O presidente da Fifa fala em proibir a “paradinha” na cobrança de pênaltis. Ideia ridícula e sem qualquer base lógica. Se o jogador não pode usar a “paradinha”, então, por que ao cobrar falta fora da área o time pode usar de artimanhas como as jogadas ensaiadas em que um jogador finge cobrar, salta a bola, e outro chuta? É exatamente a mesma situação: uma simulação com o objetivo de iludir o adversário. Que, afinal, foi quem fez a falta e recebeu a devida punição. Proibir a “paradinha” (ou, na mesma lógica, as simulações nas cobranças de falta) é beneficiar o infrator.
Na verdade, a “paradinha” acabará no dia em que os goleiros começarem a se portar adequadamente. Explico: do ponto de vista da Física, o pênalti é indefensável. Se forem considerados os fatores em jogo – tamanho do gol, envergadura do goleiro, velocidade e direção da bola no chute do cobrador –, basta que o cobrador chute corretamente que não há possibilidade física de o goleiro defender. O pênalti cobrado com perfeição é aquele em que a bola toca a parte lateral da rede, por dentro – quando a bola vai com rapidez e força, bem perto da trave. Não há possibilidade física de o goleiro, saindo do centro do gol, pegar a bola quando o pênalti é bem cobrado – e digo isso baseado em cálculos feitos por um professor de Física que certa vez publicou um artigo sobre o tema. É por isso que os goleiros não esperam pelo chute, mas se antecipam a ele, escolhendo um canto e pulando antes que a bola seja lançada para aumentarem a possibilidade de alcançá-la.
Aí é que está o grande erro dos goleiros. São raros os jogadores que cobram o pênalti com perfeição. A grande maioria chuta mais perto do centro do gol do que deveriam, e com menos força. Por isso, os goleiros teriam muito mais chance de defender se ficassem imóveis no centro do gol, olhando fixamente para a bola e saltando para pegá-la apenas depois do chute. Na adolescência, fui um ótimo goleiro e defendi muitos pênaltis, para espanto dos adversários, porque fazia exatamente isso. A possibilidade de um chute perfeito do cobrador é muito menor do que a possibilidade de o goleiro acertar na previsão do destino da bola.
No dia em que os goleiros começarem a fazer isso, as “paradinhas” acabarão. Lembro-me de um jogo do Atlético Paranaense em que o atacante Rafael Moura foi cobrar um pênalti, ameaçou chutar, esperando o pulo do goleiro, mas este não se moveu. Fez então uma segunda ameaça, o goleiro pulou, e ele rolou a bola vagarosamente em direção ao canto oposto. Foi a única cobrança de pênalti com duas “paradinhas” de que tive notícia. Se o goleiro tivesse se mantido firme na sua atitude de esperar o chute, a cobrança seria um fiasco.
Sunday, October 25, 2009
Friday, October 23, 2009
Lembranças...
Esta foi para mim a semana da nostalgia, das lembranças profundas... Três fatos:
1) Passei algumas vezes pela rua onde fica o terreno da “minha Branca de Neve”. Virou um prosaico estacionamento. Sempre que vejo aquele espaço vazio, sinto uma tristezinha nostálgica, aquela sensação de saudade de um mundo que se foi, de coisas que não existem mais...
2) Uma velha e grande casa onde morei por alguns anos está sendo demolida – na Rua Padre Agostinho, 274. Estava para alugar e, de repente, começou a ser posta abaixo. Apesar de fazer parte de um passado que me traz sensações totalmente contraditórias, tive um choque quando a vi despedaçada. Senti como se um pedaço da minha história estivesse sendo apagado. Passo diariamente diante dela e nunca deixei, um dia sequer, de desviar o olhar em sua direção. Ela estava lá, sempre, permanentemente de pé, como eu, minha vida, minha história.
Vieram-me lembranças... Foi-se a cozinha onde fiz pela primeira vez a carne assada ao molho de cerveja recheada com bacon, que ainda hoje faz sucesso quando repito a façanha culinária. Não existe mais o quarto onde eu demorava a dormir, ouvindo “Porto solidão” enquanto sonhava com uma vida diferente, temendo antecipadamente pelas incógnitas que ela me traria. Desapareceu a sala de paredes vermelhas onde eu me aquecia em frente à lareira, em longas horas de conversas noturnas animadas por um Benédictine ou um Chartreux. Um tapume substitui o muro que eu pulava à noite para ir encontrar, escondido, minha namorada (hoje esposa). E na derrubada daquelas paredes que me traziam tantas recordações, parece que eu vou também enfraquecendo.
