Monday, December 28, 2009

Avatar

Fui ver “Avatar” no IMax. Personagens “planos”, roteiro bem fraquinho, previsível, cheio de lugares-comuns. Visualmente deslumbrante.

A sétima arte pode fazer, basicamente, duas coisas: 1) contar uma boa história; 2) encantar a visão. Avatar cumpre maravilhosamente o segundo item, embora deixe muito a desejar no primeiro.

Mal comparando, é como num quadro: uma pintura abstrata pode ser linda e arrebatadora, mesmo sem “contar uma história”, assim como uma cena histórica importante, por exemplo, pode ser retratada com maior ou menor habilidade pelo pintor e ficar mais ou menos bonita.

Avatar é assim: uma história óbvia e sem graça que serve para apresentações visuais fantásticas. Resumindo: é um filme que merece ser assistido por quem gosta de ver coisas belas.

Friday, December 25, 2009

Segurança nos estádios: o normal, o excepcional e o paranoico


O caso da violência no estádio Couto Pereira após a partida Coritiba x Fluminense tem dominado o noticiário esportivo. Independentemente das consequências que o fato possa ter para o clube, a questão possibilita algumas reflexões importantes. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que a violência não é “privilégio” dos estádios de futebol. Ela existe na sociedade e se potencializa em aglomerações, ainda mais as que envolvem paixão, como é o caso das partidas de futebol. Ademais, é curioso, ante a ameaça de violência, atestar a ideia um tanto generalizada de que a lei pode resolver tudo, inclusive os problemas sociais. Há uma fantasia difusa de que basta criar uma lei para que um problema se resolva, como se a lei tivesse um poder mágico de transformação social, o que é absolutamente irreal.

No caso específico da invasão do campo do Coritiba, a legislação indica as atitudes esperadas de uma agremiação esportiva. O artigo 211 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva penaliza a instituição que “Deixar de manter o local que tenha indicado para realização do evento com infraestrutura necessária a assegurar plena garantia e segurança de para sua realização”. Já o artigo 213 prevê sanções à entidade que “Deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto” – e seu parágrafo primeiro completa: “Incide nas mesmas penas a entidade que, dentro de sua praça de desporto, não prevenir e reprimir a sua invasão bem assim o lançamento de objeto no campo ou local da disputa do evento desportivo”. Alegar que o Couto Pereira não tem a infraestrutura necessária para um jogo de futebol é afrontar a realidade. O estádio tem condições semelhantes à da grandíssima maioria dos estádios brasileiros. Dizem os críticos que a estrutura não impede a invasão dos torcedores. Mas qual estrutura faria isso? Um fosso de seis metros de largura e cinco de profundidade, guarnecido por grades de ferro pontiagudas? Ridículo.

Muitos dos fantásticos estádios europeus não têm qualquer barreira física entre a torcida e o campo. Um bom exemplo é o magnífico Estádio do Dragão, do Futebol Clube do Porto, em Portugal. A primeira fila de cadeiras está a cerca de cinco metros da linha lateral do campo, e não há qualquer barreira física que impeça a invasão – apenas uma mureta baixa de menos de um metro de altura (ver foto nest post). A segurança dos 40 mil torcedores em dia de grandes jogos é feita por 200 guardas desarmados.

Qual seria o efetivo necessário para impedir a invasão do campo no Couto Pereira numa partida com 35 mil torcedores? Provavelmente, 300 soldados armados de metralhadores e granadas! Sim, pois se os 35 mil resolvessem invadir o campo para massacrar os jogadores, o trio de arbitragem, os dirigentes e os policiais, ninguém poderia impedir – a não ser muitos soldados fortemente armados. E como “prevenir e reprimir” o “lançamento de objeto no campo”? Como evitar que cada um dos 35 mil presentes jogue qualquer coisa no gramado? As atitudes possíveis são aquelas tomadas por todos os clubes: encher o estádio de avisos, repeti-los no sistema de som do estádio, pedir aos próprios torcedores que denunciem os infratores para que sejam detidos. O único modo de cumprir à risca o que manda a letra da lei seria não ter torcedores no estádio, ou cercar o campo com o célebre “escudo magnético de segurança” da nave espacial da antiga série “Perdidos no Espaço” – coisa de ficção, portanto.

