Num país rico, a pobreza é uma vergonha; num país pobre, a riqueza é uma vergonha."
A cidade é suja, faltam calçadas, a coleta de lixo é precária. O comércio legal e o ilegal vivem lado a lado, como a pobreza e a riqueza. Vi uma menina na rua, mendiga, de uns 14 anos, bonita. Chamava atenção - mais ainda por estar grávida. Triste.
Será que não há um país bem parecido do outro lado da Ponte da Amizade?
Ando pessimista. Não acredito na humanidade. O ser humano é péssimo. Nossa espécie não tem futuro.
Ciudad del Este é um resumo do país. Tenho passeado por um bairro onde se vêem belas mansões cercadas por altos muros com cercas elétricas. Faz-me lembrar uma frase lapidar de Confúcio: "Num país rico, a pobreza é uma vergonha; num país pobre, a riqueza é uma vergonha."
A cidade é suja, faltam calçadas, a coleta de lixo é precária. O comércio legal e o ilegal vivem lado a lado, como a pobreza e a riqueza. Vi uma menina na rua, mendiga, de uns 14 anos, bonita. Chamava atenção - mais ainda por estar grávida. Triste.
Será que não há um país bem parecido do outro lado da Ponte da Amizade?
Ando pessimista. Não acredito na humanidade. O ser humano é péssimo. Nossa espécie não tem futuro.
Monday, June 30, 2008
Bela foto
Há coisas que só uma boa foto pode mostrar - por isso o fotojornalismo é tão importante. Um exemplo é a foto de Jonathan Campos publicada na página 6 do caderno "Gazeta do Povo Esportiva" de hoje, 30/06. A foto flagra o instante exato da falta do jogador Valência (Atlético Paranaense) sobre Marlos (Coritiba), que custou a expulsão do colombiano. O "balé" dos jogadores enche os olhos, mas o que mais impressiona são as expressões de cada um, agressor e agredido. Coisas que só uma foto como essa pode mostrar. Ponto para Jonathan, um dos ótimos fotógrafos da Gazeta.
Wednesday, June 25, 2008
"Loki e Houdini"?
Quem é Loki? Como o célebre ilusionista Houdini foi ressuscitado? Para saber a resposta, leia a Gazeta do Povo (Curitiba-PR) de hoje (25/06), cuja manchete é: Loki e Houdini descobrem banco "pirata" em Curitiba.
Recordemos o que diz o Manual de Redação da Folha de S. Paulo em relação aos títulos:
"A maioria dos leitores de um jornal lê apenas o título da maior parte dos textos editados. Por isso, ele é de alta importância. Ou o título é tudo que o leitor vai ler sobre o assunto ou é o fato que vai motivá-lo ou não a enfrentar o texto. O título deve ser uma síntese precisa da informação mais importante do texto. Sempre deve procurar o aspecto mais específico do assunto e não o mais geral."
Parece que os jornalistas da Gazeta perceberam o absurdo, pois não reproduziram a manchete no portal da internet. Na rede, a manchete da capa da versão impressa não tinha destaque e até desapareceu da "capa" on-line por volta das 9h. Aliás, o texto na internet tem dados diferentes: diz que foram presas 20 pessoas, enquanto a edição em papel indicava 25 presos.
Em suma: na velocidade do jornalismo atual, a apuração passou a ser menos importante que a rapidez com que se divulga a notícia. Triste. Perde-se qualidade de informação. A credibilidade fica sob suspeita.
Nesses tempos em que a pressa cria até notícias falsas (como a inexistente queda de um avião em São Paulo noticiada pela Globo News), vale recordar a lição do mestre Gabriel García Márquez: “A melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se dá melhor.”
Recordemos o que diz o Manual de Redação da Folha de S. Paulo em relação aos títulos:
"A maioria dos leitores de um jornal lê apenas o título da maior parte dos textos editados. Por isso, ele é de alta importância. Ou o título é tudo que o leitor vai ler sobre o assunto ou é o fato que vai motivá-lo ou não a enfrentar o texto. O título deve ser uma síntese precisa da informação mais importante do texto. Sempre deve procurar o aspecto mais específico do assunto e não o mais geral."
Parece que os jornalistas da Gazeta perceberam o absurdo, pois não reproduziram a manchete no portal da internet. Na rede, a manchete da capa da versão impressa não tinha destaque e até desapareceu da "capa" on-line por volta das 9h. Aliás, o texto na internet tem dados diferentes: diz que foram presas 20 pessoas, enquanto a edição em papel indicava 25 presos.
Em suma: na velocidade do jornalismo atual, a apuração passou a ser menos importante que a rapidez com que se divulga a notícia. Triste. Perde-se qualidade de informação. A credibilidade fica sob suspeita.
Nesses tempos em que a pressa cria até notícias falsas (como a inexistente queda de um avião em São Paulo noticiada pela Globo News), vale recordar a lição do mestre Gabriel García Márquez: “A melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se dá melhor.”
