De vez em quando, aponto aqui alguns erros da Gazeta do Povo, principal jornal do Paraná. Faço-o como crítica construtiva, já que a GP é o jornal que leio diariamente e do qual sou assinante (e de uma assinatura paga). Gosto da Gazeta, que tem ótimos jornalistas, muitos deles meus ex-alunos aliás, eh eh... E vários foram meus colegas de jornalismo diário.
O jornal conta com profissionais de primeira linha no jornalismo brasileiro, como é o caso de Mauri König e José Carlos Fernandes, para citar apenas dois, além de muitos outros nomes que têm feito um jornalismo digno de louvor (e até de prêmios nacionais). E tem um time de cartunistas que parece uma seleção nacional. Dois deles, especialmente, me encantam: Bennet e Tiago Recchia, que estão entre os melhores chargistas do país. O Caderno G (Cultura) também se destaca com excelentes profissionais etc. etc. Há muito que elogiar.
Portanto, não faço comentários ranhetas de leitor rabugento, mas “crítica de mídia”. E hoje resolvi “descer a lenha” (no bom sentido) em alguns textos da edição do último final de semana (sábado e domingo - edição dupla por causa do feriado de Natal). Lá vai...
O caderno Verão 2011 comete alguns pecadinhos na matéria “Para todos os bolsos e gostos”. A começar pelo chavão no título - apesar de todas as recomendações de evitar o uso de chavões que qualquer aluno de Jornalismo ouve ad nauseam durante o curso. A matéria apresenta opções de hospedagem durante a virada do ano no litoral paranaense. É dividida em três retrancas: “Pacote econômico”, “ Sossego perto da natureza” e “Sofisticação na virada”. A opção mais barata do tal pacote econômico é ficar em um camping por R$ 10 ao dia. Não é uma opção para “todos” os bolsos. Tem gente que não pode pagar isso, ainda mais que é preciso ter os apetrechos para camping. Quanto ao terceiro título, francamente... falar em “sofisticação” ao se referir aos hotéis da orla paranaense é pra lá de exagerado. Os melhores hotéis do litoral do Paraná oferecem algum conforto (o Guia Quatro Rodas os classifica como “médio conforto”) e realmente nada de “sofisticação”. Quem fez o título ou não conhece os hotéis ou não sabe o significado da palavra sofisticação.
No caderno Viver Bem, a reportagem “Quanto custa a felicidade?” é interessante, mas também escorrega em algumas coisinhas... Primeiro, por repetir assunto já tratado num ótimo texto de Mauri König. Talvez fosse conveniente pelo menos fazer referência à matéria anterior. Depois, apresenta uma lista de filmes que tratam da relação do dinheiro com a felicidade. A relação traz, entre 13 filmes, “Encontros e desencontros” - é forçar muito a barra dizer que o filme trata desse tema.
Por fim, a legenda de uma foto que ilustra matéria sobre sustentabilidade: “Antes de ir para o lixo, caixa de papelão e tampinhas de plástico viram brinquedos”. E depois vão para o lixo? No lugar de “Antes”, deveria estar “Em vez”. E o primeiro verbo também deveria estar no plural.
Monday, December 27, 2010
Friday, December 24, 2010
Natal
Saí para andar um pouco pela cidade ao final da tarde, como gosto de fazer em dezembro. Agrada-me muito. Ainda é possível deixar-se tomar pelo ar diferente da cidade nessa época pré-natalina. É o tempo em que os comerciantes se lembram de que as luzes têm outas cores além de amarelo e branco. Nos estabelecimentos mais familiares, imagino o próprio dono vasculhando um depósito à busca de uma caixa poeirenta onde, há quase um ano, guardara os enfeites natalinos. Encontra, abre, sorri. Pede ajuda a um office-boy para carregar tudo e vai orientando pessoalmente o que deve ser colocado onde.
Nas grandes empresas impregnadas de burocracia, vejo o chefe do “Depto. de Promoções” (“Depto.”, grafado assim mesmo - é incrível como se insiste em abreviar erradamente a palavra “departamento”) digitando um memorando ao “Sr. X”: “Comunicamos que, em vista das promoções natalinas, Va. Sa. deve providenciar instalação da decoração própria, conforme plano anexo do Depto. de Marketing. Material à disposição no Almoxarifado, Seção XVI, depósito 4, armário No. 9".
De qualquer modo, o efeito final é sempre agradável às almas abertas à beleza das cores e à atmosfera especial da época.
Andando pelas ruas iluminadas, é preciso cuidado para não trombar com o Papai Noel. Quando criança, disseram-me que existia um Papai Noel. Só um. Mas ele deve andar rapidinho, pois a cada esquina que dobro vejo-o lá. O que devem pensar as crianças? Foi isso que me chamou a atenção nessa noite. Será que elas ainda acreditam nesse Papai Noel comercialmente multiplicado?
Entrei num shopping - lá estava “o bom velhinho”, claro, com a infalível barba branca, acolhendo as crianças. Uma pequena fila aguardava - três ou quatro crianças com seus familiares - enquanto um menino entediado esperava que seus pais, encantados, o fotografassem no colo do “velhinho”. Os outros pais, na fila, olhavam a cena embevecidos - talvez um ou outro lamentasse apenas por não ter tido ideia de levar também uma máquina fotográfica para registrar o encontro com um personagem vindo de tão longe (a Lapônia, vizinha do Pólo Norte).