“E eu era feliz? Não sei;/Fui-o outrora agora” (Fernando Pessoa).
3) Ao final de uma aula, sem pensar nem procurar palavras, despedi-me de uma aluna com uma expressão típica de meu falecido pai. Assim, sem mais... Imediatamente, tomou-me um sentimento profundo, profundíssimo de saudade extrema, a ponte de ser-me preciso segurar as lágrimas. Calei-me por alguns instantes, porque a voz não sairia. Nesses segundos densamente eternos, vieram-me em turbilhão lembranças impregnadas de doída saudade das duas pessoas falecidas cuja falta mais sinto: meu pai e meu irmão. Senti a dor pesada do fato sem solução, da situação perpetuamente resolvida, sem volta. A perda daquilo que tive pouco e devia ter tido mais...
Enfim, lembranças... O que é o passado que já se foi? Que temos a ver com o passado? Anos atrás, pensando nisso, fiz o poema que segue – e conclui esta mensagem.
SOMAMOS
Não somos mais
o que fomos,
mas somos só
o que fomos
(passado – matéria-prima indelével –
não desgruda de nós).
Somos mais:
somamos.
1) Passei algumas vezes pela rua onde fica o terreno da “minha Branca de Neve”. Virou um prosaico estacionamento. Sempre que vejo aquele espaço vazio, sinto uma tristezinha nostálgica, aquela sensação de saudade de um mundo que se foi, de coisas que não existem mais...
2) Uma velha e grande casa onde morei por alguns anos está sendo demolida – na Rua Padre Agostinho, 274. Estava para alugar e, de repente, começou a ser posta abaixo. Apesar de fazer parte de um passado que me traz sensações totalmente contraditórias, tive um choque quando a vi despedaçada. Senti como se um pedaço da minha história estivesse sendo apagado. Passo diariamente diante dela e nunca deixei, um dia sequer, de desviar o olhar em sua direção. Ela estava lá, sempre, permanentemente de pé, como eu, minha vida, minha história.
Vieram-me lembranças... Foi-se a cozinha onde fiz pela primeira vez a carne assada ao molho de cerveja recheada com bacon, que ainda hoje faz sucesso quando repito a façanha culinária. Não existe mais o quarto onde eu demorava a dormir, ouvindo “Porto solidão” enquanto sonhava com uma vida diferente, temendo antecipadamente pelas incógnitas que ela me traria. Desapareceu a sala de paredes vermelhas onde eu me aquecia em frente à lareira, em longas horas de conversas noturnas animadas por um Benédictine ou um Chartreux. Um tapume substitui o muro que eu pulava à noite para ir encontrar, escondido, minha namorada (hoje esposa). E na derrubada daquelas paredes que me traziam tantas recordações, parece que eu vou também enfraquecendo.
“E eu era feliz? Não sei;/Fui-o outrora agora” (Fernando Pessoa).
3) Ao final de uma aula, sem pensar nem procurar palavras, despedi-me de uma aluna com uma expressão típica de meu falecido pai. Assim, sem mais... Imediatamente, tomou-me um sentimento profundo, profundíssimo de saudade extrema, a ponte de ser-me preciso segurar as lágrimas. Calei-me por alguns instantes, porque a voz não sairia. Nesses segundos densamente eternos, vieram-me em turbilhão lembranças impregnadas de doída saudade das duas pessoas falecidas cuja falta mais sinto: meu pai e meu irmão. Senti a dor pesada do fato sem solução, da situação perpetuamente resolvida, sem volta. A perda daquilo que tive pouco e devia ter tido mais...
Enfim, lembranças... O que é o passado que já se foi? Que temos a ver com o passado? Anos atrás, pensando nisso, fiz o poema que segue – e conclui esta mensagem.
SOMAMOS
Não somos mais
o que fomos,
mas somos só
o que fomos
(passado – matéria-prima indelével –
não desgruda de nós).
Somos mais:
somamos.
Thursday, October 22, 2009
Homenagem a Renato Bzuneck Jardim
Em 2004, eu era professor de Editoração no curso de Jornalismo da Universidade Positivo quando recebemos o aluno Renato Bzuneck Jardim. Renato era deficiente visual – creio que tinha no máximo 10% da capacidade visual normal. Editoração é uma disciplina eminentemente prática e... visual, cujas aulas são ministradas no laboratório de informática do curso. Os alunos aprendem noções de planejamento gráfico e diagramação de veículos jornalísticos impressos. Nas aulas práticas, aprendem a utilizar programas de editoração eletrônica.
