Há coisas que dão nojo neste país...
A corrupção, que, aliás, grassa em todo lugar, é uma delas. Viram a denúncia do CQC sobre o metrô de Salvador? Gastos de 500 milhões de reais para a construção de 6 km (!!!) de linhas de metrô com problemas técnicos e sem previsão de funcionamento, numa obra que se arrasta por mais de dez anos...
Outra é a mídia sensacionalista. Senti vontade de vomitar ao ler a capa da Veja: “Condenados! Agora, Isabela pode descansar em paz”. Será possível???!!! Chamam “isso” de jornalismo? Qualquer jornalista com mínimas noções do que seja jornalismo deve ter vontade de cuspir num título desses.
Outra coisa de dar ânsia é a reação pública em torno do julgamento dos Nardoni. E o promotor que vai à missa pela vítima - atitude absolutamente inapropriada, de gente sem noção de ética profissional (aliás, o dito cujo deu declarações na TV que afrontam as normas éticas do seu cargo, criticando e tentando ridicularizar o advogado de defesa). E o público que aplaude o promotor na missa e vaia o advogado de defesa na entrada do tribunal. Atitudes patéticas.
Como, aliás, foi patética a fundamentação da sentença condenatória redigida pelo juiz (ainda que a condenação tenha sido justa, como tudo parece indicar). Outra peça de gente sem noção. Acho que os holofotes da mídia torraram alguns neurônios do pobre magistrado, que pelo visto ficou deslumbrado.
Enfim, que triste país este...
Wednesday, March 31, 2010
Pobre língua... [2]
A turma da Gazeta do Povo, principal jornal do Paraná, está precisando de uma revisão sobre crase. Aliás, nunca entendi a dificuldade que tantas pessoas têm em relação ao uso da crase, que é tão tão tão simples: indica o encontro de duas letras “a” (a primeira, preposição; a segunda, quase sempre, artigo). E pronto, simples assim! Será que o problema está em identificar preposição e artigo? Enfim, não entendo...
Lá vão dois deslizes, ambos em títulos:
• “Button compara 1ª corrida à procissão” (23/03)
• “Empresário de Curitiba pede perdão à Cuba pela fala de Lula” (20/03)
Outra questão que me dói nos ouvidos são os neologismos que, em vez de contribuírem com o enriquecimento da língua, apresentando vocábulos novos que não tinham equivalentes, são, ao contrário, um empobrecimento, por substituírem palavras já existentes por outras de gosto duvidoso ou simplesmente trocarem uma palavra específica por uma genérica. Os exemplos:
• “Listagem” no lugar de lista.
• “Poeta” no lugar de poetisa.
Isso sem falar na abolição quase completa da palavra presidenta, justo quando tem havido mais mulheres na presidência de países importantes. Pelo andar da carruagem, logo será aceito o uso de “maestra” no lugar de maestrina e “música” no de musicista...
Alguém poderia alegar, nos exemplos que envolvem definição de gênero, que se trata de uma evolução ideológica, graças à boa e necessária igualdade entre os sexos. Se fosse isso, por que então o vocábulo genérico adotado é sempre o masculino? A meu ver, parece, bem ao contrário, uma concessão ao machismo.
Lá vão dois deslizes, ambos em títulos:
• “Button compara 1ª corrida à procissão” (23/03)
• “Empresário de Curitiba pede perdão à Cuba pela fala de Lula” (20/03)
Outra questão que me dói nos ouvidos são os neologismos que, em vez de contribuírem com o enriquecimento da língua, apresentando vocábulos novos que não tinham equivalentes, são, ao contrário, um empobrecimento, por substituírem palavras já existentes por outras de gosto duvidoso ou simplesmente trocarem uma palavra específica por uma genérica. Os exemplos:
• “Listagem” no lugar de lista.
• “Poeta” no lugar de poetisa.
Isso sem falar na abolição quase completa da palavra presidenta, justo quando tem havido mais mulheres na presidência de países importantes. Pelo andar da carruagem, logo será aceito o uso de “maestra” no lugar de maestrina e “música” no de musicista...
Alguém poderia alegar, nos exemplos que envolvem definição de gênero, que se trata de uma evolução ideológica, graças à boa e necessária igualdade entre os sexos. Se fosse isso, por que então o vocábulo genérico adotado é sempre o masculino? A meu ver, parece, bem ao contrário, uma concessão ao machismo.
Thursday, March 25, 2010
Mais uma da Globo...
