Durante a epidemia de influenza que grassou no país em 1918, as autoridades municipais de Curitiba determinaram o fechamento de todas as casas de espetáculos e proibiram aglomerações, inclusive o acompanhamento dos enterros.
Agora, no século 21, nossas “autoridades” estão permitindo a desinformação e o caos. Enquanto diversas escolas particulares adiaram o início das aulas do segundo semestre, e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo determinou a volta às aulas apenas no dia 17 de agosto, o secretário de Saúde do Paraná criticou as instituições curitibanas pela atitude “precipitada”, e várias vozes classificaram o adiamento de inútil e inócuo. Ora, se nem as autoridades da saúde se entendem, como o cidadão pode ter uma orientação segura?
Em Curitiba, foram confirmadas, até hoje, três mortes causadas pela gripe A, todas de homens adultos. Apesar disso, enquanto escolas de ensino fundamental e médio suspenderam a volta às aulas, as faculdades estão funcionando normalmente. E os cinemas estão superlotados com crianças aproveitando as “férias prolongadas”! Uma total incoerência!
Os órgãos públicos continuam funcionando, inclusive com enormes aglomerações de pessoas que ficam horas aguardando atendimento em ambientes fechados - por exemplo, cerca de uma centena de pessoas que se reunem diariamente nos Juizados Especiais de Curitiba, num saguão sem janelas!
É incrível e inaceitável a passividade e a falta de unidade que atinge as autoridades de saúde no país. Sempre acreditei que o fim da humanidade será o extermínio por uma epidemia, e a atual é uma boa amostra. Basta imaginar um vírus de alta letalidade espalhando-se com a facilidade dessa gripe...
Tuesday, July 28, 2009
Friday, July 24, 2009
Mídia divertida
“Descendência” japonesa...
Dias atrás, vi no jornal notícia sobre uma jornalista americana de origem iraniana chamada Roxana Saberi. A matéria dizia que a jornalista tinha “descendência japonesa”. Por que será que tantas pessoas fazem essa confusão com um termo tão simples?
Eu posso dizer que tenho descendência italiana, pois meu filho, assim como eu, tem dupla nacionalidade (brasileira e italiana). E tenho também ASCENDÊNCIA italiana, já que, assim como meu descendente (meu filho), meus ascendentes também são italianos, afinal, meu bisavô Pascoal Papa nasceu na Itália, de pais italianos.
Quando algum aluno me diz que tem “descendência” de tal nacionalidade, respondo brincando, fingindo espanto: “Nossa! Tão novinho e já tem filho! Você é casado?” Invariavelmente, a pessoa, é claro, não entende...
“Volta com tudo”
A Gazeta do Povo pubica hoje matéria sobre o clima com o título: “Frio volta com tudo no final de semana”. Curioso. Primeiro: “volta com tudo” parece coloquial demais para a linha editorial do jornal. Segundo: considerando que nos últimos dias tem feito um frio terrível, ainda mais com chuva (a máxima hoje não deverá passar dos 15º C), esperava que a matéria noticiasse que o frio iria voltar para o seu lugar de origem, bem longe de Curitiba, talvez na Argentina... Mas na realidade a notícia era que a temperatura diminuiria ainda mais no final de semana. Parece “a volta dos que não foram”...
Dias atrás, vi no jornal notícia sobre uma jornalista americana de origem iraniana chamada Roxana Saberi. A matéria dizia que a jornalista tinha “descendência japonesa”. Por que será que tantas pessoas fazem essa confusão com um termo tão simples?
Eu posso dizer que tenho descendência italiana, pois meu filho, assim como eu, tem dupla nacionalidade (brasileira e italiana). E tenho também ASCENDÊNCIA italiana, já que, assim como meu descendente (meu filho), meus ascendentes também são italianos, afinal, meu bisavô Pascoal Papa nasceu na Itália, de pais italianos.
Quando algum aluno me diz que tem “descendência” de tal nacionalidade, respondo brincando, fingindo espanto: “Nossa! Tão novinho e já tem filho! Você é casado?” Invariavelmente, a pessoa, é claro, não entende...