O sistema de avaliação adotado naquele ano contemplava testes teóricos e práticos. No primeiro bimestre, a avaliação era divida em 80% teórica e 20% prática, enquanto nos três outros bimestres a divisão era de 50% para cada tipo de prova. No início das aulas, expliquei ao Renato que ele teria todo apoio, mas nenhum privilégio. Disse-lhe que deveria compensar a impossibilidade de fazer os exercícios práticos com boas notas na parte teórica, explicando-lhe que, se tivesse sucesso, iria para a prova final e poderia ser aprovado mesmo que tivesse nota zero nos exercícios práticos (no exame final, também havia avaliação prática, valendo metade da nota).
O fato é que Renato conseguiu nota suficiente para ir a exame final sem nunca ter feito os exercícios práticos (nos quais recebia sempre nota zero). No exame final, também garantiu aprovação apenas com a parte teórica. Sempre apliquei, obviamente, as mesmas provas da turma, mas em consulta oral: eu lia as perguntas, e ele ditava as respostas.
Em algumas provas das quais constavam perguntas teóricas baseadas em figuras, reproduzi as figuras em tamanho bastante grande (para isso, o próprio Renato carregava sempre um “pincel atômico”), que ele conseguia ver aproximando o papel até quase encostá-lo no olho, num processo muito cansativo, mas a que ele se submetia sempre que necessário.
Renato evoluiu bastante ao longo do curso. Depois do primeiro ano, embora não lhe tenha dado mais aula, percebi que ele tornou-se bem mais “desembaraçado” e ativo. Ele sempre pareceu bastante integrado junto aos colegas. É de se ressaltar que ele jamais usou a deficiência visual como pretexto para pedir qualquer atitude condescendente do professor. Pelo contrário, sempre fez questão de afirmar-se como estudante capaz de fazer o necessário para aprender e ser aprovado, independentemente de sua deficiência, o que me parecia o lado mais admirável de sua atitude diante do mundo. Longe de usar a deficiência como “muleta”, ele superava todas as dificuldades com esforço e dedicação, além de contar com sua boa capacidade intelectual.
Uma das melhores recompensas de ser professor é aprender continuamente, já que temos dezenas de alunos que são também nossos “professores”, sempre com coisas novas para nos ensinar. Para mim, ser professor do Renato acrescentou muito. Foi uma oportunidade de aprender sobre temas como a infinita capacidade humana, o respeito às diferenças, a riqueza do ser humano. Renato deu-me muito mais do que de mim recebeu.
Soube com muita tristeza do falecimento recente do já então colega Renato. Apesar de sua passagem curta entre nós, estou certo de que, se as pessoas têm uma missão a cumprir na Terra (este “vale de lágrimas”, diz a oração católica), Renato deve ter cumprido a sua, e muito bem cumprida.
O sistema de avaliação adotado naquele ano contemplava testes teóricos e práticos. No primeiro bimestre, a avaliação era divida em 80% teórica e 20% prática, enquanto nos três outros bimestres a divisão era de 50% para cada tipo de prova. No início das aulas, expliquei ao Renato que ele teria todo apoio, mas nenhum privilégio. Disse-lhe que deveria compensar a impossibilidade de fazer os exercícios práticos com boas notas na parte teórica, explicando-lhe que, se tivesse sucesso, iria para a prova final e poderia ser aprovado mesmo que tivesse nota zero nos exercícios práticos (no exame final, também havia avaliação prática, valendo metade da nota).
O fato é que Renato conseguiu nota suficiente para ir a exame final sem nunca ter feito os exercícios práticos (nos quais recebia sempre nota zero). No exame final, também garantiu aprovação apenas com a parte teórica. Sempre apliquei, obviamente, as mesmas provas da turma, mas em consulta oral: eu lia as perguntas, e ele ditava as respostas.
Em algumas provas das quais constavam perguntas teóricas baseadas em figuras, reproduzi as figuras em tamanho bastante grande (para isso, o próprio Renato carregava sempre um “pincel atômico”), que ele conseguia ver aproximando o papel até quase encostá-lo no olho, num processo muito cansativo, mas a que ele se submetia sempre que necessário.