O Jornal Hoje de anteontem levou ao ar uma matéria curiosa. A pretexto do julgamento dos Nardoni, a matéria tentava investigar por que tanta gente se interessava além da conta pelo caso. Mostrava pessoas de outras cidades que tinham viajado para acompanhar o julgamento na porta do Fórum etc. etc.
Então, tá. A Globo transforma o caso num caso "sensacional", fica martelando sensacionalisticamente o caso em todos os telejornais por dias e dias a fio... e depois se admira com o "interesse desmedido" do público!
É piadinha, né? Então, está aí uma dica para TV sem pauta: pegue um caso qualquer entre os milhões de acontecimentos diários que possam tornar-se notícia, faça dele um "grande caso" apelando para o sensacionalismo mais escandaloso: o tema poderá render dias e dias de matéria... e depois ainda se pode fazer uma pata sobre (oh! surpresa!) por que o público se interessa tanto por esses casos...
Então, tá. A Globo transforma o caso num caso "sensacional", fica martelando sensacionalisticamente o caso em todos os telejornais por dias e dias a fio... e depois se admira com o "interesse desmedido" do público!
É piadinha, né? Então, está aí uma dica para TV sem pauta: pegue um caso qualquer entre os milhões de acontecimentos diários que possam tornar-se notícia, faça dele um "grande caso" apelando para o sensacionalismo mais escandaloso: o tema poderá render dias e dias de matéria... e depois ainda se pode fazer uma pata sobre (oh! surpresa!) por que o público se interessa tanto por esses casos...
O que você observa primeiro numa mulher?
Falando em "tiradas" interessantes, lembrei-me de outra muito boa. O autor é o escritor, advogado, agricultor etc. (e meu irmão, o mais importante) Eriel Barreiros. À clássica pergunta "Que parte do corpo de uma mulher voce olha primeiro", sua resposta: "A mão esquerda"...
Tuesday, March 16, 2010
Pobre língua...
Os veículos de comunicação de massa têm hoje a função, antes reservada à literatura, de fixar a linguagem. Por isso, fico triste com a constatação de que a quase totalidade de nossos diários (inclusive os bons) tem descuidado muito do bom trato com nossa língua. Apenas a título de exemplo, ponho abaixo trechos retirados do caderno Gazeta Esportiva, da Gazeta do Povo de 15/03/2010. Todos os trechos são reproduzidos tais quais foram publicados. Divirta-se achando os erros.
• Logo na saída de bola, Toscano recebeu o lançamento e avançou para ampliar, encerrando um jejum que lhe atormentava desde janeiro.
• O mote é o jogo de quarta-feira contra o Sport, pela Copa do Brasil, mas a intensão é refletir no acanhado quadro de sócios.
• Com essa mudança, a equipe interiorana passou a ter mais ritmo e mais posse de bola, principalmente, quando esta chegava aos pés do Ceará, o qual além de articular as jogadas no meio de campo, ainda se aproximava do ataque, com muita habilidade.
• No lance seguinte ao gol, Neymar deu uma entrada forte, em Pierre e foi expulso.
• O Coritiba deve intensificar nos próximos dias a campanha de publicidade para recuperar a alto-estima dos torcedores.
• Teme-se represálias por parte da CBF.
Outros trechos, extraídos de edições e cadernos variados da Gazeta do Povo (aliás, diga-se, um bom jornal):
• O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) baixou novas metas para ser cumpridas atéo o fim deste ano [...]. (Vida Pública, 10/03).
• Em meio aos novos e velhos processos que lhes chegam, a cada dia há relatos a ser preenchidos, burocracias administrativas a ser cumpridas, dificuldades até com computadores e material de expediente a ser enfrentadas. (Vida Pública, 10/03).
• A diretoria do tricolor, nem assim se manifestou. (Esportes, 16/03).
• Poxa, é o sonho de todo o paulistano [...]. (Esportes, 16/03).
• Estão todos de parabéns por ter conseguido construir uma pista em quatro meses. (Esportes, 16/03).
• A pista era tão rápida que não conseguíamos correr sem ficar tonto, foi a pior condição que já pegamos. (Esportes, 16/03).
• Sempre que algo ou alguém lhe tirar do sério, respire fundo e conte mentalmente até 10 [...]. (Talento em pauta, 16/03).
• Respostas bem dadas, desestabilizam um desaforado. (Talento em pauta, 16/03).
• Se alguém lhe intimar para uma discussão, evite-a. (Talento em pauta, 16/03).