Tuesday, June 17, 2008
Meia-entrada para professores
Meia-entrada para professores em eventos culturais? Não consigo entender. Se é obrigação do Estado garantir o acesso do povo à cultura, então que garanta. Mas, num estado capitalista, obrigar estabelecimentos particulares a darem descontos significa fazer com que os não-beneficiários paguem pelos beneficiados. Num regime socialista, tudo bem, é papel do Estado. Mas num país em que umas categorias pagam e outras não, parece um privilégio injustificável. Meia-entrada para quem não pode pagar, isto sim. Desconto para quem tem baixa renda é uma boa idéia, desde que o Estado compense de alguma forma quem investe em cultura e é obrigado a dar os descontos. Ser estudante ou professor não significa não ter condições de pagar. Se alguém merece meia-entrada, são as pessoas de baixa renda, o que não é o caso de muitos estudantes e professores.
Responsabilidade Social
Em Bogotá, conheci uma lanchonete-restaurante chamada Crepes & Wafles (presente em muitos shoppings). Segundo me informaram, todas as funcionárias são mães solteiras - a política da empresa é só contratar mulheres com filho e sem marido. Um bom exemplo.
Wednesday, June 11, 2008
Bogotá
Estive por duas semanas em Bogotá. A violência na capital colombiana não aparece para o turista. Numa cidade grande, com quase oito milhões de habitantes, o problema maior para o visitante, aparentemente, é o trânsito, congestionado em determinados horários e vias, exatamente igual a tantas cidades brasileiras.
Guerrilha? Narcotráfico? No dia-a-dia de um bogotano, esses temas aparecem muito mais na televisão, nos jornais, nas livrarias. De resto, é preciso correr para pegar o Transmilenio (sistema de transporte inspirado nas inovações de Curitiba) e chegar ao trabalho ou à universidade. E tudo começa muito cedo: o bogotano é madrugador.
A guerra maior é contra a pobreza. Cerca de 70% da população colombiana vive nas cidades, distribuídas majoritariamente na região andina, que receberam muita gente fugindo da violência guerrilheira e paramilitar.
Em Bogotá, os desvalidos concentraram-se na parte sul da cidade. Os cariocas que acham que a discriminação Zona Sul – Zona Norte é grande na capital do Rio de Janeiro precisam conhecer Bogotá. É comum haver quem viva na região norte da capital colombiana sem nunca ter pisado no sul. “Não há nada que fazer no sul”, tentava justificar um engenheiro bogotano, evidenciando a discriminação entre as diferentes zonas.
No sul, fica Ciudad Bolívar, conjunto de bairros pobres que poderiam ser chamados no Brasil de favelas, embora não pareçam tão precários quanto as favelas cariocas. A grande maioria das casas é de alvenaria. A maior parte das ruas é pavimentada. Serviços públicos como água, luz (sem muitos “gatos” aparentes) e gás encanado chegam até o alto do morro. E a região não é dominada por traficantes.
Alguns bairros mais próximos do centro (como Las Cruces) são, esses sim, perigosos, com índices altos de criminalidade e presença do tráfico de drogas. Pouco recomendáveis para visitas turísticas. Nada muito diferente da maioria das capitais sul-americanas.
Numa cidade cosmopolita, que recebe gente de todo o país em busca de trabalho, estudo ou refúgio contra a violência do interior, é difícil definir o bogotano típico. Ainda se vêem nas ruas do centro os “cachacos”, senhores tradicionais de Bogotá em seus ternos e gravatas, carregando sempre um guarda-chuva e muitas vezes um sobretudo. Mas num país de muitas diversidades (e rivalidades) regionais, Bogotá é o ponto de encontro de um espírito mais universal. Os bogotanos, em geral, são muito simpáticos e acolhedores.
A guerrilha anda enfraquecida com os últimos golpes que sofreu. E o povo colombiano, cansado de violência - com isso, as Farc perderam muito apoio popular. Sua ação há anos resume-se ao interior. Há mais de 20 anos não age na capital.
Resumindo: Bogotá é uma cidade que vale a pena conhecer, sem medo.
Guerrilha? Narcotráfico? No dia-a-dia de um bogotano, esses temas aparecem muito mais na televisão, nos jornais, nas livrarias. De resto, é preciso correr para pegar o Transmilenio (sistema de transporte inspirado nas inovações de Curitiba) e chegar ao trabalho ou à universidade. E tudo começa muito cedo: o bogotano é madrugador.
A guerra maior é contra a pobreza. Cerca de 70% da população colombiana vive nas cidades, distribuídas majoritariamente na região andina, que receberam muita gente fugindo da violência guerrilheira e paramilitar.
Em Bogotá, os desvalidos concentraram-se na parte sul da cidade. Os cariocas que acham que a discriminação Zona Sul – Zona Norte é grande na capital do Rio de Janeiro precisam conhecer Bogotá. É comum haver quem viva na região norte da capital colombiana sem nunca ter pisado no sul. “Não há nada que fazer no sul”, tentava justificar um engenheiro bogotano, evidenciando a discriminação entre as diferentes zonas.
No sul, fica Ciudad Bolívar, conjunto de bairros pobres que poderiam ser chamados no Brasil de favelas, embora não pareçam tão precários quanto as favelas cariocas. A grande maioria das casas é de alvenaria. A maior parte das ruas é pavimentada. Serviços públicos como água, luz (sem muitos “gatos” aparentes) e gás encanado chegam até o alto do morro. E a região não é dominada por traficantes.
