Friday, September 24, 2010

Matemática e política na 7ª série

Aula de Matemática na 7ª série. A professora pedira aos alunos que levassem canudos e barbantes para montarem triângulos, tema de estudo do dia. Percebendo, no início da aula, que alguns alunos não havim levado o material, logo dá ordem para que esses ponham as agendas sobre a carteira - sinal de que levariam o ameaçador carimbo de “tarefa não cumprida”.

Um aluno interfere. “Professora,” diz ele, “esta não é apenas uma aula de Matemática, mas também de Política. Veja só: quem não tem o material será fichado. É o que acontece com o pobre, aquele que não tem algo. É considerado culpado e punido.” Observando que alguns alunos tinham muitos canudos (um colega chegara a levar um pacote com 200 unidades), questiona: “Por que não podemos dividir os canudos? Por que aqueles que têm canudos sobrando não podem dar alguns para os que não têm? Isso não é uma imagem perfeita do capitalismo?” E termina o discurso ironicamente, com uma frase de efeito: “E contra burguês, vote 16!”

Atônita, a professora não carimba as agendas. Permite que uns dêem seus canudos excedentes aos outros. E todos puderam montar e estudar triângulos, aprendendo nesse dia mais do que Matemática.

O fato realmente aconteceu. E o autor do discurso, para meu orgulho de pai coruja, foi meu filho de 13 anos...

6 comments:

jorgil said...

Grande político esse menino!

Tomás Barreiros said...

Ah, ah! É isso aí! Acho que vai virar gente grande e incomodar as "estruturas"!
Abraço, e apareça sempre!

eriel said...

muito bem, na essência! só que, na medida em que for crescendo, é bom ver porque os que têm muitos canudos os têm e porque os que não os têm não os têm... Pode ser que uns tenham porque trabalharam bastante para os conseguir e, outros, porque ficaram preguiçosamente esperando alguém os dar...

Tomás Barreiros said...

Ah, ah, ah! O velho discurso liberal: rico é rico porque é trabalhador, pobre é pobre porque é vagabundo! Que coisa mais antiga... Vá dizer isso ao coitado que nasceu na favela. É só ele trabalhar que fica rico, né? E o filhinho de papai que nasceu em berço de ouro pode ficar vagabundeando a vida todo que vai continuar rico...

eriel said...

esse discurso também não é novo... nem o socialismo. O que eu disse é para ver cada caso, porque tem de todos os tipos: o que não tem por falta de oportunidade OU porque não faz por ter; e o que tem por fazer bom proveito das oportunidades OU porque ganhou fácil do papai.

Tomás Barreiros said...

OK, agora calibramos os comentários. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, de acordo...