Como a lei não tem o poder mágico de fazer com que os problemas se resolvam, o julgador, em geral, tem o bom senso de avaliar as atitudes possíveis, e não aquelas imaginadas pelo regulamento, muitas vezes idealizadas e impossíveis. Portanto, no caso concreto do Coritiba, pode-se dizer que o clube tomou as providências cabíveis. A infraestrutura do estádio é adequada, o efetivo era o necessário. Afora isso, não há como impedir um bando de arruaceiros de invadir o campo – salvo dos modos excepcionais já mencionados, que não se justificam em situações ordinárias, como é uma partida de futebol como todas as outras milhares realizadas ao longo do ano em centenas de estádios Brasil afora. Numa situação extraordinária como a que ocorreu, a polícia agiu conforme deveria. Após o fato, o que se pode fazer é punir os vândalos – e para isso o clube tem colaborado ativamente.

O Coritiba provavelmente receberá uma punição dura, a pretexto de servir de exemplo. Mas de nada adiantará, pois não há mais o que fazer nos estádios além daquilo que fez o clube, igual ao que todos fazem. A vida em sociedade pressupõe um determinado padrão de comportamento das pessoas, sem o qual o convício social seria impossível. Não deixo de andar na rua XV com medo de que os passantes me assaltem – embora fosse impossível eu me safar se os pedestres da XV de repente resolvessem deixar-me nu na rua, levando todos meus pertences – independentemente da existência de câmeras de vigilância, policiais ou qualquer outra coisa. Isso não acontece, pois vivemos numa situação de normalidade, baseada num pacto social que possibilita o convívio coletivo. Quem rompe essas regras de normalidade é o criminoso.

Já se tornou lugar comum afirmar que se os favelados do Rio de Janeiro resolvessem descer o morro para saquear o comércio não haveria como impedir. E não haveria mesmo, salvo em condições de guerra assumida. Mas todos sabem que isso não vai acontecer – não apenas porque a quase totalidade dos moradores das favelas cariocas é composta por gente trabalhadora e honesta, mas porque, em condições normais, as pessoas respeitam o pacto de convívio social. Em lugares onde há conflito declarado, as coisas mudam. Se aqui os shoppings centers não têm qualquer esquema de segurança que impeça alguém de entrar com uma bomba, o mesmo não acontece, por exemplo, em Bogotá, na Colômbia, onde em alguns shoppings os carros que entram são revistados com o auxílio de cães farejadores de explosivos. Lá, a normalidade foi rompida pela atuação da guerrilha – embora os atentados na capital colombiana não aconteçam há tempos, o que inclusive tem levado ao afrouxamento das medidas extraordinárias de segurança.

O que houve no Couto Pereira, portanto, foi uma situação de excepcionalidade que não há como prevenir senão com ações excepcionais – e não seria o caso de preparar essas ações, porque seria inviável haver em cada estádio de futebol um aparato de segurança comparável ao que se usa num país em guerra. Se havia uma ameaça prévia, o clube providenciou um número bem maior do que o habitual de seguranças particulares, assim como a Polícia Militar designou um efetivo maior de policiais para a garantia da ordem no estádio.

Aqueles que rompem o pacto de convívio social devem ser punidos. De resto, não há por que viver uma paranoia de segurança como se todos os eventos com grande número de pessoas pudessem transformar-se no Armagedon. Em condições normais, a segurança dos estádios de futebol tem sido adequada, e uma punição excessivamente rigorosa a um único clube, por um caso excepcional, em nada mudará o panorama.

Wednesday, December 23, 2009

Sobre viver e morrer

No mês passado, recebi a inesperada notícia de uma morte precoce na família. A morte de uma prima que esteve muito presente na minha infância. Nossas famílias eram muito próximas e parecidas: pai, mãe e quatro filhos. No caso dela, quatro filhas; na minha família, três meninos e uma menina. Nos encontrávamos todo final de semana, brincávamos juntos.

