Wednesday, January 13, 2010

Luto por Zilda Arns

Interrompo minhas férias “blogais” para lamentar profundamente a morte de uma das maiores personalidades que o Brasil já teve, Zilda Arns, criadora da Pastoral da Criança.

Indicada merecidamente ao Prêmio Nobel da Paz por três vezes (e mais justo seria que ela tivesse recebido o prêmio, e não o presidente que faz guerra), sua atuação foi responsável por salvar a vida de milhões de crianças em diversos países.

Zilda foi vítima do terrível terremoto que flagelou o Haiti, onde ela estava em mais uma de suas missões humanitárias. Perda irreparável. Mas se existe o céu no qual ela acreditava, com certeza ela já tinha lá seu lugar garantido.

A lamentar também a tristíssima situação do Haiti, país mais pobre do continente e que já sofria com muitíssimos problemas de difícil solução. Tomara que ao menos a tragédia faça o mundo olhar para esse país que tanto precisa de ajuda.

Monday, December 28, 2009

Avatar

Fui ver “Avatar” no IMax. Personagens “planos”, roteiro bem fraquinho, previsível, cheio de lugares-comuns. Visualmente deslumbrante.

A sétima arte pode fazer, basicamente, duas coisas: 1) contar uma boa história; 2) encantar a visão. Avatar cumpre maravilhosamente o segundo item, embora deixe muito a desejar no primeiro.

Mal comparando, é como num quadro: uma pintura abstrata pode ser linda e arrebatadora, mesmo sem “contar uma história”, assim como uma cena histórica importante, por exemplo, pode ser retratada com maior ou menor habilidade pelo pintor e ficar mais ou menos bonita.

Avatar é assim: uma história óbvia e sem graça que serve para apresentações visuais fantásticas. Resumindo: é um filme que merece ser assistido por quem gosta de ver coisas belas.

Friday, December 25, 2009

Segurança nos estádios: o normal, o excepcional e o paranoico


O caso da violência no estádio Couto Pereira após a partida Coritiba x Fluminense tem dominado o noticiário esportivo. Independentemente das consequências que o fato possa ter para o clube, a questão possibilita algumas reflexões importantes. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que a violência não é “privilégio” dos estádios de futebol. Ela existe na sociedade e se potencializa em aglomerações, ainda mais as que envolvem paixão, como é o caso das partidas de futebol. Ademais, é curioso, ante a ameaça de violência, atestar a ideia um tanto generalizada de que a lei pode resolver tudo, inclusive os problemas sociais. Há uma fantasia difusa de que basta criar uma lei para que um problema se resolva, como se a lei tivesse um poder mágico de transformação social, o que é absolutamente irreal.

No caso específico da invasão do campo do Coritiba, a legislação indica as atitudes esperadas de uma agremiação esportiva. O artigo 211 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva penaliza a instituição que “Deixar de manter o local que tenha indicado para realização do evento com infraestrutura necessária a assegurar plena garantia e segurança de para sua realização”. Já o artigo 213 prevê sanções à entidade que “Deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto” – e seu parágrafo primeiro completa: “Incide nas mesmas penas a entidade que, dentro de sua praça de desporto, não prevenir e reprimir a sua invasão bem assim o lançamento de objeto no campo ou local da disputa do evento desportivo”. Alegar que o Couto Pereira não tem a infraestrutura necessária para um jogo de futebol é afrontar a realidade. O estádio tem condições semelhantes à da grandíssima maioria dos estádios brasileiros. Dizem os críticos que a estrutura não impede a invasão dos torcedores. Mas qual estrutura faria isso? Um fosso de seis metros de largura e cinco de profundidade, guarnecido por grades de ferro pontiagudas? Ridículo.

Muitos dos fantásticos estádios europeus não têm qualquer barreira física entre a torcida e o campo. Um bom exemplo é o magnífico Estádio do Dragão, do Futebol Clube do Porto, em Portugal. A primeira fila de cadeiras está a cerca de cinco metros da linha lateral do campo, e não há qualquer barreira física que impeça a invasão – apenas uma mureta baixa de menos de um metro de altura (ver foto nest post). A segurança dos 40 mil torcedores em dia de grandes jogos é feita por 200 guardas desarmados.

Qual seria o efetivo necessário para impedir a invasão do campo no Couto Pereira numa partida com 35 mil torcedores? Provavelmente, 300 soldados armados de metralhadores e granadas! Sim, pois se os 35 mil resolvessem invadir o campo para massacrar os jogadores, o trio de arbitragem, os dirigentes e os policiais, ninguém poderia impedir – a não ser muitos soldados fortemente armados. E como “prevenir e reprimir” o “lançamento de objeto no campo”? Como evitar que cada um dos 35 mil presentes jogue qualquer coisa no gramado? As atitudes possíveis são aquelas tomadas por todos os clubes: encher o estádio de avisos, repeti-los no sistema de som do estádio, pedir aos próprios torcedores que denunciem os infratores para que sejam detidos. O único modo de cumprir à risca o que manda a letra da lei seria não ter torcedores no estádio, ou cercar o campo com o célebre “escudo magnético de segurança” da nave espacial da antiga série “Perdidos no Espaço” – coisa de ficção, portanto.

