Se você é homem, responda sinceramente:
1) Gostaria de ser muito rico?
2) Gostaria de ser poderoso - por exemplo, mandatário máximo de um país importante?
3) Gostaria de ser dono de um dos melhores times de futebol do mundo?
4) Gostaria de ser dono de uma influente rede de comunicação?
5) Gostaria de ter as mulheres que desejasse?
Uma pesquisa recente de intenção de votos realizada na Itália indicou fácil reeleição de Silvio Berlusconi como primeiro-ministro. A Gazeta do Povo publicou nota a respeito, concluída com a frase: “Difícil é explicar a preferência italiana ao resto do mundo”.
Será mesmo “difícil” explicar? Será que os homens italianos vêem no primeiro-ministro alguém desprezível ou um modelo de tudo que desejam para si?
Não estou fazendo um julgamento ético, apenas especulando sobre o que não parece nada difícil de esclarecer.
Sunday, February 06, 2011
Thursday, February 03, 2011
Foto da tribo “isolada”
Diversos veículos reproduziram uma fotografia da AFP (clique aqui para vê-la), divulgada como sendo de uma tribo de índios isolados na fronteira do Brasil com o Peru. Aparecem na foto cinco índios olhando para o alto, um deles apontando o avião de onde foi tirada a foto.
Olhando-se a fotografia, percebe-se que a criança no centro tem em mãos um enorme facão. Bem, talvez uma tribo “isolada” não seja exatamente aquela que nunca teve contato com o homem branco. Mas não é o que o leitor não especializado em questões indígenas vai pensar, obviamente. Todo o significado da divulgação da foto como algo inusitado deve-se à ideia de que a tribo não teve contato com o homem branco.
Provavelmente, trata-se de um erro jornalístico na divulgação da imagem: o leitor é levado a pensar que se trata de uma tribo sem contato com os brancos, embora essa não seja a verdade. Ou então o objeto tão parecido com o facão é outra coisa, o que também demanda esclarecimento.
Olhando-se a fotografia, percebe-se que a criança no centro tem em mãos um enorme facão. Bem, talvez uma tribo “isolada” não seja exatamente aquela que nunca teve contato com o homem branco. Mas não é o que o leitor não especializado em questões indígenas vai pensar, obviamente. Todo o significado da divulgação da foto como algo inusitado deve-se à ideia de que a tribo não teve contato com o homem branco.
Provavelmente, trata-se de um erro jornalístico na divulgação da imagem: o leitor é levado a pensar que se trata de uma tribo sem contato com os brancos, embora essa não seja a verdade. Ou então o objeto tão parecido com o facão é outra coisa, o que também demanda esclarecimento.
Wednesday, February 02, 2011
Escorregões na língua...
Título de abertura da p. 13 da Gazeta do Povo, caderno Vida Pública, ontem, 1º/02/2011:
Mesmo após escândalos, 47,8%
não lembram em quem votou
Trechos do texto “Um rosto na multidão”, de Carlos Heitor Cony, ótimo cronista, escritor consagrado e membro da Academia Brasileira de Letras (Gazeta do Povo, p. 10, caderno Vida e Cidadania, 1º/02/2011):
“...ele dava a impressão de buscar câmeras e holofotes onde houvessem câmeras e holofotes.”
“...Lula dava a impressão de estar dizendo para todos: ‘Veja aonde cheguei!’”
Trecho da matéria “Atlético encara ‘panela de pressão’ na Arena” (Gazeta do Povo, 30/01/2011, p. 4 do caderno de Esportes):
“O volante Fransérgio [...] começou o ano renegado ao ‘time C’ do Atlético...”
Mesmo após escândalos, 47,8%
não lembram em quem votou
Trechos do texto “Um rosto na multidão”, de Carlos Heitor Cony, ótimo cronista, escritor consagrado e membro da Academia Brasileira de Letras (Gazeta do Povo, p. 10, caderno Vida e Cidadania, 1º/02/2011):
“...ele dava a impressão de buscar câmeras e holofotes onde houvessem câmeras e holofotes.”
“...Lula dava a impressão de estar dizendo para todos: ‘Veja aonde cheguei!’”
Trecho da matéria “Atlético encara ‘panela de pressão’ na Arena” (Gazeta do Povo, 30/01/2011, p. 4 do caderno de Esportes):
“O volante Fransérgio [...] começou o ano renegado ao ‘time C’ do Atlético...”
Tuesday, February 01, 2011
“Dossiê Battisti”: o erro fatal
A Gazeta do Povo encerrou a série de reportagens do “Dossiê Battisti” escritas na Itália. E na edição de 23 de janeiro ficam desvelados os erros da publicação no ponto de partida. O texto “A ‘culpa’ dos franceses” indica o que está na cabeça da repórter: existe um “lado certo” e um “lado errado”, e Battisti está do lado errado. Quem define qual o lado “certo” e qual o “errado”? A divisão maniqueísta é dada pela visão prévia do jornal, que já no ponto de partida da série de reportagens trata Battisti como criminoso comum, antes de qualquer apuração - posição prévia que influencia toda a cobertura.
Ao menos, desta vez, aparece algum contrapeso. A matéria cita intelectuais franceses que defendem a inocência de Battisti e uma historiadora que alega que as assinaturas de Battisti nas procurações ao advogado que o defendeu ante a justiça italiana eram falsificadas.