Alguns bairros mais próximos do centro (como Las Cruces) são, esses sim, perigosos, com índices altos de criminalidade e presença do tráfico de drogas. Pouco recomendáveis para visitas turísticas. Nada muito diferente da maioria das capitais sul-americanas.
Numa cidade cosmopolita, que recebe gente de todo o país em busca de trabalho, estudo ou refúgio contra a violência do interior, é difícil definir o bogotano típico. Ainda se vêem nas ruas do centro os “cachacos”, senhores tradicionais de Bogotá em seus ternos e gravatas, carregando sempre um guarda-chuva e muitas vezes um sobretudo. Mas num país de muitas diversidades (e rivalidades) regionais, Bogotá é o ponto de encontro de um espírito mais universal. Os bogotanos, em geral, são muito simpáticos e acolhedores.
A guerrilha anda enfraquecida com os últimos golpes que sofreu. E o povo colombiano, cansado de violência - com isso, as Farc perderam muito apoio popular. Sua ação há anos resume-se ao interior. Há mais de 20 anos não age na capital.
Resumindo: Bogotá é uma cidade que vale a pena conhecer, sem medo.
Thursday, June 05, 2008
Tenho nojo do Palladium
Na Universidad de la Sabana, na cidade de Chía, vizinha de Bogotá, Colômbia, onde estou, procurei na internet notícias do Brasil e vi no UOL matéria com o título "Shopping de Curitiba barra jovens da periferia". Eu já havia visitado o Palladium, e não gostei: um shopping inaugurado às pressas, em obras, com problemas de segurança, piso quebrado, banheiros insuficientes, sujos, sem papel - um desrespeito ao consumidor. Agora, diante da notícia, decidi: não vou mais pisar nesse shopping infame.
Claro que os shoppings se transformaram em "guetos", refúgios paradisíacos das classes média e alta contra a realidade de pobreza e violência das grandes cidades. Entretanto, ainda assim, eles precisam respeitar o direito básico de ir e vir. Se um ambiente privado pode barrar a entrada de alguém usando critérios da mais pura e odiosa discriminação, não merece ser freqüentado por quem tenha um mínimo de consciência social.
Se eu passar diante da porta do shopping, terei ânsia de vômito. Tenho nojo do Palladium. Sugiro um boicote a esse shopping, até que ele mude de conduta!
Claro que os shoppings se transformaram em "guetos", refúgios paradisíacos das classes média e alta contra a realidade de pobreza e violência das grandes cidades. Entretanto, ainda assim, eles precisam respeitar o direito básico de ir e vir. Se um ambiente privado pode barrar a entrada de alguém usando critérios da mais pura e odiosa discriminação, não merece ser freqüentado por quem tenha um mínimo de consciência social.
Se eu passar diante da porta do shopping, terei ânsia de vômito. Tenho nojo do Palladium. Sugiro um boicote a esse shopping, até que ele mude de conduta!
Monday, June 02, 2008
Colômbia
Estive ausente por uns dias devido a uma viagem Bogotá. Na verdade, ainda estou na Colômbia, onde ficarei até o dia 07/06.
Depois postarei notícias...
Depois postarei notícias...
Saturday, May 17, 2008
Lição da rua
Há muitos anos, quando era repórter de um jornal diário, levei um "fora" da namorada. Naturalmente, fiquei arrasado. Confesso que não tanto pelo amor alheio recusado, mas muito mais pelo amor-próprio ferido - afinal, estávamos no começo do relacionamento, naquela fase de esperanças mais que de grandes afetos. De qualquer modo, fiquei mesmo down, como se costuma dizer hoje (em idos tempos, a pessoa "ficava na fossa").
Fui trabalhar. No jornal, cabia-me uma pauta um tanto pesada: fazer uma matéria na ala de queimados do Hospital Evangélico de Curitiba. Lá fui eu. Saí do hospital completamente diferente. Vi que meu grande "problema" era nada e agradeci a Deus pela minha vida privilegiada.
Nesta semana, veio-me essa antiga lembrança quando recebi outra lição "da rua". Estava voltando para casa, absorto em pensamentos sobre os muitos "grandes" problemas do dia-a-dia, quando vi, de relance, um homem parado numa esquina. Os poucos segundos durante os quais o olhei foram suficientes para perceber que ele estava muito incomodado. Não tive a reação imediata de parar o carro, mas a visão daquele homem me impressionou tanto que dei a volta na quadra. Parei o carro, desci e fui até ele perguntar se estava precisando de alguma coisa.
Era um homem, de cerca de 35 a 40 anos, pobremente vestido, com dentes carcomidos. E cego, desses que andam com uma bengalinha para desviar dos obstáculos do caminho. Chorando, ele contou que tinha chegado ali caminhando a pé desde um bairro distante porque marcara encontro com um casal que havia prometido ajudá-lo a comprar uma cesta básica e material para fazer as vassouras que vendia nas ruas. Mas o casal não tinha aparecido. Ele então foi à igreja do bairro, onde lhe disseram também não poder ajudá-lo. O homem não conhecia o bairro, não sabia locomover-se direito por ali. Procurei ajudá-lo de modo que ele ficasse satisfeito. Não sei se sua história era verdadeira (acreditei que sim, afinal, ele não tinha me pedido nada, fui eu quem o abordei, e ele parecia sincero), mas, de qualquer modo, recebi dele muito mais do que lhe dei.