Como a lei não tem o poder mágico de fazer com que os problemas se resolvam, o julgador, em geral, tem o bom senso de avaliar as atitudes possíveis, e não aquelas imaginadas pelo regulamento, muitas vezes idealizadas e impossíveis. Portanto, no caso concreto do Coritiba, pode-se dizer que o clube tomou as providências cabíveis. A infraestrutura do estádio é adequada, o efetivo era o necessário. Afora isso, não há como impedir um bando de arruaceiros de invadir o campo – salvo dos modos excepcionais já mencionados, que não se justificam em situações ordinárias, como é uma partida de futebol como todas as outras milhares realizadas ao longo do ano em centenas de estádios Brasil afora. Numa situação extraordinária como a que ocorreu, a polícia agiu conforme deveria. Após o fato, o que se pode fazer é punir os vândalos – e para isso o clube tem colaborado ativamente.

O Coritiba provavelmente receberá uma punição dura, a pretexto de servir de exemplo. Mas de nada adiantará, pois não há mais o que fazer nos estádios além daquilo que fez o clube, igual ao que todos fazem. A vida em sociedade pressupõe um determinado padrão de comportamento das pessoas, sem o qual o convício social seria impossível. Não deixo de andar na rua XV com medo de que os passantes me assaltem – embora fosse impossível eu me safar se os pedestres da XV de repente resolvessem deixar-me nu na rua, levando todos meus pertences – independentemente da existência de câmeras de vigilância, policiais ou qualquer outra coisa. Isso não acontece, pois vivemos numa situação de normalidade, baseada num pacto social que possibilita o convívio coletivo. Quem rompe essas regras de normalidade é o criminoso.

Já se tornou lugar comum afirmar que se os favelados do Rio de Janeiro resolvessem descer o morro para saquear o comércio não haveria como impedir. E não haveria mesmo, salvo em condições de guerra assumida. Mas todos sabem que isso não vai acontecer – não apenas porque a quase totalidade dos moradores das favelas cariocas é composta por gente trabalhadora e honesta, mas porque, em condições normais, as pessoas respeitam o pacto de convívio social. Em lugares onde há conflito declarado, as coisas mudam. Se aqui os shoppings centers não têm qualquer esquema de segurança que impeça alguém de entrar com uma bomba, o mesmo não acontece, por exemplo, em Bogotá, na Colômbia, onde em alguns shoppings os carros que entram são revistados com o auxílio de cães farejadores de explosivos. Lá, a normalidade foi rompida pela atuação da guerrilha – embora os atentados na capital colombiana não aconteçam há tempos, o que inclusive tem levado ao afrouxamento das medidas extraordinárias de segurança.

O que houve no Couto Pereira, portanto, foi uma situação de excepcionalidade que não há como prevenir senão com ações excepcionais – e não seria o caso de preparar essas ações, porque seria inviável haver em cada estádio de futebol um aparato de segurança comparável ao que se usa num país em guerra. Se havia uma ameaça prévia, o clube providenciou um número bem maior do que o habitual de seguranças particulares, assim como a Polícia Militar designou um efetivo maior de policiais para a garantia da ordem no estádio.

Aqueles que rompem o pacto de convívio social devem ser punidos. De resto, não há por que viver uma paranoia de segurança como se todos os eventos com grande número de pessoas pudessem transformar-se no Armagedon. Em condições normais, a segurança dos estádios de futebol tem sido adequada, e uma punição excessivamente rigorosa a um único clube, por um caso excepcional, em nada mudará o panorama.

Wednesday, December 23, 2009

Sobre viver e morrer

No mês passado, recebi a inesperada notícia de uma morte precoce na família. A morte de uma prima que esteve muito presente na minha infância. Nossas famílias eram muito próximas e parecidas: pai, mãe e quatro filhos. No caso dela, quatro filhas; na minha família, três meninos e uma menina. Nos encontrávamos todo final de semana, brincávamos juntos.

Foi de repente, um câncer fulminante, que a levou em menos de dois meses depois de descoberto. Há décadas, desde que me mudei com a família de Cambará para Curitiba, não tínhamos contato constante. Mas as lembranças são marcantes.

Tudo que sei de seus últimos dias é edificante. Ao contrário da ideia talvez generalizada, sua morte parece-me – com exceção, obviamente, da precocidade – o tipo de morte ideal, a morte de antigamente: aquela na qual há tempo para pensar, refletir, preparar-se, despedir-se. Contaram-me que foi exatamente assim com ela, que pôde falar com cada uma das filhas, com o marido, com as irmãs, com aqueles que a assistiam nos últimos instantes. Não, nada da morte repentina e imediata, tão desejada por muitos hoje, mas a “morte bem morrida”...