A edição dá voz também a uma das advogadas de defesa de Battisti no Brasil, sob o título “Reação da Itália mostra que Lula estava certo, diz defesa”. E também ouve Arrigo Cavallina, identificado como “um dos idealizadores do PAC [o movimento Proletários Armados pelo Comunismo, do qual Battisti fazia parte] e espécie de ‘mentor’ de Cesare Battisti”. Um trecho: “Cavallina diz que a mídia e o governo italiano exageram ao falar do caso, já que há outros italianos condenados que também não foram extraditados pela França.”
Entretanto, o mais curioso, o indicador do erro fatal, é o “Depoimento” da repórter enviada à Itália. A jornalista acredita que Battisti é criminoso porque, na Itália, o vulgo assim pensa. “Será que um país inteiro está errado e a decisão de um presidente - que já virou ex - é que está certa?” - pergunta ela, encerrando o texto. Incrível. Antes de tudo, porque ela ficou uma semana em algumas poucas cidades da Itália - algo absolutamente insuficiente para ter um panorama do pensamento dominante no país todo. Mas, pior, por tomar como verdade absoluta a opinião da maioria.
Se a mesma jornalista fosse enviada ao Irã, certamente voltaria qualificando Sakineh Ashtiani de adúltera, criminosa, assassina. Afinal, a quase unanimidade das autoridades e do povo iraniano assim pensa. E se fosse à China ou à Coreia do Norte, voltaria tecendo loas às ditaduras que lá imperam, pois nada ouviria contra. Ou não, nesse caso, já que, dada a linha editorial do periódico, provavelmente já partisse de uma posição previamente tomada...
Este é o erro: não se faz bom jornalismo a partir de uma posição prévia que se busca apenas confirmar, nem com base na opinião do vulgo. B0m jornalismo é feito com apuração e apresentação de fatos e dados, bem como da palavra de fontes qualificadas, como especialistas tanto quanto possível neutros em relação ao caso que se apura. Se em março de 1994 a Gazeta tivesse feito um “Dossiê Escola Base” com o mesmo espírito, teria condenado previamente os proprietários da escola - naquela época, “o país todo” tinha certeza de que eles eram culpados... Na deontologia jornalística, não cabe o jornalista pautar-se pela opinião da maioria. Por vezes, é preciso ir contra um país inteiro. Não é a visão da maioria que indica o que é “verdade” ou “certo”.
Repito: não defendo Battisti, nem tenho posição formada quanto à extradição (tema tão complexo que dividiu o STF). Mas defendo, sim, um jornalismo de qualidade (o que, diga-se, não é raridade na Gazeta do Povo, um jornal realmente bom no panorama do jornalismo brasileiro).
Ao menos, desta vez, aparece algum contrapeso. A matéria cita intelectuais franceses que defendem a inocência de Battisti e uma historiadora que alega que as assinaturas de Battisti nas procurações ao advogado que o defendeu ante a justiça italiana eram falsificadas.
A edição dá voz também a uma das advogadas de defesa de Battisti no Brasil, sob o título “Reação da Itália mostra que Lula estava certo, diz defesa”. E também ouve Arrigo Cavallina, identificado como “um dos idealizadores do PAC [o movimento Proletários Armados pelo Comunismo, do qual Battisti fazia parte] e espécie de ‘mentor’ de Cesare Battisti”. Um trecho: “Cavallina diz que a mídia e o governo italiano exageram ao falar do caso, já que há outros italianos condenados que também não foram extraditados pela França.”
Entretanto, o mais curioso, o indicador do erro fatal, é o “Depoimento” da repórter enviada à Itália. A jornalista acredita que Battisti é criminoso porque, na Itália, o vulgo assim pensa. “Será que um país inteiro está errado e a decisão de um presidente - que já virou ex - é que está certa?” - pergunta ela, encerrando o texto. Incrível. Antes de tudo, porque ela ficou uma semana em algumas poucas cidades da Itália - algo absolutamente insuficiente para ter um panorama do pensamento dominante no país todo. Mas, pior, por tomar como verdade absoluta a opinião da maioria.
Se a mesma jornalista fosse enviada ao Irã, certamente voltaria qualificando Sakineh Ashtiani de adúltera, criminosa, assassina. Afinal, a quase unanimidade das autoridades e do povo iraniano assim pensa. E se fosse à China ou à Coreia do Norte, voltaria tecendo loas às ditaduras que lá imperam, pois nada ouviria contra. Ou não, nesse caso, já que, dada a linha editorial do periódico, provavelmente já partisse de uma posição previamente tomada...
Este é o erro: não se faz bom jornalismo a partir de uma posição prévia que se busca apenas confirmar, nem com base na opinião do vulgo. B0m jornalismo é feito com apuração e apresentação de fatos e dados, bem como da palavra de fontes qualificadas, como especialistas tanto quanto possível neutros em relação ao caso que se apura. Se em março de 1994 a Gazeta tivesse feito um “Dossiê Escola Base” com o mesmo espírito, teria condenado previamente os proprietários da escola - naquela época, “o país todo” tinha certeza de que eles eram culpados... Na deontologia jornalística, não cabe o jornalista pautar-se pela opinião da maioria. Por vezes, é preciso ir contra um país inteiro. Não é a visão da maioria que indica o que é “verdade” ou “certo”.
Repito: não defendo Battisti, nem tenho posição formada quanto à extradição (tema tão complexo que dividiu o STF). Mas defendo, sim, um jornalismo de qualidade (o que, diga-se, não é raridade na Gazeta do Povo, um jornal realmente bom no panorama do jornalismo brasileiro).
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