Thursday, December 27, 2012

O "plantão de domingo" no jornal...

Ser jornalista é muito bom. É uma profissão bacana. Mas tem suas agruras. Uma delas é o plantão em domingos e feriados: jornalista caçando notícias em época em que as importantes são raras, enquanto todo mundo descansa ou se diverte. Imagine então plantão de domingo antevéspera de Natal! Um horror!

Quem foi escalado para ficar o domingo no jornal, sei disso, quer mais é fechar tudo logo e ir para casa. Fica apenas o último dos moicanos até dar a hora final, aguardando para o caso de acontecer algo inesperado.

O resultado pode ser visto na edição de 24/12 da Gazeta. Quase só notícias de agências. Manchete com matéria fria. E alguns textos feitos na correria. Aí, saem coisas como as que seguem.

Paulistas que vieram para Curitiba viraram "imigrantes" (inclusive na capa). "Após o acidente, o sistema de som da Cassol Centerlar anunciou o acidente". E a matéria "Federação lidera 'mensalinho'" é a campeã de errinhos do dia - não erros de informação, mas de digitação, ortografia, vírgulas, nada grave, errinhos típicos de redação feita com pressa.

Quem já fez muito plantão de domingo, como eu, há de entender e ser condescendente...

Natal

Independentemente de religião...

Esse homem cujo aniversário se comemora dia 25/12 (ainda que não se saiba a data exata de seu nascimento) merece a comemoração. Quem ousaria dizer coisas como: "Ama teu inimigo" - "Se te baterem na direita, oferece a esquerda" - "Ama ao próximo como a ti mesmo" - "Se te tirarem a capa, dá também a túnica"... E tantas outras coisas espantosas e verdadeiramente revolucionárias?!

Ainda que não se creia na sua existência histórica (creio, mas tenho aqui muitos amigos ateus, agnósticos e não cristãos), não há como negar o enorme papel dessa figura única. E que, muito provavelmente, se esses ensinamentos fossem seguidos em sua simplicidade, o mundo seria bem melhor.

Tive meus tempos de praticante fervoroso (muitos diriam fanático) de uma religião. Hoje, embora responda que sou católico quando me perguntam, sou um tanto avesso às religiões institucionalizadas. Mas tenho minha fé. E minhas muitas dúvidas, inclusive em relação a alguns fatos ligados à vida de Cristo. Mas não deixo de admirar e me espantar com a figura divina de Cristo.

Feliz Ano Novo!

Difícil uma mensagem de Ano Novo melhor do que a clássica do Drummond. Então, lá vai ela, com o desejo de um 2013 MARAVILHOSO para todos os meus amigos!

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

CONFISSÃO

Já fui homem de pensamento único. Já acreditei que eu tinha a verdade e que minha missão era dar a conhecê-la aos outros.

Depois de muitos anos, consegui perguntar-me por que minha verdade era melhor que a dos outros. Percebi que os defensores de uma "verdade" diferente da minha eram exatamente iguais a mim, só que com outra "verdade".

Hoje, prefiro a dúvida que incomoda à certeza que imobiliza. São as dúvidas que me impulsionam e me levam adiante. Que me dão o gosto da vida - como o alpinista que se compraz em subir a montanha porque sabe que pode cair (caso contrário, não teria graça).

Se alguém me apresenta alguma "verdade", penso nela, analiso, procuro ver o que tem de bom. Se esse alguém se agarra a essa "verdade" como a única possível, a salvação da humanidade, tenho pena. Passo adiante. Por que há incontáveis pessoas cheias dessas "verdades" salvadoras, tão diferentes umas das outras, e com defensores tão igualmente convictos de suas verdades!

Prefiro não procurar sofregamente a verdade, mas buscar o amor, a compaixão, a compreensão, a fraternidade. E não almejo a perfeição das "cartilhas" pré-escritas, iguais para todos. Prefiro a imperfeição da humanidade, com seus erros e "pecados", mas sempre aberta a novas possibilidades.

Muitas vezes, há mais vida no colo da prostituta que no regaço da esposa; visão mais clara no fundo da garrafa do que na abstinência ascética; mais lucidez na loucura do que na sensatez acomodada.

Saturday, December 22, 2012

Algumas lições a partir de textos da Gazeta do Povo desta semana


1) “O STF deve lembrar de Adauto Lúcio Cardoso”
O verbo “lembrar” é transitivo direto. O verbo “lembrar-se” é transitivo indireto.
Portanto, a frase correta deveria ter “... lembrar Adauto ...” ou “... lembrar-se de Adauto ...”

2) “Gustavo Fruet disse [...] que ‘não se auditou 5% dos dados que chegaram à CPI’.”
Erro de concordância. O correto: “... não se auditaram 5% dos dados ...”

3) “... Benjamin corta uma mexa do cabelo do religioso ...”
Erro de ortografia: “mecha do cabelo” é o correto.

4) “Essas emendas, além de garantir maior contrapartida ...”
A flexão do infinitivo é dos temas mais complexos da língua portuguesa. Mas, neste caso, precisam concordar com o sujeito: garantirem.

5) “Por fim, o que lhe motiva a participar de uma corrida como as 500 milhas de kart”
Este erro de regência está se tornando tão comum que logo deve ser “incorporado” ao padrão da língua, tornando norma o que o uso vem consagrando. O correto seria “... o que o motiva ...”.