Lívia, leve, nívea, neve... As palavras que me vinham quando pensava no seu nome não correspondem exatamente à imagem que sempre tive dela, muito mais cheia de cores: uma mulher sempre jovem, sempre muito bonita, animada, forte, corajosa, independente. Tão corajosa a ponto de criar três filhas no mundo de hoje!

Sua cerimônia fúnebre foi de forte emoção. Eu, que já fui muito religioso e hoje sou um tanto cético, admirei-me da força de sua família. Para mim, a morte é incompreensível – as explicações da religião parecem-me construções consoladoras diante do inexorável. Mas vi nas minhas primas uma força que certamente vem de suas convicções religiosas.

Na cerimônia fúnebre que poderia ser qualificada de “pós-moderna” – tão adequada aos tempos de hoje, sem perder nada da dignidade e da emoção próprias de um momento como esse – foi exibido um filme com uma mensagem muito bonita. Falava de um veleiro que se distanciava da costa: aqueles que o viam partir o perdiam de vista e poderiam acreditar que ele desaparecera na linha distante onde o céu toca as ondas. Entretanto, além-mar, os que esperavam do outro lado a chegada do veleiro viam-no crescer pouco a pouco até se aproximar. Apesar das diferentes visões, o barco que atravessou o oceano era sempre o mesmo, igual a si próprio, íntegro, em qualquer dos lados da passagem. Uma bela mensagem, talvez enfim um consolo para minha visão inconsolável da morte.

Ao final, as tocantes palavras de despedida dos familiares, para as quais não há comentário possível senão as lágrimas... Felizes dos que têm a certeza do reencontro!

Monday, December 21, 2009

Um bom livro!


A Editora Pós-Escrito acaba de lançar seu 21º livro, o segundo de literatura. Trata-se de “Contos e outras coisas de Eribar”. A obra é uma coletânea de contos, crônicas, poemas, textos para teatro e “outras coisas” do advogado e escritor Eriel Barreiros.


O livro é muito interessante. Os contos são bastante divertidos e criativos. As crônicas, em geral, tratam da vida rural ou miserável, das mazelas do homem, que está sempre colocado diante da escolha entre fazer o bem ou o mal. Não é difícil chegar às lágrimas lendo algumas delas.


Para quem quer uma leitura prazerosa, que levará ora ao riso, ora à reflexão, recomendo vivamente. No início do ano que vem, a obra deverá estar nas livrarias. Por ora, pode ser encomendado pelo e-mail posescrito@hotmail.com.


Além do ótimo conteúdo, o livro tem uma apresentação gráfica muito bonita. Com 224 páginas, está com preço de lançamento de R$ 30,00.


Sunday, December 20, 2009

Sim, eu gosto de televisão!

Sou da geração que viu a TV difundir-se e tornar-se o entretenimento número 1 do brasileiro. Adoro TV. Gosto de sentar-me na poltrona e “zapear” pelos diferentes canais - e sempre encontro coisa boa para ver. Na TV a cabo, há pilhas de programas muito atraentes.

Mas na semana passada, chegando em casa às 22h30min, depois do trabalho (horários de professor...), relaxei diante da telinha, após o banho e o jantar. Tive o prazer de assistir a um pedaço do jogo da seleção brasileira feminina de futebol contra a China. Dá gosto de ver as meninas. Elas lembram a seleção masculina de 1970: muita técnica, lances belíssimos, a genialidade da Marta (que merece o quarto título de melhor do mundo, ou então ser declarada hors concours). E menos organização tática, menos força física. Enfim, um presente para os apreciadores do “futebol arte”.

Vi também a final do Ídolos 2009. Gosto do programa. Não posso assistir a todos, mas torci pelo Diego Morais, que acabou em segundo lugar. Diego é um dos melhores cantores brasileiros que já ouvi cantar. O rapaz é realmente muito bom e vai fazer sucesso de qualquer jeito - nem precisava mesmo ganhar o Ídolos. Mais ou menos como aconteceu com Susan Boyle, que ficou em segundo no Britain’s Got Talent (o similar britânico do Ídolos). O grupo de dança que venceu precisava muito mais da vitória do que Susan, que já era uma celebridade com certeza de sucesso bem antes da finalíssima do programa.

Sunday, December 13, 2009

Sampa

Estive em São Paulo para fazer um curso de três dias. Fiquei hospedado na Av. Brigadeiro Luís Antônio – o curso era na Av. Paulista, de modo que eu podia ir e voltar caminhando.

Morei alguns anos em São Paulo. Conheço os pontos positivos dessa cidade incrível: se os limites do município fossem transformados nas fronteiras de um novo país, esse país teria tudo.

Mas esses três dias de experiência mostraram-me uma São Paulo horrível. Cheguei de manhã e peguei o metrô. Tive que esperar dois trens para conseguir entrar num vagão superlotado, carregando minha bagagem. A vantagem foi não precisar segurar em nada: não havia como cair de tão espremido que eu estava.