Foi de repente, um câncer fulminante, que a levou em menos de dois meses depois de descoberto. Há décadas, desde que me mudei com a família de Cambará para Curitiba, não tínhamos contato constante. Mas as lembranças são marcantes.

Tudo que sei de seus últimos dias é edificante. Ao contrário da ideia talvez generalizada, sua morte parece-me – com exceção, obviamente, da precocidade – o tipo de morte ideal, a morte de antigamente: aquela na qual há tempo para pensar, refletir, preparar-se, despedir-se. Contaram-me que foi exatamente assim com ela, que pôde falar com cada uma das filhas, com o marido, com as irmãs, com aqueles que a assistiam nos últimos instantes. Não, nada da morte repentina e imediata, tão desejada por muitos hoje, mas a “morte bem morrida”...

Lívia, leve, nívea, neve... As palavras que me vinham quando pensava no seu nome não correspondem exatamente à imagem que sempre tive dela, muito mais cheia de cores: uma mulher sempre jovem, sempre muito bonita, animada, forte, corajosa, independente. Tão corajosa a ponto de criar três filhas no mundo de hoje!

Sua cerimônia fúnebre foi de forte emoção. Eu, que já fui muito religioso e hoje sou um tanto cético, admirei-me da força de sua família. Para mim, a morte é incompreensível – as explicações da religião parecem-me construções consoladoras diante do inexorável. Mas vi nas minhas primas uma força que certamente vem de suas convicções religiosas.

Na cerimônia fúnebre que poderia ser qualificada de “pós-moderna” – tão adequada aos tempos de hoje, sem perder nada da dignidade e da emoção próprias de um momento como esse – foi exibido um filme com uma mensagem muito bonita. Falava de um veleiro que se distanciava da costa: aqueles que o viam partir o perdiam de vista e poderiam acreditar que ele desaparecera na linha distante onde o céu toca as ondas. Entretanto, além-mar, os que esperavam do outro lado a chegada do veleiro viam-no crescer pouco a pouco até se aproximar. Apesar das diferentes visões, o barco que atravessou o oceano era sempre o mesmo, igual a si próprio, íntegro, em qualquer dos lados da passagem. Uma bela mensagem, talvez enfim um consolo para minha visão inconsolável da morte.

Ao final, as tocantes palavras de despedida dos familiares, para as quais não há comentário possível senão as lágrimas... Felizes dos que têm a certeza do reencontro!

Monday, December 21, 2009

Um bom livro!


A Editora Pós-Escrito acaba de lançar seu 21º livro, o segundo de literatura. Trata-se de “Contos e outras coisas de Eribar”. A obra é uma coletânea de contos, crônicas, poemas, textos para teatro e “outras coisas” do advogado e escritor Eriel Barreiros.


O livro é muito interessante. Os contos são bastante divertidos e criativos. As crônicas, em geral, tratam da vida rural ou miserável, das mazelas do homem, que está sempre colocado diante da escolha entre fazer o bem ou o mal. Não é difícil chegar às lágrimas lendo algumas delas.


Para quem quer uma leitura prazerosa, que levará ora ao riso, ora à reflexão, recomendo vivamente. No início do ano que vem, a obra deverá estar nas livrarias. Por ora, pode ser encomendado pelo e-mail posescrito@hotmail.com.


Além do ótimo conteúdo, o livro tem uma apresentação gráfica muito bonita. Com 224 páginas, está com preço de lançamento de R$ 30,00.


Sunday, December 20, 2009

Sim, eu gosto de televisão!

Sou da geração que viu a TV difundir-se e tornar-se o entretenimento número 1 do brasileiro. Adoro TV. Gosto de sentar-me na poltrona e “zapear” pelos diferentes canais - e sempre encontro coisa boa para ver. Na TV a cabo, há pilhas de programas muito atraentes.

Mas na semana passada, chegando em casa às 22h30min, depois do trabalho (horários de professor...), relaxei diante da telinha, após o banho e o jantar. Tive o prazer de assistir a um pedaço do jogo da seleção brasileira feminina de futebol contra a China. Dá gosto de ver as meninas. Elas lembram a seleção masculina de 1970: muita técnica, lances belíssimos, a genialidade da Marta (que merece o quarto título de melhor do mundo, ou então ser declarada hors concours). E menos organização tática, menos força física. Enfim, um presente para os apreciadores do “futebol arte”.