Observei as outras crianças na fila. Uma, sonolenta, insistia com a mãe para que a pegasse no colo. A mãe não lhe dava atenção - tinha o olhar cravado na cena à sua frente e repetia: “Olha, filha, Papai Noel, olha!” Mais atrás, um menino pedia ao pai um sorvete. Também hipnotizado, ele batia no ombro do filho, sem olhá-lo, respondendo: “Depois, filho, depois do Papai Noel.”
Fiquei ali algum tempo ainda, apreciando o movimento e analisando as pessoas. Saí contente para continuar meu passeio. Sim, ainda há quem acredite na magia de Papai Noel...
[Texto escrito em 1995, como exercício de redação na Faculdade de Jornalismo. Reencontrei-o nesta semana, mexendo em papéis velhos guardados há anos.]
Nas grandes empresas impregnadas de burocracia, vejo o chefe do “Depto. de Promoções” (“Depto.”, grafado assim mesmo - é incrível como se insiste em abreviar erradamente a palavra “departamento”) digitando um memorando ao “Sr. X”: “Comunicamos que, em vista das promoções natalinas, Va. Sa. deve providenciar instalação da decoração própria, conforme plano anexo do Depto. de Marketing. Material à disposição no Almoxarifado, Seção XVI, depósito 4, armário No. 9".
De qualquer modo, o efeito final é sempre agradável às almas abertas à beleza das cores e à atmosfera especial da época.
Andando pelas ruas iluminadas, é preciso cuidado para não trombar com o Papai Noel. Quando criança, disseram-me que existia um Papai Noel. Só um. Mas ele deve andar rapidinho, pois a cada esquina que dobro vejo-o lá. O que devem pensar as crianças? Foi isso que me chamou a atenção nessa noite. Será que elas ainda acreditam nesse Papai Noel comercialmente multiplicado?
Entrei num shopping - lá estava “o bom velhinho”, claro, com a infalível barba branca, acolhendo as crianças. Uma pequena fila aguardava - três ou quatro crianças com seus familiares - enquanto um menino entediado esperava que seus pais, encantados, o fotografassem no colo do “velhinho”. Os outros pais, na fila, olhavam a cena embevecidos - talvez um ou outro lamentasse apenas por não ter tido ideia de levar também uma máquina fotográfica para registrar o encontro com um personagem vindo de tão longe (a Lapônia, vizinha do Pólo Norte).
Observei as outras crianças na fila. Uma, sonolenta, insistia com a mãe para que a pegasse no colo. A mãe não lhe dava atenção - tinha o olhar cravado na cena à sua frente e repetia: “Olha, filha, Papai Noel, olha!” Mais atrás, um menino pedia ao pai um sorvete. Também hipnotizado, ele batia no ombro do filho, sem olhá-lo, respondendo: “Depois, filho, depois do Papai Noel.”
Fiquei ali algum tempo ainda, apreciando o movimento e analisando as pessoas. Saí contente para continuar meu passeio. Sim, ainda há quem acredite na magia de Papai Noel...
[Texto escrito em 1995, como exercício de redação na Faculdade de Jornalismo. Reencontrei-o nesta semana, mexendo em papéis velhos guardados há anos.]
"Porre" de cinema
Aproveitei a antevéspera de Natal para mais um “porre” de cinema, dessa vez bem acompanhado por meu filho, companheiro de aventuras.
Vimos três filmes: “A rede social”, “Enterrado vivo” e “Comer, rezar, amar”. Tivemos sorte dessa vez: são todos filmes que merecem ser assistidos, e cada um bem diferente dos outros.
“A rede social” é o filme do heroísmo pós-moderno. Os personagens são sempre hedonistas, egoístas, interesseiros, e alguns muito arrogantes. Mostra certo tipo de gente que está “dominando o mundo”. Pobre mundo...
“Enterrado vivo” é uma obra-prima. Filme de 1h30min com um único ator e um só cenário que consegue manter a tensão e prender a atenção o tempo todo.
“Comer, rezar, amar” é interessante (mesmo com a insossa da Julia Roberts no papel principal). Javier Bardén interpreta um brasileiro (que fala algumas palavras num português com forte sotaque - o que até é justificável no filme, pois o personagem viveu até os 20 anos no Brasil e depois foi morar na Austrália - e às vezes errado). Apesar dos clichês, o filme tem seu charme. As belas locações dão vontade de viajar (aliás, vontade que, para mim, não precisa de muito estímulo...). E fiquei feliz porque meu filho saiu com uma decisão de vida: quer conhecer o mundo, no que terá todo meu apoio!
Vimos três filmes: “A rede social”, “Enterrado vivo” e “Comer, rezar, amar”. Tivemos sorte dessa vez: são todos filmes que merecem ser assistidos, e cada um bem diferente dos outros.
“A rede social” é o filme do heroísmo pós-moderno. Os personagens são sempre hedonistas, egoístas, interesseiros, e alguns muito arrogantes. Mostra certo tipo de gente que está “dominando o mundo”. Pobre mundo...
“Enterrado vivo” é uma obra-prima. Filme de 1h30min com um único ator e um só cenário que consegue manter a tensão e prender a atenção o tempo todo.
“Comer, rezar, amar” é interessante (mesmo com a insossa da Julia Roberts no papel principal). Javier Bardén interpreta um brasileiro (que fala algumas palavras num português com forte sotaque - o que até é justificável no filme, pois o personagem viveu até os 20 anos no Brasil e depois foi morar na Austrália - e às vezes errado). Apesar dos clichês, o filme tem seu charme. As belas locações dão vontade de viajar (aliás, vontade que, para mim, não precisa de muito estímulo...). E fiquei feliz porque meu filho saiu com uma decisão de vida: quer conhecer o mundo, no que terá todo meu apoio!
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