• Você acredita que uma boa estratégia para ser bem-sucedido na empresa é eliminando as ameaças pelo caminmho, inclusive pessoas que possam lhe prejudicar. (Talento em pauta, 16/03).
• Se algum colega lhe faz algo que não lhe agrada você se vinga na primeira oportunidade. (Talento em pauta, 16/03).
• Por isso, as pessoas devem lhe evitar e torcer para se verem livres de você muito rápido. (Talento em pauta, 16/03).
• Logo na saída de bola, Toscano recebeu o lançamento e avançou para ampliar, encerrando um jejum que lhe atormentava desde janeiro.
• O mote é o jogo de quarta-feira contra o Sport, pela Copa do Brasil, mas a intensão é refletir no acanhado quadro de sócios.
• Com essa mudança, a equipe interiorana passou a ter mais ritmo e mais posse de bola, principalmente, quando esta chegava aos pés do Ceará, o qual além de articular as jogadas no meio de campo, ainda se aproximava do ataque, com muita habilidade.
• No lance seguinte ao gol, Neymar deu uma entrada forte, em Pierre e foi expulso.
• O Coritiba deve intensificar nos próximos dias a campanha de publicidade para recuperar a alto-estima dos torcedores.
• Teme-se represálias por parte da CBF.
Outros trechos, extraídos de edições e cadernos variados da Gazeta do Povo (aliás, diga-se, um bom jornal):
• O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) baixou novas metas para ser cumpridas atéo o fim deste ano [...]. (Vida Pública, 10/03).
• Em meio aos novos e velhos processos que lhes chegam, a cada dia há relatos a ser preenchidos, burocracias administrativas a ser cumpridas, dificuldades até com computadores e material de expediente a ser enfrentadas. (Vida Pública, 10/03).
• A diretoria do tricolor, nem assim se manifestou. (Esportes, 16/03).
• Poxa, é o sonho de todo o paulistano [...]. (Esportes, 16/03).
• Estão todos de parabéns por ter conseguido construir uma pista em quatro meses. (Esportes, 16/03).
• A pista era tão rápida que não conseguíamos correr sem ficar tonto, foi a pior condição que já pegamos. (Esportes, 16/03).
• Sempre que algo ou alguém lhe tirar do sério, respire fundo e conte mentalmente até 10 [...]. (Talento em pauta, 16/03).
• Respostas bem dadas, desestabilizam um desaforado. (Talento em pauta, 16/03).
• Se alguém lhe intimar para uma discussão, evite-a. (Talento em pauta, 16/03).
• Você acredita que uma boa estratégia para ser bem-sucedido na empresa é eliminando as ameaças pelo caminmho, inclusive pessoas que possam lhe prejudicar. (Talento em pauta, 16/03).
• Se algum colega lhe faz algo que não lhe agrada você se vinga na primeira oportunidade. (Talento em pauta, 16/03).
• Por isso, as pessoas devem lhe evitar e torcer para se verem livres de você muito rápido. (Talento em pauta, 16/03).
Sunday, March 14, 2010
Os erros mais comuns em um texto
Depois de anos revisando monografias, teses de doutorado, dissertação de mestrado, artigos científicos e livros, quando me perguntam quais os erros encontrados com mais frequência nesses textos, tenho dificuldade de responder.
Na verdade, a gama de erros é variada. Em termos de quantidade, sem dúvida, levam o “prêmio” a pontuação e a acentuação. Mas estes são, geralmente, erros menos relevantes, muitas vezes resultantes de distração ou de problemas de digitação. Dentre os deslizes mais graves, são comuns as falhas de concordância nominal e verbal. A impropriedade vocabular não é evento dos mais numerosos, mas aparece sempre – todo texto tem um ou outro vocábulo empregado impropriamente. Por fim, há os erros na estrutura da frase, que muitas vezes acabam por gerar sentenças ininteligíveis.
Nos textos técnicos que exigem conhecimento específico distante do repertório do revisor, obviamente, a revisão é focada especificamente no aspecto formal – entretanto, uma frase mal estruturada, ainda que trate de tema que fuja ao domínio do revisor, não passará despercebida. Nesse caso, o revisor apontará o problema e solicitará ao autor que deixe claro o sentido da frase.
