Friday, September 12, 2008

Por que gostamos tanto de futebol?

Sempre me pergunto por que gostamos tanto de futebol. Eu mesmo, grande apreciador desse incomparável esporte, não consigo entender meu próprio gosto. Tento forçar a memória para me lembrar como me surgiu este apego tão inexplicável. Vejo-me com 14 anos em Cambará, no interior do Paraná, minha cidade natal.

Quando nasci, Cambará vivia as últimas glórias (moderadas, é verdade...) do CAC – Cambará Atlético Clube, campeão do Norte Paranaense em 1963 e 1964, um ano antes de se retirar do futebol profissional. Foi só anos depois, em 1974, que surgiu a Sociedade Esportiva Matsubara. Transformou-se logo no time de todos nós, cambaraenses.

Com meus 14 anos, eu era, modéstia à parte, um excelente goleiro. Jogava sobretudo no campinho de areia do Clube Norte, onde era convidado pelos “mais velhos” (os jovens de 18 a 20 anos...) para jogar com eles, que chegavam a brincar dizendo que o vencedor da partida era quem ganhava no par ou ímpar para começar a escolher o time – eu, que tinha então o apelido futebolístico de “Aranha”, era sempre o primeiro escolhido, garantia de que o time não levaria gols.

Quando me mudei para Curitiba, em 1976, minha família estabeleceu-se no Ahu. Logo procurei onde assistir a bons jogos de futebol, diversão rara na cidadezinha-sede do Matsubara. Pela proximidade, comecei a freqüentar o Belfort Duarte. Lá, assisti jogos como Brasil 1 x 1 Seleção Paranaense, naqueles esquisitos tempos em que a seleção brasileira treinava jogando contra seleções estaduais (enfrentando, naturalmente, sempre uma torcida contrária!). Um dia, tive o prazer de poder assistir ao “meu” Matsubara jogar no Couto Pereira. Era em 1977, numa rodada dupla (outra coisa rara hoje!). Lembro-me de outros dois times envolvidos nos confrontos: Atlético e Coritiba. Não me lembro do quarto, provavelmente Pinheiros ou Colorado. Mas me lembro bem que o Matsubara jogaria contra o Coritiba, enquanto o Atlético enfrentaria o outro time. Fiquei, naturalmente, junto à torcida do Atlético.

Quando chegou o ônibus com os torcedores da TOM (a Torcida Organizada do Matsubara – diga-se aqui de passagem, único caso de torcida dona de estádio, pois foi a TOM quem construiu o Estádio Regional de Cambará, que leva este nome por ser capaz de abrigar toda a população urbana do município!), fui recepcioná-los na entrada para conduzi-los junto à torcida do Atlético, com todo o cuidado, esclarecendo que aquele verde-e-branco não era do rival coxa.

Foi meu primeiro contato com o calor da torcida rubro-negra. Torcemos juntos, pelo Matsubara e contra o coxa. Quando tive que escolher um time na capital paranaense, não havia como escolher outro: tornei-me atleticano.

Bem, toda essa história não responde à pergunta do título. Afinal, por que tanto gosto? Depois de muito pensar e procurar teorias explicativas, tanto na Sociologia quanto na Psicologia, elaborei minha própria resposta: é um traço da nossa ancestralidade troglodita. Não precisamos mais caçar para comer, não temos mais que disputar as fêmeas a tacape e arrastá-las pelos cabelos para nossas cavernas. Ficamos órfãos da disputa física por território, comida e garantia de perpetuação da raça. Mas milênios de “civilização” não foram suficientes para que muitos de nós nos livrássemos do gene que nos impulsiona para a luta física da sobrevivência (louvo aqueles que o conseguiram e não gostam de futebol!).

Nós, então, trogloditas mal-civilizados, transferimos para aquele retângulo de grama toda nossa energia ancestral. É lá, dentro ou em torno dele, que fazemos a catarse da nossa ancestralidade bruta. É lá que descarregamos tudo que o instinto quase-animal reclama do nosso íntimo. Enxergamos no rival aquele que nos disputa o território, o tigre-de-dentes-de-sabre a abater, o alimento a conquistar. Esse é o grande e importantíssimo papel do futebol em nossas vidas!

Portanto, senhoras esposas, namoradas, noivas e amantes: não nos censurem o gosto pelo futebol. É para o bem de todos, pela segurança das mulheres brasileiras...

5 comments:

Yvana Barreiros said...

Sugestão: compre um saco de areia e espante seus demônios rsrsrs...

Yvana Barreiros said...

Se não for suficiente, pratique vale-tudo...

Anonymous said...

Caro irmão, não é só isso - ou não é isso, talvez. Não esqueça que, desde que nascemos (e quando você nasceu o Brasil já era bicampeão mundial), sofremos influência desse futebol, uma semi-lavagem cerebral. Não me lembro, dos círculos familiares comuns, de nenhum pai que comprasse uma bola de vôlei para brincar com o filhote...
Avise seus leitores que o Belfort Duarte é, hoje, o Couto Pereira, só mudou de nome.
E relembre aquele jogo do Matsubara contra o Coritiba, aí na capital, quando o ônibus das torcida visitantes não chegou e ficamos só eu e você torcendo pelo verde-branco algodoeiro. Quando o Matsubara fez um gol, nosso rojão - ou o barulho dele - até apareceu no jornal da noite, na TV (ainda se podia levar rojão ao estádio, na época).

Tomás Barreiros said...

Ah! Belas recordações! É verdade, um dia fomos os únicos torcedores do Matsubara contra o coxa no estádio do rival (o então Belfort Duarte, hoje Couto Pereira)...

Anonymous said...

Uma pena o Matsubara um dia ter tentado mudar para Londrina. Alias, no ano da mudança só não levaram a taça pois o Sueo, Neto e o Victor Hugo a cada semana visitavam uma praia diferente no nordeste, chapavam o cabeçote e depois voltavam para os jogos.

A concentração do Matsubara era um verdadeiro bordel...eu conheço jogadores do Londrina que participaram das festinhas na chácara do Belinati...

Infelizmente a pretensão do clube não era ser campeão...e seria também muito infeliz ser campeão fora de Cambará.