Vi também a final do Ídolos 2009. Gosto do programa. Não posso assistir a todos, mas torci pelo Diego Morais, que acabou em segundo lugar. Diego é um dos melhores cantores brasileiros que já ouvi cantar. O rapaz é realmente muito bom e vai fazer sucesso de qualquer jeito - nem precisava mesmo ganhar o Ídolos. Mais ou menos como aconteceu com Susan Boyle, que ficou em segundo no Britain’s Got Talent (o similar britânico do Ídolos). O grupo de dança que venceu precisava muito mais da vitória do que Susan, que já era uma celebridade com certeza de sucesso bem antes da finalíssima do programa.

Sunday, December 13, 2009

Sampa

Estive em São Paulo para fazer um curso de três dias. Fiquei hospedado na Av. Brigadeiro Luís Antônio – o curso era na Av. Paulista, de modo que eu podia ir e voltar caminhando.

Morei alguns anos em São Paulo. Conheço os pontos positivos dessa cidade incrível: se os limites do município fossem transformados nas fronteiras de um novo país, esse país teria tudo.

Mas esses três dias de experiência mostraram-me uma São Paulo horrível. Cheguei de manhã e peguei o metrô. Tive que esperar dois trens para conseguir entrar num vagão superlotado, carregando minha bagagem. A vantagem foi não precisar segurar em nada: não havia como cair de tão espremido que eu estava.

A Brigadeiro é feia – calçadas irregulares, prédios velhos, casas aos pedaços. E revela uma face dolorosa de Sampa: uma quantidade inacreditável de moradores de rua. Famílias inteiras, de cinco, seis, oito pessoas dormindo ao lado de seus carrinhos de papel. Triste.

Certa tarde, caiu uma tempestade. A cidade tornou-se um caos ainda maior. Na volta para casa, vi de longe, na calçada, umas 200 pessoas aglomeradas. “Será uma manifestação?” – perguntei-me. Não, não parecia, estavam todos parados, olhando na mesma direção. Alguém que foi atropelado? Ou caiu de um prédio? Não, nada disso – todos estavam relativamente calmos. Tive que desviar meu caminho pela rua, e então percebi: eram pessoas esperando seus ônibus! Realmente, São Paulo é algo inacreditável...

Mas vi também um lado bom: num raio de algumas quadras de onde me hospedei havia oito teatros! - um deles, o Jofre Soares, onde meu primo Renato Papa é protagonista da comédia “A sogra que eu pedi a Deus”, com todas as sessões já lotadas até o final da temporada.

Friday, December 11, 2009

Cinema

Estou de volta, depois de um longo tempo... Final de ano é fogo: muitas provas e trabalhos para fazer (como aluno) e corrigir (como professor). É difícil manter a “identidade dupla”... E ainda tive viagem, morte inesperada na família, muita coisa acontecendo...

Estive em São Paulo e aproveitei para assistir ao filme “É proibido fumar”. Bonzinho. O mais interessante do filme é a ótima atuação do Paulo Miklos.

Em Curitiba, fui finalmente conhecer a sala IMAX. Paguei R$ 15,00 (meio ingresso) para ver “Os fantasmas de Scrooge”. Foi barato. Simplesmente espetacular, uma das experiências estéticas mais fantásticas que já tive. Bem, a história do filme é tão conhecida como a Paixão de Cristo (um aluno meu, gozador, reclamava que um dia foi ao cinema ver a Paixão de Cristo e “um estraga-prazeres contou antes que o cara morre no final”), mas o filme em 3D IMAX é de uma beleza estonteante. Inesquecível. Saí do cinema com vontade de voltar no dia seguinte. Talvez volte, para ver de novo o mesmo filme. E já estou esperando ansiosamente por “Alice no País das Maravilhas” e o novíssimo “Avatar” (que, segundo noticiou hoje o UOL, “arrebatou a crítica”) - ambos estarão disponíveis na tecnologia 3D IMAX.