Deve-se ressaltar que cada texto tem seu público e sua intenção. O revisor precisa levar isso em conta na “calibragem” do seu trabalho. Afinal, o texto é uma peça de comunicação, e sua eficácia como tal está ligada ao público-alvo e ao objetivo comunicacional. A língua é viva, e muitas de suas regras não são rigidamente delimitadas. Um maior ou menor rigor formal depende do tipo de texto. Há muitos usos da língua que há pouco poderiam ser qualificados como “erro” e hoje são perfeitamente aceitas.
Nos meus trabalhos, em princípio, tendo a fazer uma revisão mais “purista”, salvo se houver tratativa em contrário com quem encomenda o trabalho. De qualquer modo, convém ter presente que nenhuma revisão é absolutamente “perfeita” – não apenas porque é feita por um ser humano, sujeito, portanto, a erros, mas porque uma visão excessivamente “rigorista” sempre encontrará algo a melhorar. Aliás, isso se aplica tanto à forma quanto ao conteúdo. Lembro-me de uma experiência muito curiosa: eu fazia a revisão dos textos de um escritor que publicava livros especializados sobre temas de religião e sociologia. Cada vez que eu entregava os originais revisados, ele acrescentava algo ao texto, que depois me devolvia para nova revisão – e assim sucessivamente, várias vezes, até que ele decidia não mexer mais no trabalho, vencido pelo cansaço. “Revise e não me devolva mais, passe direto ao editor”, dizia ele.
Conta-se que o célebre escritor francês Edmond Rostand era absolutamente obcecado na busca da perfeição de seus escritos. Ele revia e revia e aperfeiçoava seu texto até o limite do absurdo. Seu fantástico “Cyrano de Bergerac” – texto para teatro encenado incontáveis vezes, filmado por vários diretores e parodiado infinitamente – é um exemplo dessa obsessão: de construção magnífica, tornou-se uma das obras-primas da literatura ocidental (de passagem: está entre meus livros preferidos, bem como o filme, baseado nele, dirigido por Jean-Paul Rappeneau e estrelado por Gerard Depardieu). Não é preciso, evidentemente, essa obsessão. Mas um texto bem escrito, em português correto, é condição necessária para que o escritor consiga portar altivamente seu panache.
Na verdade, a gama de erros é variada. Em termos de quantidade, sem dúvida, levam o “prêmio” a pontuação e a acentuação. Mas estes são, geralmente, erros menos relevantes, muitas vezes resultantes de distração ou de problemas de digitação. Dentre os deslizes mais graves, são comuns as falhas de concordância nominal e verbal. A impropriedade vocabular não é evento dos mais numerosos, mas aparece sempre – todo texto tem um ou outro vocábulo empregado impropriamente. Por fim, há os erros na estrutura da frase, que muitas vezes acabam por gerar sentenças ininteligíveis.
Nos textos técnicos que exigem conhecimento específico distante do repertório do revisor, obviamente, a revisão é focada especificamente no aspecto formal – entretanto, uma frase mal estruturada, ainda que trate de tema que fuja ao domínio do revisor, não passará despercebida. Nesse caso, o revisor apontará o problema e solicitará ao autor que deixe claro o sentido da frase.
Deve-se ressaltar que cada texto tem seu público e sua intenção. O revisor precisa levar isso em conta na “calibragem” do seu trabalho. Afinal, o texto é uma peça de comunicação, e sua eficácia como tal está ligada ao público-alvo e ao objetivo comunicacional. A língua é viva, e muitas de suas regras não são rigidamente delimitadas. Um maior ou menor rigor formal depende do tipo de texto. Há muitos usos da língua que há pouco poderiam ser qualificados como “erro” e hoje são perfeitamente aceitas.
Nos meus trabalhos, em princípio, tendo a fazer uma revisão mais “purista”, salvo se houver tratativa em contrário com quem encomenda o trabalho. De qualquer modo, convém ter presente que nenhuma revisão é absolutamente “perfeita” – não apenas porque é feita por um ser humano, sujeito, portanto, a erros, mas porque uma visão excessivamente “rigorista” sempre encontrará algo a melhorar. Aliás, isso se aplica tanto à forma quanto ao conteúdo. Lembro-me de uma experiência muito curiosa: eu fazia a revisão dos textos de um escritor que publicava livros especializados sobre temas de religião e sociologia. Cada vez que eu entregava os originais revisados, ele acrescentava algo ao texto, que depois me devolvia para nova revisão – e assim sucessivamente, várias vezes, até que ele decidia não mexer mais no trabalho, vencido pelo cansaço. “Revise e não me devolva mais, passe direto ao editor”, dizia ele.