Renato evoluiu bastante ao longo do curso. Depois do primeiro ano, embora não lhe tenha dado mais aula, percebi que ele tornou-se bem mais “desembaraçado” e ativo. Ele sempre pareceu bastante integrado junto aos colegas. É de se ressaltar que ele jamais usou a deficiência visual como pretexto para pedir qualquer atitude condescendente do professor. Pelo contrário, sempre fez questão de afirmar-se como estudante capaz de fazer o necessário para aprender e ser aprovado, independentemente de sua deficiência, o que me parecia o lado mais admirável de sua atitude diante do mundo. Longe de usar a deficiência como “muleta”, ele superava todas as dificuldades com esforço e dedicação, além de contar com sua boa capacidade intelectual.
Uma das melhores recompensas de ser professor é aprender continuamente, já que temos dezenas de alunos que são também nossos “professores”, sempre com coisas novas para nos ensinar. Para mim, ser professor do Renato acrescentou muito. Foi uma oportunidade de aprender sobre temas como a infinita capacidade humana, o respeito às diferenças, a riqueza do ser humano. Renato deu-me muito mais do que de mim recebeu.
Soube com muita tristeza do falecimento recente do já então colega Renato. Apesar de sua passagem curta entre nós, estou certo de que, se as pessoas têm uma missão a cumprir na Terra (este “vale de lágrimas”, diz a oração católica), Renato deve ter cumprido a sua, e muito bem cumprida.
Wednesday, October 21, 2009
Títulos curiosos
Diversão garantida na leitura de jornal. Vejam só que títulos curiosos. Quem quiser decifrá-los clique sobre eles.
“Suínos boicotam feira para não pegar gripe”
Coitados, acho que eles têm razão. Nestes temos de gripe mortal, eles precisam se prevenir.
“Brasil estuda financiar exportações de vizinhos”
Oba! Achou que vou procurar esse financiamento. Tenho alguns vizinhos que gostaria muito de exportar para bem longe!
“Maranhão assume a Paraíba”
Que bom, nesta época de separatismos, ver dois estados irmãos unindo-se, mesmo não tendo fronteiras comuns. Mas será que o povo paraibano foi consultado?
“Suínos boicotam feira para não pegar gripe”
Coitados, acho que eles têm razão. Nestes temos de gripe mortal, eles precisam se prevenir.
“Brasil estuda financiar exportações de vizinhos”
Oba! Achou que vou procurar esse financiamento. Tenho alguns vizinhos que gostaria muito de exportar para bem longe!
“Maranhão assume a Paraíba”
Que bom, nesta época de separatismos, ver dois estados irmãos unindo-se, mesmo não tendo fronteiras comuns. Mas será que o povo paraibano foi consultado?
Tuesday, October 20, 2009
Títulos inadequados
Os manuais de redação e a prática jornalística indicam que um título de matéria factual deve ser uma frase com sujeito, verbo (no presente, sempre que possível) e complemento que indique o assunto principal do texto. Portanto, deve ser não apenas facilmente inteligível, mas revelar do que a matéria trata, para que o leitor possa decidir-se a lê-la ou não. Pressupõe-se que, em geral, o leitor não leia o jornal “de cabo a rabo”, mas selecione – principalmente pelo título – quais os textos de seu interesse. Por isso, o título é uma espécie de “propaganda” da matéria. Títulos ininteligíveis tendem a fazer com que o leitor não se interesse pelo texto. Entretanto, eles são frequentadores habituais das páginas dos jornais. Seguem dois exemplos...
IPOS atraem US$ 17 bilhões
Provavelmente, o jornalista pensa que o público habitual do caderno de Economia seja capaz de decifrar o título. Mas... quem é o público habitual do caderno? Eu leio as matérias de Economia e gostaria de entendê-las – afinal, faço parte do público leitor do jornal. Li a nota para tentar decifrar o título, mas não há nada no texto que indique o que significa a sigla IPOs.
Maior VBP do estado em destaque na Expotoledo
VBP? O que será que é isso? Quem consegue dizer sem ler a matéria?
IPOS atraem US$ 17 bilhões
Provavelmente, o jornalista pensa que o público habitual do caderno de Economia seja capaz de decifrar o título. Mas... quem é o público habitual do caderno? Eu leio as matérias de Economia e gostaria de entendê-las – afinal, faço parte do público leitor do jornal. Li a nota para tentar decifrar o título, mas não há nada no texto que indique o que significa a sigla IPOs.
Maior VBP do estado em destaque na Expotoledo
VBP? O que será que é isso? Quem consegue dizer sem ler a matéria?