6) “A crença de que a localização da cidade pode protegê-la do apocalipse fez as vendas de terrenos explodir este ano.”
Mesma questão do item 4: o infinitivo deve ser flexionado para concordar com o sujeito: “... fez as vendas de terrenos explodirem ...”
Além disso, deve-se escrever “neste ano” e não “este ano”. A preposição é obrigatória e, mesmo que não fosse, seria necessária para evitar a ambiguidade (foram as vendas que explodiram, não o ano).

Saturday, December 15, 2012

Lições a partir da Gazeta do Povo (esportiva) de hoje

1) "ONDE" só deve ser usado quando se referir a um LUGAR. Cansei de ver esse erro, tanto que já estou quase desistindo... A língua é dinâmica, não é? E já estão mudando o sentido de "onde". Enfim, vou resistir enquanto puder. A frase da Gazeta: "Os 2 melhores de cada chave foram para as semifinais, de onde Bairro Alto e Iguaçu saíram vitoriosos". O correto seria: "Os dois [por extenso, em respeito ao padrão de redação jornalística e às normas da ABNT] melhores ... foram para as semifinais, das quais [já que "semifinais" não é um lugar] Bairro Alto..."

2) O segundo caso envolve uma questão ética e, portanto, mais importante e delicada. Matéria sobre o "Barcelona Camp" explica: "Durante uma semana, esses garotos - 40 deles de famílias de baixa renda, beneficiados por bolsas integrais oferecidas pela empresa organizadora do evento - trabalharam como se fossem atletas-mirins do clube catalão". E a matéria não informa qual é a empresa. Isso é sem-vergonhice, falta de ética, sonegação de informação para o leitor. Se o fato merece ser mencionado, se a empresa faz algo digno de se tornar notícia (tanto que o jornal publica), por que seu nome é sonegado? Lamentável...

Wednesday, December 12, 2012

Deslizes jornalísticos...

Mais alguns deslizes extraídos da nossa querida Gazeta do Povo.


Caso 1


Quando um jornalista entrevista alguém que faz referência a uma data que pode não ser compreendida adequadamente pelo leitor de um jornal impresso (que será publicado no dia seguinte - o jornal impresso só tem notícias "velhas"), costuma esclarecer entre colchetes a que dia o entrevistado se referiu.

Por exemplo: o jornalista entrevista o técnico do Corinthians na véspera do jogo, e Tite diz: "Estamos preparados para o jogo de amanhã". Quando o jornal for publicado, o "amanhã" já será "hoje", pois o jornal sai sempre no dia seguinte. Então, se reproduzir a frase entre aspas, o jornalista poderá escrevê-la assim: "Estamos preparados para o jogo de amanhã [hoje]".Até aí, tudo bem. Mas, atenção, senhores jornalistas: se a fala do entrevistado não se prestar a qualquer confusão, não é preciso essa intervenção entre colchetes! Olha só o que achei na Gazeta de 25/11 (esportiva, p. 5): "Segunda-feira [amanhã] começaremos a trazer novidades para vocês". Ora, se o entrevistado disse "segunda-feira", não é preciso qualquer esclarecimento do jornalista, porque o leitor sabe que dia é segunda-feira...Mas o pior de tudo é que o jornal era de domingo (25/11 foi efetivamente um domingo), mas a data anunciada no alto da página era: "Sábado, 25 de novembro de 2012"! Vai ver que foi por isso que o repórter se perdeu...

Caso 2


Esta é inusitada: uma matéria factual com título de artigo. Foi na Gazeta do Povo de sexta-feira, 23/11/12 (Vida e Cidadania, p. 9). A matéria informava que "Um protesto de funcionários da Copel que bloqueou uma rua ontem de manhã, em Curitiba, terminou em confusão com a Polícia Militar" - um lide normal. Mas...

E o título? Ei-lo: "Protesto deve respeitar o direito do próximo"!
Será que estamos voltando explicitamente ao jornalismo publicista de séculos passados? Ou será que o editor esqueceu as lições básicas sobre titulação de matéria factual? Ou quis mesmo expressar opinião explicitamente?


Saturday, December 08, 2012

Apontamentos sobre redação jornalística

Aproveitando a Gazeta de ontem para uma aulinha de Redação Jornalística/Língua Portuguesa:

1) Observemos a frase: "...desabafa o atleta, que trocou de academia, de treinador e agora é responsável pela própria carreira." Tenho visto com frequência esse tipo de construção, no qual falta um "e". Não sei por que, parece que muita gente acha errado colocar mais de um "e" numa frase. Nesse caso, o "e" 
está faltando. São duas orações com verbos diferentes: 1) "o atleta trocou de academia e de treinador"; 2) "o atleta... agora é responsável pela própria carreira". A construção correta é: "...desabafa o atleta, que trocou de academia e de treinador e agora é responsável pela própria carreira."

2) Na mesma página 4 da Gazeta esportiva de 07/12, está a seguinte frase: "Tal eficiência, daqui a pouco mais de 72 horas, será apenas história...." Aqui, trata-se de uma falha de redação jornalística. Ao contrário do rádio ou da televisão, um veículo impresso não tem uma hora definida de transmissão. Portanto, não admite esse tipo de construção. No mesmo dia da edição do jornal, o leitor pode ler a matéria às 7h da manhã, antes de ir trabalhar, ou às 23h, depois de chegar da aula, por exemplo. Há uma grande diferença. Por isso, um texto de jornal impresso não pode conter informação desse tipo ("dentro de algumas horas"). Seria melhor escrever, por exemplo: "Tal eficiência, já na segunda-feira, será apenas história."