Entretanto, ao contrário do dia da reportagem no hospital, embora considerar a situação alheia também tenha me aberto os olhos para pesar melhor minha realidade, fiquei triste: os "queimados" estavam sendo atendidos num bom hospital, com toda a estrutura e assistência necessárias, e eu não poderia fazer nada melhor por eles. Com aquele homem, não: eu poderia ajudá-lo muito mais. Poderia talvez fazer alguma diferença importante na sua vida. Minha ajuda restringiu-se àquela ocasião, mas a vida do homem cego continuaria igual no dia seguinte.
O que fazer? Como (quase) todo mundo, continuar a vida, a luta cotidiana, fingindo que o que vemos ao nosso redor não nos diz respeito? Onde encontrar uma resposta?
Fui trabalhar. No jornal, cabia-me uma pauta um tanto pesada: fazer uma matéria na ala de queimados do Hospital Evangélico de Curitiba. Lá fui eu. Saí do hospital completamente diferente. Vi que meu grande "problema" era nada e agradeci a Deus pela minha vida privilegiada.
Nesta semana, veio-me essa antiga lembrança quando recebi outra lição "da rua". Estava voltando para casa, absorto em pensamentos sobre os muitos "grandes" problemas do dia-a-dia, quando vi, de relance, um homem parado numa esquina. Os poucos segundos durante os quais o olhei foram suficientes para perceber que ele estava muito incomodado. Não tive a reação imediata de parar o carro, mas a visão daquele homem me impressionou tanto que dei a volta na quadra. Parei o carro, desci e fui até ele perguntar se estava precisando de alguma coisa.
Era um homem, de cerca de 35 a 40 anos, pobremente vestido, com dentes carcomidos. E cego, desses que andam com uma bengalinha para desviar dos obstáculos do caminho. Chorando, ele contou que tinha chegado ali caminhando a pé desde um bairro distante porque marcara encontro com um casal que havia prometido ajudá-lo a comprar uma cesta básica e material para fazer as vassouras que vendia nas ruas. Mas o casal não tinha aparecido. Ele então foi à igreja do bairro, onde lhe disseram também não poder ajudá-lo. O homem não conhecia o bairro, não sabia locomover-se direito por ali. Procurei ajudá-lo de modo que ele ficasse satisfeito. Não sei se sua história era verdadeira (acreditei que sim, afinal, ele não tinha me pedido nada, fui eu quem o abordei, e ele parecia sincero), mas, de qualquer modo, recebi dele muito mais do que lhe dei.
Entretanto, ao contrário do dia da reportagem no hospital, embora considerar a situação alheia também tenha me aberto os olhos para pesar melhor minha realidade, fiquei triste: os "queimados" estavam sendo atendidos num bom hospital, com toda a estrutura e assistência necessárias, e eu não poderia fazer nada melhor por eles. Com aquele homem, não: eu poderia ajudá-lo muito mais. Poderia talvez fazer alguma diferença importante na sua vida. Minha ajuda restringiu-se àquela ocasião, mas a vida do homem cego continuaria igual no dia seguinte.
O que fazer? Como (quase) todo mundo, continuar a vida, a luta cotidiana, fingindo que o que vemos ao nosso redor não nos diz respeito? Onde encontrar uma resposta?
Friday, May 16, 2008
Por falar nisso... "jornalite" ou "opinionismo"
"Jornalite" = jornalismo + palpite. "Opinionismo" = opinião barata disfarçada de jornalismo. Inventei esses termos para designar uma mania dolorosa de alguns jornalistas e veículos que disfarçam com cara de jornalismo palpites e opiniões infundadas. Claro que existe o jornalismo opiniativo, mas este supõe, primeiro, que a manifestação de opinião seja explícita para o receptor e, em segundo lugar, que a opinião seja fundamentada em argumentação consistente e em conhecimento sobre o assunto do qual se fala.
Não é o que tenho visto e ouvido por aí. E não estou falando só daqueles veículos que há muito deixaram de informar para apenas opinar sob o disfarce da informação, fazendo campanha descarada contra ou a favor de qualquer coisa e esquecendo que deveriam simplesmente oferecer informação de qualidade ao público. Refiro-me a certos veículos e jornalistas que tratam o público como um bando de retardados mentais para os quais não basta apenas uma boa informação, mas é preciso a palavra "esclarecedora" do "profundo" analista. Basta pensar em certos "jornalistas" (estou pensando especialmente no rádio) que adoram comentar tudo, qualquer coisa, como se fossem "professores de Deus" especialistas em todos os assuntos possíveis e imagináveis. Meu Deus, quanta bobagem! Quanta besteira dita em tom sério!
Já vi apresentador dando conselhos ao papa, dizendo como Bento 16 deveria governar a Igreja. Seria alguém com vocação enrustida para cardeal? Outro mostrando soluções facílimas para a crise aérea, verdadeiros "ovos de Colombo", nas quais nenhum especialista jamais havia pensado antes (por que será?). Ou outro ainda dizendo que as pessoas fazerem falcatruas e não sofrerem nenhuma conseqüência é coisa de carioca.
Eu disse "professor de Deus"? Há quem parece se achar o próprio, pois julgou que o "padre dos balões" estava desaparecido porque certamente já devia estar no inferno. Parece aquele sujeito que dizia acreditar em Deus porque o via todos os dias de manhã, ao olhar no espelho...