“Volta com tudo”
A Gazeta do Povo pubica hoje matéria sobre o clima com o título: “Frio volta com tudo no final de semana”. Curioso. Primeiro: “volta com tudo” parece coloquial demais para a linha editorial do jornal. Segundo: considerando que nos últimos dias tem feito um frio terrível, ainda mais com chuva (a máxima hoje não deverá passar dos 15º C), esperava que a matéria noticiasse que o frio iria voltar para o seu lugar de origem, bem longe de Curitiba, talvez na Argentina... Mas na realidade a notícia era que a temperatura diminuiria ainda mais no final de semana. Parece “a volta dos que não foram”...
Wednesday, July 15, 2009
McNamara e a “arte” da guerra
O ex-secretário de Defesa dos EUA Robert Macnamara, responsável pela ação estadunidense na Guerra do Vietnã, morreu na semana passada. Em diversas manifestações públicas, havia se declarado arrependido em relação à participação dos EUA na guerra. De tudo que disse, há algo que impressiona bastante. Ele afirmou que, no final da guerra, tinha duvidava da eficácia do bombardeio ao Vietnã do Norte. Mesmo assim, ordenou o bombardeio que fez milhares de vítimas. Sua justificativa para ter prosseguido com a ideia do bombardeio, mesmo não acreditando na sua utilidade para a vitória estadunindense: "Tínhamos que provar que não daria certo [...] porque outras pessoas pensavam que poderia funcionar". Então, para provar que não daria certo, mandou fazer. Mandou matar milhares de pessoas para mostrar a inutilidade do bombardeio. Assim é a “arte” da guerra...
Tuesday, July 14, 2009
Afinal, diploma para quê?
O convívio social num país democrático é regulado pelo arcabouço jurídico desse país. E ele precisa ser coerente. No caso do exercício profissional, a legislação construída ao longo do tempo no Brasil impõe regras para que as pessoas possam exercer certas profissões. Isso é, obviamente, uma restrição de liberdade. Como, aliás, toda lei é. Alguém poderia desejar correr a qualquer velocidade no seu carro, passar qualquer cruzamento como bem entendesse. Mas há leis que restringem essa liberdade em benefício da sociedade. Viver em sociedade (contingência humana) implica renúncia a parcelas de liberdade.
Imaginemos um panorama de total liberdade profissional, com qualquer pessoa podendo exercer o ofício que desejasse. Suponhamos que alguém colocasse na sua porta uma placa: “Advogado”. E começasse a atender clientes. Poderia sair-se muito bem e seria recomendado a outras pessoas por seus clientes. Ou poderia acontecer o contrário. Isso seria a regulação pelo mercado. Quem fosse prejudicado pelos maus serviços de um profissional poderia acionar a Justiça para ser indenizado. Mas se o cidadão hipotético resolvesse exercer a Medicina e matasse alguém, o prejuízo não poderia ser indenizado...
Como criar um sistema de proteção social que ateste a capacidade de determinada pessoa para exercer certa atividade profissional? Na Idade Média, isso era feito pelas corporações de ofício. Por exemplo: um sapateiro de qualidade reconhecida poderia receber aprendizes, aos quais ele ensinaria seu trabalho, e, conforme o progresso do aprendiz, este poderia ir assumindo algumas tarefas e receberia “títulos” para atestar seu nível profissional: meio-oficial, oficial e, por fim, mestre (sistema que persiste, por exemplo, na construção civil brasileira nas funções de base).
Com o surgimento das universidades e, depois, dos estados democráticos, a certificação passou a ser feita pelas instituições de ensino – como acontece no Brasil. Em princípio, é um sistema bem ponderado: as instituições de ensino precisam de autorização e reconhecimento do Poder Público, que as fiscaliza. Assim, teoricamente, há segurança para a sociedade: quem cumpre de modo adequado suas funções de aprendiz recebe um certificado (diploma) atestando que está apto a exercer determinada profissão, e esse certificado só pode ser emitido por instituição credenciada e fiscalizada pelo Poder Público. Tudo muito bem pensado (ao menos na teoria) e feito de modo a garantir segurança ao cidadão, que certamente se sente mais tranquilo ao ser atendido, por exemplo, por um médico que tenha um diploma reconhecido “oficialmente”.