Conta-se que o célebre escritor francês Edmond Rostand era absolutamente obcecado na busca da perfeição de seus escritos. Ele revia e revia e aperfeiçoava seu texto até o limite do absurdo. Seu fantástico “Cyrano de Bergerac” – texto para teatro encenado incontáveis vezes, filmado por vários diretores e parodiado infinitamente – é um exemplo dessa obsessão: de construção magnífica, tornou-se uma das obras-primas da literatura ocidental (de passagem: está entre meus livros preferidos, bem como o filme, baseado nele, dirigido por Jean-Paul Rappeneau e estrelado por Gerard Depardieu). Não é preciso, evidentemente, essa obsessão. Mas um texto bem escrito, em português correto, é condição necessária para que o escritor consiga portar altivamente seu panache.
Saturday, March 13, 2010
“Tiradas” do meu filho
Meu filho de 13 anos às vezes me surpreende com suas “tiradas”. Dia desses, estávamos voltando para casa à noite e passamos perto da praça Ouvidor Pardinho, onde muitos travestis fazem ponto. Comentávamos como havia alguns muito femininos e realmente bonitos. Minha mulher perguntou-lhe se os achava bonitos. Ele saiu-se com esta: “Sim. São como frutas de plástico - bonitas, mas não dão vontade de comer”.
Em outra ocasião, ele se queixava da necessidade de decorar a tabuada, alegando que era muito mais cômodo usar uma calculadora. E argumentou: “Num mundo em que as pessoas não puderem usar calculadoras, será mais útil a escola ensinar os alunos a pescar e caçar”.
Em outra ocasião, ele se queixava da necessidade de decorar a tabuada, alegando que era muito mais cômodo usar uma calculadora. E argumentou: “Num mundo em que as pessoas não puderem usar calculadoras, será mais útil a escola ensinar os alunos a pescar e caçar”.
Friday, March 05, 2010
O ridículo moralismo estadunidense
Uma família de New Jersey achou uma atividade interessante para fazer no gelado inverno estadunidense: esculpiu em gelo uma réplica da Vênus de Milo.
Pois um vizinho denunciou a “escandalosa” nudez da estátua, e a polícia obrigou a família a cobrir as partes pudendas da escultura.
Absolutamente ridículo. A “moralidade” de muitos estadunidenses (extremamente “conservadores”) parece doença mental - mas é pior, é uma doença moral...
A notícia foi distribuída pela AFP e publicada pelo UOL. Clique no link para ver a foto, vale a pena.
Pois um vizinho denunciou a “escandalosa” nudez da estátua, e a polícia obrigou a família a cobrir as partes pudendas da escultura.
Absolutamente ridículo. A “moralidade” de muitos estadunidenses (extremamente “conservadores”) parece doença mental - mas é pior, é uma doença moral...
A notícia foi distribuída pela AFP e publicada pelo UOL. Clique no link para ver a foto, vale a pena.
Thursday, March 04, 2010
Razões para revisar um texto
Imagine alguém que goste (e entenda) muito de risoto. Nosso gourmand vai a um restaurante de grande prestígio, cuja cozinha é dirigida por um chef de renome internacional, e pede seu prato predileto: risoto de camarão. Ao recebê-lo na mesa, tudo parece perfeito: o aroma, a textura do camarão, os condimentos, o gosto delicioso... Entretanto, enquanto refestela o paladar, mastigando o arroz cozido no ponto perfeito, nosso personagem encontra, cá e lá, de vez em quando, uma pedrinha. As incômodas mordidas nos pedacinhos duros certamente o irritariam a ponto de ele desqualificar o cozinheiro e nunca mais voltar ao restaurante, por mais refinado que fosse o sabor da iguaria, por maiores que fossem as qualidades dos ingredientes.
É isso que pode acontecer quando um leitor qualificado se depara com um texto agradável, fluente, saboroso... mas que, cá e lá, de vez em quando, deixa escapar “errinhos de português”. Esses erros são pedrinhas no risoto, e dificilmente o leitor que seja bom conhecedor da língua deixará de considerá-los um ponto bastante negativo ao avaliar o texto.
Um bom escritor é sempre um bom manipulador da língua. Ainda que não conheça de cor e salteado as regras gramaticais, ele sabe empregar adequadamente o idioma, mesmo que intuitivamente. E os grandes literatos que “torceram” as regras do português (imediatamente me vem à ideia Guimarães Rosa) sabiam exatamente o que estavam fazendo.