Não é o que tenho visto e ouvido por aí. E não estou falando só daqueles veículos que há muito deixaram de informar para apenas opinar sob o disfarce da informação, fazendo campanha descarada contra ou a favor de qualquer coisa e esquecendo que deveriam simplesmente oferecer informação de qualidade ao público. Refiro-me a certos veículos e jornalistas que tratam o público como um bando de retardados mentais para os quais não basta apenas uma boa informação, mas é preciso a palavra "esclarecedora" do "profundo" analista. Basta pensar em certos "jornalistas" (estou pensando especialmente no rádio) que adoram comentar tudo, qualquer coisa, como se fossem "professores de Deus" especialistas em todos os assuntos possíveis e imagináveis. Meu Deus, quanta bobagem! Quanta besteira dita em tom sério!
Já vi apresentador dando conselhos ao papa, dizendo como Bento 16 deveria governar a Igreja. Seria alguém com vocação enrustida para cardeal? Outro mostrando soluções facílimas para a crise aérea, verdadeiros "ovos de Colombo", nas quais nenhum especialista jamais havia pensado antes (por que será?). Ou outro ainda dizendo que as pessoas fazerem falcatruas e não sofrerem nenhuma conseqüência é coisa de carioca.
Eu disse "professor de Deus"? Há quem parece se achar o próprio, pois julgou que o "padre dos balões" estava desaparecido porque certamente já devia estar no inferno. Parece aquele sujeito que dizia acreditar em Deus porque o via todos os dias de manhã, ao olhar no espelho...
Agruras do rádio ao vivo...
Dia 25 de abril de 2008, por volta das 17h45min, rádio BandNews FM. Boris Casoy fala da epidemia de dengue no Rio de Janeiro e tenta comentar as mortes por dengue hemorrágica. Lembra que é acometido dessa modalidade da doença quem pega dengue pela segunda vez. Quer ressaltar o "azar" de quem é vitimado pela dengue hemorrágica e diz que isso é ..."uma fatalidade fatal que muitas vezes pode levar à morte" (transcrição literal entre aspas).
É... Isso me fez lembrar as palavras de uma "rainha do rádio", dos antigos tempos, a quem perguntaram como ela conseguia fazer rádio sempre falando ao vivo. Ela respondeu que não via problema nenhum, pois todo mundo, inclusive ela, passava a vida toda falando só ao vivo... O que ela diria se ouvisse rádio hoje?
É... Isso me fez lembrar as palavras de uma "rainha do rádio", dos antigos tempos, a quem perguntaram como ela conseguia fazer rádio sempre falando ao vivo. Ela respondeu que não via problema nenhum, pois todo mundo, inclusive ela, passava a vida toda falando só ao vivo... O que ela diria se ouvisse rádio hoje?
Thursday, May 15, 2008
Ética jornalística?
Recebi um exemplar gratuito de uma tal "Revista da Semana". Enquanto os professores lutam contra a invasão do plágio nas produções escolares, da pré-escola à pós-graduação, a Editora Abril mostra que dá, sim, para ganhar dinheiro roubando trabalho alheio sem ser incomodado. A tal revistinha é toda "chupada" - não tem uma matéria própria assinada por jornalista, só textos retirados de agências (supõe-se que pelos menos esses serviços sejam pagos pela Abril) e de outros veículos. Um descaramento total, sem a menor vergonha.
Notinhas resumidas de matérias da Folha, do Estadão, O Globo, The New York Times, Independent, International Herald Tribune etc. etc. As grandes empresas de comunicação que têm lutado contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo devem estar gostando, pois a Abril mostra que nem precisa de jornalistas para fazer uma revista. Basta um "empacotador", que resuma textos feitos por outros, de qualquer lugar do mundo, disponíveis na internet.
E ainda tiveram a desfaçatez de me oferecer uma assinatura da revistinha! Não, senhores, obrigado: tenho computador com acesso à internet e posso procurar por mim mesmo as notícias de meu interesse. E não pactuo com a ilegalidade e a falta de ética.
Notinhas resumidas de matérias da Folha, do Estadão, O Globo, The New York Times, Independent, International Herald Tribune etc. etc. As grandes empresas de comunicação que têm lutado contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo devem estar gostando, pois a Abril mostra que nem precisa de jornalistas para fazer uma revista. Basta um "empacotador", que resuma textos feitos por outros, de qualquer lugar do mundo, disponíveis na internet.
E ainda tiveram a desfaçatez de me oferecer uma assinatura da revistinha! Não, senhores, obrigado: tenho computador com acesso à internet e posso procurar por mim mesmo as notícias de meu interesse. E não pactuo com a ilegalidade e a falta de ética.
No lugar errado
Carlos Minc no Ministério do Meio Ambiente? Ele seria o nome certo para o Ministério da Indústria e Comércio...
Ministra deveria ser presa?
Pela lógica de alguns ilustres membros do Judiciário brasileiro, a ministra de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, deveria ser presa. Ela publicou um artigo sob o título "Fúria judicial contra mulheres", reproduzido em inúmeros veículos por todo o país. No artigo, a ministra defende a prática do aborto. Ora, o aborto é crime - portanto, defender sua prática é fazer apologia do crime.