Por que, então, para o exercício de determinadas profissões é exigido o diploma superior e para outras não? Trata-se de uma questão de legislação construída pela força maior ou menor de determinados grupos profissionais, pela tradição maior ou menor de determinadas carreiras. Ninguém pode ser corretor de imóveis ou massoterapeuta sem o devido registro profissional (nesses casos, conseguido após a obtenção de certificados em cursos técnicos). Isso se deve, basicamente, à capacidade de articulação dos envolvidos nesses ofícios, que conseguiram criar democraticamente legislação específica para os seus casos. Corretores de imóveis e administradores têm Conselhos Federais que regulam e fiscalizam o exercício profissional. Músicos e advogados têm suas Ordens profissionais para os mesmos efeitos.
A existência ou não de Conselho ou Ordem de determinada profissão, assim como a exigência ou não de diploma de nível superior para exercício profissional, pouco tem a ver com a suposta importância social dessas profissões. Está relacionada, muito mais, ao poder de articulação e à representatividade de cada categoria.
Nesse sentido, o fim da exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão quase nada tem a ver com a possível importância social da profissão, ou com a liberdade de expressão do pensamento, ou com a determinação constitucional de que o exercício profissional é livre para todo cidadão. Também não está relacionada ao avanço das tecnologias da comunicação, à proliferação dos blogs ou qualquer coisa do gênero.
Lutar pela exigência do diploma é uma atitude legítima da classe dos jornalistas, dentro das regras da democracia e do arcabouço jurídico-legislativo brasileiro. Não tem nada de obscurantista ou policialesco. E há muitas pessoas, muitas mesmo (e entre elas me incluo) que acreditam que, dadas as atuais regras legais, a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo é adequada, útil e proveitosa não só para os jornalistas, mas para toda a sociedade.
Pensar utopicamente num mundo de maior liberdade para todas as profissões também é aspiração legítima. Que seria do mundo sem os utópicos? Nesse panorama utópico, seria muito bom que não se exigisse diploma superior para qualquer exercício profissional, do médico ao sapateiro. Mas, para isso, e tendo em vista os interesses da sociedade, deveria haver algum sistema que atestasse a capacidade profissional – em alguns casos (como o do sapateiro), o mercado mesmo, em outros, um sistema ainda a ser pensado, talvez um exame aprofundado feito por instituições credenciadas pelo Poder Público. No entanto, eliminar a exigência apenas para os jornalistas é ilógico dentro do nosso arcabouço jurídico.
Por fim – e independentemente de qualquer exigência deste ou daquele diploma para o exercício desta ou daquela profissão –, lutar por uma melhor qualidade do ensino em todos os níveis, e não só no universitário, deveria ser dever de todos. Quando um determinado candidato às últimas eleições presidenciais dizia que a solução para o país só podia estar baseada no tripé: “Educação – Educação – Educação”, muitos o ridicularizaram, vários chamavam seu discurso de “samba de uma nota só”. Pois eu acredito nesse samba.
[Publicado no Observatório da Imprensa em 14/07/2009]
Imaginemos um panorama de total liberdade profissional, com qualquer pessoa podendo exercer o ofício que desejasse. Suponhamos que alguém colocasse na sua porta uma placa: “Advogado”. E começasse a atender clientes. Poderia sair-se muito bem e seria recomendado a outras pessoas por seus clientes. Ou poderia acontecer o contrário. Isso seria a regulação pelo mercado. Quem fosse prejudicado pelos maus serviços de um profissional poderia acionar a Justiça para ser indenizado. Mas se o cidadão hipotético resolvesse exercer a Medicina e matasse alguém, o prejuízo não poderia ser indenizado...
Como criar um sistema de proteção social que ateste a capacidade de determinada pessoa para exercer certa atividade profissional? Na Idade Média, isso era feito pelas corporações de ofício. Por exemplo: um sapateiro de qualidade reconhecida poderia receber aprendizes, aos quais ele ensinaria seu trabalho, e, conforme o progresso do aprendiz, este poderia ir assumindo algumas tarefas e receberia “títulos” para atestar seu nível profissional: meio-oficial, oficial e, por fim, mestre (sistema que persiste, por exemplo, na construção civil brasileira nas funções de base).