Monday, October 19, 2009
As diferenças que as vírgulas fazem
Todo mundo sabe que colocar vírgulas erradamente pode mudar o sentido da frase. Portanto, os jornalistas devem tomar muito cuidado com elas. Matéria da Gazeta do Povo sobre o Vale-Cultura traz duas frases com vírgulas colocadas indevidamente. Vejamos:
“A meta do MinC, com a implementação do Vale Cultura, é que os brasileiros, de baixa renda, passem a consumir cultura.”
Com certeza, o autor queria dizer: “... que os brasileiros de baixa renda passem a consumir ...”
Do modo como está, a frase afirma que todos os brasileiros são de baixa renda – e, portanto, o MinC quer, com o vale, que os brasileiros passem a consumir cultura (visto que todos os brasileiros têm baixa renda).
Sem as vírgulas, a frase indicaria que, dentre os brasileiros, há alguns de baixa renda, que o MinC deseja que consumam cultura.
A outra:
“O trabalhador, que ganha até cinco salários mínimos, pode optar por não ser beneficiado pelo Vale Cultura” [...].
De novo: com certeza, o jornalista queria dizer que “o trabalhador que ganha até cinco salários mínimos pode optar ...”.
As orações analisadas podem ser explicativas (caso das que estão entre vírgulas nos exemplos) ou restritivas (sem as vírgulas). Para determinar, portanto, uma categoria específica (restrita) de brasileiros (os de baixa renda) ou de trabalhadores (os que ganham até cinco salários mínimos), o texto deveria usar a oração restritiva, sem vírgulas.
“A meta do MinC, com a implementação do Vale Cultura, é que os brasileiros, de baixa renda, passem a consumir cultura.”
Com certeza, o autor queria dizer: “... que os brasileiros de baixa renda passem a consumir ...”
Do modo como está, a frase afirma que todos os brasileiros são de baixa renda – e, portanto, o MinC quer, com o vale, que os brasileiros passem a consumir cultura (visto que todos os brasileiros têm baixa renda).
Sem as vírgulas, a frase indicaria que, dentre os brasileiros, há alguns de baixa renda, que o MinC deseja que consumam cultura.
A outra:
“O trabalhador, que ganha até cinco salários mínimos, pode optar por não ser beneficiado pelo Vale Cultura” [...].
De novo: com certeza, o jornalista queria dizer que “o trabalhador que ganha até cinco salários mínimos pode optar ...”.
As orações analisadas podem ser explicativas (caso das que estão entre vírgulas nos exemplos) ou restritivas (sem as vírgulas). Para determinar, portanto, uma categoria específica (restrita) de brasileiros (os de baixa renda) ou de trabalhadores (os que ganham até cinco salários mínimos), o texto deveria usar a oração restritiva, sem vírgulas.
Sunday, October 18, 2009
Título versus texto e muro "tucanado"
Uma curiosa matéria da Gazeta do Povo traz duas “pérolas” de naturezas diferentes.
Primeiro, um título que diz o contrário do texto. Depois, as incríveis definições ministeriais sobre o que seja um muro.
O título: “Ministro da Justiça critica muro em favela carioca”.
Na verdade, o ministro da Justiça, Tarso Genro, estava defendendo a construção do muro que separa o morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, da mata vizinha, para evitar que os barracos a invadam.
Além do título que contradiz o texto, o mais engraçado é o discurso de Genro, em sua tentativa de defender a obra alegando que o muro não é um muro. José Simão diria que o ministro “tucanou” o muro.
As palavras do ministro: “Pelo que estou informado, não são mais muros, né? São divisões que vão ter espaço delimitador. Mas não se adotou aquela tese de fazer um muro de separação física, alto, que separa a comunidade do outro espaço.”
Então , quando “não se adota aquela tese”, o muro deixa de ser muro... Isso é que é “teoricismo” acadêmico!
Primeiro, um título que diz o contrário do texto. Depois, as incríveis definições ministeriais sobre o que seja um muro.
O título: “Ministro da Justiça critica muro em favela carioca”.
Na verdade, o ministro da Justiça, Tarso Genro, estava defendendo a construção do muro que separa o morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, da mata vizinha, para evitar que os barracos a invadam.
Além do título que contradiz o texto, o mais engraçado é o discurso de Genro, em sua tentativa de defender a obra alegando que o muro não é um muro. José Simão diria que o ministro “tucanou” o muro.
As palavras do ministro: “Pelo que estou informado, não são mais muros, né? São divisões que vão ter espaço delimitador. Mas não se adotou aquela tese de fazer um muro de separação física, alto, que separa a comunidade do outro espaço.”
Então , quando “não se adota aquela tese”, o muro deixa de ser muro... Isso é que é “teoricismo” acadêmico!
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