Por que se calam a esse respeito os mesmos "zelosos" juízes que proibíram em diversas cidades a marcha pela legalização da maconha? Onde estão os laboriosos membros do Ministério Público que moveram o Judiciário para que a marcha fosse proibida? Dois pesos, duas medidas... que indicam o atraso da nossa "democracia", que ainda proíbe discussão de idéias e manifestação de pensamento.
Vamos gritar de novo, décadas depois: "Abaixo a ditadura!" Pela plena liberdade de expressão!
Por que se calam a esse respeito os mesmos "zelosos" juízes que proibíram em diversas cidades a marcha pela legalização da maconha? Onde estão os laboriosos membros do Ministério Público que moveram o Judiciário para que a marcha fosse proibida? Dois pesos, duas medidas... que indicam o atraso da nossa "democracia", que ainda proíbe discussão de idéias e manifestação de pensamento.
Vamos gritar de novo, décadas depois: "Abaixo a ditadura!" Pela plena liberdade de expressão!
Wednesday, May 14, 2008
Como fazer um clube vencedor
O campeonato paranaense já ficou para trás faz tempo. Mas creio que ainda é oportuno colher lições do desempenho do Atlético Paranaense na competição. Algumas considerações...
1) A diretoria do CAP não aceitou a cota de R$ 1 milhão oferecida pela TV. O que ganhou com isso? A antipatia do torcedor, que não pôde acompanhar pela televisão os jogos do time que quebrou o recorde de vitórias no campeonato. Além de ter perdido a oportunidade de conseguir mais torcedores pela divulgação dos jogos daquele time que, na ocasião, tinha um desempenho espetacular. E, obviamente, deixou de ganhar R$ 1 milhão! É pouco dinheiro?
2) O que se pode fazer com R$ 1 milhão? Manter um jogador do nível de Ferreira ou Claiton, por exemplo. E valeria a pena: valeria um título, o que significa mais torcedores, mais sócios-Furacão, estádio cheio, mais renda. Nota zero para o "tino comercial" de quem não foi capaz de enxergar isso, que parece tão óbvio.
3) Tudo bem que o CAP tem todo direito de cobrar pelas transmissões de rádio. Ele paga os salários dos jogadores, investe, mantém as cabines de rádio. Quem quiser transmitir (e, obviamente, as rádios lucram com essas transmissões) tem que pagar, sim. Só que o modus operandi da diretoria foi o pior possível. Primeiro, o clube deveria negociar as transmissões em conjunto com os outros clubes, já que não joga sozinho (ao que parece, é o que afinal a Futpar vai fazer). Além disso, soou perfeitamente ridículo fazer todo aquele "show" em torno das transmissões e, na contra-mão de seu próprio discurso, transmitir jogos pela internet sem consultar os adversários. Ridículo! Essas atitudes só conseguem a antipatia de muita gente.
4) O auge da insensatez foi proibir a comemoração do título do Coritiba na Arena. Atitude desastrada! Ao anunciar a decisão, a diretoria já deu mostras de não acreditar no time. O discurso deveria ser: quem ganhar vai comemorar, pois os campeões seremos nós. O argumento da segurança "independemente do time que ganhar" é risível - quando o CAP ganhou o campeonato na Arena, não houve qualquer problema. Mais uma atitude antipática. Ouvi uma pessoa desinteressada de futebol dizer que "pegou ódio do Atlético" por causa dessas atitudes.
Enfim, esse é o desabafo de um atleticano. Tomara que o time vá bem, que o clube invista no time - afinal, o CAP é um clube de futebol, e um time de futebol vive de títulos. Quem vive de compra e venda de mercadoria são as empresas, que não têm torcedores, mas acionistas. Embora exija uma administração profissional, o negócio futebol é completamente diferente de uma empresa comercial qualquer. O torcedor, literalmente, veste a camisa, lamenta se o produto é ruim, mas não deixa de consumi-lo e desejar que melhore - e até fazer sacrifício para isso -, ao contrário do que acontece em outros "ramos".
Tomara que a direção aprenda todas as lições do campeonato paranaense. E que venham bons jogadores, partidas memoráveis, títulos, estádio cheio, 30 mil sócios, Arena completa (o que não valerá nada se o time não for um time campeão).
1) A diretoria do CAP não aceitou a cota de R$ 1 milhão oferecida pela TV. O que ganhou com isso? A antipatia do torcedor, que não pôde acompanhar pela televisão os jogos do time que quebrou o recorde de vitórias no campeonato. Além de ter perdido a oportunidade de conseguir mais torcedores pela divulgação dos jogos daquele time que, na ocasião, tinha um desempenho espetacular. E, obviamente, deixou de ganhar R$ 1 milhão! É pouco dinheiro?
2) O que se pode fazer com R$ 1 milhão? Manter um jogador do nível de Ferreira ou Claiton, por exemplo. E valeria a pena: valeria um título, o que significa mais torcedores, mais sócios-Furacão, estádio cheio, mais renda. Nota zero para o "tino comercial" de quem não foi capaz de enxergar isso, que parece tão óbvio.
