Aula de Matemática na 7ª série. A professora pedira aos alunos que levassem canudos e barbantes para montarem triângulos, tema de estudo do dia. Percebendo, no início da aula, que alguns alunos não havim levado o material, logo dá ordem para que esses ponham as agendas sobre a carteira - sinal de que levariam o ameaçador carimbo de “tarefa não cumprida”.
Um aluno interfere. “Professora,” diz ele, “esta não é apenas uma aula de Matemática, mas também de Política. Veja só: quem não tem o material será fichado. É o que acontece com o pobre, aquele que não tem algo. É considerado culpado e punido.” Observando que alguns alunos tinham muitos canudos (um colega chegara a levar um pacote com 200 unidades), questiona: “Por que não podemos dividir os canudos? Por que aqueles que têm canudos sobrando não podem dar alguns para os que não têm? Isso não é uma imagem perfeita do capitalismo?” E termina o discurso ironicamente, com uma frase de efeito: “E contra burguês, vote 16!”
Atônita, a professora não carimba as agendas. Permite que uns dêem seus canudos excedentes aos outros. E todos puderam montar e estudar triângulos, aprendendo nesse dia mais do que Matemática.
O fato realmente aconteceu. E o autor do discurso, para meu orgulho de pai coruja, foi meu filho de 13 anos...
Friday, September 24, 2010
Tuesday, September 21, 2010
Erros em um página
Depois de um “longo e tenebroso inverno”, volto a postar...
Peguei hoje (21/09), a esmo, uma página da Gazeta do Povo para analisar quantos erros poderiam ser encontrados em uma única página. Trata-se da página 4 (contracapa) do caderno de esportes.
A página tem quatro textos: “Técnico tricolor alcança marca histórica”, “Hora de definir a meta na Vila”, “Coritiba pega o Brasiliense após recuperação dupla no Couto” e “Mistério tático no Alviverde”, que tratarei de textos 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Os textos podem ser acessados no site da Gazeta do Povo, clicando-se sobre os títulos. Ressalto, entretanto, que utilizei a página impressa, que, ao contrário da virtual, não pode ser corrigida.
Reproduzo abaixo trechos de cada matéria e, em seguida, após o asterisco, indico a correção e/ou faço algum comentário. Lá vai...
TEXTO 1
• Se em campo a estabilidade * Se em campo a instabilidade
• (2001/02 e 2008) * (2001-02 e 2008)
• Tanto você, quanto os jogadores vêm enfatizando * Tanto você quanto os jogadores vêm enfatizando
TEXTO 2
• com 32 dois pontos * com 32 pontos
TEXTO 3
• inflamação no púbis - mesma lesão que forçou a aposentadoria precoce do tenista Gustavo Kuerten * Guga se aposentou devido a uma lesão no quadril e não no púbis.
• quatro cirurgias a que foi obrigado a fazer * quatro cirurgias que foi obrigado a fazer
• Ano passado ele retornou a jogar * No ano passado, ele voltou a jogar
• Campeonato Catarinense desse ano, com 8 gols * Campeonato Catarinense deste ano, com oito gols
• jogar bem veio agora, no Coritiba * jogar bem, veio agora, no Coritiba
• Para mim esse jogo * Para mim, esse jogo
• Primeiro porque fazia muito tempo * Primeiro, porque fazia muito tempo
• agradecer à diretoria do Coritiba, que mesmo depois de dois anos parados, enxergou em mim o perfil para o projeto do clube * agradecer à diretoria do Coritiba, que enxergou em mim, mesmo depois de dois anos parado, o perfil para o projeto do clube * Além da falta de uma vírgula e do “parados”, uma oração mal posicionada.
TEXTO 4
• não definiu que volta a usar * não definiu se volta a usar
• após 10 rodadas * após dez rodadas
Enfim, não quero apontar os erros como uma queixa, mas para constatar que a dinâmica de produção do jornalismo - ainda mais nos tempos de hoje, em que muitas vezes mais importa a velocidade com que a informação é transmitida do que a qualidade do seu conteúdo - torna frequentes esses erros.
As imprecisões ou falhas de redação, aliás, não são tão graves quanto as de informação, pois o “erro” de redação pode ser identificado facilmente pelo leitor (está “à disposição” dele), ao contrário do erro de informação: o jornalista goza de um contrato prévio de credibilidade, e o leitor raramente tem condições de conferir a informação. Aliás, pode ser que haja mais falhas de informação na página que me tenham passado despercebidas, pois é impossível conferir tudo que é publicado - mais uma razão para que se confie previamente no repórter, é esse o contrato tácito entre o leitor e o jornal.
Aliás, aproveito para reproduzir abaixo trechos uma interessante entrevista com Woody Allen publicada pelo New York Times e reproduzida em diversos veículos brasileiros (“Deus, velhice e fimar em Nova York”). Veja-se o comentário do cineasta sobre a mídia, destacado em itálico...
O senhor estava preparado para a tempestade midiática que causou ao escalar Carla Bruni-Sarkozy para seu próximo filme, Midnight in Paris?
Fiquei muito surpreso com o nível do jornalismo que se faz em relação a ela, que tem uma pequena participação no filme – um papel real, mas pequeno. Filmamos o primeiro dia e todos os jornais já diziam que ela tinha sido horrível, que tínhamos repetido a cena 32 vezes. Claro que não cheguei a fazer nem dez takes com ela. Aquele outro número mágico foi apenas invenção de alguém sentado na sua sala. Depois publicaram que o marido dela teria ido ao set e se zangado com ela. Ele apareceu lá uma vez, e ficou encantado. Sentiu que ela é uma atriz natural e não poderia ter ficado mais feliz.