Claro que mesmo bons escritores estão sujeitos a pequenos deslizes na escritura de um texto. É por isso que, sábios e humildes, recorrem aos revisores – funcionários da palavra que, ainda quando não tenham o estro literário, sabem identificar pequenas ervas daninhas insinuando-se no trigal do texto.
Há um bem sucedido escritor brasileiro que, segundo consta, não admitia (ao que parece, por razões místicas) que seus escritos fossem revisados. Graças a isso, são facilmente encontráveis erros evidentes em seus primeiros livros. Repetindo no exterior o sucesso nacional, tal autor alcançou celebridade muito maior do que seus escritos lhe haviam dado, a princípio, em solo pátrio: os textos bem vertidos para línguas estrangeiras certamente não continham erros. Deu então a mão à palmatória o escritor, passando a permitir a “intromissão” de revisores no seu texto, o que melhorou a qualidade de seus livros.
Já o autor brasileiro mais premiado em anos recentes, Cristóvão Tezza, tem um impecável domínio do idioma. Tal qualidade faz com que suas obras possam dar ao leitor um grande prazer apenas na consideração da perfeição da escrita, independentemente da história. Certamente consciente disso, Tezza já incluiu em algumas histórias páginas que parecem estar nelas apenas para dar ao leitor o deleite do texto primoroso.
Quaisquer que sejam o objetivo e o estilo do texto (literário, técnico, científico, burocrático...), é legítimo que o leitor espere, pelo menos, um uso correto do idioma. E também é certo que a ausência de erros já eleva a qualificação daquilo que se escreve. Portanto, senhores autores, façam boamente uso do trabalho do revisor, que colocará seu esforço e seu conhecimento a serviço da boa qualidade do texto, ajudando o leitor a sorvê-lo na autenticidade de seu sabor, sem incômodos de forma que possam aviltar o estilo.
É isso que pode acontecer quando um leitor qualificado se depara com um texto agradável, fluente, saboroso... mas que, cá e lá, de vez em quando, deixa escapar “errinhos de português”. Esses erros são pedrinhas no risoto, e dificilmente o leitor que seja bom conhecedor da língua deixará de considerá-los um ponto bastante negativo ao avaliar o texto.
Um bom escritor é sempre um bom manipulador da língua. Ainda que não conheça de cor e salteado as regras gramaticais, ele sabe empregar adequadamente o idioma, mesmo que intuitivamente. E os grandes literatos que “torceram” as regras do português (imediatamente me vem à ideia Guimarães Rosa) sabiam exatamente o que estavam fazendo.
Claro que mesmo bons escritores estão sujeitos a pequenos deslizes na escritura de um texto. É por isso que, sábios e humildes, recorrem aos revisores – funcionários da palavra que, ainda quando não tenham o estro literário, sabem identificar pequenas ervas daninhas insinuando-se no trigal do texto.
Há um bem sucedido escritor brasileiro que, segundo consta, não admitia (ao que parece, por razões místicas) que seus escritos fossem revisados. Graças a isso, são facilmente encontráveis erros evidentes em seus primeiros livros. Repetindo no exterior o sucesso nacional, tal autor alcançou celebridade muito maior do que seus escritos lhe haviam dado, a princípio, em solo pátrio: os textos bem vertidos para línguas estrangeiras certamente não continham erros. Deu então a mão à palmatória o escritor, passando a permitir a “intromissão” de revisores no seu texto, o que melhorou a qualidade de seus livros.
Já o autor brasileiro mais premiado em anos recentes, Cristóvão Tezza, tem um impecável domínio do idioma. Tal qualidade faz com que suas obras possam dar ao leitor um grande prazer apenas na consideração da perfeição da escrita, independentemente da história. Certamente consciente disso, Tezza já incluiu em algumas histórias páginas que parecem estar nelas apenas para dar ao leitor o deleite do texto primoroso.
Quaisquer que sejam o objetivo e o estilo do texto (literário, técnico, científico, burocrático...), é legítimo que o leitor espere, pelo menos, um uso correto do idioma. E também é certo que a ausência de erros já eleva a qualificação daquilo que se escreve. Portanto, senhores autores, façam boamente uso do trabalho do revisor, que colocará seu esforço e seu conhecimento a serviço da boa qualidade do texto, ajudando o leitor a sorvê-lo na autenticidade de seu sabor, sem incômodos de forma que possam aviltar o estilo.
Subscribe to:
Posts (Atom)