3) Tudo bem que o CAP tem todo direito de cobrar pelas transmissões de rádio. Ele paga os salários dos jogadores, investe, mantém as cabines de rádio. Quem quiser transmitir (e, obviamente, as rádios lucram com essas transmissões) tem que pagar, sim. Só que o modus operandi da diretoria foi o pior possível. Primeiro, o clube deveria negociar as transmissões em conjunto com os outros clubes, já que não joga sozinho (ao que parece, é o que afinal a Futpar vai fazer). Além disso, soou perfeitamente ridículo fazer todo aquele "show" em torno das transmissões e, na contra-mão de seu próprio discurso, transmitir jogos pela internet sem consultar os adversários. Ridículo! Essas atitudes só conseguem a antipatia de muita gente.
4) O auge da insensatez foi proibir a comemoração do título do Coritiba na Arena. Atitude desastrada! Ao anunciar a decisão, a diretoria já deu mostras de não acreditar no time. O discurso deveria ser: quem ganhar vai comemorar, pois os campeões seremos nós. O argumento da segurança "independemente do time que ganhar" é risível - quando o CAP ganhou o campeonato na Arena, não houve qualquer problema. Mais uma atitude antipática. Ouvi uma pessoa desinteressada de futebol dizer que "pegou ódio do Atlético" por causa dessas atitudes.
Enfim, esse é o desabafo de um atleticano. Tomara que o time vá bem, que o clube invista no time - afinal, o CAP é um clube de futebol, e um time de futebol vive de títulos. Quem vive de compra e venda de mercadoria são as empresas, que não têm torcedores, mas acionistas. Embora exija uma administração profissional, o negócio futebol é completamente diferente de uma empresa comercial qualquer. O torcedor, literalmente, veste a camisa, lamenta se o produto é ruim, mas não deixa de consumi-lo e desejar que melhore - e até fazer sacrifício para isso -, ao contrário do que acontece em outros "ramos".
Tomara que a direção aprenda todas as lições do campeonato paranaense. E que venham bons jogadores, partidas memoráveis, títulos, estádio cheio, 30 mil sócios, Arena completa (o que não valerá nada se o time não for um time campeão).
Tezzão!
Cristóvão Tezza está sem dúvida entre os melhores escritores brasileiros da atualidade. Tem obras antológicas, acumula merecidíssimos prêmios e tem um domínio completo do nosso idioma, que maneja maravilhosamente. Além de ser um cara muito bacana. O jornal Gazeta do Povo passou a publicar crônicas suas. Muito saborosas! Divertidíssima a crônica "O dentista coxa-branca". Agora é obrigação acompanhar suas crônicas na Gazeta.
Mídia de dar nojo...
A cobertura do "caso Isabela" dá nojo. Sinto vontade de vomitar quando vejo Willian Waack falar com cara séria sobre o caso, como se fosse a coisa mais importante e relevante do mundo (é claro que é triste, chocante - mas quantos casos parecidos acontecem sem a mesma cobertura?). A "gloriosa" Globo é mais uma em busca do sensacionalismo que renda audiência. Uma emissora "vendida": se deu audiência, dá lucro, e isso é o que importa. Pior é ver jornalistas embarcando nessa. Se a emissora lhes paga o salário, fazem qualquer coisa - é um tipo de prostituição profissional (com todo respeito às prostitutas, que pelo menos dão o que oferecem claramente). Prometer informação útil e relevante e vender-se ao sensacionalismo é nojento, degradante.
Pior é ver o Judiciário, na rabeira da mídia, "jogando para a torcida", como escreveu muito apropriadamente o advogado Adel el Tasse. Aqueles que deveriam julgar com isenção se rendem à sedução da mídia. Indignante!
Pior é ver o Judiciário, na rabeira da mídia, "jogando para a torcida", como escreveu muito apropriadamente o advogado Adel el Tasse. Aqueles que deveriam julgar com isenção se rendem à sedução da mídia. Indignante!
Rubens Barrichello: um vencedor
Tem gente que tem mania de criticar o piloto Rubens Barrichello, o Rubinho. Mania ridícula. Rubinho é um dos melhores pilotos do mundo. Já foi vice-campeão de Fórmula 1, é o recordista em número de grandes-prêmios disputados. Merece respeito. Ninguém sobrevive tanto tempo num ambiente extremamente competitivo se não for competente. Quem acha que ele não merece elogios, pergunte a si mesmo: "Sou um dos 20 melhores do mundo na minha profissão?" Rubinho é. E há muito tempo. Eu ficaria muito feliz se fosse reconhecido como um dos 20 melhores jornalistas do mundo. Você, leitor, está entre os 20 melhores do mundo em alguma coisa?
Thursday, February 28, 2008
Um só Furacão...
Igualado o recorde de 11 jogos vencidos no início do Campeonato Paranaense, ainda vai ter gente querendo comparar os “dois” times do Furacão, nessa polêmica sem sentido. Para começar, uma instituição é única ao longo de sua história. Não há dois Atléticos, nem dois Furacões. O Clube Atlético Paranaense, o Furacão da Baixada, é um só. Dirigentes, jogadores, funcionários e torcedores vêm e vão, mas o Atlético continua sendo ele mesmo. Todos dizem que o Brasil é pentacampeão mundial de futebol – embora a campeã seja a seleção brasileira e não o país, e embora os cinco títulos tenham sido conquistados com muitos times diferentes. A glória dos 11 jogos de 1949 também é do Atlético de hoje, assim como a conquista de 2008 será das equipes futuras do Atlético.