Isso daria uma boa chamada para o cartaz do filme.
Por alguma razão, a imprensa queria dizer coisas ruins sobre ela. Não sei se tinham alguma coisa contra os Sarkozys, ou foi para vender mais jornais. Mas as invenções foram de uma selvageria, e tão completamente falsas, que eu perguntava a mim mesmo: “Será que é assim também com o Afeganistão, a economia e assuntos realmente importantes?” Essa é uma questão trivial. Mas estou enrolando pra responder à sua pergunta: não estava preparado para a repercussão que o filme teve na imprensa por causa de Madame Sarkozy.
Peguei hoje (21/09), a esmo, uma página da Gazeta do Povo para analisar quantos erros poderiam ser encontrados em uma única página. Trata-se da página 4 (contracapa) do caderno de esportes.
A página tem quatro textos: “Técnico tricolor alcança marca histórica”, “Hora de definir a meta na Vila”, “Coritiba pega o Brasiliense após recuperação dupla no Couto” e “Mistério tático no Alviverde”, que tratarei de textos 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Os textos podem ser acessados no site da Gazeta do Povo, clicando-se sobre os títulos. Ressalto, entretanto, que utilizei a página impressa, que, ao contrário da virtual, não pode ser corrigida.
Reproduzo abaixo trechos de cada matéria e, em seguida, após o asterisco, indico a correção e/ou faço algum comentário. Lá vai...
TEXTO 1
• Se em campo a estabilidade * Se em campo a instabilidade
• (2001/02 e 2008) * (2001-02 e 2008)
• Tanto você, quanto os jogadores vêm enfatizando * Tanto você quanto os jogadores vêm enfatizando
TEXTO 2
• com 32 dois pontos * com 32 pontos
TEXTO 3
• inflamação no púbis - mesma lesão que forçou a aposentadoria precoce do tenista Gustavo Kuerten * Guga se aposentou devido a uma lesão no quadril e não no púbis.
• quatro cirurgias a que foi obrigado a fazer * quatro cirurgias que foi obrigado a fazer
• Ano passado ele retornou a jogar * No ano passado, ele voltou a jogar
• Campeonato Catarinense desse ano, com 8 gols * Campeonato Catarinense deste ano, com oito gols
• jogar bem veio agora, no Coritiba * jogar bem, veio agora, no Coritiba
• Para mim esse jogo * Para mim, esse jogo
• Primeiro porque fazia muito tempo * Primeiro, porque fazia muito tempo
• agradecer à diretoria do Coritiba, que mesmo depois de dois anos parados, enxergou em mim o perfil para o projeto do clube * agradecer à diretoria do Coritiba, que enxergou em mim, mesmo depois de dois anos parado, o perfil para o projeto do clube * Além da falta de uma vírgula e do “parados”, uma oração mal posicionada.
TEXTO 4
• não definiu que volta a usar * não definiu se volta a usar
• após 10 rodadas * após dez rodadas
Enfim, não quero apontar os erros como uma queixa, mas para constatar que a dinâmica de produção do jornalismo - ainda mais nos tempos de hoje, em que muitas vezes mais importa a velocidade com que a informação é transmitida do que a qualidade do seu conteúdo - torna frequentes esses erros.
As imprecisões ou falhas de redação, aliás, não são tão graves quanto as de informação, pois o “erro” de redação pode ser identificado facilmente pelo leitor (está “à disposição” dele), ao contrário do erro de informação: o jornalista goza de um contrato prévio de credibilidade, e o leitor raramente tem condições de conferir a informação. Aliás, pode ser que haja mais falhas de informação na página que me tenham passado despercebidas, pois é impossível conferir tudo que é publicado - mais uma razão para que se confie previamente no repórter, é esse o contrato tácito entre o leitor e o jornal.
Aliás, aproveito para reproduzir abaixo trechos uma interessante entrevista com Woody Allen publicada pelo New York Times e reproduzida em diversos veículos brasileiros (“Deus, velhice e fimar em Nova York”). Veja-se o comentário do cineasta sobre a mídia, destacado em itálico...
O senhor estava preparado para a tempestade midiática que causou ao escalar Carla Bruni-Sarkozy para seu próximo filme, Midnight in Paris?
Fiquei muito surpreso com o nível do jornalismo que se faz em relação a ela, que tem uma pequena participação no filme – um papel real, mas pequeno. Filmamos o primeiro dia e todos os jornais já diziam que ela tinha sido horrível, que tínhamos repetido a cena 32 vezes. Claro que não cheguei a fazer nem dez takes com ela. Aquele outro número mágico foi apenas invenção de alguém sentado na sua sala. Depois publicaram que o marido dela teria ido ao set e se zangado com ela. Ele apareceu lá uma vez, e ficou encantado. Sentiu que ela é uma atriz natural e não poderia ter ficado mais feliz.
Isso daria uma boa chamada para o cartaz do filme.
Por alguma razão, a imprensa queria dizer coisas ruins sobre ela. Não sei se tinham alguma coisa contra os Sarkozys, ou foi para vender mais jornais. Mas as invenções foram de uma selvageria, e tão completamente falsas, que eu perguntava a mim mesmo: “Será que é assim também com o Afeganistão, a economia e assuntos realmente importantes?” Essa é uma questão trivial. Mas estou enrolando pra responder à sua pergunta: não estava preparado para a repercussão que o filme teve na imprensa por causa de Madame Sarkozy.
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