A Brigadeiro é feia – calçadas irregulares, prédios velhos, casas aos pedaços. E revela uma face dolorosa de Sampa: uma quantidade inacreditável de moradores de rua. Famílias inteiras, de cinco, seis, oito pessoas dormindo ao lado de seus carrinhos de papel. Triste.

Certa tarde, caiu uma tempestade. A cidade tornou-se um caos ainda maior. Na volta para casa, vi de longe, na calçada, umas 200 pessoas aglomeradas. “Será uma manifestação?” – perguntei-me. Não, não parecia, estavam todos parados, olhando na mesma direção. Alguém que foi atropelado? Ou caiu de um prédio? Não, nada disso – todos estavam relativamente calmos. Tive que desviar meu caminho pela rua, e então percebi: eram pessoas esperando seus ônibus! Realmente, São Paulo é algo inacreditável...

Mas vi também um lado bom: num raio de algumas quadras de onde me hospedei havia oito teatros! - um deles, o Jofre Soares, onde meu primo Renato Papa é protagonista da comédia “A sogra que eu pedi a Deus”, com todas as sessões já lotadas até o final da temporada.

Friday, December 11, 2009

Cinema

Estou de volta, depois de um longo tempo... Final de ano é fogo: muitas provas e trabalhos para fazer (como aluno) e corrigir (como professor). É difícil manter a “identidade dupla”... E ainda tive viagem, morte inesperada na família, muita coisa acontecendo...

Estive em São Paulo e aproveitei para assistir ao filme “É proibido fumar”. Bonzinho. O mais interessante do filme é a ótima atuação do Paulo Miklos.

Em Curitiba, fui finalmente conhecer a sala IMAX. Paguei R$ 15,00 (meio ingresso) para ver “Os fantasmas de Scrooge”. Foi barato. Simplesmente espetacular, uma das experiências estéticas mais fantásticas que já tive. Bem, a história do filme é tão conhecida como a Paixão de Cristo (um aluno meu, gozador, reclamava que um dia foi ao cinema ver a Paixão de Cristo e “um estraga-prazeres contou antes que o cara morre no final”), mas o filme em 3D IMAX é de uma beleza estonteante. Inesquecível. Saí do cinema com vontade de voltar no dia seguinte. Talvez volte, para ver de novo o mesmo filme. E já estou esperando ansiosamente por “Alice no País das Maravilhas” e o novíssimo “Avatar” (que, segundo noticiou hoje o UOL, “arrebatou a crítica”) - ambos estarão disponíveis na tecnologia 3D IMAX.

Monday, November 16, 2009

“Unitaliban” é “reincidente”!

Muito boa a piada do Casseta & Planeta sobre o caso da Uniban: “Diretor da Unitaliban passeia pelo pátio da universidade com ideias curtas”!

A propósito, matéria de agências noticiosas indica que não foi o primeiro caso de histeria coletiva na instituição. Um grupo de estudantes havia tentado linchar uma aluna de Educação Física, não pelo mesmo motivo que a universitária de minissaia.

Fontes entrevistadas na matéria dizem que “o ambiente do câmpus é muito hostil”.

Qual será o problema da Unitaliban?

Sunday, November 08, 2009

A “puta” e os “filhos da puta”

Estou indignado com o fato ocorrido na Uniban - universidade paulista onde uma aluna (Geisy Villa Nova Arruda) foi humilhada por estar supostamente vestida de modo inadequado. Vi no Youtube o chocante vídeo do alunos gritando “puta! puta!” quando a aluna saía escoltada por policiais.

Tentei escrever um artigo sobre o tema, mas o sangue me sobe à cabeça. Sou professor universitário há 11 anos e já vi muitas alunas vestidas igual à aluna da Uniban, ou mesmo com roupas menores e mais insinuantes. E elas nunca foram tratadas como a aluna da Uniban.

Pergunto-me o que levaram os estudantes daquela universidade a agirem do modo como agiram. Será aquela universidade um reduto de evangélicos radicais? De seguidores do taleban? De muçulmanos fundamentalistas? De fanáticos católicos medievalistas?

Será que os jovens da Uniban não fazem parte do universo de alunos de instituições particulares com os quais convivo há mais de dez anos? Gente que inicia sua vida sexual em torno dos 15 anos, que costuma “ficar” nas “baladas”, que tem uma liberdade sexual impensável há poucas décadas?

Vejo muitos jovens na praia, admirando belos corpos de mulheres seminuas, ao lado de suas irmãs e até mães, também elas com muito menos roupa do que a aluna rechaçada. Mas lá a hipocrisia social admite tais trajes como normais. Para mim, são tão normais quanto o são o vestido da aluna da Uniban.