Com o surgimento das universidades e, depois, dos estados democráticos, a certificação passou a ser feita pelas instituições de ensino – como acontece no Brasil. Em princípio, é um sistema bem ponderado: as instituições de ensino precisam de autorização e reconhecimento do Poder Público, que as fiscaliza. Assim, teoricamente, há segurança para a sociedade: quem cumpre de modo adequado suas funções de aprendiz recebe um certificado (diploma) atestando que está apto a exercer determinada profissão, e esse certificado só pode ser emitido por instituição credenciada e fiscalizada pelo Poder Público. Tudo muito bem pensado (ao menos na teoria) e feito de modo a garantir segurança ao cidadão, que certamente se sente mais tranquilo ao ser atendido, por exemplo, por um médico que tenha um diploma reconhecido “oficialmente”.
Por que, então, para o exercício de determinadas profissões é exigido o diploma superior e para outras não? Trata-se de uma questão de legislação construída pela força maior ou menor de determinados grupos profissionais, pela tradição maior ou menor de determinadas carreiras. Ninguém pode ser corretor de imóveis ou massoterapeuta sem o devido registro profissional (nesses casos, conseguido após a obtenção de certificados em cursos técnicos). Isso se deve, basicamente, à capacidade de articulação dos envolvidos nesses ofícios, que conseguiram criar democraticamente legislação específica para os seus casos. Corretores de imóveis e administradores têm Conselhos Federais que regulam e fiscalizam o exercício profissional. Músicos e advogados têm suas Ordens profissionais para os mesmos efeitos.
A existência ou não de Conselho ou Ordem de determinada profissão, assim como a exigência ou não de diploma de nível superior para exercício profissional, pouco tem a ver com a suposta importância social dessas profissões. Está relacionada, muito mais, ao poder de articulação e à representatividade de cada categoria.
Nesse sentido, o fim da exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão quase nada tem a ver com a possível importância social da profissão, ou com a liberdade de expressão do pensamento, ou com a determinação constitucional de que o exercício profissional é livre para todo cidadão. Também não está relacionada ao avanço das tecnologias da comunicação, à proliferação dos blogs ou qualquer coisa do gênero.
Lutar pela exigência do diploma é uma atitude legítima da classe dos jornalistas, dentro das regras da democracia e do arcabouço jurídico-legislativo brasileiro. Não tem nada de obscurantista ou policialesco. E há muitas pessoas, muitas mesmo (e entre elas me incluo) que acreditam que, dadas as atuais regras legais, a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo é adequada, útil e proveitosa não só para os jornalistas, mas para toda a sociedade.
Pensar utopicamente num mundo de maior liberdade para todas as profissões também é aspiração legítima. Que seria do mundo sem os utópicos? Nesse panorama utópico, seria muito bom que não se exigisse diploma superior para qualquer exercício profissional, do médico ao sapateiro. Mas, para isso, e tendo em vista os interesses da sociedade, deveria haver algum sistema que atestasse a capacidade profissional – em alguns casos (como o do sapateiro), o mercado mesmo, em outros, um sistema ainda a ser pensado, talvez um exame aprofundado feito por instituições credenciadas pelo Poder Público. No entanto, eliminar a exigência apenas para os jornalistas é ilógico dentro do nosso arcabouço jurídico.
Por fim – e independentemente de qualquer exigência deste ou daquele diploma para o exercício desta ou daquela profissão –, lutar por uma melhor qualidade do ensino em todos os níveis, e não só no universitário, deveria ser dever de todos. Quando um determinado candidato às últimas eleições presidenciais dizia que a solução para o país só podia estar baseada no tripé: “Educação – Educação – Educação”, muitos o ridicularizaram, vários chamavam seu discurso de “samba de uma nota só”. Pois eu acredito nesse samba.
[Publicado no Observatório da Imprensa em 14/07/2009]
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