A comparação é tão inviável que o próprio ex-jogador Cireno ironiza dizendo que são esportes diferentes (afirmando que o atual deveria ser chamado de “trombobol”). Claiton respondeu bem, argumentando que o futebol em 1949 era amador. Com certeza, eram “futebóis” diferentes. Até mesmo as regras, várias delas, mudaram de lá para cá.
Para se comprovar a impossibilidade de comparações, um dado interessante a analisar é a relação dos 11 jogos de 1949 (aliás, o campeonato todo teve 12 jogos, com sete times disputando-o em pontos corridos, turno e returno – o campeonato atual tem 15 jogos só na primeira fase, com 16 times. Grandes diferenças...). Os dados foram publicados na Gazeta do Povo por Tiago Recchia (que atribui o crédito das informações a Heriberto Machado e Valério Júnior, autores do livro “Atlético – a paixão de um povo”):
1) 4 x 2 no Água Verde (14/5)
2) 4 x 0 no Palestra Itália (22/5)
3) 5 x 1 no Juventus (5/6)
4) 5 x 1 no Britânia (19/6)
5) 4 x 2 no Ferroviário (3/7)
6) 5 x 1 no Coxa (7/8)
7) 7 x 3 no Água Verde (18/9)
8) 4 x 2 no Britânia (25/09)
9) 4 x 3 no Palestra Itália (13/11)
10) 4 x 0 no Juventus (19/11)
11) 3 x 2 no Coritiba (sem indicação da data).
Vejam só: no máximo dois jogos por mês! Julho e agosto com um jogo só, e nenhuma partida em outubro! O que será que os jogadores faziam no resto do tempo? Treinavam? Passeavam? Faziam excursões ao Paraguai? E como eram esses “atletas”? Será que fumavam como Gérson e bebiam como Garrincha? Outra questão: o campeonato era mesmo “estadual”? De que cidades eram os times do Água Verde, Palestra, Britânia, Ferroviário, Juventus? Parece um campeonato metropolitano, como o da nossa atual suburbana... Enfim, não há como fazer uma comparação lógica. São dois mundos...
E com todo respeito ao octogenário Cireno, que disse que o time atual do Atlético perderia de 15 a 0 se jogasse com o Furacão de 1949, discordo... O atual, provavelmente, venceria por 90 a 0, um gol por minuto, pois os jogadores de 1949 ou já morreram ou estão muito velhinhos para correr atrás da bola... Viu como não dá para comparar?
Que sejam então reconhecidos os méritos do Atlético, do Furacão de hoje, que continua sendo o mesmo de ontem e permanecerá sempre o Furacão!
A comparação é tão inviável que o próprio ex-jogador Cireno ironiza dizendo que são esportes diferentes (afirmando que o atual deveria ser chamado de “trombobol”). Claiton respondeu bem, argumentando que o futebol em 1949 era amador. Com certeza, eram “futebóis” diferentes. Até mesmo as regras, várias delas, mudaram de lá para cá.
Para se comprovar a impossibilidade de comparações, um dado interessante a analisar é a relação dos 11 jogos de 1949 (aliás, o campeonato todo teve 12 jogos, com sete times disputando-o em pontos corridos, turno e returno – o campeonato atual tem 15 jogos só na primeira fase, com 16 times. Grandes diferenças...). Os dados foram publicados na Gazeta do Povo por Tiago Recchia (que atribui o crédito das informações a Heriberto Machado e Valério Júnior, autores do livro “Atlético – a paixão de um povo”):
1) 4 x 2 no Água Verde (14/5)
2) 4 x 0 no Palestra Itália (22/5)
3) 5 x 1 no Juventus (5/6)
4) 5 x 1 no Britânia (19/6)
5) 4 x 2 no Ferroviário (3/7)
6) 5 x 1 no Coxa (7/8)
7) 7 x 3 no Água Verde (18/9)
8) 4 x 2 no Britânia (25/09)
9) 4 x 3 no Palestra Itália (13/11)
10) 4 x 0 no Juventus (19/11)
11) 3 x 2 no Coritiba (sem indicação da data).
Vejam só: no máximo dois jogos por mês! Julho e agosto com um jogo só, e nenhuma partida em outubro! O que será que os jogadores faziam no resto do tempo? Treinavam? Passeavam? Faziam excursões ao Paraguai? E como eram esses “atletas”? Será que fumavam como Gérson e bebiam como Garrincha? Outra questão: o campeonato era mesmo “estadual”? De que cidades eram os times do Água Verde, Palestra, Britânia, Ferroviário, Juventus? Parece um campeonato metropolitano, como o da nossa atual suburbana... Enfim, não há como fazer uma comparação lógica. São dois mundos...
E com todo respeito ao octogenário Cireno, que disse que o time atual do Atlético perderia de 15 a 0 se jogasse com o Furacão de 1949, discordo... O atual, provavelmente, venceria por 90 a 0, um gol por minuto, pois os jogadores de 1949 ou já morreram ou estão muito velhinhos para correr atrás da bola... Viu como não dá para comparar?
Que sejam então reconhecidos os méritos do Atlético, do Furacão de hoje, que continua sendo o mesmo de ontem e permanecerá sempre o Furacão!
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