Nada justifica a atitude dos alunos da Uniban. Nada. A não ser uma exacerbada hipocrisia social. Sinto-me enojado até em ter que discutir o tema. E mais indignado ainda fico ao saber que a direção da instituição resolveu expulsar a aluna! Espero que a estudante humilhada entre na Justiça contra a universidade e consiga um gorda indenização.

Tenho vontade de chamar os alunos da Unibam que humilharam a estudante de “filhos da puta”, mesmo qualificativo que gostaria de dirigir à direção da instituição. Mas não o faço, primeiro, porque as putas também têm sua dignidade, como todos os seres humanos, e merecem respeito. Em segundo lugar, porque as mães não podem pagar pelos pecados dos filhos.

O que mais me espanta é a terrível possibilidade que se pode vislumbrar a partir de um fato como esse: será que corremos o risco de caminhar para uma sociedade repressora dirigida por fanáticos, como acontece hoje em vários países do Oriente? Será que o Brasil pode tornar-se uma república fudamentalista por obra e (des)graça de grupos religiosos e/ou moralistas fanáticos?

Enade: prova muito mal elaborada

Perdi boa parte de minha tarde de domingo fazendo a prova do Enade - e saí com raiva. Não pela existência da prova, que acho boa e necessária - acredito que o atual Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes) é bem pensado e interessante, embora mereça alguns aperfeiçoamentos importantes.

O motivo de minha raiva foi a baixíssima qualidade da prova. A quantidade de erros de português nas questões era incrível. A escolha dos textos de apoio, em alguns casos, era completamente infeliz. Vários enunciados eram mal elaborados e confusos.

Um exemplo de cabeça, pois não esperei o tempo mínimo para sair com o caderno de prova: o enunciado de uma questão criava um país hipotético (“um determinado país”) onde um empresário denunciara seu sócio estrangeiro, com base em inverdades, na esperança de que com isso o sócio perdesse “o visto brasileiro” e ele pudesse então apoderar-se da empresa. Quem elaborou a questão, pelo jeito, não a releu, ninguém revisou. Se o fato se dá num “determinado país” que não é o Brasil, de que interessa o visto brasileiro?

“Pontos corridos”

Está novamente em discussão se o Campeonato Brasileiro de Futebol deve continuar a ser disputado no sistema de “pontos corridos”, em dois turnos, ou se deveria voltar a ter uma fase classificatória para uma segunda fase, com disputa eliminatória.

Para mim, parece claro que o sistema atual é muito melhor. Os adversários dos “pontos corridos” alegam sobretudo uma suposta “falta de emoção”, pela possível definição antecipada do campeão. A realidade tem mostrado que isso não acontece. Veja-se o atual campeonato, que tem tido uma disputa emocionante pelo título, pelas vagas para a Copa Libertadores e pela fuga do rebaixamento. As últimas rodadas têm tido jogos fantásticos, como o recente Cruzeiro e Fluminense, por exemplo.

Outra alegação dos defensores do sistema de finais eliminatórias é que ele aumenta a chance dos times menores. Bem, aí, “o buraco é mais embaixo”. Não consigo entender como os clubes, donos do espetáculo, aceitam as regras absurdas de divisão de verbas no campeonato. Claro que a TV tem interesse na maior audiência e, por isso, tende a pagar mais para os clubes que têm maior torcida. Entretanto, eles não jogam sozinhos... Os adversários também fazem o espetáculo e precisam receber uma justa divisão.

A TV alega que a audiência do futebol vem caindo. Acredito que isso se deva a dois fatores: o excesso de oferta - já que todos os jogos são transmitidos atualmente em pay-per-view, TV fechada ou TV aberta - e a má escolha dos jogos a serem transmitidos pela TV aberta - embora, quanto a este ponto, eu não tenha dados concretos, apenas uma intuição. Um exemplo: no dia em que houve um eletrizante São Paulo x Internacional, jogo de times que lutavam pelo título, a TV resolveu transmitir Vitória x Corinthians, jogo de times que nada mais tinham a esperar do campeonato. Será que a torcida corintiana é assim tão grande que atrai mais audiência do que todos os interessados em futebol? Não sei...

Sunday, November 01, 2009

Jornal cada vez mais velho

Não estou entre aqueles que acreditam no fim do impresso. Nenhum veículo novo acabou com seus antecessores, sempre houve uma adaptação. Os jornais impressos diários terão que encontrar o caminho para sobreviverem, e encontrarão. Precisam adaptar-se, porque vêm perdendo terreno para os veículos eletrônicos. Um sintoma é a sensação cada vez maior de que o jornal já nasce velho.

Na tarde de ontem, sábado, a Gazeta do Povo de domingo estava à venda nas ruas. Sempre que um jornaleiro me oferece numa esquina o jornal do dia seguinte, tenho vontade de perguntar se a edição já tem o resultado do jogo do Atlético (ontem, o jogo seria às 18h30min, e o jornal estava nas ruas bem antes). Claro que não faço isso, porque o pobre do jornaleiro não tem nada a ver com o problema do jornal.

Bem, hoje de manhã (domingo), peguei o jornal e, na página de esportes, fui conferir qual tinha sido o resultado do jogo do Paraná contra o ABC. A capa do caderno de esportes tinha uma chamada: “Na internet - Veja como foi ABC x Paraná, a partida em que Roberto Cavalo defendia sua invencibilidade como visitante”. O jornal pressupõe que o leitor seja internauta - então, por que ler o jornal?

Fico insatisfeito, mas compreendo. Noutros tempos, um jornalista ficava de plantão apenas para preencher o espaço previamente destinado ao relato do jogo noturno. Claro que isso atrasa a impressão, exigindo funcionários na gráfica até mais tarde, e provavelmente a equação financeira resulta na conveniência maior de não colocar a matéria. Antigamente, como o jornal impresso era a principal fonte de informação do leitor, valia a pena. Hoje, provavelmente não, e o jornal remete o leitor à versão eletrônica. Enfim, são as condições dos novos tempos...

Sunday, October 25, 2009

A “paradinha” na cobrança de pênaltis

O presidente da Fifa fala em proibir a “paradinha” na cobrança de pênaltis. Ideia ridícula e sem qualquer base lógica. Se o jogador não pode usar a “paradinha”, então, por que ao cobrar falta fora da área o time pode usar de artimanhas como as jogadas ensaiadas em que um jogador finge cobrar, salta a bola, e outro chuta? É exatamente a mesma situação: uma simulação com o objetivo de iludir o adversário. Que, afinal, foi quem fez a falta e recebeu a devida punição. Proibir a “paradinha” (ou, na mesma lógica, as simulações nas cobranças de falta) é beneficiar o infrator.

Na verdade, a “paradinha” acabará no dia em que os goleiros começarem a se portar adequadamente. Explico: do ponto de vista da Física, o pênalti é indefensável. Se forem considerados os fatores em jogo – tamanho do gol, envergadura do goleiro, velocidade e direção da bola no chute do cobrador –, basta que o cobrador chute corretamente que não há possibilidade física de o goleiro defender. O pênalti cobrado com perfeição é aquele em que a bola toca a parte lateral da rede, por dentro – quando a bola vai com rapidez e força, bem perto da trave. Não há possibilidade física de o goleiro, saindo do centro do gol, pegar a bola quando o pênalti é bem cobrado – e digo isso baseado em cálculos feitos por um professor de Física que certa vez publicou um artigo sobre o tema. É por isso que os goleiros não esperam pelo chute, mas se antecipam a ele, escolhendo um canto e pulando antes que a bola seja lançada para aumentarem a possibilidade de alcançá-la.

Aí é que está o grande erro dos goleiros. São raros os jogadores que cobram o pênalti com perfeição. A grande maioria chuta mais perto do centro do gol do que deveriam, e com menos força. Por isso, os goleiros teriam muito mais chance de defender se ficassem imóveis no centro do gol, olhando fixamente para a bola e saltando para pegá-la apenas depois do chute. Na adolescência, fui um ótimo goleiro e defendi muitos pênaltis, para espanto dos adversários, porque fazia exatamente isso. A possibilidade de um chute perfeito do cobrador é muito menor do que a possibilidade de o goleiro acertar na previsão do destino da bola.

No dia em que os goleiros começarem a fazer isso, as “paradinhas” acabarão. Lembro-me de um jogo do Atlético Paranaense em que o atacante Rafael Moura foi cobrar um pênalti, ameaçou chutar, esperando o pulo do goleiro, mas este não se moveu. Fez então uma segunda ameaça, o goleiro pulou, e ele rolou a bola vagarosamente em direção ao canto oposto. Foi a única cobrança de pênalti com duas “paradinhas” de que tive notícia. Se o goleiro tivesse se mantido firme na sua atitude de esperar o chute, a cobrança seria um fiasco.

Friday, October 23, 2009

Lembranças...

Esta foi para mim a semana da nostalgia, das lembranças profundas... Três fatos:

1) Passei algumas vezes pela rua onde fica o terreno da “minha Branca de Neve”. Virou um prosaico estacionamento. Sempre que vejo aquele espaço vazio, sinto uma tristezinha nostálgica, aquela sensação de saudade de um mundo que se foi, de coisas que não existem mais...

2) Uma velha e grande casa onde morei por alguns anos está sendo demolida – na Rua Padre Agostinho, 274. Estava para alugar e, de repente, começou a ser posta abaixo. Apesar de fazer parte de um passado que me traz sensações totalmente contraditórias, tive um choque quando a vi despedaçada. Senti como se um pedaço da minha história estivesse sendo apagado. Passo diariamente diante dela e nunca deixei, um dia sequer, de desviar o olhar em sua direção. Ela estava lá, sempre, permanentemente de pé, como eu, minha vida, minha história.
Vieram-me lembranças... Foi-se a cozinha onde fiz pela primeira vez a carne assada ao molho de cerveja recheada com bacon, que ainda hoje faz sucesso quando repito a façanha culinária. Não existe mais o quarto onde eu demorava a dormir, ouvindo “Porto solidão” enquanto sonhava com uma vida diferente, temendo antecipadamente pelas incógnitas que ela me traria. Desapareceu a sala de paredes vermelhas onde eu me aquecia em frente à lareira, em longas horas de conversas noturnas animadas por um Benédictine ou um Chartreux. Um tapume substitui o muro que eu pulava à noite para ir encontrar, escondido, minha namorada (hoje esposa). E na derrubada daquelas paredes que me traziam tantas recordações, parece que eu vou também enfraquecendo.
“E eu era feliz? Não sei;/Fui-o outrora agora” (Fernando Pessoa).

3) Ao final de uma aula, sem pensar nem procurar palavras, despedi-me de uma aluna com uma expressão típica de meu falecido pai. Assim, sem mais... Imediatamente, tomou-me um sentimento profundo, profundíssimo de saudade extrema, a ponte de ser-me preciso segurar as lágrimas. Calei-me por alguns instantes, porque a voz não sairia. Nesses segundos densamente eternos, vieram-me em turbilhão lembranças impregnadas de doída saudade das duas pessoas falecidas cuja falta mais sinto: meu pai e meu irmão. Senti a dor pesada do fato sem solução, da situação perpetuamente resolvida, sem volta. A perda daquilo que tive pouco e devia ter tido mais...

Enfim, lembranças... O que é o passado que já se foi? Que temos a ver com o passado? Anos atrás, pensando nisso, fiz o poema que segue – e conclui esta mensagem.

SOMAMOS
Não somos mais
o que fomos,
mas somos só
o que fomos
(passado – matéria-prima indelével –
não desgruda de nós).
Somos mais:
somamos.

Thursday, October 22, 2009

Homenagem a Renato Bzuneck Jardim

Em 2004, eu era professor de Editoração no curso de Jornalismo da Universidade Positivo quando recebemos o aluno Renato Bzuneck Jardim. Renato era deficiente visual – creio que tinha no máximo 10% da capacidade visual normal. Editoração é uma disciplina eminentemente prática e... visual, cujas aulas são ministradas no laboratório de informática do curso. Os alunos aprendem noções de planejamento gráfico e diagramação de veículos jornalísticos impressos. Nas aulas práticas, aprendem a utilizar programas de editoração eletrônica.

O sistema de avaliação adotado naquele ano contemplava testes teóricos e práticos. No primeiro bimestre, a avaliação era divida em 80% teórica e 20% prática, enquanto nos três outros bimestres a divisão era de 50% para cada tipo de prova. No início das aulas, expliquei ao Renato que ele teria todo apoio, mas nenhum privilégio. Disse-lhe que deveria compensar a impossibilidade de fazer os exercícios práticos com boas notas na parte teórica, explicando-lhe que, se tivesse sucesso, iria para a prova final e poderia ser aprovado mesmo que tivesse nota zero nos exercícios práticos (no exame final, também havia avaliação prática, valendo metade da nota).

O fato é que Renato conseguiu nota suficiente para ir a exame final sem nunca ter feito os exercícios práticos (nos quais recebia sempre nota zero). No exame final, também garantiu aprovação apenas com a parte teórica. Sempre apliquei, obviamente, as mesmas provas da turma, mas em consulta oral: eu lia as perguntas, e ele ditava as respostas.

Em algumas provas das quais constavam perguntas teóricas baseadas em figuras, reproduzi as figuras em tamanho bastante grande (para isso, o próprio Renato carregava sempre um “pincel atômico”), que ele conseguia ver aproximando o papel até quase encostá-lo no olho, num processo muito cansativo, mas a que ele se submetia sempre que necessário.

Renato evoluiu bastante ao longo do curso. Depois do primeiro ano, embora não lhe tenha dado mais aula, percebi que ele tornou-se bem mais “desembaraçado” e ativo. Ele sempre pareceu bastante integrado junto aos colegas. É de se ressaltar que ele jamais usou a deficiência visual como pretexto para pedir qualquer atitude condescendente do professor. Pelo contrário, sempre fez questão de afirmar-se como estudante capaz de fazer o necessário para aprender e ser aprovado, independentemente de sua deficiência, o que me parecia o lado mais admirável de sua atitude diante do mundo. Longe de usar a deficiência como “muleta”, ele superava todas as dificuldades com esforço e dedicação, além de contar com sua boa capacidade intelectual.

Uma das melhores recompensas de ser professor é aprender continuamente, já que temos dezenas de alunos que são também nossos “professores”, sempre com coisas novas para nos ensinar. Para mim, ser professor do Renato acrescentou muito. Foi uma oportunidade de aprender sobre temas como a infinita capacidade humana, o respeito às diferenças, a riqueza do ser humano. Renato deu-me muito mais do que de mim recebeu.

Soube com muita tristeza do falecimento recente do já então colega Renato. Apesar de sua passagem curta entre nós, estou certo de que, se as pessoas têm uma missão a cumprir na Terra (este “vale de lágrimas”, diz a oração católica), Renato deve ter cumprido a sua, e muito bem cumprida.

Wednesday, October 21, 2009

Títulos curiosos

Diversão garantida na leitura de jornal. Vejam só que títulos curiosos. Quem quiser decifrá-los clique sobre eles.

Suínos boicotam feira para não pegar gripe
Coitados, acho que eles têm razão. Nestes temos de gripe mortal, eles precisam se prevenir.

Brasil estuda financiar exportações de vizinhos
Oba! Achou que vou procurar esse financiamento. Tenho alguns vizinhos que gostaria muito de exportar para bem longe!

Maranhão assume a Paraíba
Que bom, nesta época de separatismos, ver dois estados irmãos unindo-se, mesmo não tendo fronteiras comuns. Mas será que o povo paraibano foi consultado?

Tuesday, October 20, 2009

Títulos inadequados

Os manuais de redação e a prática jornalística indicam que um título de matéria factual deve ser uma frase com sujeito, verbo (no presente, sempre que possível) e complemento que indique o assunto principal do texto. Portanto, deve ser não apenas facilmente inteligível, mas revelar do que a matéria trata, para que o leitor possa decidir-se a lê-la ou não. Pressupõe-se que, em geral, o leitor não leia o jornal “de cabo a rabo”, mas selecione – principalmente pelo título – quais os textos de seu interesse. Por isso, o título é uma espécie de “propaganda” da matéria. Títulos ininteligíveis tendem a fazer com que o leitor não se interesse pelo texto. Entretanto, eles são frequentadores habituais das páginas dos jornais. Seguem dois exemplos...

IPOS atraem US$ 17 bilhões
Provavelmente, o jornalista pensa que o público habitual do caderno de Economia seja capaz de decifrar o título. Mas... quem é o público habitual do caderno? Eu leio as matérias de Economia e gostaria de entendê-las – afinal, faço parte do público leitor do jornal. Li a nota para tentar decifrar o título, mas não há nada no texto que indique o que significa a sigla IPOs.

Maior VBP do estado em destaque na Expotoledo
VBP? O que será que é isso? Quem consegue dizer sem ler a matéria?

Monday, October 19, 2009

As diferenças que as vírgulas fazem

Todo mundo sabe que colocar vírgulas erradamente pode mudar o sentido da frase. Portanto, os jornalistas devem tomar muito cuidado com elas. Matéria da Gazeta do Povo sobre o Vale-Cultura traz duas frases com vírgulas colocadas indevidamente. Vejamos:

“A meta do MinC, com a implementação do Vale Cultura, é que os brasileiros, de baixa renda, passem a consumir cultura.”

Com certeza, o autor queria dizer: “... que os brasileiros de baixa renda passem a consumir ...”

Do modo como está, a frase afirma que todos os brasileiros são de baixa renda – e, portanto, o MinC quer, com o vale, que os brasileiros passem a consumir cultura (visto que todos os brasileiros têm baixa renda).

Sem as vírgulas, a frase indicaria que, dentre os brasileiros, há alguns de baixa renda, que o MinC deseja que consumam cultura.

A outra:

“O trabalhador, que ganha até cinco salários mínimos, pode optar por não ser beneficiado pelo Vale Cultura” [...].

De novo: com certeza, o jornalista queria dizer que “o trabalhador que ganha até cinco salários mínimos pode optar ...”.

As orações analisadas podem ser explicativas (caso das que estão entre vírgulas nos exemplos) ou restritivas (sem as vírgulas). Para determinar, portanto, uma categoria específica (restrita) de brasileiros (os de baixa renda) ou de trabalhadores (os que ganham até cinco salários mínimos), o texto deveria usar a oração restritiva, sem vírgulas.

Sunday, October 18, 2009

Título versus texto e muro "tucanado"

Uma curiosa matéria da Gazeta do Povo traz duas “pérolas” de naturezas diferentes.

Primeiro, um título que diz o contrário do texto. Depois, as incríveis definições ministeriais sobre o que seja um muro.

O título: “Ministro da Justiça critica muro em favela carioca”.

Na verdade, o ministro da Justiça, Tarso Genro, estava defendendo a construção do muro que separa o morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, da mata vizinha, para evitar que os barracos a invadam.

Além do título que contradiz o texto, o mais engraçado é o discurso de Genro, em sua tentativa de defender a obra alegando que o muro não é um muro. José Simão diria que o ministro “tucanou” o muro.

As palavras do ministro: “Pelo que estou informado, não são mais muros, né? São divisões que vão ter espaço delimitador. Mas não se adotou aquela tese de fazer um muro de separação física, alto, que separa a comunidade do outro espaço.”

Então , quando “não se adota aquela tese”, o muro deixa de ser muro... Isso é que é “teoricismo” acadêmico!